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Delito de Opinião

Do meu baú (9)

Pedro Correia, 16.05.25

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Quando oiço comentadores elaborar complicados cenários políticos com base em sondagens, viajo no tempo: regresso a 28 de Janeiro de 2022. Era, como hoje, dia do encerramento de uma campanha para a Assembleia da República. Dia em que o Público deu à estampa uma sondagem que deixava «Tudo em aberto». O PSD liderado por Rui Rio ombro-a-ombro com o PS de António Costa: 33% para um, 36% para outro, quase-empate dentro da margem de erro. Na foto de capa, Rio era até apresentado ligeiramente à frente de Costa, primeiro-ministro desde 2015.

Dados do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica para esse jornal, a RTP e a Antena 1, cavando enorme incerteza em torno do desfecho eleitoral. Com o PS longe da maioria absoluta - entre 95 e 105 deputados. O PSD a roçar-lhe os calcanhares ou até a ultrapassá-lo, preenchendo entre 89 e 99 lugares no parlamento. Seguiam-se IL, Chega e BE, todos com 6%. E a CDU com 5%.

Lá dentro, este título: «Rio melhora muito em relação a 2019».

 

Assim decorreu aquela sexta-feira, dominada pelo alegado «empate técnico».

A ilusão durou 48 horas. Fechadas as urnas, no domingo, apurou-se algo bem diverso: vitória categórica do PS, com 41,4% e 120 deputados. Maioria absoluta - primeira e única de António Costa. O PSD ficou muito atrás: 29,1%, elegendo apenas 77 parlamentares. Nada de empate, muito longe disso: mais de 12 pontos percentuais de diferença.

O Chega teve 7,2%, a IL 4,9%, o BE 4,4% e a CDU 4,3%.

Em relação ao escrutínio de 2019, Rio nada melhorou: manteve os 77 assentos parlamentares que já tinha. Progrediu apenas na percentagem, em modo residual. Na anterior eleição legislativa tivera 27,8%.

Esta sondagem tornou-se histórica. Não pelo melhor motivo.

Mudar enquanto é tempo

Sérgio de Almeida Correia, 02.02.25

IMG_CDAE57657622-1.jpeg(créditos: Expresso)

Com o Governo de Luís Montenegro em velocidade de cruzeiro, cumprindo a sua gestão de “casos e casinhos” e protegendo os seus muitos emplastros, os portugueses preparam-se para os carnavais que aí vêm. Dos “genuínos”, espalhados por múltiplos pontos do país real, aos encenados, com as eleições autárquicas à cabeça e as presidenciais lá mais para a frente. Uma coisa é certa: com o Eça arrumado no Panteão Nacional não irão faltar motivos de interesse, folclore e animação. Os palhaços, as matrafonas, os arrumadores de malas, as charangas, os “senadores”, os candidatos às regionais de Março na Madeira, mais os das autarquias e o batalhão que se prepara para as presidenciais de Janeiro de 2026, não terão mãos a medir. Espero que, entretanto, a memória se mantenha viva e a vista do essencial não fique encoberta pelas roliças curvas das lulas que se preparam para desfilar sambando.

Enquanto Marques Mendes não apresenta a sua candidatura, o PS tenta libertar-se do lodo acumulado e discute por onde e com quem “arruará” nas presidenciais, quero chamar a vossa atenção para os resultados da sondagem realizada pela GfK Metris, coordenada pelo ICS-UL e o ISCTE-IUL para o Expresso/SIC, e publicada em 31 de Janeiro pp. a propósito dqs eleições presidenciais que aí vêm.

Creio, aliás, dever ser esta lida em conjunto com o excelente trabalho de Eunice Lourenço e João Pedro Henriques sob o título “Conselho de Estado passou a existir” e o resultado dessa mesma sondagem na parte respeitante ao balanço que os portugueses inquiridos fazem da presidência de Marcelo Rebelo de Sousa.

Se olharmos para os resultados da sondagem sobre as presidenciais, apurados num altura em que ainda não se conhecem as montadas e os jockeys que se predisporão a entrar na corrida a Belém, o primeiro dado que salta à vista é que o almirante dos submarinos, embora ainda não tenha emergido, e ninguém saiba se o fará nas Berlengas ou no Bugio, nem com que tripulação, ou o que pensa sobre coisas tão corriqueiras como touradas e javalis, sai à frente, tanto na primeira volta, como numa hipotética segunda, qualquer que seja o cenário desejado, ou apresentado, pelos autores da sondagem em função dos nomes que têm sido soprados.

Se é também verdade que André Ventura já está, como sempre, com o pé no estribo e de megafone na mão, todos os outros, e não será só pela estatura, aguardam que lhes ajeitem o banquinho para poderem sentar-se no dorso do animal a tempo de chegarem ao starting gate.  

Quer isto dizer que, salvo uma surpresa de última hora, os portugueses inquiridos, 50 anos depois do 25 de Abril, querem um militar, sem qualquer experiência política, executiva, parlamentar ou simplesmente partidária, na Presidência da República, sendo que os restantes nomes que lhes foram submetidos para apreciação eram todos de políticos, mais ou menos experientes, com raízes ou ligações profundas aos partidos da respectiva área política.

Não concluo daqui que seja líquido os portugueses preferirem um militar a um político para PR, mas será legítimo concluir que os nomes que lhes foram apresentados não são representativos de um sentimento nacional, não oferecem confiança, e para muitos, como diria um amigo(*), apresentam o carisma de uma amiba, embora nenhum dos seus apoiantes os tenha confrontado com essa evidência weberiana.

Olhe-se então para o artigo dos jornalistas do Expresso e o balanço do mandato de Marcelo em Belém.

Começando por este, dir-se-á que, com mais ou menos selfies, piropos desajustados, por vezes mesmo ordinarecos, beijocas, copos de brandy-mel, saídas nocturnas ao Multibanco e as confusões do “Dr. Nuno”, só cerca de 30% dos portugueses consideraram o mandato negativo ou muito negativo. Há 61% que considerou essa prestação positiva, havendo mesmo 4% que a viram como muito positiva.

Duvido que iguais percentagens, ou sequer semelhantes, fossem obtidas se o universo dos inquiridos sobre o desempenho de Marcelo se restringisse aos dirigentes dos partidos políticos com assento parlamentar.

Mas ao mesmo tempo, e logo por cima do texto que nos apresenta este resultado da sondagem, o artigo sobre a prestação do Conselho de Estado nos mandatos de Marcelo revela que este inovou no funcionamento deste órgão, que passou a reunir com muito mais assiduidade, com “uma frequência quase trimestral” e com vários convidados em diferentes ocasiões.

Curiosamente, um dos conselheiros mais à esquerda e mais críticos das prestações do PR, Francisco Louçã, elogiou, depreendo isso do seu testemunho, o funcionamento do órgão e disse que “[o] Conselho de Estado não existia, passou a existir com Marcelo”.

Também Lobo Xavier, conselheiro escolhido pelo PR, afirmou que “o Conselho de Estado tornou-se muito mais interessante”.

Sabe-se, pelo relato que nos é feito, que se abandonou o “ascetismo verbal” dos tempos de Cavaco Silva e que todos os conselheiros passaram a falar, o que será certamente de saudar em virtude daquele órgão de consulta do PR não dever ser apenas um meio para alguns entrarem mudos e saírem calados, aproveitando para lá irem buscar umas senhas de presença enquanto fazem figura de corpo presente.

A consonância de posições entre Lobo Xavier e Francisco Louçã em relação ao funcionamento do Conselho de Estado parece-me que deve ser vista como um aspecto positivo – não sei se haverá mais algum – da acção do actual PR, traduzida na valorização desse órgão.

Como dali também resulta, e acontece em qualquer outro órgão com idêntica natureza, seja na política ou num universo empresarial ou académico, tudo dependerá de quem o dirige, da maior ou menor inteligência deste e dos objectivos que se propõe prosseguir.

Agora seria interessante os leitores interrogarem-se sobre as razões para os resultados da sondagem apresentada, quer quanto à hipótese, cada vez menos académica, de Gouveia e Melo se vir a tornar no próximo Presidente da República, quer no que respeita à apreciação positiva que é feita do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, não obstante a saraivada de críticas que sobre ele veio de todos os quadrantes.

Poderei estar enganado, mas a análise que faço dos números aponta para uma imperiosa necessidade de introdução de mudanças de fundo no funcionamento do nosso sistema político-constitucional e no regime político.

Os portugueses revêem-se cada vez menos nos seus partidos políticos e nos seus dirigentes. E isto é válido para todos, incluindo o “impoluto” Chega cuja percentagem de cadastrados, de arguidos e de gente com problemas na justiça já deve ter começado a colocar de sobreaviso muitos dos seus eleitores, certamente ainda a recuperarem do choque provocado pelas “malas do Arruda”.

Aqueles que se guindaram às posições de liderança e que surgem nas sondagens como potenciais candidatos à presidência da República surgem com percentagens absolutamente ridículas perante o almirante Gouveia e Melo e que, a manter-se este cenário, arrisca ser eleito à primeira volta e com uma maioria esmagadora atenta a fragilidade, esgotamento, cansaço e falta de empatia gerada nos eleitores pelos seus opositores.

Este é mais um reflexo da mediocridade inerente aos partidos do regime, da sua cada vez menor influência social e incapacidade para exercerem a sua função mediadora entre o eleitorado e as instituições, desfasamento e errada percepção da realidade, dos problemas e das preocupações dos portugueses, e de cujo universo ou campo político não consegue sair um candidato com estatuto e um mínimo de credibilidade que seja capaz de instilar um mínimo aceitável de confiança no eleitorado que lhe permita fazer frente ao almirante.

Tudo isto aliado a uma avassaladora falta de visão estratégica, envelhecimento dos quadros, ausência de qualquer renovação baseada em critérios de mérito, revelando mecanismos de recrutamento medíocre, uma inexplicável apetência para o envolvimento em escândalos, situações de duvidosa legalidade e fácil predisposição dos seus filiados a entregarem-se a lideranças destituídas de adequada formação política, ética e moral, vivendo num excruciante "salve-se quem puder" de cada vez que se abeiram do pote, ou em permanente forró e de costas voltadas para os eleitores.

Partindo do pressuposto, sempre rebatível e discutível de que os resultados da sondagem e as preferências reveladas correspondem à realidade factual e a um sentimento compartilhado pela maioria dos portugueses, quer-me parecer que estes estão cansados das condições de funcionamento do actual regime, cujo modelo há muito se esgotou por incapacidade dos próprios partidos. A popularidade do almirante e a predisposição para fazerem deste presidente é a melhor prova disso. E querem um regime com acentuação da vertente presidencial. Ou, pelo menos, não a veriam com maus olhos, atento o que se passa em São Bento, na Gomes Teixeira e nas sedes dos partidos.

Passada a época dos “grandes líderes”, de Freitas do Amaral a Álvaro Cunhal, de Sá Carneiro a Mário Soares, esgotado o filão dos seus delfins, e iniciada a época dos “caçadores de gambozinhos”, dos "autarcas", dos "gestores", dos "banqueiros", dos "merceeiros", dos "empreendedores" e dos simples labregos deslumbrados com as cores e a luz da capital, rapidamente esgotada no atoleiro, que teima em arrastar-se, independentemente da cor da cartola partidária, de casos de polícia e no palavreado, nalguns casos oco, noutros obsceno, de uns quantos inimputáveis e numa chusma de figuras menores, ignorantes e estruturalmente desonestas paridas pelos sinistros aparelhos partidários e as diversas seitas que por aí pululam, e que teimam em manter-se a bordo porque não há um capitão partidário com sentido de Estado e autoridade que as faça desembarcar na primeira ilha deserta, dando-lhes o tratamento que deveria ser dado às quadrilhas das claques futebolísticas, os portugueses viram-se de novo para o mito sebastiânico, do qual jamais se libertaram e que ciclicamente se apodera deles nos períodos de maior turbulência.

E continuando a ser verdade o que Schatschneider nos ensinou, seria bom que os partidos políticos, perante o que vendaval que aí vem, e que já aterrou noutras paragens, com resultados sinistros, se predispusessem a mudar, sob pena de isso lhes vir a ser imposto no futuro, pela via mais dolorosa, por um qualquer almirante "sem apoios", vindo disparado do fundo dos oceanos, a cavalgar uma onda impulsionada pelo canhão da Nazaré, por natureza avesso a apoios partidários e a jantaradas espontâneas promovidas pelas "personalidades", "democratas" e "cidadãos anónimos" do regime, e desejoso por desembarcar numa qualquer praia para desatar a vacinar todos os que lhe apareçam à frente, com uma seringa numa mão e a Constituição na outra.

Sabe-se lá com que antigénios e para obter que resultados.

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(*) Diz-me o meu amigo que a cunhagem foi de Constança Cunha e Sá. Fica o registo autoral. O seu a seu dono.

O dia mais longo do ano

Pedro Correia, 05.11.24

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Imagem do único debate entre Donald Trump e Kamala Harris, em Filadélfia a 10 de Setembro

 

Nestes dias os canais televisivos foram sendo invadidos por tudólogos que a cada quatro anos se transformam em especialistas da vida interna dos EUA. Alguns saltitam do futebol para a geoestratégia mundial, passando por voos rasantes à política doméstica. Fazem aquilo que é possível esperar de um tudólogo: espreitam as tendências dominantes do eleitorado hoje disponíveis em pesquisas rápidas nos motores de busca. Com tanta ânsia de aparecer, acabam por empurrar os verdadeiros especialistas para horários impróprios, remetendo-os ao último lugar da fila. Quem perde com isso são os canais que lhes dão guarida.

Hoje é a data do escrutínio oficial na corrida à Casa Branca. Mas a eleição decorre há semanas: cerca de 78 milhões de americanos, incluindo o ainda presidente Joe Biden e a candidata democrata, Kamala Harris, optaram pelo voto antecipado. Nas semanas precedentes, esses pára-quedistas da pantalha andaram a picar sondagens, pulando desta para aquela sob o invariável signo do "empate técnico". Com as atenções centradas nos sete estados flutuantes ou oscilantes, logo crismados de swing states em "amaricano" com sotaque tuga.

Entquanto debitavam banalidades, os tudólogos mal repararam em dois aspectos cruciais na letra pequenina das pesquisas de opinião. O primeiro relaciona-se com o índice de rejeição de cada candidato: nas eleições actuais, grande parte de quem vota mobiliza-se mais contra aquilo que não quer do que a favor de alguma pessoa ou sigla. O segundo é a crescente clivagem sexual nas opções de voto: mulheres e homens tendem a dividir-se cada vez mais. Acima das diferenças raciais ou de classe social.  

Tudo isto é ignorado pelo tais especialistas em coisa nenhuma que pululam nas pantalhas, embora seja realçado por quem verdadeiramente percebe da dinâmica eleitoral nos EUA, reflexo da própria mobilidade social no país. Fica como pista de reflexão neste dia mais longo do ano, em que as atenções mundiais estão viradas para aquele que ainda é o Estado mais poderoso do planeta.

Dia tão longo que pode arrastar-se por semanas ou meses. Já faltou mais para sabermos.

A derrota das sondagens

Legislativas 2024 (6)

Pedro Correia, 10.02.24

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Expresso, 30 de Dezembro de 2021

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Expresso, 28 de Janeiro de 2022

Vamos passar mais uma campanha eleitoral a ouvir falar de sondagens. De manhã à noite, de forma seguidista. Sem nunca haver uma perspectiva crítica destas pesquisas de opinião que induzem tanta gente em erro e espalham desinformação. Com base em amostras muito reduzidas e pouco representativas dos eleitores, talvez porque o dinheiro para as pagar não dê para mais. 

Voltou a acontecer, na recente eleição para a Assembleia Regional dos Açores, no passado domingo. Quatro dias antes, a 31 de Janeiro, uma sondagem da Universidade Católica divulgada em parangonas por dois meios de informação estatais (RTP-Antena 1) e pelo jornal Público atribuía a vitória nos Açores ao PS, com 39%, seguindo-se a coligação liderada pelo PSD, com 36%.

Acertou? Nem por sombras. Tiro ao lado, uma vez mais - desta vez com desvio de 9 pontos percentuais nas duas principais forças políticas, invertendo a ordem em que ficaram. O PS perdeu, não ganhou: teve 36% - menos 3 pontos do que a sondagem indicara. E a coligação encabeçada pelo PSD não foi derrotada: subiu mais 6 pontos do que a Católica tinha previsto, alcançando 42%.

 

Um fracasso quase tão clamoroso como o da sondagem do ISCTE para o Expresso que em 28 de Janeiro de 2022, dois dias antes das legislativas que deram vitória a António Costa por maioria absoluta contra Rui Rio, vaticinavam "empate técnico" entre socialistas e sociais-democratas: 35% para as rosas, 33% para as laranjas. 

Não aconteceu nada disto, como sabemos. O PS triunfou por quase 14 pontos percentuais de diferença: 41,4% contra 27,7%. Desmentindo em toda a linha o que ficara escrito não apenas na manchete do semanário publicada 48 horas antes do escrutínio, mas também outra, divulgada a 30 de Dezembro.

«Com a passagem dos anos de hipervalorização mediática dos estudos de opinião, fui ganhando a consciência de que sobre os mesmos não se exerce um módico de reflexão jornalística. Quer sobre o resultado produzido, quer sobre a metodologia e, em especial, sobre o questionário.» Palavras oportunas de Luís Paixão Martins no seu livro Como Mentem as Sondagens.

 

Por mais que estas coisas sucedam, iremos continuar a ouvir horas e horas e horas de peroração nas pantalhas sobre sondagens como se fossem modelos de rigor. Mesmo quando feitas por empresas que já falharam em toda a linha. 

Qualquer semelhança entre isto e jornalismo é mera coincidência. Deviam difundi-las em reality shows, não em telejornais.

A dificuldade não está na rejeição

Sérgio de Almeida Correia, 01.12.23

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Algumas pessoas ficaram admiradas com o resultado da sondagem da Universidade Católica/Público/RTP, dada a conhecer no passado dia 28 de Novembro. Ainda todos estão lembrados dos resultados de outras sondagens aquando das últimas legislativas e do que veio a acontecer. O país não quis saber de empates técnicos nem de vitórias tangenciais e resolveu entregar uma maioria absoluta a António Costa. Por essa razão convém moderar as análises e o ímpeto das conclusões.

Ainda assim, atrevo-me a dizer publicamente o que penso, arriscando a crucificação num pelourinho por delito de opinião.

E neste momento em que se discute a liderança do PS e todos os outros partidos se afadigam a prepararem-se para as eleições – alguns na mira de conseguirem adiar por mais algum tempo o seu próprio funeral – parece-me evidente que a golpada marcelista, amplamente favorecida pelo descalabro da governação (seria difícil encontrar outro termo para o desastre que foi, salvo raríssimas excepções, a performance do XXIII Governo Constitucional), poderá vir a revelar-se como uma bênção para a reforma do sistema político e eleitoral. De uma assentada, os portugueses podem abrir caminho para se livrarem de quase todos os pantomineiros que fazem hoje a maioria da classe política que nos trouxe até ao imbróglio em que estamos.

Dos diversos cenários apresentados pela sondagem acima referida, algumas conclusões são inequívocas: i) Os portugueses não gostam de radicais; ii) Qualquer que seja o cenário dispensam Luís Montenegro; iii) Pedro Nuno Santos (PNS) não lhes merece o aval da confiança.

Quanto à primeira não constitui novidade. O país reconhece-se ao centro na extensa faixa que vai da democracia-cristã/liberalismo/social-democracia até ao socialismo democrático mais ou menos esquerdista.

Depois, em relação ao líder do maior partido da oposição, o PSD, verifica-se que apesar de tudo o que aconteceu com o Governo e com o PS, Luís Montenegro não consegue melhor do que um resultado sofrível qualquer que seja o cenário.

Não é de estranhar. Chegou a líder por ser tão anódino quanto foi deputado ao longo dos anos, sem um lampejo que o resgatasse à mediocridade carreirista da JSD ou da seita aventaleira que o ajudou a crescer. E agora que se vai apresentar a eleições traz consigo, como se viu no congresso do passado fim-de-semana, um camião com um atrelado de sarcófagos de onde vão saindo umas múmias que não deixaram saudades. Que seja castigado e as sondagens não lhe sejam particularmente favoráveis depois de tantos anos de PS no Governo não é uma fatalidade.

Mas se o teste havia de chegar com as eleições europeias ou com as autárquicas, o Presidente Marcelo fez o favor às hostes laranja de anteciparem o futuro e se livrarem de Montenegro e da sua tralha bem mais cedo, pois que quanto mais depressa o PSD iniciar a sua renovação e posicionar uma nova geração de líderes, que seja recrutada noutro lado que não seja entre as levas de imperiais do Ribadouro, menos difícil será construir uma alternativa na área política do seu eleitorado, colocando um ponto final na balbúrdia venturista à sua direita.

Em terceiro lugar, há o problema PNS para resolver. Este é um problema interno do PS e que só terá solução, acreditemos que sim, se nos próximos dias 15 e 16 de Dezembro os militantes socialistas o resolverem.

Os resultados da sondagem explicam por que razão é que PNS não quer debates com os outros candidatos à liderança do partido. Não se trata, evidentemente, de evitar dar trunfos à direita, mas sim de evitar o debate político e fugir do confronto com as suas próprias contradições, com o cataventismo socratista e a vacuidade petulante e oportunista do discurso.

Em 2017 (não vale a pena recuar mais), PNS, que já era crescidinho, afirmou que "O PS nunca mais irá precisar da direita para governar". Em 2018 sublinhou que "o PS não está refém da direita para governar". Depois, quando anunciou a sua candidatura, começou por atacar o candidato José Luís Carneiro, acusando-o de não ser suficientemente combativo contra a direita e vincando que com ele "o PS não vai ser muleta de ninguém", esclarecendo que o seu foco e o da sua candidatura "é derrotar a direita e não mais do que isso", antes de entrar na contabilidade cacical de saber quem apoia quem.  Como se esta tivesse interesse para alguém com excepção dos bípedes que ficam com insónias ante a perspectiva de não saberem quem apoiar para manterem os tachos dentro do partido e fora dele.

Bastou passarem dois dias, depois de acusar JLC de desvio direitista, e logo começou, de mansinho, a chegar-se para o centro, não fosse o diabo tecê-las. Daí que tivesse saído a terreiro para dizer que "o diálogo à direita e ao centro é fundamental" e que "há matérias onde o entendimento com o PSD é desejável e importante" (quais?), ao mesmo tempo que dizia que "a memória da geringonça é boa". Ora bem. E ainda disse que até a uma coligação pré-eleitoral não fecha portas. Colocou a primeira cereja no topo do bolo da coerência, qual franciscano, com que pretende desfilar nos próximos dias. 

Em rigor, para PNS o que é preciso é estar em todas, com todos "e com todas" desde que isso lhe garanta o poder. E se possível também com "todes", que foi para isso que o talharam, no "berço de oiro", na humilde loja do sapateiro, e em especial no albergue onde lhe construíram as ambições conforme as ocasiões.

Percebe-se, ademais, qual o motivo para que directas abertas, como mostram as sondagens, também sejam dispensadas por PNS, pois que é muito melhor deixar a escolha do líder do PS nas mãos dos caciques que controlam as concelhias e o aparelho do que confiar na decisão dos simpatizantes que não têm tempo para a militância e dos quais dependem os resultados eleitorais do partido.

Como lá mais acima dizia, se os militantes socialistas quiserem dar um contributo ao país poderão começar por se livrarem de PNS, mandando-o tomar conta das empresas familiares, de maneira a que não mais tenha necessidade de esconder os carros quando for para a campanha eleitoral. Esta é uma oportunidade única e irrepetível. 

Seria uma pena se os portugueses, que de uma assentada se podem livrar do neo-socratismo e do basismo cavaquista e passista, encetando um caminho de renovação das suas elites políticas, não aproveitassem os ventos fortes que sopram de todos os quadrantes, e a chuvada que se prepara nos próximos dias, para lavarem o terreiro e removerem de lá toda a barracada de feira que se foi instalando, dispensando os vendedores de tapetes, ligaduras e sarcófagos, os milhares de arrumadores e de traficantes de influências, os penduras de ocasião, a malta das sementes dos vários tipos de relva, enfim, livrando-se de toda a tralha de gigantones, coristas e emplastros acumulada nos últimos carnavais. 

Duzentas e dezassete sondagens depois

Pedro Correia, 26.01.23

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Desde 2017, o PS não era destronado nas intenções de voto dos portugueses expressas em sucessivos barómetros e sondagens. Que há ventos de mudança no ar, fica evidente nestes números ontem divulgados na pesquisa da Pitagórica para a CNN Portugal e a TVI: o partido laranja lidera agora, com 30,6%, enquanto os socialistas baixam para 26,9% - uma queda abrupta de nove pontos percentuais desde o inquérito anterior. Sinal inequívoco de que a maioria absoluta obtida há um ano nas urnas por António Costa se esfumou sem remissão por efeito das incontáveis trapalhadas deste governo. Duzentas e dezassete sondagens depois.

Mais significativo ainda: segundo o mesmo estudo de opinião, 53% dos portugueses avaliam negativamente o desempenho do executivo Costa, que praticamente não precisa de oposição para naufragar em toda a linha. A cada passo vai cavando a própria sepultura. Tendo um prazo de validade já indicado por Marcelo Rebelo de Sousa: ou o partido ainda absoluto ganha juízo ou haverá eleições legislativas antecipadas em 2024.

Sinal inequívoco de decadência. Quando até o Presidente da República, que tem andado com o governo ao colo, já se confessa farto de assistir impávido a tão monumentais tiros no pé

PSD e IL a subir, PS e BE a descer

Pedro Correia, 21.01.22

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Esta foi a primeira sondagem feita após os debates televisivos entre os líderes dos partidos concorrentes às legislativas.

Permite concluir o seguinte:

- PS cada vez mais longe da maioria absoluta;

- PSD encurta distância;

- Na disputa pelo terceiro lugar, Chega ganha vantagem;

- Costa quer formar governo com PAN e Livre, mas não há sequer certeza de que estes partidos elejam deputados;

- CDS arrisca-se a desaparecer do mapa parlamentar;

- Na recta final da campanha, vai reforçar-se a tendência para o voto polarizado nas duas principais forças políticas. Até por efeito do mapa eleitoral ainda vigente neste país que chega sempre tarde a todas as reformas, como o Paulo Sousa aqui acentuou.

 

E os debates, como se reflectiram nestas intenções de voto agora divulgadas pela Universidade Católica?

Sublinho algumas evidências:

 - PSD e Iniciativa Liberal foram os partidos mais beneficiados, fruto das boas prestações televisivas de Rui Rio e João Cotrim Figueiredo;

- BE e PAN, por contraste, foram os mais prejudicados. No caso do partido animalista, devido ao fraquíssimo desempenho da sua dirigente máxima. O problema do Bloco é de outra ordem: este será o partido mais responsabilizado pelos eleitores por ter precipitado a crise política de Outubro.

- E o PS? Os debates não lhe correram muito bem, é verdade. Mas esta quebra nas intenções de voto resulta sobretudo de três outros factores conjugados: António Costa acusa um notório desgaste físico, muitos portugueses cansaram-se deste governo que não chegou a ser remodelado em tempo útil e a chamada "fadiga pandémica" está largamente associada à imagem do primeiro-ministro. 

Costa, que tantas vezes foi gozando com a frase (apócrifa) de Passos Coelho sobre uma suposta "vinda do diabo", ainda acabará por morder a língua. Porque o diabo chegou mesmo, em forma de pandemia. A nove dias do apuramento dos votos, Portugal é o quarto país da Europa e o sexto do mundo com mais infecções por covid-19 e há cerca de 800 mil eleitores em risco de isolamento.

Da falta de vergonha

Pedro Correia, 12.11.19

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Cartoon de Nieto, no ABC

 

Queixamo-nos, e com razão, do excessivo número de organismos do Estado, pagos pelos contribuintes. Já foi muito pior. Houve um tempo em que a banca era toda pública, a actividade seguradora estava em exclusivo no perímetro do Estado, transportadoras ferroviárias privadas como a Fertagus eram proibidas por lei e a Constituição interditava as televisões de capitais privados, instituindo a RTP como monopólio do sector.

Marcas de um passado que se prolongou demasiado tempo: as gerações mais jovens questionam hoje, e com razão, como é que pudemos tolerar até ao final da década de 80 este cenário tão distante dos padrões europeus.

 

Mas há sempre quem esteja pior que nós. E não precisamos de ir para muito longe. Em Espanha existe ainda hoje um instituto público só para fazer sondagens - algo tão anacrónico que até deve surpreender os mais estatistas deste lado da fronteira. É o CIS - Centro de Investigações Sociológicas. Funciona na dependência do Ministério da Presidência e tem como missão o «estudo científico da sociedade espanhola», seja lá o que isso for.

Apesar das generosas verbas públicas de que dispõe, o CIS falha em toda a linha nesta missão. Como ficou bem patente na mega-sondagem eleitoral que divulgou a 30 de Outubro - escassos onze dias antes das legislativas de domingo passado. Este inquérito supostamente científico atribuía uma folgada vitória ao PSOE, com 32,2% dos votos e até 150 deputados. Com o PP a situar-se nos 18% (entre 74 e 81 lugares no parlamento), o Podemos a ficar com 14,6% (de 37 a 45), o Cidadãos a conseguir 10,6% (de 27 a 35) e o Vox a quedar-se nos 7,9% (de 14 a 21).

 

Os resultados, como sabemos, foram totalmente diferentes. O CIS pecou por excesso (prevendo mais 4,2% e mais 30 deputados para o PSOE; mais 1,8% e mais dez deputados para o Podemos; mais 3,8% e mais 25 deputados para o Cidadãos) e por defeito (prevendo menos 2,8% e menos 14 deputados para o PP; menos 7,2% e menos 32 deputados para o Vox).

Daria vontade de rir se não fosse um tema sério. Por custar tão caro aos contribuintes espanhóis e por os induzir em tão grosseiros erros a escassos dias do voto.

 

No fundo nada disto admira, até porque o presidente do CIS, José Félix Tezanos, é militante socialista.

Apetece concluir: a falta de vergonha, no país vizinho, consegue ser ainda maior do que por cá.

Cuidados intensivos

Pedro Correia, 20.07.19

Barómetro de Julho da Aximage: há já um fosso de 14 pontos percentuais a separar o PS de António Costa do PSD de Rui Rio. É a maior distância do ano entre os dois partidos.

De acordo com estes números, divulgados a menos de três meses das legislativas, PSD e CDS somam apenas 28,5% (23,6% + 4,9%). Conclusão óbvia: em Portugal, a chamada "direita" (que rejeita este rótulo no PSD de Rio) necessita de internamento urgente nos cuidados intensivos.

Estão à espera de quê?

Pedro Correia, 20.11.18

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Vejo a mais recente sondagem publicada no Expresso, elaborada pela empresa Eurosondagem: a onze meses da próxima eleição legislativa, o PS sobe para 41,8% e o PSD cai para 26,8% nas intenções de voto. Quinze pontos percentuais separam agora os dois partidos.

Reparo na mais recente sondagem elaborada pela Aximage para as publicações do grupo Cofina, designadamente o Jornal de Negócios: o PS fica-se pelos 37,8% (mesmo assim, com mais 5,5 pontos percentuais do que os obtidos na eleição de 2011) enquanto o PSD se mostra incapaz de descolar dos 26%. Situando-se praticamente a doze pontos dos socialistas.

No PSD, já todos perceberam que se anuncia uma estrondosa derrota eleitoral em Outubro de 2019 - aliás duas, pois a eleição legislativa será antecedida do escrutínio para o Parlamento Europeu, previsto para Maio. Chegou, portanto, o momento de perguntar se não haverá ninguém neste partido capaz de se chegar à frente, rompendo mansidões e calculismos, e proclamar o óbvio: Rui Rio não faz parte da solução, faz parte do problema.

Estão à espera de quê?

Sondagem.

Luís Menezes Leitão, 06.09.18

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Esta sondagem da Aximage confirma o óbvio. Procurar fechar os olhos a escândalos, como pretendeu fazer o Bloco, com o caso Robles, nunca dá bom resultado. E adoptar a ausência como estratégia, como fez o PSD no Verão, só contribui para que o CDS capitalize, já que a política tem horror ao vazio. O resultado destes erros de palmatória é um "jackpot" para António Costa nas negociações do orçamento de Estado. O PCP e o BE vão aceitar de cruz tudo o que o PS exigir, apenas pelo pavor de irem já a eleições com estas sondagens. E se, por acaso não o fizerem, fá-lo-á o PSD de Rio precisamente pelo mesmo motivo. Aí está como em política os erros se pagam muito caro.

Rio deixa marca na testa do PSD

Pedro Correia, 12.05.18

António Costa e Rui Rio

 

Rui Rio, suposto "líder da oposição", continua a tratar o Governo liderado pelo seu amigo António Costa com a delicadeza de um nenúfar. Acentuando, de caminho, o estendal de trapalhadas em que vem enredando o partido desde que iniciou o trajecto regular Porto-Lisboa, vai para três meses.

 

A mais recente surgiu agora, quando desautorizou Ricardo Baptista Leite, coordenador da bancada social-democrata para as questões da saúde. O deputado visou numa intervenção muito crítica o ministro Adalberto Campos Fernandes, culminando no pedido de demissão do titular da pasta da Saúde. Motivo: este responsável - confrontado com uma onda de greves no sector e o escândalo da ala de oncologia pediátrica do hospital de São João - transformou o Serviço Nacional de Saúde no "Serviço Nacional da Doença" .

O ministro não gostou, claro. Embora já deva estar habituado a isto, na medida em que a sua demissão tem vindo a ser sugerida por vários profissionais da saúde. E logo Rio saiu em defesa de Campos Fernandes, lembrando que compete ao chefe do Governo ponderar sobre o destino dos ministros. "Não é o meu estilo", acrescentou, demarcando-se da intervenção do seu deputado.

 

Especializando-se na oposição à oposição, o sucessor de Passos Coelho na presidência do PSD vai deixando assim uma marca inconfundível na testa do partido a que aspírava liderar há pelo menos uma década. Eis o resultado: na semana em que o PS, desgastado pelos casos Sócrates e Pinho, cai na sondagem do Expressoo PSD cai na mesma proporção em vez de subir.

Até nisto Costa e Rio andam irmanados. Unidos na doença e na saúde: só a sorte pode separá-los.

Fico à espera das análises

Sérgio de Almeida Correia, 16.06.17

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Não hão-de faltar as justificações, os comentários habituais para os que ficaram mal na fotografia e as promessas de mais trabalho, porque estamos a dois anos das legislativas, por parte de quem ficou bem. Embora tudo isto diga muito pouco para quem vê de muito longe, não deixa de ser interessante confrontar estes resultados com o que se tem lido e ouvido.

Cauteloso, e porque de maiorias absolutas também já estou escaldado (prefiro um bom governo de "geringonços" a maus governos de maioria), vou aguardar pelas análises do Pedro Magalhães e de todos os que às sondagens se dedicam. Para já, depois das declarações de Schäuble sobre o bom desempenho nacional, o melhor mesmo é aproveitar a onda e tratar da dívida. 

Quanto à oposição não há nada a dizer. É continuarem a berrar a plenos pulmões e não se desviarem da rota. O estampanço será certo. 

Penso rápido (79)

Pedro Correia, 04.07.16

Cada vez questiono mais a qualidade das sondagens que se vão produzindo e que - não tenhamos medo das palavras - condicionam seriamente a opção dos eleitores. Isto ficou bem evidente nas últimas duas semanas com os estrondosos falhanços da maioria das sondagens que vaticinaram os resultados do referendo britânico e de todas as pesquisas de opinião sobre as legislativas em Espanha.
Não são casos virgens, como bem sabemos por cá. Há em Portugal uma empresa do ramo que, embora trabalhando para órgãos de informação credíveis, tem um péssimo currículo na matéria: errou muito mais do que acertou. Alguns desses erros são de antologia e fazem parte do anedotário político nacional.
Incrivelmente, essa empresa jamais é penalizada: os tais órgãos de informação continuam a encomendar-lhe sucessivas sondagens como se nada tivesse acontecido e não se importassem de perder credibilidade por manterem tão insólita relação contratual.
Um típico fenómeno de "não-inscrição", como salienta o filósofo José Gil, para caracterizar esta evidência tão portuguesa: nunca ninguém parece extrair conclusões dos erros cometidos de forma persistente e reiterada.

O erro das sondagens em Espanha

Diogo Noivo, 27.06.16

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Sondagens à boca das urnas TVE/FORTA e COPE/ABC (imagem El Mundo)

 

A noite de ontem foi uma vitória para o Partido Popular e uma derrota para as sondagens. Não é a primeira vez que as empresas de sondagens falham em Espanha. Porém, os especialistas na matéria contrapõem e dizem que não é bem assim. Segundo eles, uma sondagem é como uma fotografia, um simples retrato de um dado momento. Como os eleitores mudam de opinião, é normal que uma sondagem se possa tornar obsoleta ao fim de alguns dias. Por essa razão, recomendam os especialistas, durante uma campanha eleitoral é importante realizar sondagens de maneira regular e periódica com vista a identificar a evolução da tendência de voto e, consequentemente, a obter uma imagem mais nítida da vontade dos eleitores. As sondagens realizadas pelo El Mundo e pelo El País estariam portanto correctas no momento em que foram realizadas. Tal como estaria correcta a sondagem realizada pelo CIS (que chegou ao Delito de Opinião antes de ter sido anunciada na imprensa portuguesa), o instituto cujos resultados são, em regra, mais fidedignos. O problema é que as sondagens à boca das urnas - feitas mais de 15 dias depois - descreviam um quadro em tudo semelhante. Semelhante e errado. Ou seja, olhando para os resultados finais e tendo presente a imagem dada pelas várias sondagens, uma parte muito significativa dos eleitores mudou de opinião quando já estavam metidos na cabine de voto, ou pura e simplesmente mentiram às empresas de sondagens. O que é pouco plausível.

Quando analisamos as sondagens realizadas à boca das urnas, percebemos que o erro não foi generalizado. Na verdade, apenas existem desvios importantes em dois partidos: No Partido Popular e no Unidos Podemos. Dos nove partidos mais votados, as sondagens enganaram-se em dois. Foi o suficiente.