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Delito de Opinião

Ainda sobre os palermas

Paulo Sousa, 05.05.22

Paulo Tunhas presenteia-nos semanalmente no Observador com alguns detalhes captados pelo seu olhar treinado na filosofia e que escapam aos banais observadores da realidade, onde me incluo.

Hoje escreve sobre as palavras certas das pessoas simples, sobre a forma linear como as vítimas dos bombardeamentos russos explicam aquilo por que têm passado, mas não só. Às páginas tantas diz:

 

“Ouvir um comunista é ouvir uma máquina de palavras – a célebre “cassete” – cujo contacto com a realidade é puramente acidental. Até a maníaca repetição de fórmulas sublinha esse lado maquinal. E as máquinas de palavras são indiferentes à verdade. Como são indiferentes à verdade os conspiracionistas sortidos, de esquerda ou de direita, que vêem na invasão da Ucrânia a resposta justa e inevitável a uma urdidura dos Estados Unidos e dos seus velhos aliados britânicos, que arrastariam consigo a União Europeia. Os conspiracionistas são, em geral, analfabetos que confundem uma desconfiança originada pelo que se chama “egoísmo lógico” com uma forma de cepticismo. Dito de outra maneira: recusam-se a acreditar no que o comum acredita porque isso os faz sentir intimamente detentores de uma verdade oculta que não está ao alcance da maioria. Também a estes a mentira os atrai como uma luz inesperada e lhes faz descobrir um mundo de possibilidades infinitas que o banal respeito pela verdade infalivelmente restringiria.”

 

Aderir a uma religião ou a uma ideologia é aceitar uma grelha de interpretação da verdade que garante uma bateria de respostas para perguntas difíceis. Uma teoria da conspiração é muito mais fácil de levantar, pois basta juntar duas ou três coincidências e, como quem une os pontos, em vez de os ligar com segmentos de recta, recorre a criativas formas curvilíneas que têm de cruzar também os seus medos e ódios. Há sempre uns tontinhos que, por partilharem os mesmos medos e ódios, acabam por engolir a embalagem toda sem mastigar. São os palermas.

Já acabaram com as teorias estapafúrdias?

João Pedro Pimenta, 12.03.20

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Já que anda tudo a lançar a sua opinião sobre o coronavírus nas redes sociais (uns, inconscientes ou engraçadinhos, como se isto se tratasse com bagaço, outros quase apocalípticos, a dizer que "há 15 dias que devia estar tudo fechado", ou seja, quando não havia casos em Portugal) e a divulgar as últimas informações que ouviram, podíamos começar a mudar alguns hábitos, e não falo só de higiene (mas também: a quantidade de pessoas que não lava as mãos quando deve é atroz). As teorias da conspiração, por exemplo.

Espero que aquelas pessoas que andaram com aquela conversa de que "isto é um plano da China para diminuir população" (travar a economia para morrerem escassos milhares de pessoas? Será isso, o brilhante plano?) ou então que "isto é um vírus inventado nos laboratórios para as famacêuticas ganharem milhões com a vacina" (então porque é que ainda não a começaram a vender num mercado como o chinês, quando os números decrescem a olhos vistos e o pânico se instala no Ocidente?) tenham um pouco mais de juízo quando começam com os seus "cá para mim". Isso aplica-se também a "comunicadores", como aquela célebre apresentadora que afirmava há poucas semanas que o vírus só infectava os chineses. E mais ainda a chefes de estado de países de grande população, com o incumbente de Vera Cruz, que acha que o coronavírus é fantasia propagada pela "mídia".

Infelizmente as teorias e os boatos existem desde que o mundo é mundo. Mas como agora as redes sociais as divulgam muito mais facilmente, pedia-se um bocadinho de contenção, e se possível, de juizinho, que bem vai ser preciso.