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Delito de Opinião

Os burros felizes

Paulo Sousa, 03.07.24

A relação da esquerda bem-pensante com os estrangeiros é profundamente bipolar.

Sempre que alguém questiona a política de portas escancaradas do governo anterior, desatam a disparar acusações de xenofobia fascista. Eles sim, são os donos dos bons sentimentos, do humanismo que recebe, que apoia e que abraça. Degredados do mundo, uni-vos e ponde os pés aos caminho. Com os socialistas a mandar, basta assinar (ou pôr o dedo) na manifestação de interesse e automaticamente ganham o direito a poder acampar nos passeios deste país de brando clima e amenos costumes.

Mas, atenção! Têm de ser pobres!

Se tiverem com que comprar uma casa, então o melhor é irem andando lá para os lados de quem vos fez as orelhas. A falta de habitação em Portugal é causada pelos ricos que vêm para cá gozar a reforma. Mundo daqui para fora! (esta é uma expressão que a minha avó usava quando os gatos cruzavam a porta da cozinha atrás do cheiro a sardinhas, e que recordo com saudade). Aliás, não há casas para os jovens por causa dos estrangeiros, pois são eles que alimentam o negócio do Alojamento Local, que está na mão dos patos bravos, dos gananciosos, que deviam lembrar-se que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que um rico ... ah não, isso é outra história, é a mesma raiz de pensamento mas com outra roupa. Mas, dizia, esses gananciosos que têm a mania que são espertos e que se atrevem a fazer pela vida sem andarem de mão estendida para com o estado. Ah isto agora é assim? Devem pensar que têm a liberdade de ter um negócio próprio! Não foi para isso que se fez Abril!

Daí até desatarem a condicionar o flagelo do AL foi um instantinho. O governo humanista do PS, amigo dos emigrantes pobres, que o que mais apreciam neste rectângulo é a calçada à portuguesa, onde montam as suas tendas, sensível ao pulsar da esquerda bem-pensante, logo se encarregaram de criar zonas de contenção absoluta para poderem acabar com esse tormento que é o AL. Escusado será dizer que esta medida mereceu o aplauso convicto da esquerda mais radical, anti-capitalista e alter-mundista.

Entretanto o governo caiu, o ex-secretário de Estado do Turismo foi eleito presidente da Associação de Hotelaria de Portugal e depois disso soubemos que só em 2019, nas freguesias lisboetas incluídas na designada zona de contenção absoluta ao AL, abriram 41 hotéis, que poderão alojar 3248 turistas e que em termos médios têm uma capacidade de alojamento dez vezes superior ao dos AL na mesma área.

E é neste momento que reparamos que o impensável aconteceu. O grande capital, e a esquerda que o odeia, estiveram unidos no aplauso às mesmas medidas. E é nesta altura que eu me lembro da piada daquele burro que come palha seca, mas se tiver uns óculos com lentes verdes, fica bem mais feliz porque esta lhe passa a saber a erva tenra, e sorrio. É sempre agradável ver um burro feliz.

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Imagem gerada pelo DALL-e

Do Turismo

jpt, 25.08.23

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Num mural de Facebook - de tipo que tem a cabeça no sítio, e não está a gemer sobre o assunto... - vejo uma série de comentários dos tradicionais imbecis "lisboetas", esses burguesotes ufanos, tão loquazes eles sempre vêm, uns em registo "doutor" outros mais a la "morcão". O dono do sítio coloca uma foto de gente a dormir em estação ferroviária - muito me parece que será a Estação do Oriente, em Lisboa. Por lá passei no dia seguinte ao final das Jornadas Católicas e estava apinhada de dorminhocos. Sorri e quase fotografei, mas segui, resmungando com o calor na minha via para nenhures...
 
Os comentários dos tais atávicos burguesotes lisboetas vêm numa mescla que nem sortido. Entre o apatetado lamento pela desgraça alheia, como se isto fosse um pungente episódio neo-realista. E o muito pior resmungo com os "turistas", esses malvados que vieram perturbar a paz cidadã - num país que nem cresce nem se desenvolve há um quarto de século, de algemado a pruridos e preconceitozitos dos pequenos privilégios e estuporado pelos fazedores de opinião a la Câncios e quejanda gente. E que para se aguentar vai contando, por enquanto, pelo fluxo da rapaziada turista ("de pé descalço", desprezam os desprezíveis) que cá vem ao vinho barato, ao peixe grelhado e ao Sol ("ai, que calor insuportável que está").
 
Leio os patrícios imbecis - os "doutores" e os "morcões", que são a mesma coisa, diga-se - e regurgito perdigotos. Teclo-os. Raisparta isto, fartei-me eu, e tantos da minha geração e decerto que das subsequentes, de dormir em estações ferroviárias por essa Europa afora, mochila nas costas, "pé rapado" que não descalço, a feder de suor e falta de banhos, a rapar a fome do sem taco para comer, turista de inter-rail no bolso. Exactamente como estes mais-novos de agora, aqueles católicos que vi, outros de outros credos... Qual é o mal humanitário disto, a desgraça que impende sobre os assim mal-dormidos? E qual a mácula na Gesta Pátria?
 
As pessoas não se "fazem de estúpidas". São, genuinamente, imbecis. E peroram. Não é legítimo calá-las, censurá-las. Mas é necessário, urgente, obrigatório, insultá-las. O dever cívico do insulto. Burras!

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 27.09.22

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Hoje celebra-se O Dia Mundial do Turismo

​​​​"Este dia enaltece o valor social, cultural, político e económico do turismo. Tanto as economias desenvolvidas como as economias em desenvolvimento foram duramente atingidas pelo covid-19. O turismo foi muito penalizado, mas poderá contribuir agora para a recuperação económica
 
A Organização Mundial do Turismo, enquanto agência especializada das Nações Unidas, pretende valorizar o turismo como pilar no combate à pobreza e à redução das desigualdades."
 
Todos somos turistas pelo menos uma vez na vida. Ir para fora cá dentro também é fazer turismo. É verdade que a pandemia abalou os alicerces do turismo português em 2020, mas a recuperação foi visível em 2021 e em 2022 voltámos a ser um destino turístico de eleição. Apesar das nuvens que cobrem o leste da Europa, acredito que o turismo continuará em alta, porque, por muito que a vida encareça para os portugueses, o resto do mundo consegue fazer férias de grande qualidade em Portugal.
 

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Hoje assinala-se O Dia Europeu do Desporto Escolar

"Esta é uma iniciativa da União Europeia integrada na Semana Europeia do Desporto. Teve início em 2015 e visa promover o desporto no nosso continente através de um conjunto alargado de actividades dirigidas a toda a população, independentemente da idade ou do nível de preparação física."

 

A actividade física sempre marcou o ensino nacional (com grande pesar meu, que nunca fui dada a fisicalidades) pela positiva. Vejo pelos meus netos o quão importante é interagir e integrar-se em equipas, nas aulas de ginástica ou natação, por exemplo. 

 

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27 de Setembro é O Dia do Leite com Chocolate

"Esta bebida agora existente em qualquer pastelaria ou café tem origem na Jamaica. O mercado global de leite com chocolate deve crescer a uma taxa de 3,6% até 2024.

As bebidas de chocolate tiveram fins medicinais ao longo da história. Em 1687, o botânico irlandês Hans Sloane foi nomeado médico do Duque de Albemarle, na Jamaica. Naquela terra, Sloane conheceu a água de chocolate e tendo achado as bebidas muito amargas e acrescentou leite para lhe dar gosto. Devido à  posição, foi autorizado a trazer essa bebida para a Europa, onde começou a pregar os seus benefícios medicinais e vendê-la para boticários.

A popularidade do leite com chocolate foi aumentando sempre a partir daí. Hoje é uma das bebidas mais populares do mundo."

 

Bem quentinho, com uns pozinhos de noz moscada e natas, numa noite fria nos arredores de Braga, por exemplo, debaixo de um magnífico céu estrelado, embrulhada num polar, não tem como ter pensamentos tristes, taras são as endorfinas que nos percorrem.

(Imagens Google)

Liberdade sobre rodas

Paulo Sousa, 06.03.21

O auto-caravanismo como modo de viajar livremente e fazer turismo em Portugal está definitivamente ameaçado.

O novo Código da Estrada, que entrou em vigor no início de 2021, proíbe no seu artigo 50.º-A a pernoita no interior de uma auto-caravana. Continua a ser permitido pernoitar dentro de um carro de passageiros, dentro de um pesado de mercadorias, sobre um veículo de tracção animal e até no chão em cima de uns cartões, mas passou a ser proibido fazê-lo dentro de um veiculo equipado para dormir no seu interior.

Na literatura juvenil dos meus tempos, lembro-me do livro “Os cinco e o circo”. É o quinto livro da colecção, que guardo com gosto, e que ando a ler, um capítulo por serão, à minha filha. Nessa história, que no dia que os donos do discurso correcto dela tiverem conhecimento não hesitarão em inclui-la no novo index, os quatro jovens e o seu cão passeiam em duas roulotes de tracção animal e cruzam-se com uma companhia de circo. No longínquo tempo em que a acção decorre, imagino que seja algures nos anos 50, a ausência de supermercados faz com que eles vão de quinta em quinta comprar comida. Mesmo sendo menores de idade, as personagens conduzem os animais que puxam pelas roulotes, decidem onde dormir e comer, e passam vários dias sem dar notícias à família. Nos dias de hoje, apenas pais irresponsáveis e potencialmente sinalizados pela Segurança Social permitiriam tal coisa.

Bem sabemos que o mundo mudou. Apenas o título do nono livro da colecção, “Os cinco e a ciganita”, tinha hoje potencial para abrir um telejornal. Durante a acção, o David – Dick no original – anda aos murros com o sujo e desgrenhado João, e só mais tarde entende que o João é afinal uma Maria João. Fica embaraçado porque não se deve bater em raparigas. O seu maior incómodo não resulta do facto de se tratar de uma cigana, mas sim o facto de ser uma rapariga. Enid Blyton, a autora, que hoje seria igualmente proscrita, consegue assim nesta personagem misturar vários ingredientes que agora exigem a maior delicadeza e pudor. Esse arrojo, certamente involuntário, ainda é mais central pela forma como trata a personagem principal que é a Zé, a Maria José - Georgina no original. Quem leu os livros recorda-se bem de que se trata de uma rapariga que, por se recusar à fragilidade associada ao sexo feminino, tenta passar-se por rapaz.

Nesse tempo longínquo uma pessoa com mau feitio e teimosa não era mais que uma pessoa com mau feitio e com forte personalidade. Saltando para actualidade, essa mesma pessoa foi reduzida a uma enciclopédia de psicologia dentro de umas peças de roupa.

Este é nosso tempo. É o tempo em que um governo gasta dinheiro suficiente para desenvolver um projecto espacial, numa empresa como a TAP, com o argumento de que é esta empresa que nos garante a entrada de turistas no país, e no mesmo dia defende a construção de um novo aeroporto porque o actual não é (não era) suficiente para a forte procura das companhias aéreas estrangeiras. Diz ainda que o turismo é tão importante para a nossa economia que é necessário proibir os auto-caravanistas de pernoitarem dentro das suas auto-caravanas, salvo em locais permitidos e formatados para tal efeito.

As queixas deste artigo 50.º-A tem sido muitas. Cristina Mendes da Silva, em nome do governo e do PS concorda que o auto-caravanismo é muito importante para o nosso país mas a lei que temos é esta. Com a honestidade intelectual a que estamos habituados, mistura o combate à pandemia com a nova lei, como se o auto-caravanismo não fosse, até em termos epidemiológicos, uma forma segura de passear.

Entende-se que a hotelaria não aprecie o turismo itinerante e que possa aplaudir esta nova lei, mas será que após o confinamento, o que restar da nossa excelente restauração, nomeadamente fora dos grandes centros turísticos, não lamentará que estas casas sobre rodas, nacionais ou estrangeiras, possam escolher ficar ou dirigir-se apenas para Espanha e para lá deixarem o IVA e ISP dos seus consumos?

Preocupados em salvar o turismo e em combater a pandemia, só no primeiro mês desta nova lei, as autoridades “detectaram” 60 infracções e arrecadaram uns bem pedagógicos 3.540€.

Para quem conhece o espírito de liberdade associado ao turismo itinerante, tudo isto não é mais que (mais) um atentado à liberdade.

Muros que unem

Paulo Sousa, 05.09.20

Há um concurso televisivo em curso que se correr bem será uma excelente promoção para o meu concelho e para o maravilhoso e pouco conhecido Parque Natural da Serra d'Aire e Candeeiros. Não que eu o queira ver atulhado de gente, mas não consigo ficar indiferente à sua paisagem entrecortada pelos muros, erguidos geração após geração, numa relação milenar de equilíbrio entre o homem e o ambiente.
Há um número de valor acrescentado para apoiar esta candidatura. Quem gostar desta foto e/ou do Parque e dos seus muros, sabe bem o que pode fazer.

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Aquela concavidade na foto é a Fórnea de Alvados, também conhecida por Cova da Velha e tem um diâmetro de mais de 600 metros.

É, sem dúvida, mais um motivo para amar Portugal.

Insegurança e desconfiança

Pedro Correia, 06.07.20

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O Presidente da República, que já se tinha deslocado duas vezes aos Açores, em Janeiro e Junho, prometendo regressar em Agosto, dignou-se enfim dar um saltinho à Madeira. Talvez estimulado pelo facto de o social-democrata Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional madeirense, lhe ter chamado «bengala do Governo» e admitido concorrer contra ele daqui a seis meses, na próxima eleição para o Palácio de Belém.

Antes da terceira visita ao arquipélago liderado pelo socialista Vasco Cordeiro, Marcelo Rebelo de Sousa lá se dignou picar o ponto na Madeira, numa espécie de toccata e fuga que nem durou 24 horas na ilha descoberta por Gonçalves Zarco. Além de aplacar os ânimos de Albuquerque, que poderia contribuir para lhe reduzir a ansiada fasquia dos 70% na reeleição prevista para Janeiro, o Presidente terá procurado transmitir mensagens de «segurança e confiança» no combate ao Covid-19 em solo madeirense. Para encontrarem eco nos telediários do Reino Unido, que acaba de excluir o nosso país dos "corredores turísticos" deste Verão devido ao aparente insucesso português no combate à pandemia - notícia desastrosa sobretudo para regiões como o Algarve e a própria Madeira, onde os britânicos representam 17,9% das dormidas turísticas.

Iniciativa meritória, a de Marcelo. Duvido muito, no entanto, que obtenha sucesso. Imagino como o verá um inglês médio que observe as imagens dele no Funchal, falando às pessoas na rua sem nunca abandonar a máscara e forçando os demais membros da comitiva a comportarem-se da mesma forma para não parecer mal. Quem entre nós, se fôssemos britânicos, se sentiria seguro e confiante para fazer férias num sítio destes?

Lisboa e Porto

Cristina Torrão, 26.01.20

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Ontem, um canal regional alemão, pertencente ao 1.º canal público ARD, mostrou um pequeno programa sobre duas cidades portuguesas. A revista televisiva que costumo comprar, porém, fez uma imensa confusão entre as duas. Traduzindo o texto acima: «Lisboa conta-se entre as "boomtowns" turísticas na Europa. Mais de seis milhões de visitantes anuais - para apenas 500.000 habitantes. A reportagem guia-nos às grandes Praças do Rossio e do Comércio, ao lindíssimo bairro de Alfama e ao Mercado da Ribeira. Depois, segue para o Porto, na margem do Douro».

Presumo que os «500.000 habitantes» deviam pertencer ao Porto. E a legenda da imagem vai ainda mais longe: «Arquitectura imponente: a ponte Dom Luís I em Lisboa»!

Um texto destes é capaz de pôr os cabelos em pé de qualquer português. Para os mais radicais, aqueles que levam a um nível muito pessoal a rivalidade (que se quer saudável) entre as duas maiores cidades do nosso país, um texto destes pode ser mesmo caso para insultos aos responsáveis da revista.

Apesar de também criticar a falta de cuidado com que este pequeno texto foi escrito, aconselho um respirar fundo aos mais indignados. Afinal, se uma revista televisiva portuguesa fizesse uma confusão destas entre Berlim e Hamburgo, não nos merecia mais do que um encolher de ombros (quando muito... e só para quem estivesse em condições de detectar os erros). E eu, que vi o programa, garanto que não se misturaram as duas cidades. Foi uma pequena reportagem interessante, que é bem capaz de atrair ainda mais turistas ao nosso país. Se isso é bom, ou mau, fica ao critério de cada um.

O Demónio e Mr. Prim

Maria Dulce Fernandes, 22.08.19

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Quase todos os meses de Abril, de há alguns anos a esta parte, saímos para recarregar baterias, coisa que toda a gente que trabalha muito, tem gatos, filhos e netos, deveria fazer para manter a sanidade mental. Desligar... não totalmente... só um bocadinho, mas desligar sim, e recuperar a vida a dois, nem que seja por apenas três ou quatro dias.

Há três anos, calhou escolhermos a República Checa. Calhou também decidirmos fazer uma caminhada de cerca de 30 km pelo Bohemian Saxon Switzerland National Park.

Partimos de Lisboa com tudo organizado ao pormenor e fomos informados na véspera do passeio que Mr. Prim, o melhor guia para aquele tour em particular, nos iria buscar ao hotel às 8:00h.
Fantástico! Estávamos realmente expectantes.
Aconteceu como previsto. Durante a viagem de automóvel demo-nos a conhecer e ficámos a conhecer Mr. Prim na medida do possível.

Escusado será dizer que a meio do caminho para Pravčická Brána tive que fazer uma pausa para me reunir com as minhas pernas, que tinham entretanto resolvido entrar em greve devido a exigências não regulamentadas na ACT.
Após as promessas da praxe, chegámos a acordo, para o que muito contribuiu a chegada ao Falcons Nest, com descanso e um bom almoço a acompanhar.

Como não podia deixar de ser, convidámos Mr. Prim para nos fazer companhia.
A meio da refeição, dei a volta à conversa e em vez de fazer as habituais perguntas sobre a República Checa, resolvi perguntar o que sabia Mr. Prim sobre Portugal.

Mr. Prim, que já tinha estado em Lisboa há cerca de cinco anos, não gostou. A cidade era feia, suja e sentia sinceramente pelos portugueses, porque viviam em condições de extrema pobreza…
É certo que as notícias sobre o País não têm sido fabulosas, mas seguramente Portugal tem uma qualidade de vida superior à da República Checa, retorqui. Sorriu condescendente e respondeu que lá (na Rep. Checa) não viviam em casas de madeira sem saneamento básico (!!).

Não pude deixar de rir, mas rir mesmo. Onde, pelo amor da santa, terá o Mr. Prim ficado hospedado e por que caminhos terá andado para se deparar com aquela dantesca realidade?
Não consegui saber muitos pormenores. Acredito que a visita de Mr. Prim fosse coisa tipo relâmpago, pois pouco ou nada sabia de Lisboa, para além da anunciada pobreza e más condições sanitárias. Que o hotel não ficava longe do rio e passava pelas tais "barracas" para chegar à margem.

Quem me conhece minimamente sabe que quando acredito que tenho razão não me calo, e o pobre Mr. Prim passou mais de 10km, até às Edmund Gorges, a ouvir sobre a minha terra e a história das pseudo-casas de madeira.
Castigou-me com a descida mais íngreme e escorregadia da minha vida, mas apesar de ter uma preparação física a anos-luz da nossa, garanto que acabou mais cansado, tal não foi a injecção sobre Lisboa que lhe ministrei.

Mas por muito que tentasse, foi impossível contornar aquela impressão negativa de uma cidade salobra e escura que Mr. Prim tinha gravada nos recônditos do seu disco rígido.

O meu passeio ao Parque foi estupendo. Aconselho vivamente.

Lamento apenas que o nosso País, tão bonito, tão brilhante, N vezes ao quadrado mais simpático do que a República Checa, seja tão erroneamente interpretado.
Estes turistas que nos chegam, em Fam Trips, vêm tantas vezes "comprar" o destino para o poder incluir nos seus pacotes de tours.

Chegados cá, a que demónio será entregue a organização da sua estadia? Não acredito que o Turismo de Lisboa, que normalmente dá a conhecer a nossa capital com tanta clareza e desvelo, tenha transformado mais uma oportunidade de "vender" Lisboa num passeio à timberland...

A praga do turismo

jpt, 13.05.18

Nestes últimos dias reflectindo sobre a incompetência dos nossos governos, inertes permitindo estas vagas de turistas populares, chegados aos magotes em voos "low cost", descaracterizando as nossas cidades, em particular a capital Lisboa, e seus centros históricos, tudo vasculhando em frenesim de olhares desatentos e de energúmenas selfies.

 

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(otherie, por cpt)

 

Sei que mostrar a cara é uma estética-FB, alheia ao discreto charme blogal. Mas não há outra forma de colocar este postal.

 

 

 

 

Técnicas de combate ao turismo

João Pedro Pimenta, 05.08.17

Não aprecio lá muito ver hordas com o uniforme de turista tão evidente (calções, mochila de variado tipo, boné de pala e um mapa que não sabem ler nas mãos), ou a entrar de chanatas no Café Majestic. Mas não deixa de ser curioso que, praticamente no mesmo dia em que se lançam grandes debate sobre a "turistificação em excesso", as formas de restringir ou mesmo de combater o turismo (até de forma violenta), surja também a notí­cia de restaurantes que exploram os turistas mais incautos a preços abjectos. Afinal quem é que prejudica quem? Grande falta de sentido de oportunidade, no mí­nimo.

 

Sinais de alarme

Pedro Correia, 31.03.17

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A moda dos alojamentos temporários, privilegiando a instalação ocasional de estrangeiros no centro das cidades enquanto se vão empurrando os habitantes permanentes cada vez mais para as periferias, ameaça implodir de vez o já débil mercado de arrendamento em Lisboa, que nem as imposições da tróica conseguiram dinamizar.

A um ritmo vertiginoso, a capital portuguesa continua a ser gerida muito mais em função de quem nos visita do que em função de quem cá vive ou aqui trabalha. O que está bem patente na licença já concedida à edificação de mais 40 hotéis na cidade até ao fim de 2017.

Até quando a pressão turística continuará a condicionar o mercado imobiliário, sem correcções nem ajustamentos que permitam conciliar os interesses de quem por cá passa com as legítimas expectativas de quem cá habita em permanência, sem aumentar ainda mais a distância diariamente percorrida entre locais de residência e postos de trabalho?

Enquanto os responsáveis alfacinhas se debruçam sobre esta questão, é tempo de perceberem os sinais de alerta que nos vão chegando de outras paragens, convertidas igualmente em destinos turísticos muito afamados. Para que a ganância desenfreada de uns quantos não acabe por matar em poucos anos a galinha dos ovos de ouro.

Aqui ficam alguns:

Maiorca esgotará em cinco anos o seu solo edificável.

Palma deixa de ter apartamentos para alugar.

Médicos de Ibiza vão dormir num velho hospital devido ao elevado preço da habitação na ilha.

Professores sem casa dormem em ginásios.

500 euros por viver numa varanda.

"Cada uno en su rutina"

Diogo Noivo, 25.09.16

Nos eléctricos de Lisboa há uma enorme mistura entre a necessidade e o prazer. Quem o diz é Juan José Millás, um dos mais célebres e interessantes escritores espanhóis contemporâneos, num artigo publicado pelo El País Semanal. Em poucas linhas e partindo de uma fotografia, Millás retrata a Lisboa de hoje, onde as velhas e trágicas rotinas de quem lá vive coincidem com as novas (e talvez igualmente trágicas) rotinas de quem a visita. É ler e perceber.

Da propriedade dos turistas

José António Abreu, 19.01.15

 

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AHAHAHAH

Acabámos de saber (estupefactos) por um Secretário de Estado, que o crescimento do turismo no Porto não se deve nem à política de promoção que a cidade tem feito nem ao extraordinário trabalho que os portuenses (empresários e cidadãos) têm feito.

A razão para o enorme sucesso do turismo deve-se ao trabalho deste Secretário de Estado e à presença do Porto na imprensa internacional que, por sua exclusiva e enorme competência, tem promovido a cidade no estrangeiro.

E é bem verdade, basta olhar para a capa do New York Times, para as centrais da Monocle, para a última página do Libération, para a página 4 do El País para se perceber a presença deste enorme Secretário de Estado e o competente trabalho que o seu Governo tem feito na promoção do Porto. Estão a vê-lo? Reconhecem-no? Chama-se Adolfo Mesquita Nunes... Palavras para quê, é um artista português.

 

Mudei-me de Gaia para o Porto no ano passado. Não votei, pois, em Rui Moreira - mas tê-lo-ia feito se já residisse no Porto em 2013. Isso não me impede de considerar absurda, para além de infantil, a reacção de Moreira às declarações feitas por Adolfo Mesquita Nunes, o secretário de Estado do Turismo, ao Jornal 2 da RTP da passada quinta-feira. Mesquita Nunes disse não apenas o que devia dizer mas o que qualquer portuense com dois dedos de testa sabe: o turismo no Porto cresceu em resultado de uma conjugação de factores, entre os quais se destacam a captação de voos de companhias low-cost para o aeroporto Francisco Sá Carneiro, a estratégia de promoção assente nos meios digitais e na publicação de artigos em revistas e jornais estrangeiros (em vez de em «eventos») e os investimentos privados na cidade, que a dinamizaram muito para além do que as «forças intelectuais» sedentas de subsídios públicos que se opuseram constantemente à acção de Rui Rio alguma vez conseguiram. Aparentemente, Moreira queria mais. Queria (como parece ficar óbvio pela colecção de imagens que afixou na sua página do Facebook) uma palavra de reconhecimento a quem é presidente da autarquia há pouco mais de um ano. Queria palavras bonitas sobre a capacidade de iniciativa dos portuenses (que existiram) mas não palavras realistas sobre outros factores (é evidente que a Ryanair desempenhou um papel crucial). Esta incapacidade para analisar fria e racionalmente os assuntos, prescindindo de vaidadezinhas que seriam estéreis se não fossem afinal prejudiciais, é um dos grandes problemas dos políticos portugueses (e não só deles; trata-se de uma característica bastante disseminada). Lamento que Moreira se esteja a deixar cair em reacções tão básicas, injustas e improdutivas. Até porque, não tendo tido oportunidade de votar nele em 2013, gostaria de poder fazê-lo no futuro.

 

P. S.: Não consegui encontrar o vídeo completo da entrevista. O excerto a que se pode aceder na página do Facebook de Rui Moreira é tão representativo como um quadradinho retirado bem do centro da bandeira portuguesa é representativo das cores que a compõem.

 

Disclaimer: Apesar de Adolfo Mesquita Nunes ser colaborador do Delito, os únicos contactos que mantive com ele foram através de emails genéricos, direccionados a todos os participantes no blogue. Ainda um dia hei-de ir a um almoço de delituosos mas, até lá, o único que conheço pessoalmente - e não tão bem quanto gostaria - sou eu.

Um abraço colectivo ao Adolfo

André Couto, 31.01.13

Sou politicamente insuspeito no elogio ao nosso Adolfo Mesquita Nunes, a quem hoje foi entregue a Secretaria de Estado do Turismo. Estou certo que todos neste espaço, autores e leitores, lhe damos a maior força, certos de que estará à altura de tão nobre desafio.
A aposta no Turismo por parte do Governo tem sido curta e, diga-se, por parte da oposição as críticas têm sido estilo calças pelos tornozelos. Não é preciso, no entanto, ser visionário, para perceber que este pode ser um sector chave na recuperação económica do País, através da geração de emprego e captação de investimento. Até a aparente sazonalidade deste sector pode ser contornada, Portugal não é só um País de praias, havendo todo um outro País a divulgar...
O Adolfo Mesquita Nunes sabe isto melhor que nós. Este é um dia feliz, porque alguém indubitavelmente competente foi designado para o Governo.

Ecoturismo

Pedro Correia, 13.07.12

Ora aqui está uma causa que julgo merecer apoio: dizem-me que a recolha de fundos está a decorrer a bom ritmo mas ainda há necessidade de alguns donativos. Em nome do ecoturismo, um conceito cada vez mais em voga, também entre nós. Por acaso vem a propósito de uma nova série que pretendo lançar no DELITO, sobre as serras de Portugal. Depois desta e desta.

A brincar ou a sério?

José Navarro de Andrade, 28.03.12

Portugal sempre foi um país extraordinariamente violento.

Para não ir mais atrás, em 1807 participámos com brio na Guerra Peninsular, sendo que não houve por cá um pintor à altura de Goya para desenhar a carvão o que fazíamos aos franceses que se atrasavam da coluna. Seguiu-se uma assanhadíssima guerra civil que demorou a extinguir. Mesmo depois de assinado Évora-Monte, continuava o país a ser uma charneca fora de portas das cidades, com Brandões, Remexidos e outos bandoleiros que tais a ditar a lei do punhal onde lhes aprouvesse.

A coisa pareceu acalmar no último quartel do séc. XIX, mas foi só para tomar balanço. No curto período de 13 anos, entre 1908 e 1921 foram assassinados um Rei, um Presidente, um Primeiro-Ministro (António Granjo), um herói nacional (Machado Santos) e 2 Ministros, os 4 últimos na Noite Sangrenta. Fora alguns ajustes de contas avulsos, como o caso do Senador José João de Freitas que em Maio de 1915 tentou matar a tiro num comboio o Primeiro-Ministro indigitado João Chagas, mas acabou linchado pelos populares no Entroncamento. Um palmarés destes, nem nos famigerados Balcãs.

Seguiu-se o Estado Novo, que até foi levezinho em crimes de Estado, se o medirmos com os seus congéneres ditatoriais: Espanha e Grécia, por exemplo, para não falar dos pequenos fascismos que medraram à sombra de Hitler e Mussolini, como a Hungria, a Roménia, a Bulgária, Vichy, a Croácia dos Ustase ou a Sérvia de Nedic.

Manhoso como só ele, Salazar trocou os fusilamentos políticos e o derrame de sangue nas ruas, à maneira do Chile, da Argentina ou do Uruguai, por safanões num vão de escada. E fez pior, muito pior: destilou a ideia de sermos um povo de brandos costumes. Uma falácia que foi ganhando raízes ao mesmo tempo que durante mais de 10 anos, os mancebos de Portugal passavam os primeiros anos de adultos em África, a praticar brandas e discretas sevícias nos autóctones.

Desculpem o meu francês, mas brandos costumes my ass. Por isso não deixo de ficar estupefacto quando vejo umas correrias no Chiado, com uma polícia aparvalhada, uns rapazolas a menearem-se diante dela em danças tribais, um par de esplanadas de pernas para o ar a dar cabo do turismo e – agora é que não percebo mesmo – uns esganiçados a berrar “fascistas” – a sério?

Querem fazer isto como deve ser, à antiga portuguesa? Ponham então os olhos nos coreanos ilustrados abaixo. Senão será melhor ficarem em casa. Agora assim, com esta mariquices, só demonstram a póstuma e perene vitória do espírito salazarista.

 

Aquilo que realmente nos distingue de outros destinos turísticos

Rui Rocha, 29.08.11

Existirá algum ponto em que Portugal se distinga, realmente, de outros destinos turísticos? Temos Sol, é certo. Mas, outros têm-no também. Até mais intenso. O mar? Temos tanto mar, de facto. Todavia, já vi águas mais turquesa, mais calmas e mais quentes. Somos ainda, é verdade, um país relativamente seguro. Tão seguro como muitos outros lugares. Ao contrário do que se possa pensar, os nossos preços não são baixos. Pelo contrário. Não faltam destinos muito interessantes com relação qualidade preço mais favorável. Temos uma história longa, mas estamos longe de dispor de uma oferta cultural ou monumental tão entusiasmante como aquela que se pode encontrar em Itália, França ou Espanha, para só dar alguns exemplos. A nossa simpatia? Sim, é certo que não somos franceses no trato. Mas daí a dizer-se que somos um povo extraordinariamente hospitaleiro ainda vão mais uns passos. Será então a alegria contagiante que nos distingue?. Pois, quanto a isso estamos conversados. O leitor, por esta altura, depois de tanta hipótese sugerida e refutada, estará já com pouca paciência para continuar a acompanhar este exercício de erro e tentativa. É pois tempo de partilhar as conclusões a que cheguei. Sim, parece-me que Portugal tem uma marca distintiva, um aspecto em que é imbatível. Refiro-me à gastronomia. Rica, diversificada, apurada. Entradas, sopas, peixes, carnes, sobremesas. Uma profusão de sabores, cores e paladares. Ao dispor de quem nos visita em qualquer canto e esquina, mesmo (ou sobretudo) nos locais menos pretensiosos. Não conheço ainda meio mundo. Mas, por onde tenho passado, nunca encontrei nada assim.