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Delito de Opinião

Virou a maré?

Paulo Sousa, 11.09.22

Nos últimos dias os nossos media têm estado ocupados com a transmissão das cerimónias que se seguiram ao desaparecimento da Rainha Isabel II, mas pelo Twitter tem sido possível seguir os últimos desenvolvimentos na Ucrânia.

Pode ser ainda demasiado cedo para garantir que a maré virou irremediavelmente, mas é inegável que as tropas russas, mal treinadas, mal equipadas, com um péssimo apoio logístico e com uma moral em farrapos, estão a recuar na frente norte, tendo já perdido alguns territórios que controlavam desde 2014.

Após um brilhante golpe de contra-informação em que as forças ucranianas anunciaram um ataque a sul em direcção a Kherson, acabaram por surpreender num ataque  a norte.

Assim, e segundo alguns relatos, nos últimos 5 dias a Ucrânia conseguiu conquistar mais território do que a Rússia nos últimos 5 meses. Estamos a falar em mais de 2000 quilómetros quadrados e são bem visíveis neste mapa.

O esforço russo em repor as imensas baixas que tem sofrido acabou por obrigar à inclusão de pessoas menos jovens e com aparente pouca apetência para o combate, proporcionado imagens confrangedoras. Todas as dificuldades que as forças russas mostraram nos últimos tempos deixavam antever que seria uma questão de tempo até que o contra-ataque ucraniano se desencadeasse.

Desde há dois dias, são cada vez mais os registos de rendições russas e de várias cidades recuperadas pelas forças ucranianas. As imagens da forma como os soldados de Zelensky são recebidos, por falantes russos, com flores e abraços, celebrando a sua libertação mostra a emoção da libertação e faz lembrar o fim da Segunda Guerra Mundial.

free ukraine.png  Foto @marra_ua

Nos canais oficiais da TV russa, tão profícuos em propaganda putinista, o mal estar é inegável e alguns apelam já à oração pelos soldados.

Em São Petersburgo, a cidade de Putin, alguns deputados municipais apelaram a que este seja acusado de traição, preso e condenado. O que era impensável há pouco tempo atrás está já a acontecer e acentua a tendência.

A guerra não terminou, nem terminará rapidamente. O Inverno chegará entretanto, o factor climatérico irá impor-se e, como sempre na história, terá uma palavra a dizer, mas a moral ucraniana está definitivamente em altas, exactamente ao contrário do que se passa com os seus invasores.

A desorientação russa em curso é comprovada também pelas sugestões que vão surgindo no sentido de se recorrer a armas nucleares tácticas, o que certamente levaria a que os países vizinhos da Ucrânia exigissem à Nato um envolvimento directo no conflito. O desespero das forças putinistas pode fazer subir ainda mais o grau de risco global desta guerra, mas ao mesmo tempo na frente diplomática as negociações parecem ser cada vez mais urgentes para Moscovo. A confirmar-se tudo isto, a Ucrânia, o ocidente, a Nato, a UE, só a devem aceitar negociar quando a situação de Rússia for ainda mais desesperada. A China também concordará com isso. Já aqui escrevi sobre isso.

Lukashenko, o fantoche bielorusso, sabe que a sua sobrevivência está indexada à de Putin mas tem a vantagem de ainda estar a tempo de procurar exílio na Síria, na Eritreia ou noutro qualquer paraíso do mesmo naipe. Já Putin, não será desta que um ditator sobreviverá a uma derrota numa guerra.

O Dia Mundial Sem Redes Sociais

jpt, 05.10.21

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Desde ontem o 4 de Outubro passará a ser o Dia Mundial Sem Redes Sociais, leio num risonho postal de facebook. O apagão universal durante horas da teia do Facebook (FB, Instagram, Messenger, Whatsapp) - causando seis mil milhões de dólares de prejuízo, (quase) lamenta a imprensa - foi tonitruante. Claro que outras redes sociais continuaram, desde logo o gutural Twitter ou a "alt-network" Telegram, ou as laborais LinkedinAcademia.edu e ResearchGate, pelas quais passei brevemente. E visitei as minhas contas na Goodreads e na Babelio, e enquanto fumava perdi mais 2 ou 3 jogos na Chess.com (estou com o pior ranking de sempre, num ciclo catastrófico que insisti em pensar momentâneo mas que deverá ser já a degenerescência intelectual). Como neste nenhures não tenho televisão nenhum filme vi nem qualquer opção fílmica se me impôs e assim não visitei a IMDB. E como não tenho tido grande actividade nas minhas contas do DailyMotion e do Youtube também por lá não passei, tendo apenas deixado a tocar a Spotify. Nesse quase remanso também não fui à adorável Pinterest, pois é sítio mesmo de passatempo relaxado, nem à Geni, pois nesta precisarei de muito trabalho dedicado, e não é o momento de a isso me abalançar.

Enfim, mesmo se embrenhado neste redemoinho segui como tantos outros, algo desamparado com a inacessibilidade da minha conta do Facebook e com o silêncio do WhatsApp. É certo que uso estas macro-redes fundamentalmente para divulgar os postais de blog (tal como o Twitter, no qual não tujo nem mujo para além das ligações aos postais). Mas, ainda assim, e apesar desta profusão de outras contas noutras redes, fiquei-me algo combalido. 

Valeu-me, vá lá, uma outra rede social, a blogal. Tal como quase todos os dias entrei na minha conta do Feedly, um excelente agregador de blogs. Onde, desde há muito, sigo um largo punhado de blogs - muitos dos quais entretanto encerraram enquanto outros seguem veteranos já algo relapsos, apenas balbuciando em raros postais. Mas há os que continuam viçosos, constituindo uma verdadeira rede social de gente que tem algo a dizer. E que para isso usa palavras, associando-as em formatos sintácticos aceitáveis. Algo óptimo, refrescante, neste mundo das redes sociais. E como tal, no meu caso, digo que o 4 de Outubro é o Dia Mundial das Redes Sociais.

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 10.01.20

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Adolfo Mesquita Nunes: «Não me parece essencial que um deputado tenha um blogue não institucional, embora me agrade a ideia de que tenha. Já me causa mais estranheza, isso sim, que deputados que o não tenham, por falta de tempo ou de jeito ou de gosto ou de disciplina, adiram com tanta facilidade ao twitter, onde comunicam em meia dúzia de caracteres que rapidamente se esfumam, e ao facebook, onde em meia dúzia de caracteres que se esfumam ao segundo comunicam o que pensam.»

 

Ana Vidal: «A RTP 2 tinha hoje à tarde, a apresentar as notícias, uma pivot quase completamente afónica. Dificilmente se percebia o que dizia, e tive mesmo de subir o som para conseguir ouvir alguma coisa. Nunca tal tinha visto, e a situação chegaria a ser cómica se não fosse tão confrangedor o visível esforço que a pobre jornalista fazia para falar. Sinais da crise? Se era essa a razão, aposto que não foi grande a poupança: o tratamento e repouso daquelas cordas vocais esticadas ao limite vão sair mais caros do que uma ou duas horas de uma substituta, pagas a recibo verde.»

 

João Carvalho: «Há quem diga que os casamentos homossexuais são diferentes e que não deviam ser tratados como iguais. Estive a meditar. Esqueçam isso. Um casamento homossexual é o mais igual de todos. Desde logo no sexo dos cônjuges. Os outros é que são diferentes.»

Interessa é participar

Marta Spínola, 25.03.18

Hoje li o seguinte tweet:

 

Twitter 2011: twittava "aula de física mo chato" rolava duas curtida um RT e alguém comenta "é mesmo" Twitter 2018: twitta "aula de física é mó chato" 5k de curtida 2k de RT nos comentários todos brigam sobre a importância da física, te xingam e falam q vc votou no PT

 

Sou utilizadora diária do twitter desde 2009 e confirmo o que ali está. Claro que se trata de um tweet brasileiro, mas o essencial está lá, e aplica-se globalmente: antes lia-se e percebia-se comentando ou não. Agora lê-se e dá-se uma lição. Tento manter-me à margem desta tendência, mas é geral, as redes estão sufocantes com moralismos e filosofia de pacotilha. E como esta não é uma questão de agora, fiz uma busca pelos meus posts no Delito e encontrei este, sobre como nos comentários em geral as pessoas apontam muito rapidamente o dedo, sem pensar muito, importa é participar (da pior maneira possível). 

Tenho pena que o twitter também esteja agora a sofrer com isso. E não, digo já a quem nunca o usou muito, não era assim, a tendência era a inversa. Ali podíamos rir de subtilezas e coceguinhas no cérebro, quem percebia percebia e dava um RT ou interagia, complementava, alimentava uma espiral saudável de boas piadas, quem não percebia passava à frente e ria para a próxima. A timeline seguia o seu curso e pelo meio divertia-me muito. Ainda me divirto, ainda me rio, mas já faço um esforço por procurar o conteúdo e antes não era preciso.

O pior continua a ser o Facebook parece-me (e caixas de comentários de jornais), e nem é preciso procurar. Às vezes vejo o Jogo do Tanso, da Cátia Domingues para crer. É possível que o missing link esteja entre os visados. 

Tenho a convicção de que a saturação com o comentário maldoso vai chegar e teremos o reverso nas redes em geral, ou pelo menos o sossego nas redes. Pode ser só wishful thinking.