Crna Gora
Desde tenra idade que sou fascinada por códigos, adivinhas, enigmas, charadas, quebra-cabeças, tudo o que seja susceptível de ter várias interpretações e que à luz da lógica da eliminação obrigue a imaginar as hipóteses que sustentam todos os porquês, que possam explicar quem, como e quando.
Na minha juventude li toda a literatura policial que encontrei. Tenho dezenas de favoritos que são aqueles que nunca nos apresentam o óbvio, que nos fazem dar voltas ao cocuruto e que nos surpreendem com finais perfeitamente objectivos e bem fundamentados, mas imprevisíveis.
Dentre os meus escritores preferidos do género, sobressai Rex Stout. Talvez porque consiga relacionar-me de algum modo com o seu tipo de pessoa, um bom gourmand, com grande cultura, e que prefere ter as sinapses sempre activas e bem oleadas sem necessitar ter de aliar a parte psíquica à somática para obter os resultados pretendidos.
Calhou neste mês primaveril ter ido até ao país natal do montenegrino mais famoso da literatura policial. Tratei de trazer sempre à conversa, com todos com quem conversei, artistas, músicos, simples locais, pessoal da terra do tio Sam que descobriram (e invadiram) o maná mais para leste, e a título do que eles chamam “fun fact”, referi Rex Stout e o seu Nero Wolfe.
Nem um.
Ninguém.
O dono de uma galeria de arte em Kotor olhou-me espantadíssimo e de sobrancelhas arqueadas: “Really?!”
Confesso que fiquei um tudo nada desiludida, mas afinal não há muitos apreciadores de literatura policial, apenas montenegrinos curiosamente saudosistas de Josip Broz Tito.
Os pontos positivos nesta visita foram a indubitável espectacularidade natural, a beleza fantástica da cidade velha e muitas mais pessoas do que eu poderia imaginar, que à menção de Portugal, retorquiam de imediato “Montenegro! He won there, didn’t he?”
No fundo, fiquei com a ideia que as gentes de lá pensam que o Montenegro de cá tem ascendência de Crna Gora.