Há tanto tempo. Parece que já foi numa outra vida. - III
José Diogo Quintela, Maio 2018, CM
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José Diogo Quintela, Maio 2018, CM
O enjoo causa um tremendo transtorno. Sobre ele, os homens do mar dizem que nas primeiras 24 horas de enjoo tem-se a sensação de que se vai morrer e que, passado esse período de tempo, em vez de se sentir que se vai morrer, passa-se a lamentar que tal ainda não tenha acontecido.
Foi com isto em mente que li as declarações do eurodeputado Pedro Marques relativas ao escândalo de corrupção de Eva Kaili, já designado como Qatargate. Confesso que fiquei preocupado o bem-estar do cabeça de lista pelo PS às Europeias.
Pedro Marques afirma-se “enjoado” com o facto de a sua colega Eva Kaili estar envolvida neste escândalo. Importa salientar que a deputada grega terá perdido a respectiva imunidade parlamentar por ter sido apanhada em flagrante, isto é, com vários sacos cheios de dinheiro na sua residência.
O nosso ex-colega bloguer no Câmara Corporativa diz que, ele e os seus colegas socialistas europeus, sentem-se “furiosos com esta situação”. Acrescenta ainda que “eu pessoalmente estou enojado com a situação. É demasiado mau”.
Pelo que leio nas notícias, Pedro Marques não disse nada sobre o direito à presunção de inocência, nada parecido com “à justiça o que é da justiça” nem nenhuma das balelas a que o PS nacional recorre sempre que mais algum dos seus é apanhado nas malhas da lei.
Estou certo que nem mesmo que se venha a descobrir que o transportador das notas se chamava, por exemplo, Giánnis Kními (Γιάννης Κνήμη), nada disso será suficiente para lhe encolher o enjoo, nem mesmo para ter noção do nojo que causa a quem, inocentemente, apenas gosta de andar informado.
(Os Cabritos Comem Estão Amarrados)
A "narrativa" (termo que Sócrates impulsionou) é simples: o ex-PM aldrabou tudo e todos, e ninguém sabia de nada. E ninguém o poderia ter percebido, tamanha a sua manha. É isso que quer dizer o (inenarrável) recente texto de Fernanda Câncio. Como corolário, quem dele desconfiou e/ou denunciou, e barafustou com tamanho silêncio por parte dos apoiantes do "manhoso", dizendo tudo isso denotar uma dimensão sistémica, em termos em regime político e no conteúdo do partido socialista, é entendido como defeituoso ou doente. Como "renegado" - como no execrável texto de Alfredo Barroso (que esquece, já agora, que os antigos secretários-gerais do PS, Sampaio e Ferro Rodrigues também saíram da "extrema-esquerda", após um simpático jantar de burguesotes lisboetas, e transitaram para a calmaria da social-democracia do "arco do poder" - exactamente, sociologica e ideologicamente, como aqueles que quer "denunciar"). Ou como "corrupto intelectual" e "invejoso"/ressabiado, como Porfírio Silva, ao que julgo assessor de Costa, intitula António Barreto neste tétrico texto. Em suma, só por malevolência moral ou defeito psicológico é que alguém poderia desconfiar do manhoso. E daqueles que o rodearam e apoiaram.
E também só esses defeitos mentais ou doenças éticas nos poderão levar a interrogar se todos os que estiveram com Sócrates, no governo e nas estruturas do poder, foram cúmplices da ladroagem e de todas as práticas políticas inerentes à necessidade de se manter e reproduzir no poder para poder continuar a ... "ladroar". A "comer". Ou se foram apenas coniventes, num "encolher de ombros" auto-justificativo, subordinado ao exercício do poder com outros objectivos do que o tal "ladroar". Ou se foram apenas cândidos. Só mesmo a tal deficiência moral ou instabilidade psicológica nos poderá fazer afirmar que nenhum desses 4 Cs (Cabritos, Cândidos, Coniventes, Cúmplices) tem perfil para estar num cargo público. Muito menos no governo.
À narrativa de que era impossível perceber Sócrates, tamanha a sua manha, e que por isso tantos passaram década e meia a defendê-lo, publica e privadamente, com todo o denodo, deixo um exemplo pessoal. O meu amigo Miguel Valle de Figueiredo (mvf), fotógrafo profissional, tinha um blog, o "Restaurador Olex" (depois blogámos juntos num outro blog, o "ma-schamba"). Em Janeiro de 2006, há 12 anos e 4 meses (!!!) - andava eu embrenhado em Moçambique -, o mvf escrevia este "Muleta Negra". Está lá quase tudo do que se sabe hoje: as aldrabices académicas, a arrogância, os gastos excessivos, a óbvia inadequação ao posto. Repito, há 12 anos e 4 meses! O mvf, que não tinha acesso a qualquer "mentidero" ou a "gargantas fundas", escrevia o que tantos botavam, tanto que até em Moçambique isso se percebia. Isso de que Sócrates era ... Sócrates.
Agora 12 anos depois querem-nos fazer crer que o defeito está em nós, "renegados", "invejosos". "Fascistas", até. Quanto a eles, os 4 Cs, são desinteressados participantes no progresso do país, ao contrário de todos os outros, perversos militantes da desgraça futura. Foram eles apenas, e lamentavelmente, enganados por um manhoso, actuando em conúbio com o tal amigo Silva e um prestável motorista. Mas só por esses.
Querem, é óbvio, mais 12 anos de "cabritagem". Depois, claro, dir-se-ão C..ândidos.
O Presidente do Partido Socialista, o peculiar Carlos César, enquanto anuncia algum incómodo e até pudicícia do seu partido face a José Sócrates, louva o seu exercício governamental. O constitucionalista Vital Moreira, cabeça de lista às eleições europeias do PS e cônjuge de membro dos governos socratistas-costistas, escreve (em Maio de 2018, frise-se, pois não terá tido anterior disponibilidade de agenda para tal) sobre o incómodo político causado por José Sócrates, enquanto louva o seu ímpar espírito reformista.
Não há dúvida: estão a cantar-nos, em versão "oficial", o estribilho "Rouba, mas faz".
Foram anos a feder: sabia-se de como aquele governo se intrometia na comunicação social, sempre um péssimo sintoma; sabia-se das investidas na banca; desconfiava-se, muito para além do normal, das manigâncias económicas (estas que agora causam isto), ainda que não tanto, caramba; sabia-se da trapalhada da licenciatura (“ele goza com isso no conselho de ministros“, dizia-me quem lá se sentava); sabia-se do imundo nepotismo, esse que é marca d’água do partido.
E sabia-se também de todos os “socialistas” e “companheiros de estrada” proto-pós-BE, a defendê-lo e ao “estado da arte” até à última: o eixo lisboeta de verniz “intelectual” e moderno (os do blog Jugular são uma boa caricatura desse lixo cívico), os académicos (tudo trocando pelo “grande ministro Mariano Gago”), os “quadros da função pública”. Defenderam-no(s) sempre, a todo o custo. Durante o seu poder, e também nos anos seguintes. Incensaram-no quando regressou, já feito Autor, de Paris, ressuscitaram-lhe o PEC 4, saudaram o Mestre Eduardo Lourenço feito seu prefaciador, louvaram-no especialista de Rimbaud, quiseram-no em Belém. Os que com ele estiveram no poder saíram em grande: para tutelar bancos rebentados, para embaixadores, para louváveis administrações não executivas, etc. Que as sinecuras foram várias. E tantos estão outra vez no poder – o execrável Capoulas, Augusto Santos Silva, Leitão Marques, Costa, claro, e tantos outros menos conhecidos.
E nisso tudo uma imensa arrogância, contra os “ressentidos”, os “ressabiados”, os “invejosos”, os da “direita”, como chamam, que se debatiam com aquele estado miserando das coisas.
Agora os Galambas e os Carlos Césares vêm dizer que têm “vergonha” destes corruptos. É um “in extremis”, a mostrar que já não há esperanças em safá-lo. E José Sócrates anuncia, como se ofendido, que abandona o partido socialista.
Eu nem me rio. Tamanho o desprezo. Pelos Pinhos & Sócrates. Mas também, e se calhar até mais, pelos Galambas. E por todos os que os apoiaram até ao fim, até mesmo hoje. Nos últimos tempos, já em desespero de causa, alguns já em silêncio, resguardando-se, outros apenas agarrados ao “segredo de justiça” e, em última esperança, a quererem mudar a PGR, ainda “a ver se pega”. E nem têm vergonha de serem o pouco que são. É vê-los aí, ufanos. Perdão, ufan@s, como tantos pavoneiam.
"Sejam profissionais. Para que servem as dezenas de assessores, adjuntos, secretárias e chefes de gabinete que estão ao serviço do Governo e pagos com os nossos impostos? Trabalhem mais e melhor. Mas ainda mais importante, é a questão substantiva. O Governo tem problemas de comunicação porque tem dificuldades em falar a verdade. Prefere as meias verdades, os jogos de sombra, as medidas apresentadas aos bocados e mal explicadas, tudo especialidades do ministro Marques Guedes." - Económico
“Durante o encontro, foi referido que os temas abordados e discutidos poderiam ser noticiados, mas sem serem atribuídos a nenhum responsável, apenas a fonte do Ministério das Finanças”, continua o comunicado. Os directores explicam que foi feito um acordo “em colectivo e na presença de todos, com o membro do Governo que convidou os jornalistas”.
Segundo esse acordo, os temas discutidos no encontro podiam começar a ser divulgados à meia-noite, sendo apenas atribuídos a “fonte do Ministério das finanças”. E assim foi, com o assunto a acabar por fazer manchete na maioria dos jornais que tinham sido convidados para o encontro." - Rádio Renascença
"Foi um membro do Governo – o secretário de Estado da Administração Pública, José Leite Martins – a divulgar a informação sobre novas regras que estão em estudo para as pensões. Informação essa que, depois de avançada pela imprensa, o primeiro-ministro e o ministro da Presidência disseram que, afinal, é especulação e manipulação." - Rádio Renascença
"o PEC4, o programa que evitava a intervenção da troika em Portugal"
"Consumada a infâmia, a campanha contra José Sócrates continuou dentro de momentos"
"na semana de demissão de José Sócrates os juros do nosso financiamento externo passaram de 7% para 14%"
"José Sócrates foi estudar. Escreveu uma tese, agora em livro, que o honra porque tem um ponto de vista bem argumentado"
"não podem culpá-lo (Sócrates) de uma infâmia que levou o país ao colapso político, financeiro, cívico e moral".
Clara Ferreira Alves, no Expresso, em artigo de opinião (!)
se o Miguel Abrantes foi eleito?
O senhor Presidente do Conselho, a dona Maria e os patriotas brancos e pretos do continente e do ultramar depositam toda a sua fé na fina-flor da nossa mocidade jubilosa, que, amando o império, obedecendo ao dogma e cumprindo os entendimentos da moral, honra com alma irradiante o futuro da Fazenda e da Nação.