Virou a maré?
Nos últimos dias os nossos media têm estado ocupados com a transmissão das cerimónias que se seguiram ao desaparecimento da Rainha Isabel II, mas pelo Twitter tem sido possível seguir os últimos desenvolvimentos na Ucrânia.
Pode ser ainda demasiado cedo para garantir que a maré virou irremediavelmente, mas é inegável que as tropas russas, mal treinadas, mal equipadas, com um péssimo apoio logístico e com uma moral em farrapos, estão a recuar na frente norte, tendo já perdido alguns territórios que controlavam desde 2014.
Após um brilhante golpe de contra-informação em que as forças ucranianas anunciaram um ataque a sul em direcção a Kherson, acabaram por surpreender num ataque a norte.
Assim, e segundo alguns relatos, nos últimos 5 dias a Ucrânia conseguiu conquistar mais território do que a Rússia nos últimos 5 meses. Estamos a falar em mais de 2000 quilómetros quadrados e são bem visíveis neste mapa.
O esforço russo em repor as imensas baixas que tem sofrido acabou por obrigar à inclusão de pessoas menos jovens e com aparente pouca apetência para o combate, proporcionado imagens confrangedoras. Todas as dificuldades que as forças russas mostraram nos últimos tempos deixavam antever que seria uma questão de tempo até que o contra-ataque ucraniano se desencadeasse.
Desde há dois dias, são cada vez mais os registos de rendições russas e de várias cidades recuperadas pelas forças ucranianas. As imagens da forma como os soldados de Zelensky são recebidos, por falantes russos, com flores e abraços, celebrando a sua libertação mostra a emoção da libertação e faz lembrar o fim da Segunda Guerra Mundial.
Foto @marra_ua
Nos canais oficiais da TV russa, tão profícuos em propaganda putinista, o mal estar é inegável e alguns apelam já à oração pelos soldados.
Em São Petersburgo, a cidade de Putin, alguns deputados municipais apelaram a que este seja acusado de traição, preso e condenado. O que era impensável há pouco tempo atrás está já a acontecer e acentua a tendência.
A guerra não terminou, nem terminará rapidamente. O Inverno chegará entretanto, o factor climatérico irá impor-se e, como sempre na história, terá uma palavra a dizer, mas a moral ucraniana está definitivamente em altas, exactamente ao contrário do que se passa com os seus invasores.
A desorientação russa em curso é comprovada também pelas sugestões que vão surgindo no sentido de se recorrer a armas nucleares tácticas, o que certamente levaria a que os países vizinhos da Ucrânia exigissem à Nato um envolvimento directo no conflito. O desespero das forças putinistas pode fazer subir ainda mais o grau de risco global desta guerra, mas ao mesmo tempo na frente diplomática as negociações parecem ser cada vez mais urgentes para Moscovo. A confirmar-se tudo isto, a Ucrânia, o ocidente, a Nato, a UE, só a devem aceitar negociar quando a situação de Rússia for ainda mais desesperada. A China também concordará com isso. Já aqui escrevi sobre isso.
Lukashenko, o fantoche bielorusso, sabe que a sua sobrevivência está indexada à de Putin mas tem a vantagem de ainda estar a tempo de procurar exílio na Síria, na Eritreia ou noutro qualquer paraíso do mesmo naipe. Já Putin, não será desta que um ditator sobreviverá a uma derrota numa guerra.