(créditos: Miguel A. Lopes/LUSA)
1. António Costa e o Partido Socialista
Ninguém terá a ousadia de retirar o mérito desta vitória ao líder socialista. Venceu em todos os distritos do continente. Obrigou a abstenção a baixar. Passou de 1.908.036 de votos para 2.246.483 (ainda faltam os votos da emigração). Desde 2009 que o PS não chegava aos 2 milhões de votos. Foi ele quem antes recusou maiores cedências ao Bloco de Esquerda e ao PCP. Foi ele quem percebeu e avaliou correctamente o estado de espírito dos portugueses. Foi ele quem quis pedir, ainda que a medo, tendo-se depois arrependido, talvez influenciado pelas sondagens, uma maioria absoluta aos portugueses. É verdade que nalguns momentos ziguezagueou, que foi pouco afirmativo sem, todavia, nunca deixar de ser combativo. Mas acreditou sempre que seria possível fazer mais e melhor sem o BE e os comunistas. E que não poderia continuar eternamente a ceder à chantagem e oportunismo dos parceiros de “geringonça”. Muitas vezes não teve a colaboração, também por culpa sua, pois foi ele quem os escolheu para o bem e para o mal, de alguns dos seus ministros. E podia ter corrido muito mal. Felizmente para si e para o PS correu bem. Esperemos que a partir de hoje também comece a correr melhor para os portugueses. Estes deram-lhe razão e confiança, e querem, mais do que promessas, mais do que nunca, resultados. E que faça esquecer depressa Cavaco, Sócrates e o pesadelo das maiorias absolutas. Orlando da Costa se fosse vivo estaria certamente comovido com este resultado que o filho alcançou.
(créditos: Miguel A. Lopes/LUSA)
2. André Ventura e o Chega
Ventura e o Chega conseguiram chegar a terceira força política no parlamento. É um resultado notável, só possível pelos sucessivos erros que a direita portuguesa cometeu, ano após ano, minando a confiança dos seus crentes, enredada num permanente tacticismo, num discurso inconsequente, mole e pouco claro. Ventura quis aproveitar a desgraça alheia e num curto espaço de tempo transmutou-se de social-democrata “passista” em líder da direita radical, populista e demagoga, cavalgando a onda até à exaustão, penetrando nas franjas mais descontentes, cansadas e ignoradas do sistema que nele encontraram a voz da redenção e o caminho para a salvação. Não será por acaso que, por exemplo, em Portalegre, uma região esquecida do interior e com bolsas de pobreza, desemprego e inúmeros problemas sociais, conseguiram que o seu crescimento eleitoral fosse feito à custa de bloquistas e comunistas. Resta saber até onde, apesar de todas as suas contradições, conseguirá chegar. Mas isso irá depender em muito da forma como o seu grupo parlamentar se comportar na AR. Tem tudo a ganhar e tudo a perder. Tudo para que corra bem. Tudo para que corra mal. E poderá estar certo de que o escrutínio não deixará de ser severo.
(créditos: Leonardo Negrão/Global Imagens)
3. João Cotrim de Figueiredo e o Iniciativa Liberal
Obtiveram um bom resultado; porventura, ainda assim, inferior ao que poderiam aspirar. Mas aí a culpa será também do ruído de André Ventura e do Chega. Apresentaram uma mensagem clara, não andaram a fazer contorcionismo político no mercado eleitoral, não promoveram saldos nem rebaixas. Mostraram-se preparados nos debates, foram sérios e coerentes na defesa das suas posições, fizeram o trabalho de casa, demonstraram ser civilizados na discussão e posicionam-se para continuarem a crescer nos próximos quatro anos. Terão um grupo parlamentar que poderá contribuir, em muito, para a elevação do trabalho parlamentar e a melhoria da sua imagem, o que será importante quando se sabe que o Chega também terá uma banda moldada à imagem do seu chefe e que se tiver oportunidade transformará o hemiciclo numa extensão da Feira do Relógio. Numa choldra.