Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Ética, substantivo sem adjectivos

Pedro Correia, 27.04.21

Uma vez e outra e outra vejo repetida a estafada expressão "ética republicana". Que nunca me pareceu fazer sentido.

Ética é um conceito absoluto, não relativo. E os parâmetros éticos - como o mandamento "Não matarás" ou o imperativo categórico, de Kant - estão acima de regimes políticos, conjunturais por natureza.

Há sistemas políticos excelentes e péssimos. Mas não existe boa ou má ética. Neste contexto, é sempre oportuno recorrer à dicotomia estabelecida por David Runciman, com a sua questão já clássica: preferíamos viver na monárquica Dinamarca ou na republicana Síria?

A pergunta tem muito de retórico pois a resposta de cada um está conhecida de antemão. E ajuda a confirmar esta evidência, para mim inequívoca: ética é um daqueles substantivos que não necessitam de ser adjectivados. Quando lhe juntamos um qualificativo já estamos a desgraduá-lo.

Uma posição pessoal contra a deriva populista

João André, 22.03.16

Hoje de manhã, a caminho do trabalho, vi um carro da polícia a seguir em direcção a Bruxelas. Vinha a ouvir música e não ouvi notícias. Soube depois pelos meus colegas dos ataques. Telefonei de imediato a uma pessoa que é quase família e que trabalha no Parlamento Europeu. Tinha estado na estação de metro apenas 20 minutos antes e a filha deveria apanhar o avião mais tarde. Soube por ela que toda a gente estava bem, inclusive os amigos comuns que vivem em Bruxelas.

 

Apesar de ainda viver na Holanda, trabalho na Bélgica e considero mudar-me para Bruxelas em breve. Isto serve apenas para dizer que não estou emocionalmente descomprometido com a situação, que está também a afectar vários dos meus colegas.

 

Espero no entanto que estes ataques não levem os políticos a darem a vitória aos terroristas. Espero que não levem os britânicos a decidirem votar a favor da saída de UE; que não levem a uma viragem isolacionista e anti-asilo na Alemanha; que não empurrem Geert Wilders e outros populistas (xenófobos convictos ou de ocasião) aos governos dos seus países.

 

Espero que isso não aconteça porque sei que quem sofrerá com isso não serão os terroristas, mas antes aqueles que deles fogem e os próprios europeus, que verão as suas liberdades reduzidas e os pilares da sociedade cada vez mais erodidos. Os números de refugiados poderão até diminuir - o que é discutível: continuarão a vir, a morrer no caminho e a entrar, apenas terão mais dificuldades - mas os terroristas, que usam identidades falsas, viajam de avião ou são recrutados nos próprios países alvo, continuarão a agir como até agora.

 

Não tenho soluções para o problema, ao contrário da matilha de comentadores que irão agora ser ouvidos ou lidos em todos os meios de comunicação social. Tenho apenas um desejo, uma ilusão, se quiserem: que quaisquer que sejam as medidas que se irão seguir, as nossas liberdades e os nossos valores sejam mantidos corajosa e estoicamente, porque é nisto que assenta a nossa sociedade. Nesta discussão, que fique claro onde me posiciono.

Não podia ter sido mais leal

Sérgio de Almeida Correia, 13.09.14

"Em fevereiro de 2013, João Miguel Barros, chefe de gabinete da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, e homem da sua confiança pessoal, bateu com a porta e avisou que o Citius e outras plataformas informáticas iriam comprometer o arranque do novo mapa judiciário.

Na altura, as verdadeiras razões da demissão permaneceram no segredo dos deuses. Hoje, o DN sabe que a saída se deveu ao alerta do chefe de gabinete de que era necessário rever urgentemente o sistema de informação dos tribunais."

 

No dia em que o João Miguel se demitiu fiquei apreensivo. Porque sabia o trabalho que tinha entre mãos e há muitos anos lhe conhecia o empenho naquilo em que apostava e a sua capacidade de realização. Na altura, sem querer desvendar razões, limitei-me a mandar-lhe um sms com um abraço amigo e disse-lhe que esperava que tivesse sido por boas razões. Ele confirmou-me que tinha sido pelas melhores razões e acrescentou mais duas palavras que a mim me dizem muito, mas que me abstenho de reproduzir, sem me dizer o porquê da sua decisão. Também nunca o questionei sobre isso. Não tinha esse direito. Porque a despeito das divergências políticas há coisas que devem ficar só entre pessoas que se estimam e compreendem. Aos poucos, pelos textos que publicou no Expresso, fui percebendo melhor o filme. O que o DN revela agora só veio confirmar-me o que há muitos anos penso do João Miguel. Há valores que estão acima de nós, que estão para lá da amizade e da política, e que é preciso continuar a respeitar, preservar e transmitir às futuras gerações. Para lá da circunstância de cada um de nós. A lealdade é um deles. Para com os que nos rodeiam. Em especial para com a nossa consciência.

Uma civilização falida

Ana Margarida Craveiro, 20.04.11

Uma civilização falida também se mede por este género de indicadores. Em plena Semana Santa, há uma exposição de um crucifixo mergulhado em urina. A suposta obra de arte é destruída, e são estes últimos que são considerados os fundamentalistas e alucinados. Aqui há tempos, maluquinhas em topless invadiram uma missa numa capela universitária em Madrid, mas pelos vistos a prisão dessas mesmas maluquinhas é que é um acto fundamentalista. 

 

O respeito e a tolerância costumavam ser valores importantes. Pelos vistos, na Europa de hoje estão submersos em relativismo, como o tal crucifixo. E, provavelmente, terão o mesmo cheiro.