Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Sobreviventes da II Guerra Mundial

Centenários ou nonagenários, ex-combatentes que ainda estão connosco

Pedro Correia, 17.05.24

                                Dick_Van_Dyke_in_1964.jpg  mel brooks.jpg

                                                         Dick Van Dyke                                 Mel Brooks

                     640px-Ray_Anthony_1950.jpg  edgar.jpg

                                                    Ray Anthony                                             Edgar Morin

 

Alan Bergman, compositor e letrista, galardoado com quatro Emmys, três Óscares e dois Grammies - incluindo para melhor canção (The Way We Were, 1973). Veterano do exército norte-americano. 98 anos.

Charles Burrell, guitarrista de jazz, trabalhou com Billie Holiday, Charlie Parker, Duke Ellington, Lionel Hampton e Count Basie. Combateu na marinha norte-americana. 103 anos.

Dick Van Dyke, actor consagrado em filmes como Mary Poppins (1964) e Chitty Chitty Bang Bang (1968). Prestou serviço na força aérea. 98 anos.

Earl Holliman, actor norte-americano. Mentiu a respeito da idade para se inscrever na marinha durante a guerra. Participou em filmes como O Gigante, ao lado de James Dean e Elizabeth Taylor (1956). 95 anos.

Edgar Morin, antropólogo, filósofo e sociólogo, autor de livros muito influentes, como Paradigma Perdido (1973). Combateu como tenente nas forças da resistência francesa. 101 anos.

Jimmy Carter, antigo presidente norte-americano (1977-1981). Ingressou na Marinha durante a II Guerra Mundial, quando se inscreveu na Academia Naval. 99 anos.

Józef Hen, escritor e dramaturgo polaco. Membro do exército que lutou contra a Alemanha hitleriana com apoio soviético. 100 anos.

Lee Adams, letrista de teatro musicado na Broadway, vencedor do Prémio Tony pela peça Bye Bye Birdie (1961). Combateu no exército norte-americano. 99 anos.

Mel Brooks, realizador, actor e produtor norte-americano. Célebre por filmes como Frankenstein Júnior e Balbúrdia no Oeste (1974). Participou na Batalha das Ardenas. 97 anos.

Ray Anthony, trompetista e compositor, último sobrevivente da mítica banda de Glenn Miller. Serviu na marinha norte-americana durante a guerra. 102 anos.

Ray Marshall, economista, assumiu a pasta governamental do Trabalho durante o mandato presidencial de Jimmy Carter. Combateu na marinha norte-americana. 95 anos.

Robert McGinnisdesenhador e ilustrador norte-americano, autor de numerosas capas de livros e cartazes de filmes célebres como Boneca de Luxo Barbarella. Serviu na marinha. 98 anos.

Roland Dumas, político socialista francês, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros (1984-1986; 1988-1993) e ex-presidente do Tribunal Constitucional. Participou na resistência. 101 anos.

Tom Copeland, antigo presidente da Câmara dos Representantes dos EUA (1970-1971). Serviu no teatro de guerra europeu como comandante de carros de combate. 100 anos.

William Russell, actor britânico. Participou em séries televisivas muito populares no Reino Unido e em filmes como A Grande Evasão (1963) e Super-Homem (1978). Prestou serviço na Royal Air Force. 99 anos.

Sobreviventes (18)

Pedro Correia, 15.03.11
 
JERRY LEWIS
 
Certos actores são inimitáveis: Jerry Lewis é um deles. Vi-o, como qualquer de nós, em dezenas de filmes. Mas também o vi uma vez em palco, já ele andava nos 70 anos. Ninguém diria que tinha essa idade: cantava, dançava, cabriolava com uma energia inesgotável no musical Damn Yankees, de George Abbott, Douglass Wakllop (letra), Richard Adler e Jerry Ross (música), nas tábuas do Golden Gate Theater, em Market Street, no centro de São Francisco.
Ainda hesitei em aguardar por ele à saída, para lhe caçar um autógrafo, ao princípio dessa noite de Setembro de 1996: afinal, Jerry Lewis foi um dos ídolos da minha infância. Mal surgia no ecrã, despertava um festival de gargalhadas nas suas comédias de início de carreira em parceria com Dean Martin. O último filme que rodaram juntos – Pintores e Raparigas, de Frank Tashlin, película de 1955, o mesmo ano em que Damn Yankees estreou na Broadway – é uma obra-prima do género, com a vantagem acrescida de incluir uma esplendorosa Shirley MacLaine, então a dar os primeiros passos no cinema.
Dez anos depois, sempre em registo de comédia, o actor nascido com o nome de Joseph Levitch em Newark, Nova Jérsia, protagonizou um dos raros filmes que me fizeram rir até às lágrimas: Boeing, Boeing, hilariante longa-metragem sobre troca de identidades realizada por John Rich em que Jerry se revelava no auge das suas magníficas capacidades como comediante.
Mas talvez o seu melhor filme tenha sido afinal um drama: O Rei da Comédia, de Martin Scorsese (1983), ao lado de Robert de Niro. A Academia de Hollywood podia e devia ter-lhe dado um Óscar por esse trabalho que desmontava com implacável lucidez os frágeis mecanismos do sucesso televisivo. Nada feito: os académicos costumam torcer o nariz a actores oriundos do reino da comédia, esse género que teimam em considerar menor. Pelo mesmíssimo motivo, nem um gigante como Chaplin conseguiu uma estatueta com clássicos como Luzes da Cidade ou O Grande Ditador.
Naquele dia, acabei por trocar o autógrafo de Jerry Lewis pelo de Suzanne Vega, que actuava a curta distância, na Virgin, também em Market Street. Improvisando um recital com uma simples viola na mão e um ar doce, quase tímido, como se pedisse desculpa pela súbita fama de que gozava.
Confesso: gosto de ver o meu nome escrito por ela na dedicatória que me deixou no disco Nine Objects of Desire, que tem uma canção deliciosa: World Before Columbus, com uma letra que rapidamente memorizei: "If your love were taken from me / Every color would be black and white / It would be as flat as the world before Columbus / That's the day that I lose half my sight // If your life were taken from me/ All the trees would freeze in this cold ground / It would be as cruel as the world before Columbus / Sail to the edge and I'd be there looking down."
Mas ainda hoje me arrependo de não ter esperado antes por Jerry Lewis à porta dos actores no Golden Gate.
 
Jerry Lewis faz amanhã 85 anos.

Kirk Douglas e Eli Wallach

Pedro Correia, 07.03.11

               

 

Gostei de ver, faz hoje uma semana, dois sobreviventes dos anos de ouro do cinema americano no palco do teatro Kodak, em Hollywood: Kirk Douglas, de 94 anos, entregou o Óscar de melhor actriz secundária (bem merecido) a Melissa Leo, pelo seu magnífico desempenho na película O Último Round; Eli Wallach, de 95 anos, recebeu um prémio honorário, destinado a homenagear a sua longa carreira que parece não ter fim – ainda há pouco o vimos em Wall Street 2.

Dois actores que entraram em filmes inesquecíveis: Carta a Três Mulheres (Joseph L. Mankiewicz, 1949), Algemas de Cristal (Irving Ropper, 1950), O Grande Carnaval (Billy Wilder, 1951), História de um Detective (William Wyler, 1951), Cativos do Mal (Vincente Minnelli, 1952), Vinte Mil Léguas Submarinas (Richard Fleischer, 1954), A Vida de Van Gogh (Minnelli, 1956), A Voz do Desejo (Elia Kazan, 1956), Horizontes de Glória (Stanley Kubrick, 1957), Os Sete Magníficos (John Sturges, 1960), Spartacus (Kubrick, 1960), Os Inadaptados (John Huston, 1961), Duelo ao Pôr-do-Sol (Sturges, 1961), Duas Semanas noutra Cidade (Minnelli, 1962), Sete Dias em Maio (John Frankenheimer, 1964), O Bom, o Mau e o Vilão (Sergio Leone, 1966), O Compromisso (Kazan, 1969) e tantos outros.

O público ali presente dispensou-lhes calorosas e prolongadas ovações. Bem merecidas: Douglas e Wallach, em conjunto, totalizam 120 anos de presença activa no cinema americano. Casos raros de longevidade. Casos raros de indiscutível qualidade.

Daqui, na minha modesta condição de espectador grato por tantas horas de bom cinema que ambos me propiciaram, também lhes presto o meu tributo.

Sobreviventes (17)

Pedro Correia, 07.02.11

 

ERNEST BORGNINE

 

No passado dia 30, um actor já de idade visivelmente muito avançada mas com passo ainda vigoroso subiu ao palco para receber o prémio de carreira que lhe foi atribuído em Los Angeles pelo Sindicato dos Actores norte-americanos. Muitos cinéfilos mais jovens não saberão, mas estava ali uma lenda viva do cinema: Ernest Borgnine, ainda em actividade após ter participado em clássicos da Sétima Arte como Até à Eternidade (1953), Johnny Guitar (1954) e A Quadrilha Selvagem (1969).

A vida de Borgnine dava um filme. Não tinha físico de galã, longe disso, nem parecia fadado para a arte de representar quando deixou de prestar serviço na marinha, após a II Guerra Mundial. Filho de imigrantes italianos, que o baptizaram como Ermes Borgnino, o primeiro filme em que entrou, aos 36 anos, não perdura na memória de ninguém. Chamava-se The Chinese Corsair – um nome que diz quase tudo.

Quatro anos depois, no entanto, Borgnine tinha Hollywood, Nova Iorque e Cannes a seus pés. Graças à sua interpretação de um tímido dono de um talho em Bronx num filme de apenas 91 minutos chamado Marty que reconciliava o cinema americano – então infestado de megapelículas em scope – com a realidade quotidiana. “É um dos raros filmes americanos recentes com diálogos verosímeis”, aplaudia a exigente New Yorker. Marty – um drama de Paddy Chayefsky exibido originalmente na televisão, com Rod Steiger como protagonista – seduziu o público e convenceu a crítica. “Os argumentistas dos estúdios deviam passar mais tempo a ver televisão”, observou a Variety. Filme, realizador (Derlbert Mann) e Borgnine receberam Óscares e o prémio anual da crítica nova-iorquina. Mais significativo ainda: esta foi a primeira longa-metragem americana galardoada com a Palma de Ouro em Cannes.

Em 60 anos de trabalho incessante no cinema, Borgnine rodou com Nicholas Ray, Fred Zinnemann, Sam Peckinpah, Robert Aldrich, Richard Brooks e John Sturges, entre outros cineastas de primeira linha. Contracenou com Gary Cooper em Vera Cruz, Spencer Tracy em A Conspiração do Silêncio e Bette Davis em The Catered Affair. Nenhum actor vivo conheceu tantos gigantes da Sétima Arte. E em 2010 ainda trabalhou em quatro filmes. The show must go on, Mr. Borgnine.

 

Nasceu a 24 de Janeiro de 1917 (tem 94 anos)

 

Sobreviventes (16)

Pedro Correia, 27.12.10

 

ELEANOR PARKER

 

Vi-a num filme centrado numa prisão de mulheres e jamais esqueci a intensidade da representação desta actriz filha de um professor de matemática que começou a trabalhar aos 18 anos para a Warner Brothers. Era a época áurea do cinema. Nos anos 40, ela surgiu na tela ao lado de Errol Flynn em Todos Morreram Calçados (Raoul Walsh, 1941) e Paul Henreid em Servidão Humana (Edmund Goulding, 1946). Mas foi nos anos 50 que a estrela dela mais brilhou. Ao lado de Kirk Douglas na fabulosa História de um Detective (William Wyler, 1951) e Frank Sinatra em O Homem do Braço de Ouro, entre outras obras-primas. Voltei a vê-la noutras fitas de outros anos, como a ubíqua Música no Coração (Robert Wise, 1965). Mas são as interpretações dela na década de 50 - a melhor de sempre da Sétima Arte - que guardo acima de tudo na memória. Reveja-se o tal filme sobre mulheres aprisionadas. Chama-se Caged, foi rodado por John Cromwell em 1950: não esquecemos um desempenho como o de Eleanor Parker, nome grande do cinema que Hollywood nunca devidamente recompensou.

 

Nasceu a 26 de Junho de 1922 (tem 88 anos).


Sobreviventes (15)

Pedro Correia, 10.12.10

 

JANE RUSSELL

 

Os homens preferem as louras? Eu, quando vi o filme que mais contribuiu para a popularidade de Marilyn Monroe junto do público americano, só tinha olhos para a outra. A morena Jane Russell era a amiga da dumb blonde nessa fita genial de Howard Hawks em que ambas juravam, cantando, que o diamante é o melhor amigo de qualquer mulher. Não havia código moral em Hollywood que resistisse: cada cena em que ela entrava tinha uma óbvia carga erótica que as entrelinhas da época só acentuavam. "A kiss on the hand may be quite continental, / but diamonds are a girl's best friend."
Já fora assim contracenando com Robert Mitchum em Macau, um dos mais insólitos filmes negros de todos os tempos. Deram-lhe outros papéis meritórios - por exemplo, em The Paleface, um western divertidíssimo ao lado de Bob Hope, e The Tall Men, um western 'sério' com Clark Gable. Mas o papel da vida dela será sempre aquele em que desce uma escadaria e consegue ofuscar a gloriosa Marilyn. Poucas mulheres se puderam gabar do mesmo.

 

Nasceu a 21 de Junho de 1921 (tem 89 anos)


Sobreviventes (14)

Pedro Correia, 07.12.10

 

ELI WALLACH

 

Actor secundário? Que é isso de actor secundário? Há bons e maus actores, ponto. Este é um dos maiores: entrou num impressionante número de obras-primas do cinema, irradiando na tela o talento forjado nas tábuas teatrais e no curso com Lee Strasberg no Actors Studio. Fez uma parceria antológica com Karl Malden em A Voz do Desejo (Elia Kazan, 1956). Contracenou com Gable, Clift e Marilyn em Os Inadaptados (John Huston, 1961). Teve um papel memorável em O Padrinho III (Francis Ford Coppola, 1990). Participou no fabuloso Mystic River (Clint Eastwood, 2003). Surgiu em westerns inesquecíveis: Os Sete Magníficos (Sturges, 1960), A Conquista do Oeste (Ford-Hathaway-Marshall, 1962), O Bom, o Mau e o Vilão (Leone, 1966), O Ouro de McKenna (Thompson, 1969). Trabalhou com Henry Fonda, John Wayne, Audrey Hepburn, Gregory Peck, Jeanne Moreau, Peter O'Toole, Steve McQueen, Al Pacino e tantos outros. Passou há muito a idade da reforma, sempre em actividade - um grande actor jamais sai de cena. E ele é um grande actor, um dos maiores. Não lhe chamem secundário.

 

Faz hoje 95 anos (nasceu a 7 de Dezembro de 1915).

Sobreviventes (13)

Pedro Correia, 05.12.10

  

SIDNEY POITIER

 

Muito antes de os EUA sonharem sequer que teriam um presidente mestiço, um actor negro nascido nas Bahamas conseguiu uma proeza impressionante: um Óscar de Hollywood pelo melhor desempenho masculino em Lírios do Campo (1963). Precisamente no ano em que Martin Luther King fazia um dos mais belos discursos de todos os tempos, declarando em Washington que sonhava com um mundo onde os homens não pudessem ser julgados pela cor da pele.

Sidney Poitier estava então para o cinema como Barack Obama está hoje para a política. Impôs-se desde muito jovem em filmes como No Way Out  (Joseph L. Mankiewicz, 1950), Sementes de Violência (Richard Brooks, 1955) e Um Homem tem Dez Metros de Altura (Martin Ritt, 1957). Contracenou com Paul Newman, Tony Curtis, Glenn Ford, Richard Widmark - todas as vedetas da época. E continuou a romper barreiras raciais em filmes como Adivinha Quem Vem Jantar e No Calor da Noite, ambos de 1967. Neste, ficou célebre uma réplica sua a Rod Steiger, que fazia de polícia racista: "Chamam-me Mister Tibbs." Uma das frases mais memoráveis do cinema, pronunciadas pelo senhor Poitier. Antes dele, os negros em Hollywood apenas podiam ser mordomos, porteiros de hotel ou pianistas de bar. Depois dele, puderam ser tudo.

 

Nasceu a 20 de Fevereiro de 1927 (tem 83 anos).

Sobreviventes (12)

Pedro Correia, 26.11.10

 

 

FARLEY GRANGER

 

Alfred Hitchcock descobriu nele um toque de vulnerabilidade que o tornava ideal para algumas das suas personagens mais emblemáticas, sempre divididas no plano moral. Foi assim que protagonizou o primeiro filme a cores do grande mestre do suspense: A Corda (1948). Seria ainda moralmente mais ambivalente em O Desconhecido do Norte-Expresso (1951), obra-prima de Hitchcock, baseada na novela homónima de Patricia Highsmith e um dos títulos dominantes do cinema negro americano. Vimo-lo noutros filmes inesquecíveis que são hoje património universal da Sétima Arte. Cathy O'Donnell apaixonou-se por ele em Os Filhos da Noite (Nicholas Ray, 1949). O mesmo viria a acontecer com Alida Valli em Sentimento (Luchino Visconti, 1954) e Joan Collins em A Rapariga do Baloiço Vermelho (Richard Fleischer, 1955). Amores de perdição: ele não era de fiar, tanto nas malhas do crime como nas teias do coração.

 

Nasceu a 1 de Julho de 1925 (tem 85 anos).

Sobreviventes (11)

Pedro Correia, 17.03.10

 

JULIE HARRIS

 

Certas actrizes ficam-nos na memória por um único filme. É o caso dela, heroína trágica, dorida, dolorida, ao lado de James Dean no inesquecível A Leste do Paraíso, de Kazan. Consta que na vida real teve também uma grande paixão pelo malogrado actor. Não retribuída, pois é sabido que a vida imita a arte tanto como a arte imita a vida.

Vi-a muito depois, ao lado de Marlon Brando, no também fabuloso Reflexos num Olho Dourado, de John Huston. Mas já não era a mesma. Aos olhos dos cinéfilos, ela permanecerá para sempre a leste do paraíso.

 

Nasceu a 2 de Dezembro de 1925 (tem 84 anos).

Sobreviventes (10)

Pedro Correia, 08.03.10

 

 

 

JEANNE MOREAU

 

Há caras que não nos enganam. Ela tem uma dessas caras. Os olhos magoados, a boca sensual, o lábio inferior ligeiramente descaído, dando-lhe um ar de amuo permanente. A cara, tão expressiva, fez a aura desta actriz - uma das maiores estrelas de sempre do cinema francês. Vimo-la nesse fabuloso noir de Louis Malle que se intitulou Ascenseur pour l'Échafaud (1957), ao som de Miles Davis. Ou, de novo dirigida por Malle, imortalizada em Os Amantes (1958). Ou, no mais singular dos triângulos amorosos, em Jules e Jim (1961), de Truffaut. Ou na excelente versão do Diário de uma Criada de Quarto, de Buñuel (1964). Ou, ao lado de Brigitte Bardot, em Viva Maria, ainda de Malle (1965). E em tantos outros filmes que lhe fizeram perdurar o inigualável rosto com que todas as câmaras pareciam querer fazer amor.

 

Nasceu a 28 de Janeiro de 1928 (tem 82 anos).

Sobreviventes (9)

Pedro Correia, 12.02.10

 

DORIS DAY

 

Recordo-me dela em longínquas matinés de domingo, sorriso contagiante nos lábios, irradiando alegria de viver numa porção de musicais - durante muito tempo, enquanto existiu, o meu género cinematográfico preferido. Vi-a em filmes de David Butler, Roy del Ruth, George Sidney. Cantando, dançando, exibindo uma vitalidade rara nesses anos dourados da era Eisenhower de que muitos, bastante mais tarde, viriam a sentir uma irreprimível nostalgia.

Ela é a imagem personificada da nostalgia. Talvez por isso tantos cineastas contemporâneos lhe rendam homenagem - a começar por Pedro Almodóvar. Talvez por isso, as suas canções regressem ciclicamente aos patamares da moda - de Secret Love (galardoada com Óscar, do filme Diabruras de Jane, realizado por Butler em 1953) a Que Sera Sera (outro Óscar, desta vez sob a direcção de Hitchcock, no filme O Homem que Sabia Demais, de 1956).

Que sera, sera / Whatever will be, will be / The future's not ours to see...

 

Nasceu a 3 de Abril de 1924 (tem 85 anos)

Sobreviventes (8)

Pedro Correia, 05.02.10

 

EVA MARIE SAINT

 

Era uma daquelas louras "frígidas" que Hitchcock tanto gostava de evocar e de enaltecer como exemplo supremo de diva do cinema. E foi precisamente com o mestre britânico que fez um dos seus melhores filmes: Intriga Internacional (1959), ao lado de Cary Grant - película que acaba, sugestivamente, com um longo beijo enquanto o comboio em que viajam entra num túnel a alta velocidade...

Mas o filme dela que mais me tocou foi Há Lodo no Cais (1954), de Elia Kazan. Aqui não é vamp, longe disso: é uma mulher frágil, quase etérea, de olhar triste e magoado, pertencente à classe trabalhadora. Anda ali, pelos tristes terraços de Hoboken, em busca de um sentido para a vida. Que parece encontrar, sabe-se lá porquê, ao tropeçar em Marlon Brando.

(Raros Óscares foram tão merecidos como o que ela ganhou neste filme.)

Eva, a primeira mulher. Símbolo de todas as mulheres no cais de Kazan - um dos melhores desempenhos femininos da história do cinema. Daqueles que jamais passam de moda. E até eu, que prefiro morenas, dei por mim a gostar de louras.

 

Nasceu a 4 de Julho de 1924 (tem 85 anos).

Sobreviventes (7)

Pedro Correia, 27.01.10

 

LAUREN BACALL

 

"Se precisares de mim, é só assobiares."

Bastou-lhe esta frase, dita a Humphrey Bogart, para lhe valer uma entrada directa na história do cinema. O filme era Ter ou Não Ter, de Howard Hawks (1944). Logo vieram outros: À Beira do Abismo (1946), Prisioneiro do Passado (1947), Paixões em Fúria (1948). Ela continuava a fitar Bogie com aquele jeito único de baixar a cabeça e levantar os olhos, como se fosse muito tímida. Sempre enigmática, de uma beleza fora dos padrões convencionais, dotada de uma prodigiosa fotogenia.

Fez inúmeros filmes em mais de seis décadas de carreira. Mas nenhuma frase dela nos marcou tanto como aquela inicial. Assobiamos. Para que volte sempre.

 

Nasceu a 16 de Setembro de 1924 (tem 85 anos).

Sobreviventes (6)

Pedro Correia, 20.01.10

 

MAUREEN O'HARA

 

A irlandesa fogosa que seduziu dois dos maiores mestres do cinema, Ford e Hitchcock, materializou-se de filme em filme como uma singular força da natureza. Hitch deu-lhe o estrelato em A Pousada Jamaica (1939), última longa-metragem que rodou em Inglaterra antes de rumar a Hollywood. Ford imortalizou-a numa sucessão de obras-primas, com destaque para  O Vale Era Verde (1941) e O Homem Tranquilo (1952). Nesta última película, repleta de cenas memoráveis, nenhuma se sobrepõe à do longo beijo que lhe rouba um John Wayne totalmente arrebatado por esta ruiva que não se vergava a homem nenhum.

Arrebatados também por ela, desde então, permanecemos todos nós.

 

Nasceu a 17 de Agosto de 1920 (tem 89 anos).

Sobreviventes (5)

Pedro Correia, 14.01.10

 

KIRK DOUGLAS

Conheço poucos actores que tenham entrado em tantas obras-primas dos mais variados géneros - do épico ao negro, da comédia ao drama, do western ao filme de aventuras. Na tela foi Spartacus, Van Gogh, Doc Holliday, o capitão Nemo. Entrou num dos melhores noirs de sempre (O Arrependido, 1947), na mais genial sátira do jornalismo (O Grande Carnaval, 1951), numa assombrosa viagem aos bastidores de Hollywood (Cativos do Mal, 1952), num fabuloso filme anti-guerra (Horizontes de Glória, 1957). Filmou com quase todos os grandes mestres - Minnelli, Wilder, Kazan, Huston, Aldrich, Kubrick, Wyler, Mankiewicz.

É uma lenda viva do cinema.

 

Nasceu a 9 de Dezembro de 1916 (tem 93 anos).

Sobreviventes (4)

Pedro Correia, 06.01.10

 

ESTHER WILLIAMS

Milhões de adolescentes aprenderam a nadar graças às visões magníficas desta mulher-sereia nas suas assombrosas coreografias aquáticas, filmada pelo olho mágico de Busby Berkeley. A guerra impediu-a de ganhar medalhas olímpicas em natação. Em compensação, rumou com êxito à meca do cinema. Não era uma actriz - era uma estrela digna desse nome. A rainha do technicolor jamais se apagará da memória cinéfila.

 

Nasceu a 8 de Agosto de 1921 (tem 88 anos)

Sobreviventes (3)

Pedro Correia, 30.12.09

 

MICKEY ROONEY

Cantava, dançava, electrizou o ecrã ao lado de Judy Garland em vários filmes do quase lendário Busby Berkeley que povoaram o imaginário americano - e de todo o mundo - em sucessivas matinés nos anos 30. Actuou com Spencer Tracy em Boys Town (1938) e com uma Elizabeth Taylor ainda criança no tocante National Velvet (1945). Eterno adolescente, desdobrava-se de filme em filme irradiando optimismo e alegria de viver. Terá sido este um dos segredos da sua longevidade.

 

Tem 89 anos (nasceu a 23 de Setembro de 1920)