Um prémio mais que merecido

Donald Trump andava a fazer figuras ridículas, implorando que lho concedessem, como fedelho birrento em véspera de Natal. Mas o Prémio Nobel da Paz, hoje anunciado em Oslo, distingue quem realmente o merece: a intrépida líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, há mais de um ano clandestina no seu próprio país, que Nicolás Maduro converteu em narco-estado. Onde os mais elementares direitos humanos são espezinhados. Onde há cerca de dois mil presos políticos. Onde a fraude eleitoral inutilizou os mecanismos formais da democracia representativa ainda vigentes no consulado de Hugo Chávez, o autocrata que precedeu Maduro. Onde o destino de grande parte da população é emigrar em massa: mais de sete milhões cruzaram a fronteira na última década, fugindo ao pesadelo do "socialismo bolivariano", que converteu o país dotado das maiores reservas de petróleo do mundo numa ruína económica em ameaça permanente de colapso social.
Nas palavras do presidente do Comité Nobel, Corina é laureada por «manter acesa a chama da democracia na crescente escuridão» vigente na Venezuela, outrora a mais próspera nação da América hispânica. Maduro impediu-a de concorrer à eleição presidencial de Julho de 2024. Ela não desistiu: convenceu o antigo diplomata Edmundo González a avançar contra o déspota, mobilizando largos milhões de eleitores. Fechadas as urnas, contados os votos, ficou claro que a vitória coube ao candidato da oposição. Mas a clique militar alimentada pelo narcotráfico que domina o regime de Caracas com mão de ferro mandou a vontade popular às urtigas, impondo Maduro como "triunfador" sem se dar sequer ao incómodo de divulgar as actas eleitorais. Seguiu-se nova onda repressiva, forçando González a pedir asilo político à embaixada espanhola na Venezuela. Hoje vive exilado em Madrid.
Ela, no entanto, resiste no lugar próprio: a terra onde nasceu. Por meios pacíficos, apelando à resistência cívica, condenando sempre o recurso à violência sob o lema «votos em vez de balas». Mas sem temor dos verdugos, obcecados em depositá-la numa masmorra: a sinistra Sebin, polícia política da ditadura, tem ordens expressas para continuar a procurá-la em cada recanto do país. Felizmente sem sucesso até agora, o que não ilude esta inquietante evidência: María Corina arrisca não só a liberdade, mas a própria vida.
Recebi a notícia do Nobel da Paz 2025 com imensa satisfação nesta semana tão fértil em acontecimentos. E concluo: raras vezes este prémio foi tão merecido.
Leitura complementar:
A Mulher do Ano (1 de Agosto de 2024)
Pela liberdade, contra a ditadura (21 de Setembro de 2024)



















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