"A sua avaliação foi feita por uma agência imobiliária, que o teve à venda por seis meses até [A]bril. Desde então, o imóvel não está a venda.
Esta compra não foi uma operação especulativa. Para o demonstrar, tomei com a minha família a decisão de colocar o imóvel em propriedade horizontal, de forma a poder dividir as fra[c]ções entre mim e a minha irmã. Não venderei a minha parte do imóvel e colocarei as minhas fra[c]ções no mercado de arrendamento. Não comprei este prédio para o vender com mais-valias e, pela minha parte, não o farei."
Não vou perder muito tempo a ler e a analisar as prestações imobiliárias do vereador Ricardo Robles, político do Bloco de Esquerda. Temos em Portugal bastantes exemplos, que cobrem todo o espectro político, de indivíduos que optando por uma carreira política são capazes de hoje dizer uma coisa e logo a seguir fazer exactamente o oposto do que acabaram de defender.
Não tenho nada contra, bem pelo contrário, tenho admiração por todos aqueles que são capazes de enriquecer de uma forma séria, justa, honesta, cumprindo as regras do exercício da sua profissão (quando as há), sem andarem a vigarizar, aldrabar, a contornar leis e regulamentos, cobrando por debaixo da mesa e contando com a ignorância dos incautos para irem progredindo.
E conheço muita gente séria, como também conheço aldrabões, chicos e vigaristas em barda.
Em relação a todos eles o que faz a diferença é apenas uma coisa: o carácter. Com mais ou menos educação, com mais ou menos posses, é apenas isso que os distingue.
No caso de Ricardo Robles só sei quem é por andar nas lides da política, militando num partido, exercendo um cargo público. Nunca me foi apresentado, nunca convivi com o fulano, nunca trabalhei com o sujeito directa ou indirectamente. E, naturalmente, nada me move contra ele.
Mas exactamente por Robles ser um político é que escrevo estas linhas, tanto me fazendo para o caso que seja do Bloco de Esquerda ou de outro partido qualquer. O homem precisa de alguém que o defenda.
Ouvi as suas declarações na entrevista à SIC, depois li o comunicado que publicou na sua página do Facebook. Fiquei elucidado.
Que tenha adquirido um imóvel em estado degradado, num processo público e transparente, tendo acesso a informação que todos podem ter, presumo eu, desde que a procurem, não me parece mal.
Que tenha procurado recuperá-lo, valorizá-lo e ganhar dinheiro com o dito, respeitando os inquilinos que lá estavam, tratando-os com decência, também não me parece mal.
E que quisesse aproveitar a oportunidade, quaisquer que fossem as suas razões para ganhar dinheiro com o prédio, como qualquer outro cidadão poderia fazer, desde que tivesse capital para investir ou lhe fosse concedido crédito, também me parece justo.
Um tipo deve ter o direito de viver com um mínimo de conforto. Na política, em Portugal, ganha-se pouco ou nenhum dinheiro, os salários são miseráveis para o trabalho produzido, nalguns casos, e miseráveis para a responsabilidade, também nalguns casos. Até aí tudo bem.
A parte que eu não percebi foi aquela em que o vereador Ricardo Robles, quadro e camarada bloquista, vem dizer à populaça que não tinha interesse em fazer uma operação do tipo das que ele e a sua malta do BE classificam como "especulativa".
Se não tinha interesse então para que o colocou à venda, é ele que o diz, durante seis meses numa agência imobiliária?
As agências e os agentes de mediação imobiliária não são cooperativas de habitação geridas por padres franciscanos. São sociedades comerciais e estabelecimentos propriedade de empresários, como ele também é, cujo objectivo é a realização de lucros. Lucros. Presumo que o vereador Ricardo Robles, que até tem uma licenciatura, como homem que se reclama de esquerda, saiba o que são lucros. Se não souber o Prof. Francisco Louçã poderá dar-lhe umas lições. Pro bono, evidentemente.
Depois, quando o vereador Ricardo Robles assina um contrato com uma agência de mediação imobiliária também deve ter a noção para que serve. Pode ser para vender, como também pode ser para arrendar. E em qualquer um dos casos sabe que pelo serviço que for prestado deverá pagar uma contrapartida. Um preço, uma comissão por essa actividade, desde que, em princípio, a venda ou o arrendamento sejam concluídos com sucesso durante o prazo do contrato.
E o vereador Robles também sabe que esse preço, porque isso está lá no contrato e ele não o deverá ter assinado de cruz, pois que se o fizesse dessa forma isso seria uma irresponsabilidade que desde logo não o recomendaria nem sequer para guia de um clube de escuteiros, corresponde ou a um valor fixo ou a uma percentagem sobre o valor de venda do imóvel ou do seu arrendamento.
E também sabe que o preço acordado entre o vendedor ou senhorio e a agência de mediação imobiliária consta do contrato (estas coisas não são de boca), visto que é o proprietário do imóvel, e não a agência, por muito desregulado que esteja o mercado, quem fixa o preço e tem a palavra final sobre o valor por que o imóvel deverá ser colocado no mercado.
Ora, o vereador Robles sabia perfeitamente qual o valor pelo qual a dita imobiliária avaliou o imóvel. E só depois disso, da avaliação e do preço fixado, é que o colocou à venda. Isto é, no mercado. Não foi num jornal de parede de uma sede do Bloco de Esquerda para ver se havia algum camarada interessado (e abonado) que estivesse disposto a adquirir a sua propriedade.
Por acaso, talvez por erro da imobiliária, demasiado sôfrega, é que o prédio não foi vendido. Se tivesse encontrado comprador, certamente que o empreendedor Robles o teria vendido. Porque o vereador Robles sabia o preço. E iria vendê-lo se durante os seis meses do contrato se tivesse aparecido um interessado.
A não ser que depois de aparecer o interessado, que até poderia ter sido um desses capitalistas árabes, de uma dessas "democracias" do Golfo, que fazem investimentos imobiliários na Europa, ou um camarada do MPLA, o vereador Robles lhe dissesse que não, nem pensar em vender o imóvel por 5,7 milhões de euros. Certamente que o vereador Robles lhe teria dito, ao potencial interessado na aquisição, que isso é um absurdo, os tipos da mediadora estão doidos. Eu e a minha irmã decidimos vender-lhe por 1 milhão e pouco, ainda não fiz as contas mas vou fazer. Nós queremos apenas o valor que receberíamos se tivéssemos o dinheiro a prazo na Caixa Geral de Depósitos, naquele banco que agora parece o defunto Banco Popular e onde pontifica um tal de Paulo Macedo, um tipo de direita que se dá com muita gente do Opus Dei. Nem pensar em vender-lhe por 5,7 milhões. Eu e a minha irmã somos solidários com os reformados e aqueles palermas do Delito de Opinião que têm depósitos a prazo na CGD".
É claro que perante isto o investidor estrangeiro até convidaria o vereador Robles e a família toda para umas férias, à borla, no Mediterrâneo, a bordo do seu iate que está numa marina de Monte Carlo. Como outros convidaram o Durão Barroso. E faria muito bem, porque lá o facto de um tipo ser um remediado do BE não lhe retira o direito de ter umas férias decentes. E um gestor de conta como aquele que tratou de vender as acções da SLN do Prof. Cavaco Silva e da filha.
Para desgraça da menina Catarina e dos seus compinchas não foi isto que aconteceu. A mediadora não se esforçou o suficiente, o negócio gorou-se. Lá se foi o dízimo do BE. E o vereador Robles mais a mana optaram, ao fim de seis meses, por constituir a propriedade horizontal. Sempre é mais fácil vender ou arrendar assim.
Eu compreendo.
É óbvio que o vereador Robles não queria ganhar nenhum dinheiro com o investimento que fez com a sua irmã. Ele estava só a reeditar os tempos de infância quando ambos jogavam Monopólio. Coisa de garotos.
No final, ouvida a entrevista à SIC, lido o comunicado que publicou, chego à conclusão que o vereador Robles e os camaradas do BE têm toda a razão, todas as condições políticas para continuarem a sua luta contra a especulação imobiliária. Sim, porque quando os apartamentos estiverem em propriedade horizontal vão ser todos arrendados (com excepção de dois dos mais pequenos que servirão, respectivamente, para habitação do agregado familiar do vereador Robles e como casa de férias da irmã durante as suas passagens pela capital) a preços de habitação social. Nada de rendas especulativas. E actualizações de renda só se os inquilinos pedirem. Não há nisto nada de errado.
O Robles devia actuar como um capitalista e especulador. Fazer uma sociedade denominada "Robles — Negócios Imobliárias, Ldª". Ainda tentou durante seis meses. A coisa falhou e os invejosos da comunicação social, mais o sonso do Adolfo (Adolfo, não sei se a mana Mortágua te voltará a falar depois do que disseste na televisão, isso não se faz a ninguém), caíram-lhe logo em cima. Eu vi logo a jogada.
Afinal, o Robles saiu-me um patusco que anda a ver se consegue que os portugueses se sintam ainda mais estúpidos do que aquilo que são quando votam em gajos como ele (e como o Prof. Marcelo que não tarda está aí a ir à missa com a Catarina Martins e o Francisco Assis). E mais indefesos contra esses cabrões dos capitalistas que enriquecem com a especulação imobiliária.
Lamento que a Coordenadora do BE não veja isso. Aliás, ela não vê nada. Está ceguinha de todo. Nota-se que anda a precisar, há vários anos, de um colírio que lhe permita ver com a mesma definição e visão biónica com que vê o que se passa na casa dos outros o que se passa dentro de sua casa.
Mas, ainda assim, se eu fosse ao Luís Menezes Leitão, enquanto não aviam a receita do colírio da Catarina, dava uma mãozinha ao Robles e mandava-lhe uma ficha de inscrição. Sim, um formulário daqueles que ele lá tem às resmas. Para o tipo se poder inscrever na Associação Lisbonense de Proprietários. Ele há-de vir a precisar de apoio jurídico quando os tipos da Musgueira decidirem fazer uma marcha sobre Lisboa, começarem a pedir "casas com especulação controlada" e desatarem a ocupar os apartamentos e os condomínios dos camaradas do Bloco de Esquerda. Só para lhes lixarem (apetecia-me dizer f....) os negócios, evidentemente. E darem cabo da cabeça ao Costa.