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Delito de Opinião

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 05.05.22

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No dia 5 de Maio comemoramos O Dia Mundial da Língua Portuguesa

"O Dia Mundial da Língua Portuguesa comemora-se a 5 de Maio. Este dia celebra a projecção da quarta língua mais falada no mundo. Com cerca de 260 milhões de falantes, é língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. É também um das idiomas oficiais de Macau. Existem importantes comunidades que falam o nosso idioma na América do Norte. As Nações Unidas estimam que, em 2050, 387 milhões de pessoas falem português. 

Na União Europeia, cerca de 3% da população fala português, sendo um dos 24 idiomas oficiais e de trabalho e é, de facto, a terceira língua oficial da UE mais falada no mundo. Os cidadãos europeus de língua portuguesa têm acesso à legislação e aos documentos fundamentais da UE em português e o direito de se dirigirem por escrito a qualquer instituição ou órgão da UE em português e de receber uma resposta na mesma língua.

As reuniões do Conselho Europeu e do Conselho da União Europeia são interpretadas para todas as línguas oficiais e, no Parlamento Europeu, os representantes eleitos pelos cidadãos também têm o direito de se expressar em português ou em qualquer outra língua oficial da UE."

Não me creio chauvinista, mas durante a minha procura de imagem que ilustrasse os parágrafos acima, não encontrei uma sequer em que a bandeira portuguesa estivesse em destaque, tendo assim que a procurar no meio da cacofonia de cores das bandeiras dos PALOPs. Sem ser por xenofobia ou racismo, apenas constatando o facto de que a língua portuguesa é a língua que se fala em Portugal há quase mil anos e há substancialmente menos tempo nos outros países que a têm também como língua oficial. 

Todos os governos pós-ditadura fizeram, fazem e continuarão a fazer estrago neste país de gentes serenas, mas nada se compara à cirurgia plástica operada à língua portuguesa, de tal modo que, entregue não a um expert mas a um talhante, ficou espostejada e desfigurada de tal forma que parece uma sombra de si própria. Após a intervenção criminosa, prosseguiram com uma violação mil vezes pior: a de a ministar sob a forma de teratoma nas escolas, a crianças inocentes, cobaias desta aberração. 

Portugueses houve, intelectuais de relevo, que honravam a sua língua e que se autointitularam Os Vencidos da Vida. Que cognome para os perpetradores desta chacina linguística senão os Vendidos da Vida?  

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Hoje também comemoramos O Dia Mundial da Higiene das Mãos OMS

"A Direção-Geral da Saúde (DGS), através do Programa Nacional de Prevenção e Controlo de Infecções e das Resistências aos Antimicrobianos, comemora a cada 5 de Maio o Dia Mundial da Higiene das Mãos, promovido anualmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Num contexto de pandemia como aquele em que se vive, a higiene das mãos tem um papel especialmente relevante. Por isso, a DGS quer dar ênfase à higiene das mãos integrada no conjunto das precauções básicas de controlo de infecção como uma medida de continuidade, quer em época de pandemia, quer depois da mesma, como um legado comportamental positivo."

Curioso... pensei que tinham retomado uma prática com mais de 2000 anos instituída por Pôncio Pilatos, mas nisto das grandes ideias há sempre a questão do plágio, principalmente se não foram patenteadas.

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Comemoramos também  O Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante

​"O objectivo do Dia Mundial do Trânsito e da Cortesia ao Volante é sensibilizar o condutor para a necessidade de uma condução segura, de forma a prevenir acidentes, proteger a sua vida e a de outros condutores e passageiros.
Apesar de a cortesia ao volante ser um dever de todos os condutores durante todo o ano, neste dia relembra-se a importância de ser cortês ao volante. Como a estrada pertence a todos, devemos estar atentos a todas as movimentações, respeitar os limites de velocidade e as prioridades, ceder a passagem e dar sinais de mudança de trajectória, entre outros comportamentos."
 
Numa época em que muitas das cartas de condução são obtidas ilicitamente e cerca de 30% das quais por pessoas que não sabem ler ou escrever (pelo menos em português corrente), esta sensibilização com direito a dia mundial faz bem à alma de todos os que, como eu, andam necessitados de boas gargalhadas. 
 

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A 5 de Maio comemoramos ainda O Dia Mundial da Parteira

"Neste dia de título oficial "Dia Internacional do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia / Parteira" celebra-se o trabalho das parteiras e dos parteiros que contribuem diariamente para o milagre do nascimento e para o bem-estar de milhões de mães e de crianças pelo mundo fora."

O Dia Internacional da Parteira foi criado pela OMS em 1991 para homenagear o trabalho desempenhado pelas parteiras no cuidado prestado às mulheres e à vida humana."

Eu nasci em casa pelas mãos de uma parteira, a D. Adelina, enfermeira diplomada e grande amiga, que também assistiu o nascimento dos meus dois irmãos e da minha filha mais velha, mas desta feita já em ambiente hospitalar. Foi responsável por um dos grandes encantos da minha vida, o meu irmão mais novo, quando me depositou a trouxinha chorona nos braços, acabadinha de nascer. Tinha eu onze anos. 

Muito poucas foram as amigas da minha mãe que deram à luz em maternidades. A segurança não se sobrepunha ao conforto. As enfermeiras parteiras seguiam as gestantes e fazer o parto em casa fazia parte da mística da gravidez.

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Comemoramos ainda O Dia Mundial da Password

"Celebra-se hoje, primeira quinta-feira de Maio, o Dia Mundial da Palavra-Passe, também conhecida como password. 

O recurso a palavras-passe remonta à Idade Média, quando mensageiros tinham a difícil tarefa de aceder a remotos castelos encerrados sobre si.

Ao longo da história militar muitos foram os códigos a que se recorreu para proceder a uma verificação de identificação, com as ‘passwords’ a surgirem na linguagem de espiões nas duas guerras mundiais.

A entrada no mundo digital dotou o dia-a-dia de todos com um grande número destas palavras de código."

Na minha condição de pessoa esquecida, vejo-me e desejo-me com as palavras-passe, cada vez mais complicadas para minha segurança. Como era simples quando bastava um nome ou uma data e não um conjunto alfanumérico com símbolos, espaços, maiúsculas e minúsculas, que mudo com a frequência da fugacidade de uma lepidóptera. Para minha segurança e para evitar esquecimentos, aponto-as religiosamente algures, mas rapidamente lhes esqueço o paradeiro ou uso mnemônicas que depois não consigo decifrar, mas tudo se faz pelo bem da segurança.  Perguntem à CGD se é assim ou não é.

(Fotos do Google)

Férias

José Meireles Graça, 15.08.20

Já tive férias que começaram com melhores auspícios. Ontem, ao chegar perto da VCI, vindo de Guimarães, via-se a cauda da interminável fila em direcção à ponte do Freixo. Acontece cada vez mais, aquele acesso está à espera de uma obra que corrija o erro do previsível estrangulamento que a obra original provocou. Esperto como sou, resolvi ir pela Arrábida, razão pela qual andei no pára-arranca durante quase duas horas.

Ao chegar à Arrábida, percebi: estavam dois ou três operários a trabalhar na junta de dilatação da ponte, devidamente enfarpelados em amarelo, e quatro ou cinco fiscais, ou engenheiros, mais o carro da GNR e os respectivos agentes. A proporção usual, portanto nada a dizer.

Sucede que das três faixas estavam interrompidas duas. Aparentemente, não ocorreu nem ao dono da obra, nem ao responsável local, nem aos prestimosos agentes da ordem, que interromper desnecessariamente (porquê duas em três e não uma em três; porquê de dia e não de noite), em horas de grande circulação, um eixo viário daqueles, justificaria que, sem danos físicos permanentes (sou um defensor estrénuo da moderação  em matéria penal) o dono da obra, o responsável, os agentes da GNR – se não denunciaram o caso superiormente – fossem objecto de um mínimo de dez chibatadas.

Antes de chegar à VCI, na A3, há daqueles pórticos luminosos em que se prodigalizam conselhos inanes das autoridades sobre incêndios, a Covid, a velocidade e mais um par de botas, igualmente cambadas pelo uso e pela justificada indiferença das pessoas.

O que não havia era informação sobre um facto simples: a ponte da Arrábida estava em obras; pelo lado do Freixo havia um considerável atraso; há um percurso alternativo, para quem queira ir para Sul, que nasce da portagem da Maia e passa o Douro em Crestuma. Se os senhores condutores se quisessem poupar aumentos da tensão arterial, e reforço da sua justificada aversão aos poderes públicos, não tinham mais do que ir por aí.

Razões pelas quais, depois de madura consideração, e passado mais de um dia para efeito de arrefecimento de uma exaltada indignação, me vejo na contingência de alargar a penalidade sugerida de dez para quinze chibatadas, incluindo na justa sanção o treteiro que faz a gestão dos pórticos informativos e, já agora, o presidente da Câmara do Porto, como responsável máximo local, pelo menos naquela embrulhada indigna da VCI que fica pertíssimo do seu tão estimado Dragão.

De gás

José Meireles Graça, 29.02.20

Nos EUA, uma terra de excessos, há um desporto ilegal e pouco conhecido: trata-se de fazer o percurso entre Nova Iorque e Los Angeles, de carro, no menor tempo possível. O recorde foi batido por três moços, há umas semanas, com  27,5 horas, o que dá uma média superior a 160 km/h. Suponho que não ficará por aqui: o carro tinha 75.000 km, salvo erro, era um carro de produção e, excepto pela electrónica embarcada e gadgets diversos, não se distinguia de outros topos-de-gama (para usar a expressão que jornalistas invejosos consagraram) com um cunho desportivo.

Tudo contra a lei e arriscando multas astronómicas e penas draconianas: naquelas paragens trancafiam as pessoas por pecadilhos, os juízes tomam-se por deuses, os polícias por juízes, e os cidadãos law-abiding por polícias, nunca ninguém tendo podido demonstrar se o sistema de justiça é assim porque a sociedade é violenta, ou se a violência das instituições explica uma parte da violência da sociedade. Coisas lá deles, em todo o caso.

Por cá, que eu saiba, ainda ninguém se deu ao trabalho de fazer a mesma coisa entre o Porto e Lisboa, ou entre o Porto e Faro. Se bem que, tanto num como noutro destes percursos, tivesse umas histórias para contar, sem electrónicas nem recordes, que não conto por receio de causar danos ao mesmo tempo à minha reputação de pessoa amante da lei e da ordem e à minha credibilidade.

Há uns dias, três moços morreram em Lisboa numa brincadeira a 300 km/h. O detalhe da velocidade foi glosado abundantemente pela imprensa, mas no troço em que morreram, à hora a que morreram, na marca do automóvel em que morreram (o preço, senhores, o preço do carro, foi pacificamente considerado como circunstância agravante – num Renault Clio sempre era uma morte mais socialmente tolerável), semelhante velocidade é inverosímil.

Que o diabo os leve: a testosterona incita os jovens a fazerem loucuras; não se percebe o que fazem no mercado automóveis que excedem amplamente as velocidades permitidas; é impossível, mas seria desejável, controlar de alguma forma as velocidades acima do permitido de todos os veículos; e estas mortes são a demonstração de que há ainda muito caminho a percorrer pelas autoridades de modo a que se adoptem atitudes civicamente responsáveis, a mal porque a bem há sempre quem fure.

Certo? Errado. Porquanto:

  1. As diferenças de segurança activa entre automóveis são tão grandes, consoante a marca, a idade, o preço, o estado de conservação, as características, que a imposição de um limite igual para todos não pode senão ser, e de facto é, um nivelamento por baixo, que os que podem e sabem com frequência ultrapassam, mesmo inadvertidamente;
  2. Não há limites de velocidade diferentes para bom e mau tempo. E todavia as diferenças de condições de aderência com chuva e tempo seco são enormes. As polícias, porém, têm tendência a, com chuva, não fazerem operações, possivelmente porque os autos de notícia ficam esborratados;
  3. Todos os condutores aprendem a estacionar entre duas árvores, o Código e a controlarem a embraiagem sem solavancos. O que fazer em situações de perigo não aprendem. Ou seja, a formação consiste na escola primária – ensino secundário nunca, que para ir daqui ali o primário chega perfeitamente e somos todos iguais, mesmo que na ignorância;
  4. Todos os automóveis são hoje mais seguros do que alguma vez foram, para velocidades iguais, e todos incorporam mecanismos de segurança activa (travões de disco, suspensões inteligentes, direcções assistidas, ABS e um imenso etc.) que fazem com que, às velocidades legais, e salvo distracções, os acidentes sejam improváveis. Minorados também nas suas consequências, no que intervêm dispositivos de segurança passiva, como airbags, cintos de segurança ou habitáculos indeformáveis, do que aqui não curo;
  5. A maior parte das inovações em matéria de segurança activa não resulta de intervenções dos poderes públicos: vem da competição automóvel, da competição entre as marcas, da inovação, da criatividade e do mercado para infractores.

Atentemos nisto: mercado para infractores. Não faz nenhum sentido produzir automóveis que nunca, mas nunca, possam ser utilizados em situações de velocidade fora dos limites legais, hoje generalizados em todo o mundo. Continuam porém a produzir-se para satisfazer vaidades, por um lado; mas também porque os fabricantes sabem que os condutores jogam ao gato e ao rato com as autoridades rodoviárias.

Jogam cada vez menos porque os meios de controle e repressão têm vindo a acentuar-se. E disto já vemos consequências: há cada vez mais SUVs – não são verdadeiramente desportivos, apesar do nome, proporcionam maior sensação de velocidade sem que ela seja verdadeiramente elevada, e, apesar da configuração de tanques, são menos seguros do que as limousines equivalentes.

Se as autoridades insistirem, a seu tempo os fabricantes competirão pelo luxo, as linhas, as comodidades, a segurança passiva – mas pela segurança activa não porque não será um factor diferenciador.

Quer dizer que os infractores, até agora, têm protegido os cumpridores – estes conduzem carros muito seguros porque não foram feitos para eles.

Pode ser que nada disto interesse no futuro: talvez a evolução tecnológica venha a impor que circulemos sem condutor, a alta velocidade porque a tecnologia permitirá que o façamos em segurança.

No passado ficarão os que morreram porque eram chanfrados, e cuja morte não foi inútil porque garantiu que muitos outros nunca tivessem acidentes.

Jardim Lisboa

jpt, 02.02.20

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Jardim Lisboa: vamos ter uma cidade mais ecológica, mais ajardinada, mais bilhete-postal. Como contestar?

Leio que haverá ciclovia na Almirante Reis. Já vejo os lisboetas pedalando avenida acima, uns virando à Graça, outros do Areeiro descendo (e subindo) a Moscavide e por aí ... Acho muito bem. Muito saudável. Muito moderno. Muito Medina, digamos assim.

Entretanto: anteontem, sexta-feira, eram 19.57 quando entrei na estação de metro dos Anjos. 6 minutos para comprar bilhete, pois apenas duas máquinas e meia dúzia de pessoas na habitual atrapalhação de quem não as conhece. Depois 9 minutos para o comboio. Saí na Baixa-Chiado. Aguardei 7 minutos pelo comboio. Chegou, entrei. E aguardei que arrancasse. 2/3 minutos. Na estação seguinte idem, estancado. Na estação seguinte idem. Saí no Marquês. Esperei 7 minutos pelo comboio. Lá aportei ao Rato. Entrei no restaurante, passando já do "um quarto para as nove" e os amigos a protestarem, risonhos, com o meu atraso. Ansiosos por me verem? Ou, como eu, a resmungarem: a pé tinha(s) chegado mais depressa? Pois dos Anjos ao Rato de metro levei mais de três quartos de hora ...

Jardim Lisboa, como contestar o iluminismo do dr. Medina, a cidade-bilhete-postal? As ciclovias avenidas acima e abaixo? Os eixos pedonais? Os etc. e tal?

Sem receio da mudança

Cristina Torrão, 22.08.19

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Imagem Wochenblatt

Estou muito orgulhosa do "meu" Horst. Atreveu-se a mudar de emprego aos 56 anos e até teve direito a reportagem no jornal diário local. Trabalha, desde 1 de Agosto, na Câmara de Stade, a sua cidade-natal e onde vivemos há 20 anos, como planeador de tráfego, fazendo parte de uma equipa que pretende criar um novo conceito para a cidade, dando mais espaço aos peões e aos ciclistas (não, a Greta Thunberg não vai resolver os problemas ambientais do planeta, mas o movimento por ela iniciado está a ter reflexos e é isso que importa; quem, de nós, conseguiria tal proeza?).

Esta decisão do Horst exigiu coragem, pois, apesar de continuar funcionário público, está à experiência por seis meses. Se algo correr mal, pode ser despedido ao fim desse tempo. Para isso, rescindiu um contrato de trabalho vitalício, que tinha com a Câmara de Hamburgo, onde trabalhava há 26 anos. Como sabem, a Alemanha é uma federação de estados. Hamburgo é uma cidade-estado; Stade, apesar de estar a apenas 50 km, pertence ao estado da Baixa Saxónia. Um funcionário público não pode mudar de estado, mantendo o mesmo contrato, pois a entidade empregadora é diferente. Mas há-de tudo correr bem, estamos confiantes.

O emprego em Stade, além de lhe proporcionar fazer um trabalho para o qual está muito motivado, fica pertinho de casa. É só agarrar na bicicleta e, em dez minutos, chega ao emprego. Um verdadeiro sonho para quem, durante 20 anos, viajou de comboio todos os dias para Hamburgo, uma hora para cada lado.

O Horst merece.

Obs: a bicicleta dele não é eléctrica.

Punição e prevenção

João André, 28.01.14

Li estes textos do Paulo Pinto e concordo especialmente com um aspecto fundamental: aumentar as coimas de pouco serve. Como ele escreve, torna-se tudo um jogo de roleta: se as probabilidades de não se ser apanhado forem baixas, o aumento das coimas é pouco útil. Se forem elevadas, então até um valor baixo já serve.

 

Perante isto olho para o exemplo holandês. Os holandeses são dos condutores mais enervantes que conheço. Fazer sinal com o "pisca" é contra a religião de metade deles. Nas autoestradas têm como noção de distância de segurança em relação ao condutor da frente, o espaço onde caiba, no máximo, uma bicicleta (qualquer distância de segurança normal é apenas um espaço para se meterem). Em cruzamentos gostam de cortar curvas; etc, etc, etc.

 

Há um aspecto curioso, no entanto: há relativamente poucos acidentes. As razões para isso (a meu ver) prendem-se com 4 aspectos:

 

1. Velocidade. Os holandeses não ultrapassam os limites de velocidade. Quando vão na autoestrada e compressa talvez sigam a 10 km/h mais que o limite. São raros os aceleras.

2. Álcool. Não conduzem embriagados. Se estiverem sozinhos, não bebem. Se em grupo, seleccionam o BoB (aquele que não bebe) e esse fica abstémio.

3. Estradas. Os impostos de circulação são pesados (um Opel Corsa 1.3 a diesel custa cerca de 220 €/trimestre em imposto) e são usados para ter estradas impecáveis.

4. Automóveis. A inspecção é implacável e quando chega o período dela começam a chegar os e-mails e as cartas da garagem onde a fazemos e da DGV cá do sítio. Carros em mau estado são despachados.

 

E, voltando ao início, a probabilidade de se ser apanhado é relativamente elevada. Os radares são conhecidos, mas há tantos que se torna difícil escapar. Além disso, quando toda a gente conduz dentro dos limites e com a densidade automobilística do país, torna-se muito difícil ultrapassar os limites. Assim sendo, bastam coimas que começam nos 10 € (sim, dez euros) para excessos de velocidade relativamente baixos (até 10 km/h a mais, creio).

 

Claro que nada disto é simples. Exige investimento (não só em equipamento) e exige educação (as crianças são bombardeadas desde cedo). Portugal, apesar de tudo, tem vindo a melhorar dramaticamente desde há décadas. O caminho que falta fazer, no ntanto, não deveria ser pela via da punição. Antes pela da prevenção.

Em conversa directa

Ana Margarida Craveiro, 30.12.11

Luís, o Estado faz dezenas (centenas?) de operações de sensibilização. Construiu estradas novas, mais seguras, para minimizar os efeitos que não resultam das acções individuais. Gasta dinheiro dos contribuintes em campanhas de prevenção, para que esses mesmos contribuintes aprendam a ser responsáveis. Em cada fim-de-semana, desloca centenas ou milhares de agentes para as estradas, a patrulhar, a fazer a tal "caça à multa", para que os inocentes como tu e eu não sofram as consequências das acções dos outros. Se podia fazer mais? Não sei. Se cada condutor podia fazer mais? Com toda a certeza. É só isso. E não me parece assim tão descabido. Nas primeiras aulas de condução que tive, o instrutor disse-me que tinha uma bomba nas mãos. Uma bomba que me matava a mim, e aos outros. Infelizmente, raramente vejo essa consciência à minha volta.

Da responsabilidade individual

Ana Margarida Craveiro, 30.12.11
      

 

Tenho visto por aí algum brado a propósito das declarações deste senhor GNR. Que é insensível, que não respeita os mortos e suas famílias, etc., etc., e dá-me vontade de perguntar: mas a sério que vivemos no mesmo país? A sério que vivemos todos num mesmo país onde gente com bem mais de um copito em excesso pega no volante, onde o limite de velocidade é uma coisa para totós, onde os piscas a assinalar ultrapassagem são uma coisa que se usava no dia do exame de condução?

Em Portugal, andar na estrada é um desafio constante à vontade de querer ver nascer o dia seguinte. Mas ninguém o diria, a avaliar pela certeza de que há um Senna em cada um de nós. Os sacanas dos polícias é que andam à caça da multa, uns palhaços. Depois a curva estava no sítio errado, começou a chover, os pneus ou os travões falharam. Inevitavelmente, depois de fins-de-semana de festa, temos as listas de mortos e feridos graves, a mostrar que entrar num carro é causa de morte. Mas a fantástica lógica destes Schumachers de trazer por casa consegue sempre distorcer qualquer noção de responsabilidade individual. E os trágicos números não são mudados por esta distorção.

Uma questão de prioridades (3)

José Gomes André, 15.02.09

O Rui Pedro Nascimento trouxe um interessante contributo para a discussão sobre o trânsito na Baixa, neste post (escrevi sobre o assunto aqui e a Fernanda Câncio aqui). Do texto do Rui destaco um trecho bastante sugestivo: "[...] defendo o fecho do trânsito na Baixa [...] para transformar essa zona da cidade numa zona de vida cultural e de lazer de excelência. [...] Organizando teatros de rua, permitindo aos artistas da(s) escola(s) de circo que ali actuem (só dois exemplos), juntando a isso a oferta já existente na área, promovida pelo Coliseu, o Politeama e o Teatro Nacional. Isto, claro, combinado com um policiamento capaz e com os restaurantes e lojas abertos até mais tarde."

Discordo contudo da parte final do texto, quando o Rui escreve: "[...] e quanto aos utilizadores das vias adjacentes, acontecia-lhes o mesmo que aconteceu quando deixou de ser permitido aos veículos pesados no Terreiro do Paço, junto ao rio: encontraram outros caminhos!". Feliz ou infelizmente, a Baixa tem uma extensão e uma importância nas linhas viárias de Lisboa muito superior à do Terreiro do Paço, pelo que a supressão absoluta do tráfego na Baixa não se resolveria com um simples "desvio" para outras zonas. A menos que queiramos bloquear de vez o Marquês de Pombal e as Amoreiras!

Uma questão de prioridades (2)

José Gomes André, 13.02.09

Procuremos responder a este texto de Fernanda Câncio sobre o meu post. Passemos por cima da sua estratégia habitual para menosprezar os seus interlocutores (como a de me chamar "cara pessoa") e falemos da substância do problema. É evidente que o tema do trânsito da Baixa é polémico, mas que existem bons argumentos para o defender. Contudo, "poder apanhar um táxi e sair à porta das lojas" quando a zona está cheia de transportes públicos não é seguramente um deles. Tal como não é sério referir-se na mesma frase ao “bem comum” e ao direito dos habitantes da Rua do Ouro e da Prata em abrirem as janelas e não “sentirem a casa a tremer na hora de ponta”.

O debate sobre o bem público tem que ir para além destes sentimentos egoístas e desta lógica bairrista (não por acaso Fernanda Câncio mora na Baixa), porque senão amanhã os habitantes do Saldanha, de Benfica e do Campo Grande também vão querer fechar as estradas para respirarem melhor e não ouvir carros nem ambulâncias. A questão, como sempre, é pesar as vantagens e inconvenientes de uma medida tendo em conta quem dela usufrui directa ou indirectamente. E embora me pareça uma boa ideia limitar o trânsito numa zona histórica (para habitantes, turistas e frequentadores), é igualmente verdade que a Baixa corresponde a um vector fulcral no tráfego da capital.
Sem se remodelar o sistema de transportes públicos gerais e sem se projectarem vias alternativas para o trânsito, o fecho do tráfego na Baixa conduzirá a um entupimento de zonas limítrofes como a Avenida da Liberdade, o Marquês e a zona das Amoreiras, já de si francamente congestionadas. Imagino que para quem pretenda fazer compras na Baixa, isto tenha pouca importância. Mas para os muitos lisboetas que necessitam de viatura própria para chegar ao trabalho, pode ser a diferença entre um dia normal e uma visita ao Inferno.

Descoberta...

João Carvalho, 07.01.09

No Telejornal, a notícia é sobre a neve em França. «Faz parte das regras» - explica a repórter da RTP. «Nas autoestradas não se pode parar, mas a regra foi hoje quebrada» por causa da neve, blá-blá-blá.

Não era preciso ir tão longe: por cá também não se pode parar, nem estacionar, nem circular a menos de 50 quilómetros por hora. E, no entanto, nas autoestradas de acesso a Lisboa e Porto há diariamente milhares de veículos parados...