25 Maravilhas - Edição extra IX
Biblioteca Pública de Malmo, Suécia
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Biblioteca Pública de Malmo, Suécia
O PCP arrogou-se ontem o direito de desautorizar os legítimos órgãos políticos da Finlândia e da Suécia. Em Maio, os dois países nórdicos decidiram solicitar a adesão à NATO, no pleno exercício da sua soberania. Em consequência directa da agressão da Rússia de Putin à Ucrânia iniciada a 24 de Fevereiro.
Para que a adesão se concretize, tem de ser ratificada pelos parlamentos dos 30 Estados membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Portugal foi um dos últimos a fazê-lo, algo lamentável: só faltam Eslováquia, Hungria e Turquia.
Muito pior - embora nada surpreendente - foi ver o partido da foice e do martelo atrever-se a contestar tal adesão na Assembleia da República para de novo se ajoelhar perante o ditador russo, saudoso do tempo da URSS, quando orava virado para Moscovo.
A líder parlamentar do PCP rejeitou categoricamente a integração daqueles dois países na NATO, organização a que Portugal pertence, argumentando que isso «aumentará a tensão» na Europa. Uma vez mais, sem um sussurro de condenação das atrocidades russas nestes mais de duzentos dias de invasão da Ucrânia.
Pelo contrário, Paula Santos mencionou o «processo de alargamento da NATO para Leste» como causa imediata da guerra. Coincidindo com a narrativa oficial do Kremlin.
A ratificação passou no hemiciclo, com o apoio da esmagadora maioria dos deputados, merecendo o voto favorável de seis partidos ali representados: PS, PSD, Chega, IL, PAN e Livre.
Mas o PCP não ficou sozinho: foi acompanhado no voto contra pelo Bloco de Esquerda, que desta vez deixou cair a máscara.
«A história da NATO é uma história de guerra e da agressão contra os povos», bradou a deputada bloquista Joana Mortágua. Falando, também ela, como se Portugal não integrasse esta organização. E fazendo coro natural com Mariana Mortágua, sua irmã gémea e parceira de bancada parlamentar.
Lembro que em Fevereiro, na SIC-N, Mariana rendeu-se de tal maneira às posições russas que chegou a justificar a iminente agressão à Ucrânia, ainda antes de se consumar, porque Putin estaria a «sentir o seu espaço vital a ser ameaçado» - argumento similar ao das hordas nazis na invasão da Polónia que originou a II Guerra Mundial.
A posterior retórica desalinhada do BE foi meramente táctica, como a votação de ontem confirmou. No momento da verdade, comunistas e bloquistas convergiram no chocante desrespeito pela autodeterminação da Finlândia e da Suécia.
Gostaria de saber como reagiriam se deputados destes países, adoptando a mesma lógica, colidissem com decisões soberanas do parlamento português.
Dois Estados europeus puseram de parte a histórica neutralidade que cultivavam. Suécia e Finlândia assinaram acordos de defesa com o Governo britânico, levando Boris Johnson a viajar ontem a Copenhaga e Helsínquia para esse efeito. Passam a ficar sob a protecção do Reino Unido, potência nuclear e membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ninguém duvida: trata-se de uma etapa que antecede a próxima adesão daqueles países à Aliança Atlântica.
É uma consequência inevitável da agressão de Putin à Ucrânia, iniciada a 24 de Fevereiro sob a delirante alegação de que a Rússia estava a ser «cercada pela NATO». Acontece que a Ucrânia não é nem nunca foi membro desta organização. Se o paranóico tirano de Moscovo já sentia uma absurda sensação de cerco, imagine-se como será a partir de agora, com mais um país vizinho integrado na Aliança Atlântica: a Finlândia tem uma extensa fronteira de 1340 km com a Rússia e 900 mil reservistas prontos para serem mobillizados em caso de confronto militar.
Nada disto era sequer imaginável no início deste ano.
Em Fevereiro, uma sondagem divulgada pela televisão estatal finlandesa Yle revelava algo inédito. Havia enfim maioria de opiniões favoráveis à integração do país na NATO: 53% disseram que sim, 28% recusaram tal cenário. Em Março, a percentagem subiu para 62%, enquanto as recusas caíam para 16%. Agora, a diferença torna-se esmagadora: 76% dos interrogados pelo mesmo canal televisivo declaram-se a favor da adesão, com apenas 12% a rejeitá-la.
Eis outra «conquista» de Putin, que vai somando derrotas em todos os campos: político, militar, estratégico, diplomático, económico, financeiro, comunicacional, reputacional. No 78.º dia da agressão do Kremlin à martirizada Ucrânia, renova-se um antigo preceito moral: o crime não compensa. Mesmo quando é cometido ao som dos tambores de guerra.
Violentíssimos incêndios na Grécia provocaram já 79 mortos confirmados, além de 180 feridos e um número indeterminado de desaparecidos.
Violentos fogos florestais na Suécia forçam o Governo de Estocolmo a fazer pedidos de socorro aos parceiros europeus, incluindo Portugal.
Quando os fogos fustigaram o nosso país, nas tragédias de Junho e Outubro do ano passado, logo irromperam os tudólogos cá do burgo atribuindo as culpas ao eucalipto. O que me levou a publicar aqui um texto intitulado o eucalipto e a luta de classes.
Os tais tudólogos devem estar a banhos: desta vez ainda não repetiram a ladainha a propósito dos fogos que devastam terras suecas e gregas.
Acontece que em nenhum destes países existe mancha florestal de eucalipto.
As árvores dominantes nas florestas suecas são o abeto (42%), o pinheiro (39%) e a bétula (12%).
As árvores dominantes nas zonas florestais gregas são o carvalho (29,8%), o pinheiro (24,4%), o abeto (13,1%) e a faia (8,7%).
Lá fica a narrativa sem efeito. O problema de muitas teorias é não resistirem ao confronto elementar com os factos.
Stefan Lofven, o primeiro-ministro sueco
No discurso de encerramento do congresso do PS, domingo passado, António Costa iniciou a sua intervenção com uma referência especial a um parceiro ideológico: o primeiro-ministro da Suécia. "Quero agradecer as mensagens tão calorosas dos nossos camaradas socialistas europeus, a começar na mensagem do novo primeiro-ministro da Suécia, o mais recente socialista a dirigir um governo da União Europeia", declarou o secretário-geral do PS.
Três dias depois, a frágil coligação liderada pelo Partido Social-Democrata caía devido ao chumbo do orçamento para 2015, instalando-se o "caos político", segundo a definição do Guardian, ou a "pior crise política em décadas" em Estocolmo, de acordo com a versão do Financial Times. Foi o segundo governo mais curto na história da Suécia.
O cenário? Novas eleições já em Março. Este escrutínio poderá resultar na progressão eleitoral do partido populista Democratas Suecos, defensor de uma alteração radical da política de imigração no país, que tem uma das maiores percentagens de estrangeiros per capita na Europa entre os seus habitantes. Novas dores de cabeça para Stefan Lofven, o émulo sueco de António Costa.
É a vida, como costumava dizer um socialista muito habituado à ingrata, exigente e espinhosa arte de governar.
... Mas há gente suficientemente séria e habilitada, à direita e à esquerda, para explicar a razão do falhanço sueco numa linguagem que todos entendam.