A minha caixa de Pandora
Tinha eu talvez 6 anos de idade, quando o meu avô Américo chegou uma tarde a casa com uma caixinha escura com um arame rertorcido por cima a que chamavam antena. E à caixa escura, chamavam televisão. Não era novidade para mim ver figuras a preto e branco movimentarem-se a pé, a cavalo, de carroça, de bicicleta, de carro ou até de avião dentro duma janela minúscula, pois acompanhara bastas vezes a minha madrinha a lanches à Provinciana, pequena pastelaria que além das torradinhas tinha uma daquelas caixinhas na parede, para onde a minha madrinha olhava embevecida, seguindo avidamente as aventuras do Mascarilha, o Lone Ranger e seu fiel amigo Tonto, faladas numa linguagem compreensível mas estranha, que era o Português do Brasil. Eu aguardava que, a todo o momento, uma pequena porta se abrisse e as pequenas figuras saíssem após acabar o episisódio, mas para grande desapontamemto o meu as longas esperas foram sempre em vão.
Aquela caixinha escura abriu-me a grande porta do mundo mágico e hilariante que continha as tropelias do Charlot, as burrices do Bucha e Estica, os desenhos animados do irreverente manda Chuva, as ursadas do Zé Colmeia e Catatau, os calhaus dos Flintstones… dezenas, centenas de hora de riso e diversão.
Foi pela mão do meu pai que aos 9 anos de idade vi o meu primeiro filme: a Música no Coração. Não era dobrado, precisei que o pai fosse explicando, mas penso que percebi bem, pois fartei-me de chorar no fim. Mas foi um choro feliz, aliviado, de completa realização. Ainda agora, e seguindo os velhos hábitos do pai, que era um sentimentalão, quando preciso descarregar, vou ver a Música no Coração, a Fuga para a Vitória, o ET ou o Campo de Sonhos; acabo lavada em lágrimas, mas com o espírito muito mais leve.
Há filmes intemporais. Adoro bons argumentos, bons personagens, bons actores e sobretudo bons realizadores.
Adoro Hitchcock: Vertigo, O Homem que Sabia Demais, A Janela Indiscreta, Os Pássaros. De John Houston, O Falcão de Malta; Casablanca, de Michael Curtiz; Até à Eternidade, de Fred Zinnemann; Ben-Hur, de William Wyler; E Tudo o Vento Levou, de Victor Fleming... Muitos, dezenas, centenas, da chamada era de Ouro de Hollywood, e alguns carismáticos, mais recentes, como o Milos Forman, que tornaram imortais personagens como R.P. McMurphy, em Voando Sobre um Ninho de Cucos.
Qualquer Spielbergada é excitante. Os melhores, são sempre os menos divulgados como Amistad, A Cor Púrpura ou Encontros Imediatos do 3.º Grau. A geração mais nova só conhece o Tubarão, o E.T., os Indiana Jones, os Parque Jurássico... muito bem feitos, muito divertidos, muito comerciais, mas A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan ou o recente War Horse são espectaculares e precisos, bons filmes de época, e que sendo também blockbusters, juntaram o útil ao muito agradável.
Depois, vêm todos os filmes de ficção científica, alguns dos quais considero de culto: Star Trek, Star Wars, LOTR, X-Men & Cia da Marvel e DC Comics (os meus favoritos foram os Hell Boy, vá lá saber-se porquê...) e mais recentemente o Avatar, do Mr. Titanic, que não apresentando nenhum argumento sui generis, foi muito bem conseguido.
E todo o universo Marvel e DC, de que eu devorava os comics e agora devoro filme atrás de filme com a mesma devotada excitação. Os Hellboy, por exemplo, foram ambos de uma precisão insuperável.
Há tantos e tão bons, que podia passar dias inteiros a falar sobre eles. Por isso vou rematar com chave de ouro: adoro Tim Burton. Todos os filmes do Tim Burton são fantásticos e têm a capacidade de serem sempre inovadores e de me surpreenderem. Tem uma maneira estranha e sombria de retratar o seu imaginário, o que o torna sonhador, irreal e tétrico em toda a sua grandiosidade. O universo de Tim Burton é povoado de magia criada a partir da matéria de que são feitos os sonhos e os pesadelos e que estranhamente nos catapulta para a bizarra realidade:
“Boys and girls of every age
Wouldn't you like to see something strange?
Come with us and you will see
This, our town of Halloween”…
Este país pode não ser Halloweentown, mas é sem dúvida Holloweenland, e o pior é que o Pesadelo não é só de Antes do Natal, parece que veio para ficar e lamentvelmente por muito tempo.