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Delito de Opinião

As bolhas geracionais

João Pedro Pimenta, 11.08.21

Na época de confrontos e polarizações a que temos vindo a assistir, só nos faltava o confronto geracional. Mas é o que está a acontecer. Além dos problemas directos, a pandemia parece estar a criar um crescente azedume entre as gerações mais velhas e as mais novas.

Não que seja apenas do último ano. É possível que com diferentes educações e uma comunicação demasiado virtual as fracturas já durassem há mais tempo. Vimo-lo com as referências, aqui há uns anos, da "peste grisalha". E vimos também a insuportável e birrenta frase de uma Greta Thunberg transfigurada pela raiva, o inesquecível How dare you, ao acusar os políticos de lhe terem "roubado a infância".

Há pouco tempo, por ocasião do dia dos avós, vi uma data de desabafos na net, incluindo uma daquelas coisas que algumas pessoas passam numa cadeia de mensagens, em que o neto perguntava ao avô como tinham vivido sem internet, telemóvel, etc, ao que o avô respondia que em compensação antigamente viviam com "dignidade, compaixão, bondade, humildade", etc, dando a ideia de que a geração do neto não tem quaisquer qualidades (reparo que ao afirmar que a sua geração tem todas as qualidades não é bem um sinal de humildade). Ao mesmo tempo, vêem-se nas redes sociais imensas recriminações às gerações mais novas por, em tempo de covid, juntarem-se, encontrarem-se, beberem em conjunto e outas malfeitorias. Alguns chegam a dizer que deviam era estar trancados em casa ou ajudar às tarefas da mesma, embora ignore se quem escreve tais coisas tenha algum estudo aprofundado sobre os trabalhos domésticas dos mais novos.

Todas estas recriminações geracionais, dos que desprezam os mais velhos e os tratam como trapos por aparentemente não terem "utilidade" aos que se estão nas tintas para os mais novos e acham que eles têm as mesmíssimas necessidades dos mais idosos podiam provocar mero desprezo ou até algum sarcasmo, mas causam-me apenas tristeza. Parece que são exactamente os extremos geracionais que são mais postos de lado pelos que estão a meio, que também terão as suas queixas (Sérgio Sousa Pinto falava há pouco com imensa graça da nossa geração dos anos noventa como estando entre "gerontes donos disto tudo e unicórnios imberbes"). Os velhos porque não são úteis, numa classificação utilitarista e hiper-materialista, e porque "ficam com as reformas todas", e os mais novos porque são "irresponsáveis" e "florzinhas de estufa". 

Contra mim falo, porque também isso já me passou pela cabeça em momentos egoístas e menos felizes. Mas a verdade é que esta incompreensão mútua, a existir, e se não for uma miragem do que se vê na net, é tóxica e não ajuda nem a uns nem a outros. Quando se começa a falar dos mais novos como "gente irresponsável", amiúde acompanhada dos auxiliares "no meu tempo" e "esta juventude de hoje", é sinal claro de envelhecimento, numa clara imprepração para o futuro. E quando vemos as acusações às gerações anteriores de terem deixado "uma herança pesada" às que se seguem, como a menina Thunberg, à qual, entre outras coisas, deixaram um sistema escolar que ao que parece ela não quis aproveitar, ignoramos tudo o que de bom deixaram, quando tantas vezes mesmo as má herança tiveram origem em intenções nobres. 

Sim, os mais velhos não pensaram só neles. E sim, os mais novos têm percepções diferentes, como em todas as gerações, e não são piores por isso. Os velho têm direito ao conforto, à compreensão e ao respeito. Os jovens a igual compreensão e a fazerem disparates e "irresponsabilidades" próprias do crescimento e da formação de carácter. Não compreendê-las é ficar-se na sua própria bolha geracional, sem perceber o passado de uns nem relembrar o seu próprio. Não é preciso que se compreenda e aceite tudo. Mas ao menos não julguemos que a nossa geração é que é bestial.

PS: a minha geração "rasca" não é definitivamente melhor, mas olhem que os tais anos noventa em que crescemos deixam saudades. Porque havia esperança e optimismo para todas as gerações. 

A Antígona e o covid

Paulo Sousa, 26.07.20


Antígona condenada à morte por Creon,  Giuseppe Diotti

Há cerca de 2500 anos, Sófocles escreveu a Antígona.
Pelo que sei, esta foi apenas uma de sete outras representações teatrais que chegaram aos nossos dias. Muitas outras terão sido perdidas pela voracidade do esquecimento.
Esta obra relata a defesa apresentada por Antígona perante um coro de anciãos de Tebas, que representam a polis.
Depois de inúmeras maldições que lhe fulminaram a família, os seus irmãos, Etéocles e Polinices, combateram e morreram em lados opostos numa luta que levou o tirano Creonte ao poder.
O cadáver de Etéocles, por vontade do novo soberano, foi tratado de acordo com a justiça e a lei, sendo homenageado honrosamente e recolhido a um sepulcro.
Polinices, pelo contrário, seria deixado por enterrar. Seria um tesouro bem-vindo para as aves de rapina. Por ordens de Creonte os cidadãos ficaram impedidos de o lamentar e até o facto de o seu cadáver ter sido coberto com pó, fez o guarda que assegurava o cumprimento da sentença correr risco de vida .
A outra irmã deles, Ismena, teme a lei tirânica e tenta dissuadir Antígona dos seus planos.
Durante a representação diz Ismena:
- Sou incapaz de de actuar contra o poder da cidade.
E responde-lhe Antígona
- Eu por mim vou erguer um túmulo ao meu irmão tão querido.
- Ai desgraçada como temo por ti!
- Não temas por mim. Assegura a tua vida. (…) Mas deixa-me a mim e à minha loucura, a sofrer este mal terrível. Eu por mim, não creio que haja outro tão grande como morrer sem honra.

 

Não quero ser spoiler e não vou revelar o desenrolar do drama, até porque se trata de uma obra que se lê num dia. E merece ser lida.
Perante isto, perante a sabedoria dos clássicos, questiono-me sobre que causas na actualidade levariam um cidadão a ir contra a polis a ponto de arriscar a própria vida.
A tecnologia permitiu-nos alargar a duração da vida e a resposta ao “até quando vale a pena viver?” tem diversas formas. A polis vacila entre a defesa da eutanásia e a proibição do tabaco. No geral privilegia-se o prolongamento da vida, o que é um bom critério.
Mas questiono-me se, apenas porque é possível, é motivo suficiente para prolongar a vida?
A Covid trocou-nos a voltas em muitos detalhes do dia a dia e, entre outras coisas, colocou os anciãos da actualidade num isolamento que mais não é que um ensaio para o além.
As residências de idosos, especialmente neste tempo de pandemia, não são mais do que antecâmaras da casa velório.
Quantos dos nossos, que para lá estão emprateleirados, não trocavam três ou quatro meses mais de uma existência asséptica, com cortinas de acrílico, com cheiro a desinfectante e habitada por andróides de máscara e viseira, por uma dúzia de abraços sentidos, por um passeio à beira mar, por uma sardinhada ou uma matança do porco, a ouvir crianças aos gritos, com o sol a bater na testa, com os pássaros a cantar, com vinho tinto entornado na toalha da mesa, com uns bafos de cachimbo e, no final, com o esterno enxaguado por uma aguardente velha?
Já nem é de honra que falo, mas apenas de propósito.

PS:
O coro de anciãos de Tebas, do além, deixou um recado para os animalistas:
- Muitos prodígios há; porém nenhum maior do que o homem.

Visto de longe, de muito longe

Sérgio de Almeida Correia, 05.02.15

autumn leaf.jpg"- Se ao menos pudéssemos partir já! - disse ele com um lamento na voz" - D.H. Lawrence, O Raposo

 

Há alguns anos, Maria Filomena Mónica escreveu um pequeno ensaio sobre a morte, que foi editado pela FFMS. Creio que deve ter sido um dos escritos que mais me impressionou sobre esse caminho irreversível que nos conduz até à velhice, esse estado em que já fomos sem ainda termos ido e em que a vida conta para efeitos estatísticos.

Não sei se haverá alguma fórmula feliz para o envelhecimento, para ver esse dealbar dos dias que nalguns casos servirá para lavar a memória dos erros passados, noutros para recordar os momentos em que as forças, a energia, o vigor e a esperança nunca faltaram. Não temo a morte. De igual modo, não receio envelhecer. Mas desconfio do prolongamento seminatural da vida quando olho para o que me rodeia e sou confrontado com a impotência humana, com o desgosto, com o olhar perdido no tempo daqueles que sofrem na velhice o acréscimo da esperança média de vida. Porque a este não se podem opor. Porque a medicina assim o quer, mesmo quando ninguém lhes perguntou em que condições estariam dispostos a viver os anos que a ciência entendeu acrescentar-lhes. Às vezes para deleite dos vivos. Dos que não vegetam. Dos que se movem e levam uma vida nornal.

Quando o vi ali prostrado, depois de um AVC sofrido há mais de uma dezena de anos que o imobilizou numa cadeira de rodas e lhe retirou quase tudo o que lhe dava gosto fazer, tornando-o naquela espécie de gente sofrida que deve estar sempre agradecida pelo que diariamente por ela fazem, pergunto a mim mesmo se valerá a pena viver assim. Desta vez calhou-me a mim. Lá estava ele, deitado no chão, com duas mantas por cima para não arrefecer, esperando que alguém conseguisse levantá-lo, aguardando pacientemente a sua vez, sem saber quando ela chegaria. Se dentro de dez minutos, se de uma hora, ou se só ao fim de uma eternidade. Sem um queixume. Como se a vida se tivesse tornado numa espera permanente e dependente pela qual, quaisquer que sejam as circunstâncias, se deva estar sempre agradecido. Ali estava ele, diante dos meus olhos, perante o último patamar da dignidade humana. Aquele do qual já ninguém pode fugir no momento em que já lhe falta tudo e nada pode para contrariá-lo. Aquele do qual ninguém nos pode retirar. Por muito que se sofra. A não ser Deus, para quem acredite, o que não é o seu caso de ateu praticante.

E logo depois vejo também os outros, os que se amparam em cada dia que passa aviando receitas, contando as horas para as refeições, os comprimidos, a leitura dos valores da pressão arterial, cuidadosamente anotados numa folha de papel. A máxima, a mínima, a frequência cardíaca, enquanto lá fora a vida segue com o debate quinzenal, as agruras do espólio do BES, ou a discussão sobre os efeitos das eleições gregas no tamanho dos ovos das galinhas nacionais. Ali só interessa saber se é preciso tomar o Varfine, o Lasix ou o Tenormin. A vida está toda nas caixinhas, nos comprimidos brancos, azuis, cor-de-rosa, na quantidade de sal na sopa, no açúcar do chá. Também nas horas e no boletim meteorológico, faça chuva ou faça sol, sendo indiferente para o caso se se deixou de pôr o pé na rua há meses ou há anos. Ah, pois é, é por causa da chuva. O teu irmão amanhã vai dar consultas fora. E se estiver de chuva a Natasha vai ter mais dificuldade com os transportes. E depois a que horas é que ela vai chegar? E tu a que horas vens? Passa quando puderes. Primeiro estão as tuas coisas, mas passa quando puderes. Eu passo. Eu passo sempre. E eles à espera. Sempre à espera. Pensando neles, no frio, no corte das reformas - "estão sempre a tirar-nos, o que eles nos estão a fazer é um assalto; só o ano passado, a mim, foram quase duzentos euros por mês, à tua mãe foi menos, porque a reforma dela é mais pequena, mas também lá foram" -, pensando em nós - em todos nós - dias a fio, nas alternativas que nunca são viáveis por isto ou por aquilo. Está sempre frio. Os aquecedores estão ligados mas está sempre frio. Sair de casa? Vamos ter de pensar nisso, isto assim não pode continuar. Mas entretanto continua. Mais um dia, e depois mais um a seguir ao outro. Todos os dias. Até a seguradora cancelou aquele seguro de vida. Querem o recibo assinado para devolver o prémio. Como, se eu não vejo? Já não sei assinar. Cego há quase cinquenta anos e o tipo quer que ele assine o recibo. Ou que vá ao notário fazer uma procuração. Ou que ponha a impressão digital e o notário certifique. Aos noventa e seis anos. Porque não depositam o cheque na conta? Recebo a reforma por lá. A conta é na Caixa. E por que raio ele se há-de sujeitar a isso. Como eu o compreendo sem o compreender. Era só uma assinatura. Não assino, eles que fiquem com isso. O dedo reconhecido pelo notário. Aos noventa e seis anos. Um tipo não faz a barba porque não tem forças e há-de ir ao notário fazer a procuração. Ou pôr o dedo na burocracia. Uns cretinos.

Hoje a mulher não veio. Há greve nos comboios. O miúdo foi internado, teve de ficar com ele. Está toda a gente com gripe. Caiu? Duas vezes? Então e ninguém diz nada? Já tomou os comprimidos? Já, já lhe dei. Mas hoje não é segunda-feira? Então deu-lhe os de terça-feira. Eu? Não. Não, como? Se na caixa faltam os de terça-feira e hoje é segunda é porque se enganou outra vez. E já lhe deu os da noite? Então trocou tudo outra vez. Outra vez?! Está tudo separado, por dias da semana e refeições. Esta coluna está vazia. Amanhã dou-lhe os de hoje. E depois a tensão desce, e andam cheios de sono, e ninguém sabe por que razão, não é? Se não vê ponha os óculos. Não é para isso que eles servem? E agora a perna engessada. O dia todo na cama. Nem para a cadeira pode ir. Mas tem de ficar sentado. Aquela perna era a que já não mexia. Está inchadíssima. E o ortopedista quer vê-lo na quarta-feira. Às 10 horas? Alguém vai ter de levá-lo. Terão de ser os bombeiros. Vai na cadeira de rodas, ele não pode descer as escadas. E quem aguenta com ele? Nesse dia não poderei ir trabalhar. Vou ter de ir com ele. Não percebo nada do que diz. Fale devagar. E agora está a chorar? Está com os óculos todos besuntados, cheios de dedadas. Já viu como está essa camisola? Não está em condições, não pode andar assim. Como é que podes dizer que não está em condições se ainda esta manhã a vesti? O telemóvel não está carregado. Esteve toda a tarde a carregar. Só se faltou a luz. Vou à janela dizer-te adeus. Tens falado com ela? Ela está boa? Dá-lhe um beijo quando falares com ela. Amanhã passas por cá? Não posso, mãe. Amanhã vou-me embora. Tenho avião de manhã. Oxalá não te dêem frango. Que Santo António te acompanhe.

 

E lá ficaram eles. Com eles. Mais as suas preocupações. À espera. Sempre à espera.

 

Não tinha que ser assim. Não podia ser assim. A velhice não pode ser uma pena, uma condenação pré-morte em nome do progresso para expiação dos pecados que não se cometeram. A velhice não pode ser uma fatalidade. Isto está tudo gatado.

Este país não é para velhos!

Helena Sacadura Cabral, 17.11.13

A nossa sociedade não está preparada nem para velhos nem para solidões. Acontece que aqueles são cada vez em maior número - melhores cuidados de saúde e a saída de jovens - e carregam quase sempre consigo estas últimas. É algo que toda a vida me impressionou, já que pertenço a uma família com o hábito de se reunir à volta dos seus.

Há dias, no supermercado, uma senhora de muita idade agarrou-me no braço e disse:

- peça-lhes que pensem nas nossas porções

- que porções? disse eu

- de tudo. Os velhos sozinhos e com dificuldades levam comida para casa que acabam por comer já rançosa. Veja a manteiga, a margarina, a banha, o azeite, o óleo, feijão, farinha, açúcar, são tudo embalagens muito grandes para uma pessoa só. Quando as acabamos até já fazem mal.

Na altura resolvi-lhe o problema à minha maneira e dividi as porções dela ao meio. Ficou feliz. Mas, depois disto, tudo irá continuar na mesma.

Prometi-lhe que lhe daria voz. Aqui estou a faze-lo, sabendo que ela tem razão e talvez fosse a altura de, com menos pergaminhos higiénicos, se pensar nos nossos velhos e na forma de lhes facilitar compras e consumo, criando embalagens de conteúdos menores. Eu sei que a ASAE acabou com a venda a peso destes produtos. Mas os velhos não acabaram e com as novas disposições acabam por ingerir alimentos em piores condições. 

Se vendem fiambre e queijo às porções, porque é que não poderão estender o processo aos outros produtos desde que em condições sanitárias idênticas? Alguém se lembra disto? Ou pensam que nunca serão pobres nem velhos?!

Este país não é para velhos, é para idosos

Ana Vidal, 26.09.13


Estou farta das pinças lexicais com que os políticos falam dos velhos (pobres) deste país, e tudo se torna ainda mais revoltante em época de campanha eleitoral. Pura hipocrisia: são tratados abaixo de cão, sem qualquer consideração ou respeito na prática, puxam-lhes o tapete no fim da vida com condições de sobrevivência desumanas e humilhantes. Mas dizer "velhos" é completamente proibido, isso é que nunca, como se fosse esse o grande insulto. Têm o maior cuidado em chamar-lhes "idosos" (ou outro preciosismo qualquer inventado por esta esta intragável e oportunista novilíngua) mas tratam-nos como pesos descartáveis. E aposto que dormem que nem justos.

Rainha Sofia

Gui Abreu de Lima, 05.04.13
Aqui, na Calçada do Marquês de Tancos, a chuva tem feito muito estrago. Nem Sofia vê a rua, nem as pombas a visitam, nem a gente lhe pode sorrir, nem os serviços se fazem. Sofia, naquela cadeira de rodas, em dias de sol, mesmo no inverno, chama por quem passa para lhe valer ao que falta faça. Anda cá, disse-me há tempos. Não encontro o palito. Deve estar caído aí no chão. Vasculhei à volta, desviei a cadeira, sacudi a manta, levantei-lhe as pernas, enterrei as mãos por onde podia. E nada, nada dele. Oh, meu Deus, que ainda a pica. Ai, Jesus, se lhe fura a fralda... Deixa lá. Não faz mal. Dá-me outro dali, dás?
 

Entrei, salinha dentro, cerimoniosa. Onde, menina Sofia? Nesse móvel da televisão, tenho aí bolachas. Caixas disto e daquilo, remédios e lenços, e nem sinal de palitos. Raças parta. E ela insistia. Por baixo, por baixo, está, está, procura. Valha-me o Senhor... começo a descrever todo o arsenal, alto e bom som, até que os meus olhos chegam a uma embalagem. Ah! Não me diga que é isto? É, diz-me num sorriso luminoso. Menina Sofia, eu andava à procura de palitos, mas não eram de La Reine, sua bandida! O que ela riu. E eu.
Hoje, voltei a vê-la. Como é menina Sofia, tudo em ordem? Veio o solinho, hã?, que maravilha! É verdade, filha. Olha: anda cá.

Idosa, excluída e morta

Fernando Sousa, 16.01.11

"Uma mulher idosa "bastante debilitada" entrou no Centro de Acolhimento de Xabregas numa sexta-feira à tarde para lá ficar o fim-de-semana. Dormiu e, no dia seguinte, não entregou a chave do cadeado do armário como obriga o regulamento. Nessa noite, não foi autorizada a entrar e "dormiu à porta". "Foi encontrada morta. O INEM já nada pôde fazer." (Diário de Notícias)

 

Um Presidente dito de todos os portugueses e com ambições a continuar no cargo devia perguntar ao Governo, já hoje, o que aconteceu no Centro de Acolhimento de Xabregas, questão que deveria interessar igualmente qualquer dos concorrentes às eleições do dia 23. Um Governo dito socialista e partidário da inclusão social não devia esperar sequer que alguém lhe perguntasse para explicar o que se passou. Uma Justiça à altura das suas obrigações não deveria esperar nem por um nem por outro.