Como matar dois coelhos com uma só machetada
Não satisfeito com o comportamento inqualificável de revelação em público de assuntos que deveriam estar sujeitos a reserva absoluta, Rui Machete dedica-se agora a negar o que não pode ser negado. A indicação de que um grupo de 2 a 3 pessoas de um universo de 12 a 15 pretende desertar é, obviamente, uma quebra lamentável de sigilo relativamente a um tema que deve ser tratado com pinças. Pedro Passos Coelho, entretanto, também já se apressou a manifestar solidariedade com o seu ministro. Pelo visto, as declarações de Machete não lhe causaram incómodo. Nada que surpreenda, realmente, em quem já nos habituou a escolher no mesmo sentido (errado) sempre que se trata de decidir entre ser solidário com incompetentes ou ser solidário com Portugal e com os portugueses. No meio desta falta de vergonha e trambiqueirice, só tenho pena de uma coisa. É de facto lamentável que, com o jeito que Machete tem para guardar um segredo, Passos Coelho não lhe tenha confiado informação sobre os valores que recebeu da ONG da Tecnoforma que agora, apesar do seu esforço, não consegue recordar. Machete não tardaria a pôr a boca no trombone. Depois bastar-nos-ia soprar ao ouvido de Passos Coelho que um dos seus 14 ou 15 ministros, homem, já entradote e com o primeiro nome começado por erre, tinha cometido uma terrível inconfidência. Creio que Passos Coelho e Machete ficariam de imediato esclarecidos sobre a gravidade, que persistem em ignorar, das suas omissões e dos seus actos.