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Delito de Opinião

Cancelada

Sérgio de Almeida Correia, 01.03.21

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"The World Press Photo Exhibition 2020 in Hong Kong, arranged by a local organizing committee, and sponsored by the Netherlands Consulate General in Hong Kong and Macau, was due to open at the Koo Ming Kown Exhibition Gallery at the Hong Kong Baptist University on 1 March. On Thursday 25 February, we were made aware of the cancellation of the exhibition by the venue, citing campus safety and security, and concerns related to the spread of the COVID-19 pandemic."

A segurança assim o impõe. Compreende-se.

Por razão de protecção da saúde ou de protecção da segurança nacional.

Nos dias que correm é tudo uma questão de segurança. Ou de insegurança. Depende da perspectiva do que se quer proteger.

Uma fotografia não é uma arma de subversão. O medo é. E tem muita força.

Um problema de medo interno

Sérgio de Almeida Correia, 08.10.20

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Caiu que nem uma bomba o cancelamento inusitado da exposição World Press Photo que fora inaugurada em 24 de Setembro pp. e estava projectada prolongar-se até 18 de Outubro, na Casa Garden, em Macau.

Organizada e promovida pela Casa de Portugal desde há vários anos, contando com patrocínios oficiais e privados, a exposição constituía um dos mais importantes eventos culturais da RAEM. Ainda este ano o Cônsul-Geral de Portugal se associara ao evento comparecendo na cerimónia de abertura, como ainda se pode verificar pelas fotos publicadas na página oficial da Casa de Portugal no Facebook.

A Presidente da Casa de Portugal, Amélia António, limitou-se laconicamente a dizer que o encerramento sem aviso prévio, apenas uma semana após a sua abertura ao público, se ficou a dever a um "problema de gestão interna", sendo certo que ninguém percebeu que problema foi esse que nunca se verificou em anos anteriores e cuja gravidade será tão grande que até impediu o anúncio do seu encerramento antecipado.

Recorde-se que a Casa Garden é propriedade da Fundação Oriente e é regularmente palco de exposições de fotografia e pintura não havendo memória de qualquer "problema de gestão interna", na Casa de Portugal ou na Fundação Oriente, que antecipasse o encerramento de qualquer exposição.

A Casa de Portugal já avisara anteriormente que em 2021 a exposição não se realizaria devido ao corte de subsídios, mas ninguém esperava que desta vez as coisas se precipitassem. 

Na imprensa local foi avançado que o final abrupto do evento se ficou a dever à exibição de fotografias destacadas de manifestações em Hong Kong que haviam sido premiadas em diversas categorias do concurso anual da World Press Photo.

O Presidente da Fundação Macau, ouvido pelo jornal Ponto Final, referiu não ter havido qualquer pressão sobre a organização da exposição, muito embora se saiba de quem se queixe das muitas pressões – como aconteceu o ano passado com o Festival Rota das Letras – que têm vindo a ser exercidas de uma forma mais ou menos velada sobre tudo o que possa desgostar os inúmeros comissários e censores locais das mais diversas etnias e profissões, portugueses e chineses, que se colocam ao serviço dos interesses de Pequim e dos maiorais locais para continuarem a garantir o seu pacote de amendoins, e para quem todos os que não apreciam a sua subserviência ao Partido Comunista Chinês e defendem uma reforma das instituições estão ao serviço de interesses externos e a soldo de terceiros. Ou seja, o discurso habitual dos serviçais dos regimes autoritários e de partido único, sejam de direita ou de esquerda, que se esquecem que as pessoas normais pensam pela sua cabeça e não engolem tudo o que lhes é servido.

Fosse por um "problema de gestão interna", de medo por receio de perderem mais alguns subsídios, ou um outro qualquer sobre o qual ninguém fala, uma coisa é certa: a Casa de Portugal ficou muito mal na fotografia.