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Delito de Opinião

Syriza Goldman Sachs radical-chique

Pedro Correia, 26.09.23

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Stefanos Kasselakis: a "verdadeira esquerda" na Grécia já não é o que era

 

O Syriza grego, que há meia dúzia de anos era apontado como o farol capaz de iluminar toda a esquerda radical na Europa, acaba de eleger como líder um ex-alto quadro dirigente da banca internacional: Stefanos Kasselakis, de 35 anos, viveu até há dois meses nos Estados Unidos, onde figurava na folha de pagamentos da famigerada Goldman Sachs - essa mesmo, a que tem sustentado Durão Barroso desde 2017.

Na altura, o Esquerda.Net publicou inflamados artigos noticiando a ligação do antigo primeiro-ministro português ao banco de investimentos. Andam distraídos, os camaradas do jornal digital do Bloco: ainda não vi por lá qualquer referência ao novo timoneiro da "verdadeira esquerda" grega, que eles tanto incensavam e louvavam quando era liderada por Alexis Tsipras. Agora que a Grécia tem «o parlamento mais à direita das últimas décadas», é tema pelo qual se desinteressam.

Tão radical o Syriza era, tão quase-liberal ficou agora com este empresário americanizado do sector financeiro no posto de comando. «É como se a Netflix tivesse entrado, se apoderasse do partido e o convertesse numa série», desabafou ao Guardian o escritor grego Dimitris Psarras, sem conter o espanto. Uma longa viagem, do marxismo-leninismo à Goldman Sachs.

A esquerda radical anda cada vez mais chique. Parece ter sido há longas décadas que o Syriza fazia inundar de júbilo gente subitamente apaixonada pelos vermelhos helénicos como Catarina Martins, Marisa MatiasIsabel Moreira, Ana GomesAndré Freire, Boaventura de Sousa Santos, a escritora Hélia Correia, o pintor Leonel Moura e até a inefável Manuela Ferreira Leite

Que dirão elas e eles agora?

A história da carochinha

Pedro Correia, 08.07.19

Lembram-se do Syriza que ia «libertar a Europa da austeridade» a partir do seu posto de comando instalado em Atenas?

Esta exemplar história da carochinha andou-nos a ser contada em dezenas de reportagens, centenas de artigos de opinião e milhares de proclamações avulsas de "figuras públicas" portuguesas que apontavam um fogoso mancebo de apelido Tsipras como o desengravatado reverso do sinistro Passos Coelhou. Meses a fio andaram elas, eufóricas, a bailar o fandango do "verdadeiro socialismo" livre de amarras austeritárias.

Sucediam-se na imprensa caricaturas "heróicas" como a que reproduzo aqui por baixo.

 

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Manuela Ferreira Leite e José Manuel Pureza irmanavam-se no louvor à «devolução da dignidade» do povo grego. «Pela Grécia passa a salvação da Europa», garantia Ana Gomes, insuflada de júbilo. «O Governo grego conseguiu dobrar a Alemanha», entusiasmou-se Diogo Freitas do Amaral. «A Alemanha teve de ceder», sorria Nicolau Santos. «A Grécia teve a coragem de resistir às pressões das potências europeias», celebrou André Freire. «Hoje vira-se uma página na Europa. Hoje começa-se a colocar a austeridade no caixote do lixo», proclamou a eufórica Catarina Martins.

«Viva a Grécia!», gritou a escritora  Hélia Correia ao receber o Prémio Camões. Enquanto o pintor Leonel Moura constatava que «uma parte do sucesso do Syriza deve-se à boa imagem de Tsipras» e do seu ministro das Finanças, por quem «muitas mulheres da Europa» andariam «perdidas de amores». Isabel Moreira, bem ao seu jeito, corroborava.

Boaventura de Sousa Santos, confirmando que de Coimbra também se observa o mundo, vislumbrou ali rasgos de odisseia homérica: «A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa.»

 

O que aconteceu no rescaldo desta histeria colectiva? Um elementar, expectável e gelado banho de realidade. Somado a uma imensa desonestidade política - à dimensão da península helénica. O moço "socialista revolucionário" chegou ao poder nas legislativas de Janeiro de 2015, convocou de imediato um plebiscito que o mandatou para pôr fim às normas orçamentais impostas pelos credores de Bruxelas e, munido dessa duplo mandato popular, fez o contrário do prometido. Vergou-se à disciplina orçamental e fez mergulhar a Grécia em quatro anos de duríssima contenção financeira, rasgando todas as promessas eleitorais. Coerente apenas na indumentária: resistiu estoicamente a usar gravata.

Ontem, foi inapelavelmente derrotado nas urnas. O partido Nova Democracia venceu de forma concludente as legislativas gregas. «A primeira maioria absoluta de um partido grego desde 2009», como correctamente assinala El País. Para a qual contribuíram milhares de jovens eleitores, com mais de 17 anos, que puderam votar pela primeira vez.

 

Onde andam, agora que se apagou a luz do "farol" revolucionário, todos aqueles que em 2015 propagaram por cá as tretas de apologia e louvor ao Syriza?

Onde foram parar aqueles "enviados especiais" que testemunharam em directo, nas ruas gregas, o «imenso júbilo» da população em intermináveis hossanas ao messias revolucionário?

Folheio a imprensa, espreito os telediários: quase como se nada tivesse acontecido. Nem parece que houve eleições na Grécia, muita gente por cá nem se terá apercebido que Tsipras foi varrido do poder. Nem aberturas de serviços noticiosos, nem repórteres deslocados a Atenas.

Nada de manchetes jubilatórias. Nem vestígios de reedição daquele título garrafal do Jornal de Notícias, em 26 de Janeiro de 2015: «Grécia - o princípio do fim da austeridade». Nem o equivalente, sequer aproximado, das palavras impressas a toda a largura da capa do Público, no mesmo dia: «Grécia vira a página da austeridade e deixa Europa a fazer contas». O contraste com a capa de hoje, onde mal se detecta uma notícia envergonhada em rodapé, não podia ser maior.

 

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26 de Janeiro de 2015

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Hoje

 

No Jornal da Noite de ontem a SIC despachou o tema num apressado minuto, ia decorrida meia hora de noticiário: na peça, o partido vencedor recebe o rótulo correspondente à "direita conservadora", enquanto o derrotado nunca é identificado em termos políticos ou ideológicos. Nem há qualquer alusão aos factores económicos e sociais que explicam o fracasso eleitoral do Syriza.

No Jornal das 8, da TVI, a notícia surgiu mais cedo, às 20.17, e durou três minutos: não houve reportagem no local, mas o primeiro-ministro derrotado foi correctamente inserido entre os representantes da "esquerda radical" e é expressamente mencionada a existência de 18,5% de desempregados na Grécia - a mais elevada taxa entre os países da zona euro.

No Telejornal da RTP, houve que esperar pelas 21.08. Mas só aqui surgiu a frase essencial de leitura política deste escrutínio: «A esquerda dá lugar à direita». Por ironia, na apresentação deste serviço noticioso estava José Rodrigues dos Santos, que foi crivado de críticas em 2015, quando acompanhou as eleições gregas como repórter em Atenas.

Entre aqueles que então o criticaram, aposto que hoje não sobra um que ainda teça louvores à defunta "esquerda radical" corporizada por Tsipras, apenas exemplar pela negativa. Na Grécia, sepultados os "amanhãs que cantam", a história da carochinha chegou ao fim.

Grécia: um silêncio gritante

Pedro Correia, 13.01.18

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Lembram-se de um tempo em que a Grécia inundava o caudal noticioso português? Recordam-se de personalidades dos mais diversos quadrantes terem saudado a ascensão ao poder da esquerda radical em Atenas como uma luz de esperança para a Europa em geral e os portugueses em particular?

Foi há três anos, em Janeiro de 2015.

 

Manuela Ferreira Leite e José Manuel Pureza irmanavam-se no louvor à "devolução da dignidade" do povo grego. "Pela Grécia passa a salvação da Europa", garantia Ana Gomes, insuflada de júbilo. "O Governo grego conseguiu dobrar a Alemanha", entusiasmou-se Freitas do Amaral. "A Alemanha teve de ceder", sorria Nicolau Santos. "A Grécia teve a coragem de resistir às pressões das potências europeias", celebrou André Freire.

"Viva a Grécia", gritou a escritora Hélia Correia ao receber o Prémio Camões. Enquanto o pintor Leonel Moura constatava que "uma parte do sucesso do Syriza deve-se à boa imagem de Tsipras" e do seu ministro das Finanças, por quem "muitas mulheres da Europa" andariam "perdidas de amores". Isabel Moreira, bem ao seu jeito, corroborava.

Boaventura de Sousa Santos, confirmando que de Coimbra também se observa o mundo, vislumbrou ali rasgos de odisseia homérica: "A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa."

 

A Grécia há muito desapareceu dos nossos noticiários: as opções editoriais cada vez mais estreita dos responsáveis máximos dos media nacionais estimulam cada português a espreitar pelo buraco da fechadura de uma casa onde mora não sei quem no bairro das vizinhanças enquanto ignoram o que de mais relevante vai ocorrendo no mundo.

As gargantas lusas que em 2015 enrouqueceram de júbilo pela vitória do Syriza e pelo desengravatado Tsipras que, qual Roncinante, galoparia contra os mercados, a "ditadura austeritária" e a hegemonia alemã, há muito se calaram. Hoje não se vislumbra ninguém por cá que saia em defesa da esquerda radical grega: Freitas e Ferreira Leite, entre outros, meteram a viola no saco.

 

Felizmente temos acesso à imprensa europeia que, em rigoroso contraste com o silêncio português, nos vai informando sobre o que se passa em Atenas. E é garantido, como alguns de nós ousámos antecipar faz agora três anos: não se vislumbra por lá nenhuma revolução em marcha. A menos que considerem "revolucionário" o caos nos transportes, o declínio da assistência hospitalar, as greves e manifestações em série e a feroz repressão da polícia de choque contra quem protesta nas ruas.

Já vimos este filme em várias latitudes. Os "amanhãs que cantam" emudecem perante o choque com a realidade nua e crua.

O herói da nova tragédia grega

Pedro Correia, 06.05.17

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1

Eu sei que as memórias andam fracas, mas gostava de saber se alguém ainda se lembra do delírio messiânico que acolheu a vitória eleitoral de Alexis Tsipras na Grécia, em Janeiro de 2015.

Os hossanas tributados durante meses em incontáveis serões televisivos cá no burgo e nas páginas da imprensa portuguesa não deixavam lugar a dúvidas: a "verdadeira esquerda" personificada pelo líder do Syriza iria enfim fazer peito às balas "neoliberais" disparadas de Bruxelas e Berlim proclamando o perdão unilateral da dívida.

"Não pagamos" era a palavra de ordem.

Meninas com pendor anti-sistema confessavam a sua ardorosa admiração pelo efémero ministro grego das Finanças e houve até quem se fizesse fotografar com ele em comícios. Cavalheiros com irrepreensível pedigree revolucionário apressaram-se a produzir epístolas aos indígenas lusos apontado Atenas como a nova capital das luzes europeias. Jornais sempre prontos a deixar-se embalar pelos ventos dominantes derreteram-se de fervor pelo farol helénico, que nos iluminava para o "fim da austeridade".

 

2

"A vossa voz anulou a austeridade. A troika é passado", anunciou Tsipras à multidão reunida para ovacioná-lo a 25 de Janeiro de 2015, provocando uma corrente orgástica no rincão luso.

Nem a coligação logo estabelecida entre o Syriza e o Anel, representante da direita nacionalista, fez esmorecer os crentes. Nem sequer o apoio manifestado ao novo Executivo por Marine Le Pen e Nigel Farage, irmãos de fé eurofóbica, abrandou a prosa ditirâmbica daqueles que por cá já anteviam o PS a ser ultrapassado pelo Bloco, equivalente local do novo partido do poder entre os herdeiros espirituais de Sócrates (o genuíno).

Durante grande parte desse ano, enalteceu-se o experimentalismo político, a irresponsabilidade demagógica, o populismo mais rasteiro (incluindo as camisas sem gravata pour épater le bourgeois), a navegação à vista.

Tsipras, o "anti-Passos", era o novo ídolo das massas.

 

3

Manuela Ferreira Leite e José Manuel Pureza irmanavam-se no louvor à "devolução da dignidade" do povo grego. "Pela Grécia passa a salvação da Europa", garantia Ana Gomes, insuflada de júbilo. "O Governo grego conseguiu dobrar a Alemanha", entusiasmou-se Freitas do Amaral. "A Alemanha teve de ceder", sorria Nicolau Santos. "A Grécia teve a coragem de resistir às pressões das potências europeias", celebrou André Freire.

"Viva a Grécia", gritou a escritora Hélia Correia ao receber o Prémio Camões. Enquanto o pintor Leonel Moura constatava que "uma parte do sucesso do Syriza deve-se à boa imagem de Tsipras" e do seu ministro das Finanças, por quem "muitas mulheres da Europa" andariam "perdidas de amores". Isabel Moreira, bem ao seu jeito, corroborava.

Boaventura de Sousa Santos, confirmando que de Coimbra também se observa o mundo, vislumbrou ali rasgos de odisseia homérica: "A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa."

 

4

Alguém tem ouvido estas e outras boas almas que se derramavam em cânticos e louvores à "nova Atenas" voltar ao tema?

Certamente não. E provavelmente pelos motivos que surgem enumerados neste artigo do Guardian que nos mostra a verdadeira face da Grécia após dois anos e meio de Executivo Tsipras: mais cortes de pensões (18% até 2019), novos aumentos de impostos, novo pacote de privatizações em marcha, nem vestígio de perdão da dívida.

Tudo isto para travar in extremis  um quarto resgate de emergência e afastar o espectro da bancarrota num país que desde 2009 é incapaz de se financiar nos mercados internacionais e só nos primeiros dois meses de 2015 viu desaparecer cerca de 2,5 mil milhões de euros em depósitos bancários.

Em sete anos, o produto grego caiu 27% - mais do que o ocorrido nos EUA durante a Grande Depressão - e a dívida pública ascendeu a 180% do PIB. O desemprego, agora situado em 23,5%, não dá sinais de queda. Ninguém acredita que daqui a um ano, quando terminar a actual intervenção externa, o país recupere a soberania financeira, hoje hipotecada pelo Banco Central Europeu.

Afinal o Syriza não fazia parte da solução: faz parte do problema.

 

5

Outra  greve geral já está marcada na Grécia, desta vez para o dia 17. Mas Tsipras, herói da nova tragédia helénica, resiste firme: continua a não usar gravata.

Dois anos é muito tempo

Pedro Correia, 25.01.17

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Lembram-se? Faz hoje dois anos. O Syriza venceu por escassa margem a eleição legislativa na Grécia e foi quanto bastou para a Europa mediática - cada vez mais dissociada do pulsar real das sociedades - se erguer em hossanas ao suposto novo Ulisses que resgataria o povo helénico de todas as humilhações.

Por cá, o Jornal de Notícias concedeu uma rara manchete "editorializada" a um tema internacional proclamando: "Grécia - o princípio do fim da austeridade". O Público foi menos sucinto mas ainda mais crédulo no seu título garrafal da primeira página: "Grécia vira a página da austeridade e deixa Europa a fazer contas".

 

Numa interminável cascata verbal, sucediam-se as efusões de júbilo. "Pela Grécia passa a salvação da Europa", celebrava Ana Gomes. "Terminou a austeridade pura e dura na Grécia", sentenciou Freitas do Amaral. "A Grécia renasceu hoje", entusiasmou-se José Castro Caldas. "A Europa vai ter de ceder", ameaçava Nicolau Santos.

O pintor Leonel Moura, fazendo "análise política" pela via da estética, apontou como causa do triunfo eleitoral da esquerda radical grega "a boa imagem de Tsipras, reforçada agora pela de Varoufakis". Boaventura Sousa Santos, do alto da sua cátedra coimbrã, imaginou o líder do Syriza equiparado a Charles de Gaulle em 1944: "A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa." Já Catarina Martins, fiel aos clássicos, optou por parafrasear Marx: "Hoje vira-se uma página na Europa. Hoje começa-se a colocar a austeridade no caixote do lixo."

 

Eram os tempos da tenebrosa "senhora Merkel" que, qual vampira, nos sugava até à última gota de sangue. A mesma que, ao visitar Lisboa, foi crismada de assassina a nazi. "Queríamos queimar a Merkel viva", gritaram vozes num incendiário directo televisivo. Francisco Louçã, com o seu sofisticado vocabulário político, chamava-lhe "assaltante" e "pirata".

Mas as coisas mudaram. A "austeridade" não só não terminou na Grécia como se tornou ainda mais dura e draconiana, com um novo  programa de resgate e um referendo inútil que Tsipras convocou para logo o deitar para o lixo, para utilizar a elegante expressão da líder do Bloco de Esquerda.

O pintor Moura não voltou a pronunciar-se sobre os supostos atributos estéticos do duo Tsipras-Varoufakis, aliás desfeito numa das primeiras curvas do sinuoso caminho da governação que o Syriza tem experimentado. Um partido afinal igual aos outros mal segura as rédeas da governação, numa Europa hoje assolada por um sem-fim de novos problemas - do terrorismo às migrações maciças, passando pelo espectro da sua própria desagregação devido à onda dos populismos emergentes, quase todos de matriz identitária, parentes próximos dos que devastaram o continente noutras épocas, de péssima memória.

 

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 Varoufakui e Tsipras: um duo volatilizado

 

Com o espaço comunitário sob a ameaça da desagregação, na sequência do referendo britânico de Junho passado, e o cenário da tomada do poder por forças extremistas em França ou na Holanda, além da crescente tendência dos europeus de Leste para rejeitarem a política comunitária, sem esquecer as pulsões anti-imigratórias que já se estenderam à península escandinava, ninguém voltou a falar de Tsipras.

Varoufakis volatilizou-se.

A "segunda libertação da Europa" não passou de um sonho de uma noite de Inverno de um simpático sociólogo de Coimbra.

E Merkel tornou-se a última legítima herdeira da sólida aliança entre democratas-cristãos e sociais-democratas que garantiu sete décadas de paz, prosperidade e progresso ao continente europeu. Passou a ser elogiada por muitos que ainda há pouco a detestavam.

Não por acaso, é cada vez mais contestada em casa pelo populismo vociferante, em perfeita identificação com o ar dos tempos.

 

A vitória eleitoral do Syriza aconteceu apenas há dois anos mas parece ter ocorrido há uma eternidade. Comprovando que, quando se fala em política, o nosso planeta parece girar muito mais rapidamente em torno do seu eixo.

Já não entoam hossanas a Tsipras

Pedro Correia, 25.01.16

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Faz hoje um ano, a "verdadeira esquerda" triunfou na Grécia. Alexis Tsipras, líder do Syriza, proclamou em Atenas o fim da austeridade, provocando um coro de hossanas um pouco por toda a Europa.

Poucos pararam para pensar que nenhum líder político soluciona problemas financeiros com retórica inflamada. A razão cedia lugar à emoção, como ficou bem patente no dia seguinte em eufóricas manchetes de periódicos como o Jornal de Notícias e o Público. "Grécia - o princípio do fim da austeridade", anunciava o primeiro, em parangonas. "Grécia vira a página da austeridade e deixa a Europa a fazer contas", bradava o segundo, igualmente em letras garrafais.

 

Um ano depois, o que temos?

A austeridade afinal vigora na Grécia. Mais apertada que nunca, após um terceiro resgate no valor de 86 mil milhões de euros que Tsipras se viu forçado a aceitar para evitar in extremis a bancarrota do país, pondo de lado todas as bravatas que lhe haviam rendido votos e o aplauso acéfalo de pequenas e médias multidões de colunistas.

Doze meses exactos após a vitória eleitoral do Syriza, imitando qualquer social-democrata ou "neoliberal", a esquerda "revolucionária" helénica implora por investimento externo enquanto os gregos apertam cada vez mais o cinto. As pensões de reforma e benefícios sociais estão sujeitas a cortes que podem chegar aos 30%. E o IVA dos restaurantes e dos transportes subiu para 23%.

Intervindo perante os próceres da finança internacional na mais recente reunião do Fórum Económico Mundial em Davos, iniciativa antes diabolizada por servir de cobertura ao "capital especulativo", Tsipras anunciou sem pudor que Atenas "era parte do problema e agora quer fazer parte da solução". E, dando o dito por não dito, fez nova jura de equilíbrio das contas públicas enquanto acedia à tutela do FMI sobre as finanças gregas - algo que há um ano constituía um anátema para a sua base eleitoral de apoio.

Desde então o chefe do Executivo grego enfrentou duas greves gerais, violentas manifestações nas ruasruidosos protestos de um número crescente de cidadãos - incluindo  agricultores e  funcionários públicos - que se sentem  traídos pelas promessas que ficaram por cumprir. Incluindo o fim dos cortes salariais e da vaga de privatizações no país.

 

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Vale a pena recordar o que escreveram e disseram há um ano diversas personalidades que produzem opinião no espaço público português. Para se perceber até que ponto eram irreais as expectativas que depositavam neste resultado eleitoral.

E para se perceber também até que ponto as convicções pessoais, nomeadamente do foro ideológico, perturbam a capacidade de entender a realidade.

 

Ana Gomes: «Pela Grécia passa, antes, a salvação da Europa.»

António Costa: «Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir na mesma linha.»

Boaventura de Sousa Santos: «A vitória do Syriza teve o sabor de uma segunda libertação da Europa.»

Catarina Martins: «Hoje vira-se uma página na Europa. Hoje começa-se a colocar a austeridade no caixote do lixo.»

Daniel Oliveira: «A vitória do Syriza é a única boa notícia que a Europa pode receber nos próximos meses.»

Freitas do Amaral: «Eles [governo grego] recuaram muito, mas a Alemanha recuou muito mais. (...) Terminou a austeridade pura e dura [na Grécia].»

José Castro Caldas: «A Grécia renasceu hoje. O medo falou e perdeu.»

José Vítor Malheiros: «A Grécia vai ter finalmente um Governo grego, composto por gregos que se preocupam com a vida dos cidadãos gregos.»

Leonel Moura: «Uma parte do sucesso do Syriza deve-se à boa imagem de Tsipras, reforçada agora pela de Varoufakis. Ao que parece muitas mulheres na Europa andam perdidas de amores por estes dois gregos.»

Nicolau Santos: «A Europa vai ter de ceder.»

Pedro Adão e Silva: «É uma transformação importante: deixou de haver uma hegemonia na forma como estava a ser governada a União Europeia.»

Pedro Bacelar de Vasconcelos: «A vitória do Syrisa lavrou a certidão de óbito de uma "política" que recusava admitir alternativas para a quebra da solidariedade europeia.»

Rui Tavares: «Os gregos abrem uma porta para a transformação das políticas da União Europeia.»

Viriato Soromenho-Marques: «A coragem da Grécia rasgou uma brecha no muro da insensatez.»

 

Um ano depois, todos estes ditirambos só podem provocar sorrisos amarelos - por estarem nos antípodas do que aconteceu. Os factos são teimosos, como Lenine nos ensinou.

Durante todo o dia, procurei ouvir novos hossanas a Tsipras. Apenas escutei um silêncio ensurdecedor.

Saída de sendeiro.

Luís Menezes Leitão, 14.07.15

 

Depois de tantas bravatas, referendos, e discursos demagógicos, Tsipras acabou por se render à dura realidade, aceitando para a Grécia condições muito piores do que aquelas que tinha há seis meses. Graças ao Syriza, a Grécia deixou praticamente de ser um Estado soberano, não passando agora de um protectorado europeu, sendo obrigada a criar um fundo com os bens do seu Estado, que fica afecto como garantia aos credores. E o que choca é que esta alternativa é bem capaz de ser a menos má pois, se este acordo não fosse aceite, a Grécia seria obrigada a abandonar o euro, declarar a bancarrota e afundar-se numa inflação galopante.

 

Mas esta terrível situação por que os gregos agora passam, devido à irresponsabilidade do governo que elegeram, deveria servir de lição para os partidos de esquerda que em Portugal defendem políticas semelhantes, como desde sempre o Bloco de Esquerda e agora o PS de António Costa. É que quem quer defender o alívio da austeridade tem que estar preparado desde o início para propor aos eleitores a saída do euro, como aliás já o fazem o PCP e o MRPP. Porque dentro do euro não é possível qualquer fuga às suas regras, nem os outros Estados-membros aceitarão que permaneça no clube quem não as quer cumprir. E perante esta evidência não vale a pena contrapor a soberania nacional, e a vontade democrática do povo expressa num referendo convocado à pressão. É que só é soberano quem não precisa do dinheiro dos outros. Quem precisa, mais vale deixar-se de bravatas disparatadas. Porque corre-se o risco de às entradas de leão se seguirem as saídas de sendeiro. Como foi agora o caso do Syriza.

Os indomáveis

Pedro Correia, 11.07.15

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«Sim, cometemos erros nestes cinco meses.»

Alexis Tsipras, esta madrugada, no Parlamento de Atenas

 

O Syriza chegou ao poder em Janeiro, festejado por toda a "verdadeira esquerda europeia". E também por representantes da "verdadeira direita" - a de Marine Le Pen, em França, e de Nick Farage, no Reino Unido.

Em clima de bravatas eurofóbicas, Alexis Tsipras e o seu flamejante ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, prometeram aos gregos aquilo que jamais lhes poderiam dar: um programa expansionista, que aumentava em 11,7 mil milhões de euros a despesa pública.

Foram ovacionados. Lá e .

 

Nesse momento a Grécia tinha acabado de sair de uma profunda recessão: equilibrara o seu saldo primário, apresentava uma leve recuperação económica (o produto cresceu 0,8% em 2014) e segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional o PIB do país aumentaria 2,5% no ano em curso.

Seguiram-se doze cimeiras europeias que não produziram resultados práticos, excepto os quatro meses de extensão do programa de assistência alcançado por Atenas a troco de mera retórica. E seguiram-se novas bravatas, que culminaram no inenarrável referendo plebiscitário de 5 de Julho, em que Tsipras voltou a defraudar os eleitores.

Prometendo-lhes algo que não estava em condições mínimas de lhes dar.

 

Nessa altura a Grécia já se tornara o primeiro país da NATO a suspender pagamentos ao FMI (deixando por transferir 3,5 mil milhões de euros a 30 de Junho).

Nessa altura, sem capacidade de financiamento, já Atenas se vira forçada a impor medidas drásticas de controlo de capitais.

Nessa altura já os bancos gregos estavam fechados compulsivamente após cinco meses de descapitalização contínua: mais de 40 mil milhões em depósitos voaram do sistema financeiro desde que Tsipras tomou posse.

Nessa altura já a maioria dos estabelecimentos exigia o pagamento em dinheiro vivo e pelo menos 20% das caixas multibanco estavam sem liquidez para remunerar os 60 euros diários de levantamento permitidos a cada cidadão.

 

O plebiscito abortou um acordo esboçado com as instituições europeias. Que daria luz verde a um terceiro programa de assistência financeira ao país a troco de reformas que mal ultrapassariam os 7 mil milhões de euros.

A 5 de Julho a maioria dos gregos votou sim. Foi uma vitória de Pirro do primeiro-ministro, como na altura escrevi aqui.

Três dias depois, já com Varoufakis fora de cena, o novo ministro das Finanças, Euclidis Tsakalotos, dirigiu uma carta à Comissão Europeia e ao Banco Central Europeu com um pedido formal de resgate. A troco de cortes estruturais na despesa pública que nunca serão inferiores a 14 mil milhões de euros.

Se antes tivessem procurado alcançar este consenso, a que só agora chegam em situação desesperada, teriam obtido contrapartidas menos duras.

 

O terceiro programa de resgate em cinco anos à Grécia deverá totalizar 53 mil milhões de euros e amarra os cidadãos helénicos a três anos de "austeridade" suplementar.

A mesma "austeridade" que Tsipras, na noite de 25 de Janeiro, afirmou triunfalmente ter terminado na Grécia.

 

As reformas começam quando o dinheiro acaba.

E, sem dinheiro, também as bravatas chegam ao fim.

Falando na longa madrugada de hoje aos deputados, Tsipras reconheceu que a Grécia vive num «ambiente económico de asfixia sem precedentes».

O terceiro pedido de assistência à Grécia em cinco anos foi aprovado no Parlamento de Atenas. Com 251 votos a favor, 32 votos contra, oito abstenções e a ausência de sete parlamentares da ala mais extremista do Syriza. Varoufakis foi um dos que se ausentaram.

Suprema ironia: valeu ao partido maioritário o apoio da Nova Democracia e do Pasok para conseguir luz verde do hemiciclo.

Falta agora a validação do pacote financeiro no Eurogrupo, no Conselho Europeu que reunirá de emergência amanhã e em pelo menos seis parlamentos nacionais, que poderão ratificá-lo ou chumbá-lo. Incluindo o Parlamento alemão.

 

Oiço agora alguns dizer - contra todas as evidências - que os governantes do Syriza "não cederam".

Pois não.

Só cederam no aumento do IVA (subida de 13% para 23% nos restaurantes).

E na questão das pensões (as do regime contributivo ficarão congeladas até 2021).

E no aumento da idade da reforma (dos 65 para os 67 anos).

E nas privatizações, que afinal vão por diante (portos do Pireu e de Salónica e redes de aeroportos regionais, nomeadamente).

E no imposto da propriedade, que será mantido.

E no quadro de mobilidade da função pública, que verá enfim a luz do dia.

E na exigência de condicionarem as reformas à reestruturação da dívida.

E na garantia aos cidadãos gregos que não haveria novas medidas de austeridade.

Mas quase não cederam nos cortes das despesas para as forças armadas. Os generais gregos podem dormir tranquilos no país europeu da NATO que tem maior ratio de militares por habitante e reserva maior fatia do seu orçamento para a defesa: 2,2%, correspondentes a 4,7 mil milhões de euros anuais.

Afinal só terão um corte de 300 milhõezitos nos próximos dois anos...

 

São indomáveis.

Grécia antiga (21)

Pedro Correia, 10.06.15

«A escolha dos gregos deve ser objecto de ponderação muito séria por parte de todos os responsáveis europeus e não objecto de desprezo como se se tratasse de decisões próprias de inimputáveis. Na verdade, constituiria um contributo positivo para toda a Europa, se essa ponderação ajudasse a introduzir preocupações de natureza social e também a eliminar fantasias na análise da realidade, tal como, por exemplo, aquela que acredita numa milagrosa recuperação apenas com base no valor do défice, como se uma abóbora sem pevides, por um toque de uma varinha mágica, se transformasse numa carruagem reluzente.»

Manuela Ferreira Leite, no Expresso (31 de Janeiro de 2015)

Grécia antiga (10)

Pedro Correia, 26.05.15

«A vitória do Syriza poderá ter consequências muito positivas para a Europa - sobretudo nos países do Sul da Europa submetidos aos ditames da Europa do Norte. Será uma viragem difícil mas indispensável para os povos reconquistarem a sua soberania democrática - e tomarem nas suas mãos o seu futuro e o seu destino, em liberdade.»

Alfredo Barroso, no i (23 de Janeiro de 2015)

O novo Syriza.

Luís Menezes Leitão, 21.05.15

 

Sempre calculei que uma vitória de António Costa no PS implicasse uma viragem desse partido à esquerda. Nunca pensei é que essa viragem fosse tão radical. Começou com o apoio à candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa, um candidato claramente na extrema esquerda do espectro político. Agora o caminho prossegue com a apresentação das políticas do PS. Conforme revelou num encontro em que também participei, António Costa propõe o regresso ao congelamento das rendas, o que obviamente vai afastar qualquer investimento privado na área da recuperação de imóveis para arrendamento. Nada que preocupe António Costa, que propõe em contrapartida um investimento público de 1.300 mihões de euros na reabilitação urbana. Para isso propõe-se desbaratar 10% do Fundo de Estabilização da Segurança Social, pondo ainda mais em risco as reformas dos portugueses.

 

Para além disso, António Costa é contra a austeridade e até pede uma maioria clara para combater o FMI. Para esse efeito propõe-se continuar a gastar à tripa forra, com argumentos de grande profundidade, como o de que na saúde gastar menos não é gastar melhor. Por  esse motivo, também a função pública regressa naturalmente às 35 horas de trabalho, uma vez que não se justifica fazer poupanças em horas extraordinárias, já que o Estado tem muito dinheiro para gastar. E com isso chega à conclusão extraordinária de que o seu programa tem mais despesa, mas também menos despesa, assim como mais receita mas também menos receita. António Costa tem tão boa imprensa que ninguém lhe perguntou o resultado final aritmético deste exercício. Mas se calhar também ouviria uma resposta semelhante às de outros socialistas célebres como a de que "é fazer as contas" ou de que "há mais vida para além do orçamento". Eu digo-lhe, no entanto, desde já que não há hipótese nenhuma de um imposto sucessório compensar qualquer descida no IRS. Mas também não é isso o que está em causa, uma vez que a sua proposta de alteração da progressividade significa antes aumentar o IRS.

 

Se António Costa ganhar as eleições vamos ter seguramente a repetição da política do Syriza em Portugal, que tão brilhantes resultados está a ter na Grécia. Na Europa já perceberam isso muito bem.

O PS seguidor do Syriza.

Luís Menezes Leitão, 19.03.15

Bem pode o Bloco de Esquerda andar eufórico com o governo do Syriza na Grécia. Como bem se salientou aqui, a proximidade do Syriza é afinal com o PS, como se pode ver por este cartaz de propaganda de Alexis Tsipras em que, à boa maneira estalinista, João Semedo é apagado da fotografia para ficarem apenas Mário Soares e o próprio Tsipras. Precisamente por isso as propostas do Syriza já têm seguidores no PS. Depois de Varoufakis ter prometido que iria criar brigadas de turistas, domésticas e estudantes para fiscalizar as fugas ao fisco, agora a Câmara de Lisboa, liderada por António Costa, vai também criar uma brigada de voluntários para fiscalizar o lixo mal colocado nos contentoresLes beaux esprits se rencontrent.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 22.02.15

«O primeiro erro do Syriza, que acabou por conduzi-lo direitinho ao acordo político de sexta-feira passada (em que Atenas cedeu em quase tudo) foi uma avaliação errada do equilíbrio de forças europeu. Tsipras acreditou que iria encontrar um clima suficientemente aberto às suas reivindicações. Descobriu rapidamente que as pancadinhas nas costas que recebeu em Roma ou em Paris não significavam qualquer apoio político ao seu programa. Com Hollande ou sem Hollande, a França guia a sua política europeia pela necessidade de manter uma parceria com Berlim, iludindo a sua própria fraqueza.»

(...)

«O novíssimo governo de Atenas deixou-se isolar em meia dúzia de dias. Ainda recalcitrou. Ainda ameaçou com a China e a Rússia. Acabou por optar por um comportamento muito mais razoável que lhe garante o apoio financeiro da Europa (o que falta ainda receber do segundo resgate) e lhe dá margem de manobra para levar a Bruxelas o seu próprio programa de reformas, já na próxima segunda-feira. Ganhou a semântica (a palavra troika foi substituída pelas "instituições"). Em contrapartida, aceitou que as dívidas são para pagar, que o seu novo programa será negociado com Bruxelas, que as medidas de socorro social serão neutras financeiramente e que, embora de forma flexível, as metas são para cumprir. Na verdade, não tinha outro remédio. Não consegue financiar-se nos mercados. Sem o apoio do BCE ao seu sistema bancário e o dinheiro europeu para as despesas do Estado, o caminho para o default seria inevitável. Imagina-se a corrida aos depósitos na próxima segunda-feira se não tivesse havido acordo.»

Teresa de Sousa, no Público

Olha, o Manolis Glezos (Syriza) veio escrever no Delito

Rui Rocha, 22.02.15

Respiração assistida

Pedro Correia, 21.02.15

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A economia grega ganhou ontem, in extremis, quatro meses suplementares de respiração assistida, quando se torna bem evidente que não consegue recapitalizar-se nos mercados financeiros.


Neste processo, que tem dominado as manchetes no continente, várias promessas eleitorais do Syriza já ficaram pelo caminho:
- Fim do programa de assistência externa;

- Conferência europeia para a supressão parcial da dívida;

- Obtenção de ajuda financeira sem contrapartida em austeridade;
- Dívida remanescente indexada à taxa do crescimento económico;
- Moratória para o serviço da dívida;
- Reposição do salário mínimo;
- Electricidade grátis para 300 mil famílias;
- Aumento do investimento público em 4 mil milhões de euros;
- Exigência à Alemanha do pagamento de indemnizações de guerra.

Tudo isto decorre num cenário de rápida deterioração do sistema financeiro helénico.

Desde Dezembro, voaram dos bancos gregos cerca de 25 mil milhões de euros em depósitos. Só nos últimos dois dias foram levantados mil milhões de euros.
Confrontado com gravíssimos problemas de tesouraria e a quebra acentuada das receitas fiscais, sem acesso a vias de financiamento autónomo, o executivo de Atenas cedeu a todas as exigências da Alemanha apesar das bravatas para consumo propagandístico interno, replicadas pelos partidos congéneres que persistem em confundir desejos com a realidade.

E agora?

A Grécia tem um prazo de 72 horas para apresentar um plano de novas medidas de contenção financeira que deverá merecer o aval do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional. E terá que se reger pelo memorando assinado em 2012 pela antiga coligação governamental.

Os parceiros europeus não deixaram lugar a dúvidas: o ajustamento orçamental em Atenas é matéria inegociável.

Recapitulemos: o que dizia Alexis Tsipras antes das recentes legislativas, entre bravatas eleiçoeiras sobre "soberania nacional"?
Que com ele no governo os credores deixariam de ditar as regras.
Mas nada mudou de essencial.

Eis os factos.
Prejudicam a retórica ideológica dominante nos debates cá do burgo, é certo. Mas têm uma força imparável. Superior a toda a retórica, por mais torrencial que seja.