Confesso que me encanita a forma leviana com que neste país se apregoam falsas verdades, rapidamente erigidas a mentiras verdadeiras.
Com inusitada frequência, essa tarefa é atribuída a uns colunistas escolhidos a dedo, que se prestam a servir de correia de transmissão de interesses partidários, cabendo-lhes o papel de levantar algumas questões laboriosamente urdidas nos gabinetes de estudos dos partidos do poder. Com o desenvolvimento da blogosfera, essas falsas verdades espalham-se como labaredas, cumprindo a premissa de Goebbels - transformam-se em mentiras verdadeiras. Muitas vezes, essas falsas verdades são difundidas com base em estudos e estatísticas, apresentados como âncoras inabaláveis e de validade incontestável.
Não vou dizer que não dou qualquer credibilidade aos estudos e estatísticas. Mas sei, por experiência própria, que um estudo ou um dado estatístico pode ser lido da maneira que mais convém a quem o invoca para defender a sua teoria. E sei, também, que na maioria dos casos existem estudos que demonstram a verdade e o seu contrário. Veja-se, por exemplo, o caso dos telemóveis. Cada vez que é divulgado um estudo confirmando os seus malefícios para a saúde, logo alguém dá a conhecer outro, demonstrando a falsidade das conclusões.
A muitos dos estudos subjaz também um interesse económico escondido. Muitos se lembrarão dos estudos que durante anos consideravam a dieta mediterrânica como um perigo para a saúde, sendo o azeite apontado como uma gordura insalubre e imprestável. Sardinhas em lata a nadar em azeite? Que horror!
Curiosamente, a dieta mediterrânica é considerada, hoje em dia, a mais saudável dieta natural, devido às propriedades de produtos como o azeite, que ajuda a reduzir o colestrol e diminui o risco de acidentes cardio-vasculares.
Em Portugal, quando se aproximam as eleições, é certo e sabido que se começam a multiplicar os artigos visando os privilégios dos funcionários públicos, os horários dos professores, as férias dos juízes e a falta de produtividade dos portugueses. São temas recorrentes que fizeram muito jeito a Manuela Ferreira Leite – e posteriormente a Sócrates - para congelar os salários dos funcionários públicos e lhes retirar algumas regalias. Claro que o povão exultou, porque uma das características peculiares do português é a inveja. Não cuidou de saber se as premissas em que assentavam as medidas eram verdadeiras, nem tentou exigir as mesmas pretensas regalias, porque ao português basta que tirem ao vizinho o que ele não tem, para se sentir feliz.
Outra das mentiras que obteve dividendos, foi a de que os professores trabalham poucas horas. Só quem nunca deu aulas é que pode dizer tamanha parvoíce! No entanto, a mentira tantas vezes difundida serviu de pretexto a Maria de Lurdes Rodrigues para obrigar os professores a ficarem na escola mais horas por dia. Sem proveito para alunos nem professores, mas para gáudio do tuga invejoso.
Outra das ideias macacas que se procura difundir é que Portugal é o país da Europa com mais feriados, o que na verdade não passa de uma falácia, como já demonstrei em tempos no “Expresso”.
No tempo do Dr. Cavaco primeiro-ministro, iniciou-se um ataque cerrado às “pontes” entre um feriado e o fim de semana, apontadas como peculiaridade do nosso país. Mentira! Em França e Espanha são frequentes as “pontes”. Mas elas também existem - embora mais esporádicas - na Holanda ou nos Estados Unidos .
Com o aproximar das eleições vamos assistir a um chorrilho de artigos de opinião com falsas verdades, que pretendem preparar medidas do futuro governo Basta saber a cor política do colunista, para percebermos que tipo de medidas irão ser tomadas, no caso desse partido vencer as eleições. Fácil, não é?