DEBATE HELOÍSA APOLÓNIA-PAULO PORTAS
Heloísa Apolónia é líder de um partido fundado em 1982 denominado Partido Ecologista Os Verdes. Um partido que nunca foi a votos autonomamente: funcionou sempre na órbita do Partido Comunista. Beneficia de uma clara omissão da Lei Eleitoral portuguesa, que autoriza a perpetuação de um partido político dispensado de se submeter a testes eleitorais periódicos com a própria sigla.
Graças a este artifício, o PCP tem duplicado há três décadas o seu tempo de intervenção parlamentar. Heloísa é recompensada: estreou-se em São Bento na legislatura iniciada em 1995, com apenas 26 anos.
Está há 20 anos na Assembleia da República e bem pode declarar que a sua profissão é ser deputada.
Mesmo assim, presume falar em nome do povo.
Escutei-a há pouco, na TVI 24, num frente-a-frente com Paulo Portas. Em boa verdade, mal chegou a ser um debate: Heloísa foi arrasada em directo a propósito de questões estruturais do programa da CDU - nomeadamente quando defendeu a saída de Portugal do euro e um amplo programa de nacionalizações. "Retomarmos a nossa moeda [o escudo] podia servir-nos de outra forma em termos de dinamização de uma política orçamental, uma política cambial e uma política fiscal diferente", adiantou.
"Acha que a saída do euro não tem custos?", questionou Portas de imediato. Pergunta retórica: sabia de antemão que não teria resposta. "Eu não estou a dizer que não tem custos", hesitou a líder do PEV, mantendo um vocabulário tão vago quanto possível, incapaz de descer ao detalhe. O presidente do CDS aproveitou para responder por ela: "As pensões, os salários e as poupanças das pessoas caíam vertiginosamente. De repente, quem tivesse 100 no banco passava a ter 50. Quem tivesse 50 passava a ter 25."
Repetindo o que Jerónimo de Sousa tem dito nesta pré-campanha para as legislativas de 4 de Outubro, a nº 2 da Coligação Democrática Unitária fez igualmente a apologia das nacionalizações, referindo-se implicitamente à Galp, à REN e à EDP: "Há determinados sectores estratégicos que os senhores privatizaram, designamente no sector energético. É um imperativo nacional que voltem para as mãos do Estado."
Portas não tardou a dar-lhe réplica: "Essas nacionalizações têm um custo. E é possível fazer as contas sobre esse custo. O que significa nacionalizar os sectores estratégicos? Nada menos do que um custo de 28 mil milhões de euros. É um ano inteiro de IVA e de IRS todo dedicado a uma opção puramente ideológica. E a própria Constituição da República, no artigo 62º, diz com toda a clareza que não há nacionalizações nem expropriações sem a justa indemnização."
Heloísa Apolónia, pelos vistos, foi apanhada de surpresa: nem uma palavra lhe saiu para contestar as cifras do antagonista ou para especificar onde iria o depauperado Estado português conseguir tal verba. "Faça as contas, senhora deputada", disse-lhe ainda o líder do CDS.
José Alberto de Carvalho, o moderador do debate, quis ainda saber "qual é o modelo de sociedade e de Estado" do Partido Ecologista Os Verdes "e com que país ou regime se identifica".
A resposta saiu assim, textualmente:
"O nosso modelo económico tem como eixo central as pessoas. A partir deste ponto central aquilo que é fundamental é gerar uma estratégia de crescimento que sustente o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas e que tenha em conta uma valorização salarial para ter uma redinamização da economia de que nós precisamos."
Ficou tudo dito.