Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Vítor Gaspar

José Maria Gui Pimentel, 17.06.11

É claramente uma segunda escolha. Tem a seu favor a dita "capacidade técnica" e a experiência europeia. Tem contra si a falta de conhecimento da máquina das finanças. Poderá surpreender, porém há um facto inexorável: não disporá de tempo para conhecer os cantos à casa. Continuo ingenuamente a crer que poderia ter sido considerada a hipótese de manter Teixeira dos Santos. Aliás, perante um governo tão verde - no bom e no mau sentido - considero-a ainda mais pertinente.

 

Nota: Percebeu-se pelo que foi sendo ventilado na comunicação social durante a semana que Passos Coelho viu rejeitados alguns convites para a pasta das Finanças, tendo certamente pesado nessas decisões o downgrade salarial que os convidados iriam sofrer. A esse propósito, recorde-se que Teixeira dos Santos, ao deixar a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para assumir o Ministério das Finanças, viu reduzida a sua remuneração mensal, que ascendia a 16 mil euros, para cerca de 4500 euros. A História não dará certamente razão a Sócrates. Também não deverá dar a Teixeira dos Santos (se tudo correr bem, será escrita pelos vencedores), mas devia.

Uma ideia amalucada

José Maria Gui Pimentel, 09.06.11

E se Pedro Passos Coelho convidasse Teixeira dos Santos para Ministro das Finanças? Vamos assumir que a enorme probabilidade de o próprio não aceitar não se concretizava. Seria, sem dúvida, uma medida muito arriscada, em termos de capital político. Porém, numa altura em que os prazos para o cumprimento das medidas da Troika são apertadíssimos, um Ministro que não necessitasse de adaptação seria uma mais-valia substancial. Por outro lado, Teixeira dos Santos, não obstante algumas derivas noutro sentido nos últimos anos, continua a ser eminentemente um técnico, mais do que um político, pelo que, creio, poderia alinhar no programa do novo Governo. O principal problema seria, sem dúvida, a imagem pública do Ministro, desgastada pelos últimos anos de crise. Todavia, mesmo neste caso, creio que os últimos meses demonstraram que Teixeira dos Santos já tinha visto o filme há muito tempo (no mínimo desde a célebre frase dos 7%), tendo sido impedido por Sócrates de agir atempadamente. Resumindo, Teixeira dos Santos não seria, em condições normais, pelo que já se viu dele, a melhor escolha. No entanto, creio, nestas condições muito particulares, poderia ser uma escolha acertada e corajosa, ganhando em experiência e conhecimento da arquitectura do ministério face a outros candidatos à partida mais capazes. Um pouco como Robert Gates nos EUA, que transitou para o Governo de Obama para terminar o processo das guerras no Iraque e no Afeganistão (embora, claro, as situações não sejam completamente comparáveis).

TSU - Teixeira, Sócrates and you

Rui Rocha, 24.05.11

  "Tenham a gentileza de dizer quem vai pagar a saúde"

 

Recordo aqui o estardalhaço com que certas almas receberam a proposta do PSD de reduzir a TSU em 4%. Lembro-me bem do debate em que Louçã confrontou Sócrates com o compromisso que teria assumido perante a Troika no sentido de reduzir as contribuições de forma significativa. E da resposta deste último. Basicamente que pois, mas na verdade que não, antes pelo contrário, quando puder ser, depois logo se vê, se houver Sol e depois não chover, mais qualquer coisa sobre a margem, e que não era bem uma carta, que sendo uma carta sempre seria o duque de espadas e nunca o rei de copas, eventualmente um escrito com intenções, se calhar nem isso, jamais um compromisso, que já não se lembrava bem quem era a Troika, que rigorosamente nem sequer tinha havido resgate, que o PEC IV é que era e que o tempo não tem estado mau na Caparica. Depois do debate, Sócrates ainda teve tempo para manifestar as maiores dúvidas sobre a descida da TSU em 2012. Em matéria de TSU, a dúvida foi, portanto,  o método que Sócrates utilizou para impedir o conhecimento da realidade. Infelizmente para o líder do PS, também relativamente a este ponto o castelo de cartas está a desmoronar-se. Teixeira dos Santos tem estado, como se sabe, confinado em solitária. Ontem, aproveitou uma saída precária para se pronunciar sobre o assunto, afirmando que foi assumido um "compromisso claro de que, tendo em vista apoiar o reforço da competitividade europeia, haverá uma descida significativa da TSU". E esclareceu ainda que o estudo sobre as medidas necessárias para compensar essa descida deve esta concluído até final de Junho. Mais uma vez José Sócrates faltou ao respeito aos portugueses tentando ludibriá-los relativamente à existência de compromissos que ele próprio assumiu. Perante a sucessão de factos como este, não é possível acompanhar os que dizem que o primeiro-ministro vive numa realidade alternativa. Na verdade, estamos mais propriamente perante uma realidade de alterne. 

Haircut - tendências PS 2011

Rui Rocha, 23.04.11

Em 2011, o cabelo com rédea curta continuará na moda. Cortes assimétricos e rebeldes serão colocados de parte, mantendo-se os fios rectos e previsíveis como forte tendência. Os contornos são trabalhados de forma a realçar os reflexos, a profundidade e a textura do líder. Se optar por usar franja, esta deve apresentar-se desgastada. Em geral, o look deve ser prático e jovial, mas sem demonstrar qualquer atitude de contestação. Percebeste agora, Fernando?

O Cavalheiro da Triste Figura e o Fiel Escudeiro Santos Pança

Rui Rocha, 22.04.11

Num país da Península Ibérica de cujo nome não me quero lembrar, embora me recorde que não se chama Espanha, governou até estes tempos um executivo liderado por um cavalheiro com pretensões de fidalgo que perdeu a razão por ter lido demasiados livros de engenharia. Esta se entendendo não só como a que diz respeito à construção de moradias, mas também de estradas, aeroportos e ferrovias. E, antes de tudo, daquela de que se diz ser financeira. Embrenhado em tais epopeias, que outros afirmarão ser cavalarias, tomou-se o pobre homem de febres e sezões, perdendo-se do fio da realidade. De tal maneira que a história dos fracassos, pois que noutra não terá lugar, o há-de referir como Cavalheiro da Triste Figura ou, em edições menos tomadas pelo distanciamento que o decurso do tempo sempre encerra, Cavalheiro Farsante. Ao longo da sua gesta, reconheça-se que assaz indigesta para quantos tiverem que pagar os seus desmandos com suor e estopinhas, esteve sempre a seu lado um fiel escudeiro. Santos Pança, de sua graça e, diga-se em abono da verdade, da nossa desgraça. Ali onde o Cavalheiro Farsante vivia alucinação, Santos Pança lobrigava, não sem dificuldade, realidade. E, de tal forma a alucinação do Cavalheiro da Triste Figura se apartou da realidade que, certo dia, o próprio Santos Pança se viu impedido de prosseguir a farsa. O drama, caro e paciente leitor, é que o mal estava por essa altura consumado e, o mesmo é dizer, o país completamente consumido. Santos Pança, até esse último dia, trilhou com o seu amo o caminho dos moinhos imaginários. Diz o povo que mais culpado é o fraco do que o louco, e é bem provável que tenha razão pois que o louco é, por sua própria circunstância, irresponsável. Certo é, leitor, que nesta história nenhum deles merece a nossa compaixão.

Saudades

João Carvalho, 08.04.11

Soube-se já em Bruxelas que o pedido de auxílio financeiro de Portugal deverá provavelmente rondar os 80/85 mil milhões de euros. Ao mesmo tempo, o ainda ministro Teixeira dos Santos declarava ser "ainda prematuro estar a avançar qualquer montante" sobre a necessidade imediata do nosso país, mesmo que só aproximado.

Fica mais uma vez confirmado o extraordinário rigor e a plena consciência que o ministro-das-Finanças-que-nos-saiu-na-rifa sempre demonstrou durante todos estes anos. É realmente uma tristeza ver Teixeira dos Santos partir em breve para um rodapé da História. Como dizia o outro: que mande de lá saudades, que é coisa que cá não deixa.

É incompreensível tanto amadorismo

Pedro Correia, 31.03.11

 

Ouvi há pouco o ministro da Bancarrota em declarações à TVI. Em sintonia com o chefe, foi incapaz de pedir desculpa aos portugueses pelo défice real das contas públicas, só hoje conhecido: 8,6% - mais 1,3% do que o Governo tinha anunciado, o que constitui um novo marco no longo cadastro de "inverdades" do ainda primeiro-ministro. O País está de tanga, mas o referido entrevistado da TVI, também ministro do Estado a Que Isto Chegou, garante que não moverá um dedo para pedir ajuda externa de emergência, cada vez mais imperiosa e inevitável. A entrevista destinou-se apenas a reafirmar o estilo de galo de briga a que José Sócrates habituou os portugueses: o seu braço direito na desgovernação fez gala em jogar ao braço-de-ferro com o Presidente da República. Motivo? Minutos antes, num discurso ao País, Cavaco Silva sublinhara esta evidência que só o Governo teima em negar: o Executivo "não está impedido de praticar os actos necessários à condução dos destinos do País, tanto no plano interno como no plano externo."

No dia em que também se soube que a dívida pública portuguesa foi revista "em alta", saltando para 92,4%, e que os juros da dívida a cinco anos dispararam para uns inéditos - e inaceitáveis - 9,52%, recordei-me das palavras arrasadoras de António Costa, proferidas há duas semanas, contra o homem que se destaca como o principal rosto da ruína financeira portuguesa: é "incompreensível" tanto "amadorismo".

Ataturk, na guerra contra os gregos, proclamava aos seus homens: "Eu não vos ordeno que ataquem. Ordeno-vos que morram." Por vezes parece que Sócrates ordena o mesmo a alguns dos seus ministros. Com uma diferença assinalável: o líder turco foi capaz de ganhar a guerra.

Apaguem a luz

Rui Rocha, 31.03.11

Hoje, o INE veio confirmar o que já se sabia. O buraco do BPN foi nacionalizado. Por isso, as responsabilidades têm que estar inscritas no Orçamento de Estado. O Ministro das Finanças sabe disto melhor que ninguém. Apesar disso, para além de ter garantido aos portugueses que não lhes sairia um cêntimo do bolso, tentou empurrar a inscrição orçamental com a barriga. Podia e devia tê-lo feito em anos anteriores. Agora, foi obrigado a fazê-lo para o ano de 2010. No que diz respeito às empresas públicas de transportes, trata-se de caso claro de desorçamentação. A partir de certa altura, optou-se por financiar a sua activiadade por via de endividamento directo garantido pelo Estado. As responsabilidades estão lá na mesma. A diferença é que esse expediente permitia retirar do Orçamento de Estado as transferências necessárias. Por isso, a argumentação de Teixeira dos Santos é, mais uma vez, uma vergonha. Queixa-se o Ministro de alteração de regras. Na verdade, está na posição do futebolista sarrafeiro que passou o jogo a distribuir cartuchada. O árbitro foi sendo complacente. A certa altura, perante mais uma entrada dura, decidiu-se finalmente por mostrar o cartão amarelo. Teixeira dos Santos, em vez de estar calado, dedica-se agora a esbracejar, dizendo que o cartão é injusto porque já fez outras entradas iguais ao longo da partida. O ponto fundamental é que, quer no caso do BPN, quer no do buraco das empresas públicas de transportes, a responsabilidade existe e os portugueses vão ter que a pagar. Tal como vai acontecer relativamente às parcerias público-privadas. Chegado à governação, o Professor de Finanças decidiu converter-se no Professor Mandrake. O dia de hoje marca o fim da ilusão. Sócrates e Teixeira dos Santos ficarão na história de Portugal por terem protagonizado um projecto consumado de co-incineração das contas públicas.