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Delito de Opinião

A derrota das sondagens

Legislativas 2024 (6)

Pedro Correia, 10.02.24

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Expresso, 30 de Dezembro de 2021

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Expresso, 28 de Janeiro de 2022

Vamos passar mais uma campanha eleitoral a ouvir falar de sondagens. De manhã à noite, de forma seguidista. Sem nunca haver uma perspectiva crítica destas pesquisas de opinião que induzem tanta gente em erro e espalham desinformação. Com base em amostras muito reduzidas e pouco representativas dos eleitores, talvez porque o dinheiro para as pagar não dê para mais. 

Voltou a acontecer, na recente eleição para a Assembleia Regional dos Açores, no passado domingo. Quatro dias antes, a 31 de Janeiro, uma sondagem da Universidade Católica divulgada em parangonas por dois meios de informação estatais (RTP-Antena 1) e pelo jornal Público atribuía a vitória nos Açores ao PS, com 39%, seguindo-se a coligação liderada pelo PSD, com 36%.

Acertou? Nem por sombras. Tiro ao lado, uma vez mais - desta vez com desvio de 9 pontos percentuais nas duas principais forças políticas, invertendo a ordem em que ficaram. O PS perdeu, não ganhou: teve 36% - menos 3 pontos do que a sondagem indicara. E a coligação encabeçada pelo PSD não foi derrotada: subiu mais 6 pontos do que a Católica tinha previsto, alcançando 42%.

 

Um fracasso quase tão clamoroso como o da sondagem do ISCTE para o Expresso que em 28 de Janeiro de 2022, dois dias antes das legislativas que deram vitória a António Costa por maioria absoluta contra Rui Rio, vaticinavam "empate técnico" entre socialistas e sociais-democratas: 35% para as rosas, 33% para as laranjas. 

Não aconteceu nada disto, como sabemos. O PS triunfou por quase 14 pontos percentuais de diferença: 41,4% contra 27,7%. Desmentindo em toda a linha o que ficara escrito não apenas na manchete do semanário publicada 48 horas antes do escrutínio, mas também outra, divulgada a 30 de Dezembro.

«Com a passagem dos anos de hipervalorização mediática dos estudos de opinião, fui ganhando a consciência de que sobre os mesmos não se exerce um módico de reflexão jornalística. Quer sobre o resultado produzido, quer sobre a metodologia e, em especial, sobre o questionário.» Palavras oportunas de Luís Paixão Martins no seu livro Como Mentem as Sondagens.

 

Por mais que estas coisas sucedam, iremos continuar a ouvir horas e horas e horas de peroração nas pantalhas sobre sondagens como se fossem modelos de rigor. Mesmo quando feitas por empresas que já falharam em toda a linha. 

Qualquer semelhança entre isto e jornalismo é mera coincidência. Deviam difundi-las em reality shows, não em telejornais.

A dificuldade não está na rejeição

Sérgio de Almeida Correia, 01.12.23

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Algumas pessoas ficaram admiradas com o resultado da sondagem da Universidade Católica/Público/RTP, dada a conhecer no passado dia 28 de Novembro. Ainda todos estão lembrados dos resultados de outras sondagens aquando das últimas legislativas e do que veio a acontecer. O país não quis saber de empates técnicos nem de vitórias tangenciais e resolveu entregar uma maioria absoluta a António Costa. Por essa razão convém moderar as análises e o ímpeto das conclusões.

Ainda assim, atrevo-me a dizer publicamente o que penso, arriscando a crucificação num pelourinho por delito de opinião.

E neste momento em que se discute a liderança do PS e todos os outros partidos se afadigam a prepararem-se para as eleições – alguns na mira de conseguirem adiar por mais algum tempo o seu próprio funeral – parece-me evidente que a golpada marcelista, amplamente favorecida pelo descalabro da governação (seria difícil encontrar outro termo para o desastre que foi, salvo raríssimas excepções, a performance do XXIII Governo Constitucional), poderá vir a revelar-se como uma bênção para a reforma do sistema político e eleitoral. De uma assentada, os portugueses podem abrir caminho para se livrarem de quase todos os pantomineiros que fazem hoje a maioria da classe política que nos trouxe até ao imbróglio em que estamos.

Dos diversos cenários apresentados pela sondagem acima referida, algumas conclusões são inequívocas: i) Os portugueses não gostam de radicais; ii) Qualquer que seja o cenário dispensam Luís Montenegro; iii) Pedro Nuno Santos (PNS) não lhes merece o aval da confiança.

Quanto à primeira não constitui novidade. O país reconhece-se ao centro na extensa faixa que vai da democracia-cristã/liberalismo/social-democracia até ao socialismo democrático mais ou menos esquerdista.

Depois, em relação ao líder do maior partido da oposição, o PSD, verifica-se que apesar de tudo o que aconteceu com o Governo e com o PS, Luís Montenegro não consegue melhor do que um resultado sofrível qualquer que seja o cenário.

Não é de estranhar. Chegou a líder por ser tão anódino quanto foi deputado ao longo dos anos, sem um lampejo que o resgatasse à mediocridade carreirista da JSD ou da seita aventaleira que o ajudou a crescer. E agora que se vai apresentar a eleições traz consigo, como se viu no congresso do passado fim-de-semana, um camião com um atrelado de sarcófagos de onde vão saindo umas múmias que não deixaram saudades. Que seja castigado e as sondagens não lhe sejam particularmente favoráveis depois de tantos anos de PS no Governo não é uma fatalidade.

Mas se o teste havia de chegar com as eleições europeias ou com as autárquicas, o Presidente Marcelo fez o favor às hostes laranja de anteciparem o futuro e se livrarem de Montenegro e da sua tralha bem mais cedo, pois que quanto mais depressa o PSD iniciar a sua renovação e posicionar uma nova geração de líderes, que seja recrutada noutro lado que não seja entre as levas de imperiais do Ribadouro, menos difícil será construir uma alternativa na área política do seu eleitorado, colocando um ponto final na balbúrdia venturista à sua direita.

Em terceiro lugar, há o problema PNS para resolver. Este é um problema interno do PS e que só terá solução, acreditemos que sim, se nos próximos dias 15 e 16 de Dezembro os militantes socialistas o resolverem.

Os resultados da sondagem explicam por que razão é que PNS não quer debates com os outros candidatos à liderança do partido. Não se trata, evidentemente, de evitar dar trunfos à direita, mas sim de evitar o debate político e fugir do confronto com as suas próprias contradições, com o cataventismo socratista e a vacuidade petulante e oportunista do discurso.

Em 2017 (não vale a pena recuar mais), PNS, que já era crescidinho, afirmou que "O PS nunca mais irá precisar da direita para governar". Em 2018 sublinhou que "o PS não está refém da direita para governar". Depois, quando anunciou a sua candidatura, começou por atacar o candidato José Luís Carneiro, acusando-o de não ser suficientemente combativo contra a direita e vincando que com ele "o PS não vai ser muleta de ninguém", esclarecendo que o seu foco e o da sua candidatura "é derrotar a direita e não mais do que isso", antes de entrar na contabilidade cacical de saber quem apoia quem.  Como se esta tivesse interesse para alguém com excepção dos bípedes que ficam com insónias ante a perspectiva de não saberem quem apoiar para manterem os tachos dentro do partido e fora dele.

Bastou passarem dois dias, depois de acusar JLC de desvio direitista, e logo começou, de mansinho, a chegar-se para o centro, não fosse o diabo tecê-las. Daí que tivesse saído a terreiro para dizer que "o diálogo à direita e ao centro é fundamental" e que "há matérias onde o entendimento com o PSD é desejável e importante" (quais?), ao mesmo tempo que dizia que "a memória da geringonça é boa". Ora bem. E ainda disse que até a uma coligação pré-eleitoral não fecha portas. Colocou a primeira cereja no topo do bolo da coerência, qual franciscano, com que pretende desfilar nos próximos dias. 

Em rigor, para PNS o que é preciso é estar em todas, com todos "e com todas" desde que isso lhe garanta o poder. E se possível também com "todes", que foi para isso que o talharam, no "berço de oiro", na humilde loja do sapateiro, e em especial no albergue onde lhe construíram as ambições conforme as ocasiões.

Percebe-se, ademais, qual o motivo para que directas abertas, como mostram as sondagens, também sejam dispensadas por PNS, pois que é muito melhor deixar a escolha do líder do PS nas mãos dos caciques que controlam as concelhias e o aparelho do que confiar na decisão dos simpatizantes que não têm tempo para a militância e dos quais dependem os resultados eleitorais do partido.

Como lá mais acima dizia, se os militantes socialistas quiserem dar um contributo ao país poderão começar por se livrarem de PNS, mandando-o tomar conta das empresas familiares, de maneira a que não mais tenha necessidade de esconder os carros quando for para a campanha eleitoral. Esta é uma oportunidade única e irrepetível. 

Seria uma pena se os portugueses, que de uma assentada se podem livrar do neo-socratismo e do basismo cavaquista e passista, encetando um caminho de renovação das suas elites políticas, não aproveitassem os ventos fortes que sopram de todos os quadrantes, e a chuvada que se prepara nos próximos dias, para lavarem o terreiro e removerem de lá toda a barracada de feira que se foi instalando, dispensando os vendedores de tapetes, ligaduras e sarcófagos, os milhares de arrumadores e de traficantes de influências, os penduras de ocasião, a malta das sementes dos vários tipos de relva, enfim, livrando-se de toda a tralha de gigantones, coristas e emplastros acumulada nos últimos carnavais. 

Duzentas e dezassete sondagens depois

Pedro Correia, 26.01.23

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Desde 2017, o PS não era destronado nas intenções de voto dos portugueses expressas em sucessivos barómetros e sondagens. Que há ventos de mudança no ar, fica evidente nestes números ontem divulgados na pesquisa da Pitagórica para a CNN Portugal e a TVI: o partido laranja lidera agora, com 30,6%, enquanto os socialistas baixam para 26,9% - uma queda abrupta de nove pontos percentuais desde o inquérito anterior. Sinal inequívoco de que a maioria absoluta obtida há um ano nas urnas por António Costa se esfumou sem remissão por efeito das incontáveis trapalhadas deste governo. Duzentas e dezassete sondagens depois.

Mais significativo ainda: segundo o mesmo estudo de opinião, 53% dos portugueses avaliam negativamente o desempenho do executivo Costa, que praticamente não precisa de oposição para naufragar em toda a linha. A cada passo vai cavando a própria sepultura. Tendo um prazo de validade já indicado por Marcelo Rebelo de Sousa: ou o partido ainda absoluto ganha juízo ou haverá eleições legislativas antecipadas em 2024.

Sinal inequívoco de decadência. Quando até o Presidente da República, que tem andado com o governo ao colo, já se confessa farto de assistir impávido a tão monumentais tiros no pé

PSD e IL a subir, PS e BE a descer

Pedro Correia, 21.01.22

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Esta foi a primeira sondagem feita após os debates televisivos entre os líderes dos partidos concorrentes às legislativas.

Permite concluir o seguinte:

- PS cada vez mais longe da maioria absoluta;

- PSD encurta distância;

- Na disputa pelo terceiro lugar, Chega ganha vantagem;

- Costa quer formar governo com PAN e Livre, mas não há sequer certeza de que estes partidos elejam deputados;

- CDS arrisca-se a desaparecer do mapa parlamentar;

- Na recta final da campanha, vai reforçar-se a tendência para o voto polarizado nas duas principais forças políticas. Até por efeito do mapa eleitoral ainda vigente neste país que chega sempre tarde a todas as reformas, como o Paulo Sousa aqui acentuou.

 

E os debates, como se reflectiram nestas intenções de voto agora divulgadas pela Universidade Católica?

Sublinho algumas evidências:

 - PSD e Iniciativa Liberal foram os partidos mais beneficiados, fruto das boas prestações televisivas de Rui Rio e João Cotrim Figueiredo;

- BE e PAN, por contraste, foram os mais prejudicados. No caso do partido animalista, devido ao fraquíssimo desempenho da sua dirigente máxima. O problema do Bloco é de outra ordem: este será o partido mais responsabilizado pelos eleitores por ter precipitado a crise política de Outubro.

- E o PS? Os debates não lhe correram muito bem, é verdade. Mas esta quebra nas intenções de voto resulta sobretudo de três outros factores conjugados: António Costa acusa um notório desgaste físico, muitos portugueses cansaram-se deste governo que não chegou a ser remodelado em tempo útil e a chamada "fadiga pandémica" está largamente associada à imagem do primeiro-ministro. 

Costa, que tantas vezes foi gozando com a frase (apócrifa) de Passos Coelho sobre uma suposta "vinda do diabo", ainda acabará por morder a língua. Porque o diabo chegou mesmo, em forma de pandemia. A nove dias do apuramento dos votos, Portugal é o quarto país da Europa e o sexto do mundo com mais infecções por covid-19 e há cerca de 800 mil eleitores em risco de isolamento.

Da falta de vergonha

Pedro Correia, 12.11.19

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Cartoon de Nieto, no ABC

 

Queixamo-nos, e com razão, do excessivo número de organismos do Estado, pagos pelos contribuintes. Já foi muito pior. Houve um tempo em que a banca era toda pública, a actividade seguradora estava em exclusivo no perímetro do Estado, transportadoras ferroviárias privadas como a Fertagus eram proibidas por lei e a Constituição interditava as televisões de capitais privados, instituindo a RTP como monopólio do sector.

Marcas de um passado que se prolongou demasiado tempo: as gerações mais jovens questionam hoje, e com razão, como é que pudemos tolerar até ao final da década de 80 este cenário tão distante dos padrões europeus.

 

Mas há sempre quem esteja pior que nós. E não precisamos de ir para muito longe. Em Espanha existe ainda hoje um instituto público só para fazer sondagens - algo tão anacrónico que até deve surpreender os mais estatistas deste lado da fronteira. É o CIS - Centro de Investigações Sociológicas. Funciona na dependência do Ministério da Presidência e tem como missão o «estudo científico da sociedade espanhola», seja lá o que isso for.

Apesar das generosas verbas públicas de que dispõe, o CIS falha em toda a linha nesta missão. Como ficou bem patente na mega-sondagem eleitoral que divulgou a 30 de Outubro - escassos onze dias antes das legislativas de domingo passado. Este inquérito supostamente científico atribuía uma folgada vitória ao PSOE, com 32,2% dos votos e até 150 deputados. Com o PP a situar-se nos 18% (entre 74 e 81 lugares no parlamento), o Podemos a ficar com 14,6% (de 37 a 45), o Cidadãos a conseguir 10,6% (de 27 a 35) e o Vox a quedar-se nos 7,9% (de 14 a 21).

 

Os resultados, como sabemos, foram totalmente diferentes. O CIS pecou por excesso (prevendo mais 4,2% e mais 30 deputados para o PSOE; mais 1,8% e mais dez deputados para o Podemos; mais 3,8% e mais 25 deputados para o Cidadãos) e por defeito (prevendo menos 2,8% e menos 14 deputados para o PP; menos 7,2% e menos 32 deputados para o Vox).

Daria vontade de rir se não fosse um tema sério. Por custar tão caro aos contribuintes espanhóis e por os induzir em tão grosseiros erros a escassos dias do voto.

 

No fundo nada disto admira, até porque o presidente do CIS, José Félix Tezanos, é militante socialista.

Apetece concluir: a falta de vergonha, no país vizinho, consegue ser ainda maior do que por cá.

Cuidados intensivos

Pedro Correia, 20.07.19

Barómetro de Julho da Aximage: há já um fosso de 14 pontos percentuais a separar o PS de António Costa do PSD de Rui Rio. É a maior distância do ano entre os dois partidos.

De acordo com estes números, divulgados a menos de três meses das legislativas, PSD e CDS somam apenas 28,5% (23,6% + 4,9%). Conclusão óbvia: em Portugal, a chamada "direita" (que rejeita este rótulo no PSD de Rio) necessita de internamento urgente nos cuidados intensivos.

Estão à espera de quê?

Pedro Correia, 20.11.18

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Vejo a mais recente sondagem publicada no Expresso, elaborada pela empresa Eurosondagem: a onze meses da próxima eleição legislativa, o PS sobe para 41,8% e o PSD cai para 26,8% nas intenções de voto. Quinze pontos percentuais separam agora os dois partidos.

Reparo na mais recente sondagem elaborada pela Aximage para as publicações do grupo Cofina, designadamente o Jornal de Negócios: o PS fica-se pelos 37,8% (mesmo assim, com mais 5,5 pontos percentuais do que os obtidos na eleição de 2011) enquanto o PSD se mostra incapaz de descolar dos 26%. Situando-se praticamente a doze pontos dos socialistas.

No PSD, já todos perceberam que se anuncia uma estrondosa derrota eleitoral em Outubro de 2019 - aliás duas, pois a eleição legislativa será antecedida do escrutínio para o Parlamento Europeu, previsto para Maio. Chegou, portanto, o momento de perguntar se não haverá ninguém neste partido capaz de se chegar à frente, rompendo mansidões e calculismos, e proclamar o óbvio: Rui Rio não faz parte da solução, faz parte do problema.

Estão à espera de quê?

Sondagem.

Luís Menezes Leitão, 06.09.18

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Esta sondagem da Aximage confirma o óbvio. Procurar fechar os olhos a escândalos, como pretendeu fazer o Bloco, com o caso Robles, nunca dá bom resultado. E adoptar a ausência como estratégia, como fez o PSD no Verão, só contribui para que o CDS capitalize, já que a política tem horror ao vazio. O resultado destes erros de palmatória é um "jackpot" para António Costa nas negociações do orçamento de Estado. O PCP e o BE vão aceitar de cruz tudo o que o PS exigir, apenas pelo pavor de irem já a eleições com estas sondagens. E se, por acaso não o fizerem, fá-lo-á o PSD de Rio precisamente pelo mesmo motivo. Aí está como em política os erros se pagam muito caro.

Rio deixa marca na testa do PSD

Pedro Correia, 12.05.18

António Costa e Rui Rio

 

Rui Rio, suposto "líder da oposição", continua a tratar o Governo liderado pelo seu amigo António Costa com a delicadeza de um nenúfar. Acentuando, de caminho, o estendal de trapalhadas em que vem enredando o partido desde que iniciou o trajecto regular Porto-Lisboa, vai para três meses.

 

A mais recente surgiu agora, quando desautorizou Ricardo Baptista Leite, coordenador da bancada social-democrata para as questões da saúde. O deputado visou numa intervenção muito crítica o ministro Adalberto Campos Fernandes, culminando no pedido de demissão do titular da pasta da Saúde. Motivo: este responsável - confrontado com uma onda de greves no sector e o escândalo da ala de oncologia pediátrica do hospital de São João - transformou o Serviço Nacional de Saúde no "Serviço Nacional da Doença" .

O ministro não gostou, claro. Embora já deva estar habituado a isto, na medida em que a sua demissão tem vindo a ser sugerida por vários profissionais da saúde. E logo Rio saiu em defesa de Campos Fernandes, lembrando que compete ao chefe do Governo ponderar sobre o destino dos ministros. "Não é o meu estilo", acrescentou, demarcando-se da intervenção do seu deputado.

 

Especializando-se na oposição à oposição, o sucessor de Passos Coelho na presidência do PSD vai deixando assim uma marca inconfundível na testa do partido a que aspírava liderar há pelo menos uma década. Eis o resultado: na semana em que o PS, desgastado pelos casos Sócrates e Pinho, cai na sondagem do Expressoo PSD cai na mesma proporção em vez de subir.

Até nisto Costa e Rio andam irmanados. Unidos na doença e na saúde: só a sorte pode separá-los.

Fico à espera das análises

Sérgio de Almeida Correia, 16.06.17

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Não hão-de faltar as justificações, os comentários habituais para os que ficaram mal na fotografia e as promessas de mais trabalho, porque estamos a dois anos das legislativas, por parte de quem ficou bem. Embora tudo isto diga muito pouco para quem vê de muito longe, não deixa de ser interessante confrontar estes resultados com o que se tem lido e ouvido.

Cauteloso, e porque de maiorias absolutas também já estou escaldado (prefiro um bom governo de "geringonços" a maus governos de maioria), vou aguardar pelas análises do Pedro Magalhães e de todos os que às sondagens se dedicam. Para já, depois das declarações de Schäuble sobre o bom desempenho nacional, o melhor mesmo é aproveitar a onda e tratar da dívida. 

Quanto à oposição não há nada a dizer. É continuarem a berrar a plenos pulmões e não se desviarem da rota. O estampanço será certo. 

Penso rápido (79)

Pedro Correia, 04.07.16

Cada vez questiono mais a qualidade das sondagens que se vão produzindo e que - não tenhamos medo das palavras - condicionam seriamente a opção dos eleitores. Isto ficou bem evidente nas últimas duas semanas com os estrondosos falhanços da maioria das sondagens que vaticinaram os resultados do referendo britânico e de todas as pesquisas de opinião sobre as legislativas em Espanha.
Não são casos virgens, como bem sabemos por cá. Há em Portugal uma empresa do ramo que, embora trabalhando para órgãos de informação credíveis, tem um péssimo currículo na matéria: errou muito mais do que acertou. Alguns desses erros são de antologia e fazem parte do anedotário político nacional.
Incrivelmente, essa empresa jamais é penalizada: os tais órgãos de informação continuam a encomendar-lhe sucessivas sondagens como se nada tivesse acontecido e não se importassem de perder credibilidade por manterem tão insólita relação contratual.
Um típico fenómeno de "não-inscrição", como salienta o filósofo José Gil, para caracterizar esta evidência tão portuguesa: nunca ninguém parece extrair conclusões dos erros cometidos de forma persistente e reiterada.

O erro das sondagens em Espanha

Diogo Noivo, 27.06.16

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Sondagens à boca das urnas TVE/FORTA e COPE/ABC (imagem El Mundo)

 

A noite de ontem foi uma vitória para o Partido Popular e uma derrota para as sondagens. Não é a primeira vez que as empresas de sondagens falham em Espanha. Porém, os especialistas na matéria contrapõem e dizem que não é bem assim. Segundo eles, uma sondagem é como uma fotografia, um simples retrato de um dado momento. Como os eleitores mudam de opinião, é normal que uma sondagem se possa tornar obsoleta ao fim de alguns dias. Por essa razão, recomendam os especialistas, durante uma campanha eleitoral é importante realizar sondagens de maneira regular e periódica com vista a identificar a evolução da tendência de voto e, consequentemente, a obter uma imagem mais nítida da vontade dos eleitores. As sondagens realizadas pelo El Mundo e pelo El País estariam portanto correctas no momento em que foram realizadas. Tal como estaria correcta a sondagem realizada pelo CIS (que chegou ao Delito de Opinião antes de ter sido anunciada na imprensa portuguesa), o instituto cujos resultados são, em regra, mais fidedignos. O problema é que as sondagens à boca das urnas - feitas mais de 15 dias depois - descreviam um quadro em tudo semelhante. Semelhante e errado. Ou seja, olhando para os resultados finais e tendo presente a imagem dada pelas várias sondagens, uma parte muito significativa dos eleitores mudou de opinião quando já estavam metidos na cabine de voto, ou pura e simplesmente mentiram às empresas de sondagens. O que é pouco plausível.

Quando analisamos as sondagens realizadas à boca das urnas, percebemos que o erro não foi generalizado. Na verdade, apenas existem desvios importantes em dois partidos: No Partido Popular e no Unidos Podemos. Dos nove partidos mais votados, as sondagens enganaram-se em dois. Foi o suficiente.

A marcha da desinformação na TV

Pedro Correia, 27.06.16

Ontem à noite todos os telediários portugueses - mesmo com correspondentes e enviados a Madrid - caíram na esparrela das sondagens, que em Espanha falham por sistema. Confundindo projecções com números reais, sem um sobressalto de dúvida, foram desinformando os portugueses sobre o resultado da eleição para o novo Parlamento espanhol.

Foi preciso que um par de comentadores, sem carteira de jornalista, repusesse a verdade dos factos. O que, reconheçamos, não abona nada a favor dos profissionais da informação.

Eis o filme dos acontecimentos:

 

RTP, 19.02: «Deu-se o sorpasso, essa expressão italiana que dominou esta campanha. Esta coligação de Pablo Iglesias, unido aos comunistas, consegue ultrapassar o Partido Socialista.»

RTP, 19.03: «O PP de Mariano Rajoy desce pelo menos dois lugares no Congresso em termos de deputados. Este é um terramoto político. É um abalo sem precedentes em Espanha.»

TVI, 19.57: «A principal mudança no sufrágio de hoje foi a passagem do Podemos para segundo lugar, ultrapassando o PSOE.»

SIC, 19.59: «O Unidos Podemos acaba por ser o grande vencedor da noite e é nesta coligação que pode estar a chave para o futuro governo espanhol.»

TVI, 21.02: «O Podemos deve ultrapassar o PSOE como segunda força política. Em termos de deputados, há a possibilidade de uma maioria de esquerda.»

SIC, 21.13: «A grande surpresa aqui é o segundo lugar do Unidos Podemos.»

 

Este, repito, foi o discurso jornalístico. Que se prolongou por mais de duas horas nas pantalhas lusas.

Felizmente havia comentadores - um em estúdio, outro em Madrid - a recomendar moderação, mais atentos aos factos do que à espuma.

O primeiro foi Paulo Portas, recém-contratado como comentador de temas internacionais da TVI. Eram 21.03 quando ele alertou, falando em directo da capital espanhola: «O resultado dos votos contados aponta para um sentido completamente diferente das sondagens.»

Dez minutos mais tarde, na SIC, Luís Marques Mendes também deitava água na fervura: «Aquilo que foram as sondagens à boca das urnas não está a confirmar-se na contagem dos votos.»

Tinham ambos razão. Os jornalistas é que andavam distraídos: foram os últimos a saber.