«É a circunstância que gera uma parte daquilo que é o problema com o qual nos temos confrontado»
«Nos tempos mais recentes uma das coisas que tem falhado é a capacidade institucional de ter uma articulação estável e articulada e integrada que permita que de facto a rede funcionando como um conjunto, funcionando como um todo, seja utilizada, conhecida, programada e sem alguns desequilíbrios nessa resposta. Portanto, dai que a primeira resposta seja de facto a criação de uma comissão de acompanhamento da resposta em emergência de ginecologia e obstetrícia e bloco de partos que integra cinco coordenadores regionais e um coordenador nacional e que replica de alguma forma o modelo que já utilizámos quando foi necessário maximizar a coordenação nacional por exemplo na resposta às necessidades de medicina intensiva. Portanto esta comissão irá funcionar num modelo semelhante, sendo que o trabalho desta comissão é muito vocacionado para aquilo que é o curto prazo e quando estou a dizer curto prazo estou a falar dos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro. Então o que irá fazer esta comissão? Designadamente identificar os recursos disponíveis por hospital e região mas também aprovar um modelo de articulação e gestão integrada dos hospitais de cada região apoiando as administrações regionais de saúde nesse trabalho, centralizando, analisando, apoiando a elaboração dos planos de contingência de cada hospital. (…) Por outro lado esta equipa terá também a missão de por exemplo propor ou discutir com as administrações regionais de saúde a necessidade de celebração de acordos com outros sectores – o sector privado, o sector social – como aliás já fizemos no passado também noutras situações de necessidade e como sabem também as nossas reuniões desta semana envolveram o sector privado e social e houve disponibilidade de, dentro das limitações que também o sector privado tem para esta resposta, nos apoiarem. Por outro lado será também uma tarefa muito importante desta equipa, desta comissão, o acompanhamento dos indicadores de saúde materna, daqueles que se podem acompanhar no curto prazo, ir monitorizando para efeitos de acompanhamento daquilo que é a qualidade. Entre outros aspectos, naturalmente estou a sublinhar os mais importantes. Este é um aspecto, outro aspecto também no curto prazo prende-se com uma circunstância que todos temos percebido que é também a circunstância que gera uma parte daquilo que é o problema com o qual nos temos confrontado, que é a necessidade de rever questões associadas à remuneração médica em serviço de urgência.»
O enorme parágrafo anterior transcreve parte do que disse a ministra da Saúde na semana passada, só para anunciar isto: face ao caos nas urgências hospitalares, o Governo decidiu criar uma comissão. Recurso habitual para iludir o problema: consta dos manuais do ramo.
Conversa mole, discurso redondo, gastando quatro ou cinco vezes mais palavras do que o necessário. Para marcar a agenda mediática. Muita forma, nenhum conteúdo.
Com este palavreado, de que aqui ficam apenas breves excertos, Marta Temido abriu os telediários dessa quarta-feira. Conseguiu 4 minutos e 36 segundos de tempo de antena no Jornal da Noite da SIC, 5 minutos e 53 segundos no Jornal das 8 da TVI e 6 minutos e 46 segundos no Telejornal da RTP.
Missão coroada de sucesso. Os problemas da saúde podem esperar.
Texto publicado no semanário Novo.