Está no Governo a fazer o quê?
Foto: Global Imagens
Portugal sofre neste momento uma das maiores catástrofes ambientais de que há memória. Cerca de um terço do Parque Natural da Serra da Estrela - património nacional, reserva ecológica europeia - já foi consumido pelas chamas. Há fortes suspeitas de incúria e de incompetência no combate a esta acção devastadora das chamas, como tem sido reportado na comunicação social. Incluindo o registo de aviões a fazerem descargas de água em locais onde nada ardia.
Mas não só ali. Ontem, registavam-se 95 fogos florestais e agrícolas em todo o País, tendo duplicado para 26% o registo de acções criminosas, segundo o ministro da Administração Interna. A linha ferroviária do Norte foi encerrada quando as chamas já ameaçavam as carruagens, como ficou registado em vídeo por passageiros.
Neste quadro, potencialmente agravado pela perspectiva de subida das temperaturas, o que fez o Governo? Esperou por esta sexta-feira para anunciar que no domingo Portugal entrará em «situação de alerta».
Porquê tão lenta reacção?
Porquê este absurdo hiato de 48 horas?
Ninguém sabe explicar.
Muito menos a secretária de Estado da Protecção Civil, Patrícia Gaspar, que ontem à noite compareceu sorridente nos estúdios da SIC para uma entrevista em que se revelou incapaz de responder às perguntas feitas pelo jornalista Rodrigo Pratas.
«Uma situação deste género foi de alguma forma trágica», disse esta cultora de eufemismos, chamando «ocorrência» à destruição florestal em curso na Serra da Estrela. Enquanto, confrontada com sucessivas questões concretas do seu pelouro, ia balbuciando: «Não tenho informação.»
Neste trágico Verão, já arderam 92 mil hectares no nosso país. Portugal é hoje o terceiro Estado da União Europeia com mais área queimada em números absolutos, sendo superado apenas por Espanha e Roménia, países com maior superfície territorial.
Perante isto, o que disse a secretária de Estado, que anteriormente foi número dois da Protecção Civil a nível nacional?
Algo espantoso, depois de consultar um papel. Afirmou ela: «Os algoritmos dizem que a área ardida que devíamos ter devia ser 30% superior.»
Patrícia Gaspar considera portanto, com base na esforçada consulta à sua cábula, que ainda ardeu pouco. Apenas 70% do território que estaria previsto no tal canhenho algorítmico foi consumido pelas chamas.
Em vez de nos indignarmos, devíamos até comemorar.
Oiço estes dislates e uma vez mais me interrogo: esta gente está no Governo a fazer o quê?