Hoje de manhã, a caminho do trabalho, vi um carro da polícia a seguir em direcção a Bruxelas. Vinha a ouvir música e não ouvi notícias. Soube depois pelos meus colegas dos ataques. Telefonei de imediato a uma pessoa que é quase família e que trabalha no Parlamento Europeu. Tinha estado na estação de metro apenas 20 minutos antes e a filha deveria apanhar o avião mais tarde. Soube por ela que toda a gente estava bem, inclusive os amigos comuns que vivem em Bruxelas.
Apesar de ainda viver na Holanda, trabalho na Bélgica e considero mudar-me para Bruxelas em breve. Isto serve apenas para dizer que não estou emocionalmente descomprometido com a situação, que está também a afectar vários dos meus colegas.
Espero no entanto que estes ataques não levem os políticos a darem a vitória aos terroristas. Espero que não levem os britânicos a decidirem votar a favor da saída de UE; que não levem a uma viragem isolacionista e anti-asilo na Alemanha; que não empurrem Geert Wilders e outros populistas (xenófobos convictos ou de ocasião) aos governos dos seus países.
Espero que isso não aconteça porque sei que quem sofrerá com isso não serão os terroristas, mas antes aqueles que deles fogem e os próprios europeus, que verão as suas liberdades reduzidas e os pilares da sociedade cada vez mais erodidos. Os números de refugiados poderão até diminuir - o que é discutível: continuarão a vir, a morrer no caminho e a entrar, apenas terão mais dificuldades - mas os terroristas, que usam identidades falsas, viajam de avião ou são recrutados nos próprios países alvo, continuarão a agir como até agora.
Não tenho soluções para o problema, ao contrário da matilha de comentadores que irão agora ser ouvidos ou lidos em todos os meios de comunicação social. Tenho apenas um desejo, uma ilusão, se quiserem: que quaisquer que sejam as medidas que se irão seguir, as nossas liberdades e os nossos valores sejam mantidos corajosa e estoicamente, porque é nisto que assenta a nossa sociedade. Nesta discussão, que fique claro onde me posiciono.