Guterres
A julgar pela fotografia, não é uma escultura, é um boneco. Aliás a maioria dos actuais escultores não são capazes de esculpir, mas mesmo assim chamam esculturas ou instalações a lixo conceptual. Pessoas de discernimento prefeririam Cabrita Reis (o autor desta obra não consegui descortinar quem fosse porque o artigo não o identifica, decerto por caridade), que faria uma coisa qualquer significando nada, em que uns veriam consagrado o ponderoso estadista que Guterres nunca foi, e outros a nulidade que foi sempre.
Entendamo-nos: ou o escultor faz qualquer coisa figurativa da qual ressaltam as qualidades ou o significado do quem é representado; ou, se quiser ser inteiramente fiel à figura, arranja alguma maneira de nos deixar a impressão da grandiosidade da personagem. Exercício difícil, decerto – não é escultor quem tem, se tiver, apenas jeitinho. Assim como não será escultura uma realização absolutamente realista – isso é uma fotografia em 3D.
Se o destino me tivesse dado o dom de criador em artes plásticas, em vez de algum aliás excessivamente moderado talento para o lançamento de fabriquetas, representaria Guterres de fato com água até aos joelhos.
De fato por causa dos cargos oficiais que ocupou e ocupa; e com água até aos joelhos porque Guterres sempre foi uma esponja das ideias esquerdinas que andam no ar da modernidade pateta, e por isso se fez fotografar naqueles preparos para chamar a atenção para o triste destino que teremos se não seguirmos os conselhos que ministra a cáfila ecologista cujas ideias sumárias ele bebe.
E é claro que a estátua teria muito mais de dois metros de altura, para benefício de alguns pássaros mais tímidos que estão a regressar às nossas cidades mas se intimidam com pessoas, e para não lhe vermos o cenho angustiado com as desgraças do mundo.
Enfim, lá fica a nova peça do mobiliário urbano. A Vizela vou muitas vezes porque tem um óptimo restaurante, um excelente e antigo jardim à beira-rio e o encanto do ar vagamente decadente que é típico de termas, no caso ainda funcionais e no meio de uma cidade que, felizmente para os vizelenses, de decadente nada tem.
Guterres terá mandado uma mensagem por SMS a dizer que não era merecedor da homenagem. De facto.
O meu trajecto habitual passa por ali. Azar.