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Delito de Opinião

A Uber agradece

Pedro Correia, 26.09.18

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No conflito que opõe as frotas de táxis às novas plataformas digitais, os partidos que dizem estar sempre solidários com os trabalhadores já assumiram o seu lado. Colocam-se contra os novos proletários da Uber, da Cabify e da Taxify,  muitos deles assalariados precários, e mostram-se a favor dos patrões dos táxis, que há uma semana condicionam fortemente ou paralisam até grande parte do trânsito na cidade de Lisboa.

Pelo oitavo dia consecutivo, a capital tem hoje os seus principais corredores destinados aos transportes públicos transformados em parques de estacionamento de táxis. Prejudicando assim os cidadãos mais desfavorecidos - aqueles que utilizam os autocarros nas suas deslocações pela cidade. Uma evidente ilegalidade que conta com o zeloso patrocínio da Polícia Municipal, enquanto os partidos que menciono na abertura deste texto assobiam para o lado.

É uma luta obviamente condenada ao insucesso. Fazendo lembrar os protestos dos cocheiros quando começaram a generalizar-se os primeiros veículos a motor nas grandes urbes. Tentar travar a roda do futuro com argumentos proteccionistas do século passado é um absurdo. 

Muitos taxistas andam por aí, envergonhados, a furar o protesto dos patrões circulando com as luzes externas dos taxímetros desligadas. Faço sinal a um. Pára, abre o vidro e pergunta para onde vou. «Pode entrar. Tudo bem, desde que não passe pela Avenida da República, pelo Saldanha, pela Fontes Pereira de Melo ou pela Avenida da Liberdade. Se for aí, sou insultado ou posso mesmo ser agredido por aqueles que se dizem meus colegas.»

Escuto estas palavras enquanto o veículo se vai cruzando com diversas viaturas das plataformas digitais, que por estes dias não têm mãos a medir, com autocarros panorâmicos cheios de turistas e até com os já pitorescos tuk-tuks alfacinhas. Todo um mundo de ofertas rodoviárias que nada têm a ver com a visão petrificada dos donos das frotas de táxis e dos partidos que os apoiam.

Oito dias de protestos encaminharam milhares de utentes habituais de táxis para a Uber e a Cabify: é uma via que já não tem retorno. Por aqui se mede também a estupidez deste protesto. Enquanto os autocarros continuam sem acesso aos seus corredores, contribuindo para engarrafar ainda mais o trânsito. Lá dentro vão humildes cidadãos trabalhadores: os partidos que dizem apoiá-los voltaram a esquecer-se deles.

Um país de opereta.

Luís Menezes Leitão, 19.09.18

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Eu julgava que neste país existiam leis que puniam os bloqueios de estrada e a ocupação da via pública, impedindo a normal circulação do trânsito. Afinal parece que em Portugal é possível fazer uma manifestação a utilizar carros indevidamente estacionados para cortar a via pública nas principais cidades do país, causando o caos no seu funcionamento e prejudicando centenas de milhares de pessoas. E as autoridades, em lugar de cumprirem a lei, até se dispõem a colaborar nesse objectivo, cortando elas mesmas o trânsito e reservando as vias para o estacionamento dos manifestantes. Digam lá se isto não é um país de opereta.

Táxi escondido com o rabo de fora

Diogo Noivo, 05.01.17

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Na segunda-feira, dia 2, o Observador deu grande destaque a um trabalho de fundo sobre a precariedade laboral na Uber. Um dia depois, dia 3, o mesmo jornal publica uma notícia onde se refere que os taxistas exigem nova reunião com o Governo, se queixam dos “ilegais” (leia-se Uber e Cabify), e alertam para a “revolta” que sentem. Por outras palavras, o primeiro texto debilita a reputação da Uber e o segundo, publicado 24 horas depois, dá nota da força dos taxistas. Pura coincidência, certamente.
Mas – hipótese académica – admitamos que não é uma coincidência. Partindo deste princípio, não é difícil encontrar nestas duas notícias o reflexo de uma campanha de comunicação contra a Uber. Em primeiro lugar, depois do desastre calamitoso que foi a última manifestação de taxistas, o sector do táxi precisa de enfraquecer o opositor e, por outro lado, de abrir espaço mediático para a sua causa (um espaço que tem estado fechado em virtude das alarvidades feitas e ditas durante a última manifestação, muitas das quais visaram jornalistas). Estas duas notícias, e em particular a sua sequência, servem estes objectivos na perfeição. Em segundo lugar, os taxistas precisam de mudar o terreno de jogo. Explico-me: até agora, o debate público Táxis versus Uber deu-se sempre no âmbito do serviço prestado ao consumidor. Ora, neste campeonato a Uber ganha 10 a 0. Por isso, os táxis têm que levar o debate para outro lado. Por exemplo, para o lado das condições laborais, um assunto intimamente relacionado com a lei e com a fiscalização, algo que (surpresa!) vai ao encontro da narrativa dos taxistas. Mais uma vez, estas duas notícias - sobretudo a primeira - cumprem o serviço.
Voltemos à realidade. A hipótese académica que aqui desenhei é um disparate. Se o sector do táxi mete as condições laborais na arena de combate dá um tiro no pé. E uma campanha contra a Uber tão óbvia no conteúdo, na forma e no timing seria de tal forma amadora que é mau demais para ser verdade. Só pode ser fruto de coincidência. Se não for, os taxistas têm um estratega de comunicação para demitir.

A pacífica manifestação taxista.

Luís Menezes Leitão, 10.10.16

O que pensar quando cidadãos inocentes são violentamente agredidos e os seus carros destruídos só porque não fazem parte do mesmo grupo? O que pensar quando a polícia é desafiada e o direito à circulação dos cidadãos ameaçado por uma frota de automóveis, que se desloca de todo o país para ocupar a sua capital? Será que isto não faz recordar o movimento dos camionistas, que permitiu o derrube de Salvador Allende no Chile? Ou mais recuadamente a marcha sobre Roma de Mussolini, que permitiu a ascensão deste ao poder? Por isso, quando se vê um Ministro do governo da geringonça a chamar calmamente estes manifestantes a uma reunião enquanto Lisboa permanece cercada, ficamos convencidos de que a legalidade democrática anda nestes dias pelas ruas da amargura.

Táxi Marcelo.

Luís Menezes Leitão, 13.08.13

Os jornais de hoje revelam o que qualquer pessoa de boa memória há muito sabia: que foi Marcelo e não Stoltenberg o pioneiro da ideia do político-taxista. Tal ocorreu na campanha à Câmara de Lisboa, em Setembro de 1989, onde Marcelo teve outras edificantes ideias, entre as quais a de atirar-se ao Tejo, mas nenhuma das quais impressionou os eleitores que votaram maciçamente em Jorge Sampaio.

 

Mostrando que político sofre, Marcelo refere hoje a sua experiência na condução do táxi Marcelo: "Levou uma grávida prestes a dar à luz ao Hospital da Cruz Vermelha - "até tive medo que tivesse o bebé ali no carro" -, um senhor com uma "encomenda estranha" do antigo Casal Ventoso ao Cais do Sodré, estrangeiros para o Chiado e "muita gente atrasada para o emprego". Nada a que os taxistas comuns não estejam habituados, como eventualmente esta empresa poderá esclarecer. O que não é comum é ver os políticos a fazer essas tarefas, pelo que Marcelo pode legitimamente reclamar a patente do político-taxista e processar Stoltenberg para lhe exigir as competentes royalties pela utilização abusiva da sua invenção. Efectivamente, não são nada comuns os políticos-taxistas, sendo esta uma invenção original, que deve ser juridicamente tutelada. Já os políticos-tachistas pelo contrário são extremamente frequentes, pelo que ninguém poderá arrogar-se a patente dessa invenção. Já é do domínio público há muitos anos.