Caiu que nem uma bomba o cancelamento inusitado da exposição World Press Photo que fora inaugurada em 24 de Setembro pp. e estava projectada prolongar-se até 18 de Outubro, na Casa Garden, em Macau.
Organizada e promovida pela Casa de Portugal desde há vários anos, contando com patrocínios oficiais e privados, a exposição constituía um dos mais importantes eventos culturais da RAEM. Ainda este ano o Cônsul-Geral de Portugal se associara ao evento comparecendo na cerimónia de abertura, como ainda se pode verificar pelas fotos publicadas na página oficial da Casa de Portugal no Facebook.
A Presidente da Casa de Portugal, Amélia António, limitou-se laconicamente a dizer que o encerramento sem aviso prévio, apenas uma semana após a sua abertura ao público, se ficou a dever a um "problema de gestão interna", sendo certo que ninguém percebeu que problema foi esse que nunca se verificou em anos anteriores e cuja gravidade será tão grande que até impediu o anúncio do seu encerramento antecipado.
Recorde-se que a Casa Garden é propriedade da Fundação Oriente e é regularmente palco de exposições de fotografia e pintura não havendo memória de qualquer "problema de gestão interna", na Casa de Portugal ou na Fundação Oriente, que antecipasse o encerramento de qualquer exposição.
A Casa de Portugal já avisara anteriormente que em 2021 a exposição não se realizaria devido ao corte de subsídios, mas ninguém esperava que desta vez as coisas se precipitassem.
Na imprensa local foi avançado que o final abrupto do evento se ficou a dever à exibição de fotografias destacadas de manifestações em Hong Kong que haviam sido premiadas em diversas categorias do concurso anual da World Press Photo.
O Presidente da Fundação Macau, ouvido pelo jornal Ponto Final, referiu não ter havido qualquer pressão sobre a organização da exposição, muito embora se saiba de quem se queixe das muitas pressões – como aconteceu o ano passado com o Festival Rota das Letras – que têm vindo a ser exercidas de uma forma mais ou menos velada sobre tudo o que possa desgostar os inúmeros comissários e censores locais das mais diversas etnias e profissões, portugueses e chineses, que se colocam ao serviço dos interesses de Pequim e dos maiorais locais para continuarem a garantir o seu pacote de amendoins, e para quem todos os que não apreciam a sua subserviência ao Partido Comunista Chinês e defendem uma reforma das instituições estão ao serviço de interesses externos e a soldo de terceiros. Ou seja, o discurso habitual dos serviçais dos regimes autoritários e de partido único, sejam de direita ou de esquerda, que se esquecem que as pessoas normais pensam pela sua cabeça e não engolem tudo o que lhes é servido.
Fosse por um "problema de gestão interna", de medo por receio de perderem mais alguns subsídios, ou um outro qualquer sobre o qual ninguém fala, uma coisa é certa: a Casa de Portugal ficou muito mal na fotografia.