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Delito de Opinião

Fim de semana (6)

Pedro Correia, 08.08.21

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Palácio e jardins de Monserrate: o esplendor do romantismo em Portugal

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Edifício do século XIX foi restaurado, integrando paisagem cultural de Sintra

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No frondoso parque há espécies oriundas de todas as partes do globo

 

A beleza de Sintra é inesgotável. Sinto isso sempre que lá vou. Nunca há dois dias iguais quando a visitamos. Desde logo por ser uma das povoações portuguesas mais bem enquadradas no sempre renovado espectáculo da natureza. 

Agora que os dias são grandes e as vagas turísticas continuam diminutas, é a ocasião ideal para lá voltarmos em romagem. Porque em Sintra há sempre algo mais para ver. O deslumbrante Parque de Monserrate, por exemplo. Tudo começou no século XVI, com uma ermida que ali havia. Depois tornou-se quinta com sucessivos proprietários ou arrendatários - um deles, no final do século XVIII, foi o escritor inglês William Beckford. Byron também passou por lá. Mas o apogeu de Monserrate ocorreu a partir de 1846, quando foi adquirida por outro súbdito da Rainha: Francis Cook, comerciante e coleccionador de arte. É dele a iniciativa de ali erguer o actual palácio de inspiração gótica, indiana e mourisca. E também de ali instalar um vasto jardim povoado de espécies exóticas, das mais diversas proveniências. Esplendor máximo do romantismo em Portugal. 

O palácio foi adquirido em 1949 pelo Estado e todo o conjunto integra a paisagem cultural de Sintra, declarada em 1995 património da humanidade pela Unesco. Isto não evitou a degradação do edifício, que permaneceu encerrado ao público durante muitos anos. Felizmente restaurado e novamente aberto aos visitantes, é uma jóia arquitectónica ali à nossa espera - com vistas deslumbrantes, seja qual for o ângulo. Além do frondoso parque onde podemos deambular durante horas. Recarregando baterias, em busca de inspiração seja para o que for. Se não a acharmos aqui, não a encontramos em parte alguma.

Fim de semana (1)

Pedro Correia, 27.06.21

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Sintra, mais deslumbrante que nunca. E, por estes dias, com um número quase residual de turistas - algo impensável há ano e meio, inimaginável em pleno Verão.

Vale a pena visitá-la com vagar, aproveitando o espaço disponível: quando lá vamos, ficamos sempre a ganhar. Em conhecimento histórico, em fruição da beleza natural e arquitectónica, em pausa na rotina quotidiana.

Se algo de bom nos trouxe o coronavírus foi isto: podermos desfrutar recantos do País que antes pareciam reservados a hordas forasteiras. Valha-nos isto. Aproveitemos enquanto dura.

Desconfinar em Monserrate

Pedro Correia, 11.10.20

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Contrariemos o Governo e o Presidente da República, que nos querem "confinar" de novo. Desconfinemos. 

Sugestão de passeio de fim de semana, sobretudo a quem vive na Grande Lisboa: rumar a Sintra. Estive lá há dias: nunca me lembro de ter visto a vila tão vazia. Há um ano, todos se queixavam do "excesso de turistas"; agora os lojistas vêm ter connosco na rua, implorando aos raros transeuntes para lá entrar. 

Esplanadas sem ninguém, restaurantes às moscas, hotéis sem hóspedes. No histórico Lawrence, celebrado por Eça, pergunto se servem almoços, como dantes, na varanda com vista para o mais frondoso verde que conheço em Portugal. O empregado da recepção olha para mim como se eu fosse um extraterrestre recém-desembarcado do Planeta Pré-Covid: «Agora não, acabámos com os almoços.» Magnífico cenário tão desperdiçado: a brisa soprada de Colares transportará o novo coronavírus? Talvez a notícia surja num dos telediários da noite.

 

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Felizmente o parque de Monserrate mantém-se aberto. Sabe-se lá por quanto tempo. E ainda é possível circular ali uma tarde inteira sem usar máscara - até o vigilante Chefe do Estado sugerir algo em contrário.

Andava há vinte anos para percorrer aqueles trilhos labirínticos, para visitar o palacete neomourisco ali plantado no século XIX por um industrial inglês que se perdeu de amores pela serra que deslumbrou Byron. 

Uma vez lá fui, e outra, e outra. Ou ameaçava ruína ou permanecia em "obras de reabilitação" sempre adiadas, talvez por falta de verba. Agora tive sorte: andei três horas por ali, vendo muito embora não visse quase ninguém. Como se Monserrate tivesse estado anos à minha espera para me brindar com este exclusivo.

 

Saí de lá fascinado com o panorama. Mas apreensivo com o futuro. Se ninguém o visitar, o parque acabará por encerrar outra vez. E os tais que clamavam há bem pouco contra o "excesso de turistas" voltarão a morder a língua pelas pragas que rogavam a quem permitiu salvar da ruína alguns dos mais belos recantos deste nosso doce mas ingrato país.

 

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Serra de Sintra vista de Monserrate, com o Palácio da Pena lá no alto

Quem protege Sintra?

Alexandre Guerra, 02.03.20

Sintra celebra este ano o 25º aniversário da atribuição do estatuto de Património Mundial da UNESCO. Uma classificação que se deveu à importância da “paisagem cultural” da vila histórica e da sua serra, com toda a “mancha verde” e monumentos que por lá se escondem. “Devo apenas observar que a vila de Cintra na Estremadura, é talvez a mais bela do mundo”, disse um dia Lord Byron numa carta redigida a um amigo durante a sua estada em Sintra, em Julho de 1809. Para quem conhece Sintra, a sua Serra e todos os seus recantos, não pode ver nestas palavras qualquer exagero. Por isso, as suas especificidades culturais e naturais foram reconhecidas pela UNESCO no final do século XX.

Mas o que neste ano deveria ser um momento de festa e de celebração para qualquer munícipe, dá lugar à indignação e à revolta perante as atrocidades que se têm cometido nos últimos anos na gestão do património da Vila e da Serra. As responsabilidades maiores só podem ser atribuídas à Câmara Municipal de Sintra liderada por Basílio Horta, um político desprovido de qualquer sensibilidade ambiental e cultural. Mas, sejamos francos, historicamente, Sintra foi sempre muito mal tratada pelos seus Executivos camarários. Não estamos a falar apenas da área circunscrita ao centro histórico e à Serra, já que o Concelho de Sintra era na sua grande maioria composto por uma vasta área arborizada e rural, onde se incluíam quintas de enorme valor cultural e histórico, que se prolongava até ao limite do Concelho com a Amadora. Tudo isso foi delapidado brutalmente nos últimos 30 anos. Ao mesmo tempo que se urbanizava de forma selvagem e desgovernada, a Vila de Sintra e a sua Serra foram sendo cercadas pelo betão, com custos ambientais e culturais irreparáveis.  

Verdade seja dita que nunca houve um edil sintrense com “visão” para perceber a pérola que tinha em mãos. Pelo contrário, não só não perceberam, como os vários dirigentes locais que foram passando por Sintra ao longo dos anos não se coibiram de validar projectos e construções que atentavam de morte o património cultural e natural do Concelho. A lista das atrocidades é imensa e os seus responsáveis políticos vão da esquerda à direita, com a conivência de técnicos e entidades que, supostamente, teriam como função primeira acautelar os interesses do município.

Numa lógica de responsabilidades partilhadas, a empresa Parques de Sintra-Monte da Lua não pode ser ilibada. Se é verdade que, como disse Paulo Ferrero num artigo recente no PÚBLICO, “o seu trabalho tem sido bastante bom no que toca ao património edificado (o arbóreo já será outra discussão), que tem restaurado, divulgado e reaberto ao público”, é igualmente evidente que toda a sua política de gestão dos últimos anos tem entrado num desvario completo, focando-se exclusivamente na obtenção de lucro através das receitas das entradas, comprometendo zonas naturais de valor inegável (basta ver o site daquela empresa e facilmente se percebe que há uma única orientação para a vertente comercial).

O caso da Peninha, notado há dias, é o mais recente “negócio”. As máquinas já estão a operar na clareira de terra que dá acesso ao santuário. Pelo que se percebe das obras, a ideia é empedrar aquele espaço natural para que turistas ali possam aceder sem que sejam incomodados pelo pó. Daí à colocação de um quiosque, passando pela cobrança de entradas até ao miradouro, será  um instante. E com isso virão as inevitáveis hordas de gente. Dirão os responsáveis daquela empresa que tudo é feito em nome do progresso, para ficar “arranjadinho” e “bonitinho” e com isso “atrair” mais turistas, logo, mais receitas. É uma lógica que parece fazer sentido na óptica dos seus ideólogos, mas o elementar bom senso de qualquer munícipe ou amante de natureza vê neste gesto um acto contraproducente, uma autêntica profanação de uma zona que lá ia resistindo à massificação de carros e pessoas, onde conservava alguma autenticidade natural. Qual é então a visão de sustentabilidade a médio a longa prazo por parte da empresa Parques de Sintra-Monte da Lua? A resposta a esta pergunta é óbvia para qualquer sintrense ou verdadeiro entusiasta da natureza no seu estado mais autêntico: não existe.

Os responsáveis que lideram estas entidades assim como os desígnios camarários em Sintra têm uma certa dificuldade em compreender que nem tudo precisa do tal progresso nem do facilitismo no acesso ao turismo de massas. Cada vez mais, em matéria de sustentabilidade ambiental e social, o progresso passa pela preservação e conservação e nada mais. Nem sempre tem que haver exploração comercial ou turística. É aí que reside o segredo. Há que encontrar um equilíbrio entre as necessidades económicas e sociais de um Concelho e a exploração dos seus recursos. Mas em Sintra esse equação nunca foi feita e a dinâmica de gestão (ou ausência dela) foi de desbaste acentuado do tecido patrimonial, natural e social (a vila histórica de Sintra tem cada de vez menos habitantes).

Nos anos mais recentes – não escapando infelizmente a uma tendência generalizada –, a revolução do turismo na Vila de Sintra foi avassaladora, com poucos ganhos substanciais para a comunidade. Pelo contrário. A Vila e a Serra de Sintra têm vindo a deteriorar-se naquilo que é a sua essência. Transformou-se num circo de turismo massificado, um destino caótico em moldes terceiro-mundistas, com os operadores turísticos sedentos de “apanhar” logo pela manhã as centenas de turistas que são despejados pelos comboios que vêm do Rossio até à estação de Sintra. É um espectáculo diário deplorável e que Paulo Ferrero também alude no seu artigo.

Tudo isto vai acontecendo com a conivência do poder político local, onde a hipocrisia e a falta de sensibilidade ambiental imperam. Sintra e a sua Serra deveriam ser um santuário “verde” a proteger a todo o custo. Porém, são uma “presa” fácil das irresponsabilidades e incompetências de quem gere a coisa pública. Como é possível que as coisas tenham chegado a este ponto? Como é que um presidente de Câmara pode apregoar princípios da sustentabilidade ambiental e depois conviver pacificamente com práticas que merecem cada vez mais o repúdio de qualquer cidadão minimamente consciente? Como é possível que ainda se permita a circulação de tuk tuks a gasolina no meio da Vila e da Serra, quando até em Lisboa já há muito que deixaram operar (só eléctricos)? São viaturas altamente poluentes e ruidosas que circulam livremente perante a indiferença de Basílio Horta.

Como é possível que Basílio Horta promova alterações de trânsito, sem qualquer nexo, ignorando a Polícia Municipal e a GNR? Alterações que vieram colocar uma pressão de tráfego nunca vista na zona que vai da “Rampa da Pena” aos Capuchos. Basta ver carros estacionados ao longo dessa estrada, muitas vezes obstruindo a entrada de estradões de terra, numa zona que até há bem pouco tempo gozava de uma certa tranquilidade. As mudanças de Basílio Horta tornaram os “quatro caminhos” dos Capuchos mais movimentados que muitos cruzamentos em Lisboa.

Como é possível que não haja a coragem para reduzir ao máximo todo o trânsito na Serra e na Vila, criando-se mais parques nas zonas circundantes da Portela e apostando nos “shuttles” pequenos e médios? Como é possível permitir a circulação de viaturas turísticas de dois andares nas estreitas estradas da Serra? Como é possível que a Câmara de Sintra ainda permita atentados como o da Casa da Gandarinha?

Basílio Horta é um líder obsoleto nas ideias, nas propostas, nas abordagens e nos paradigmas. É de outro tempo, onde tudo valia, sem que houvesse qualquer tipo de preocupação ou sensibilidade com a comunidade social e natural que nos rodeia. Mas o pior é que os Parques de Sintra-Monte da Lua parecem acompanhar alguns destes males, porque não parecem ter percebido que o factor da sustentabilidade não está na massificação do turismo, mas sim na preservação da autenticidade do património natural da Vila e da Serra. Acima de tudo, Basílio Horta e os Parques de Sintra-Monte da Lua deviam estar focados na defesa dos interesses do território e dos seus munícipes. E isso, seguramente, já se precebeu que não estão.

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As alterações de trânsito da Câmara de Sintra acabaram com a tranquilidade no cruzamento dos Capuchos, bem no coração da Serra.

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Além do trânsito constante, o cruzamento dos Capuchos transformou-se num parque de estacionamento e num "posto" turístico caótico.

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Entre o "verde" da Serra, a terra ainda resiste no caminho de acesso à Peninha, mas por pouco tempo.

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As máquinas já trabalham na clareira de acesso à Peninha, para ficar tudo "arranjadinho" de modo a facilitar os passeios dos turistas.

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Lá em cima na Peninha, ainda há tranquilidade, mas o piso já foi cimentado. E muito mais virá.

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Na estrada que liga a "Rampa da Pena" aos Capuchos, calma até há bem pouco tempo, o caos instalou-se.

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Os carros vão parando ao longo da estrada sem qualquer tipo de preocupação.

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Sem qualquer preocupação, os carros bloqueiam acessos a estradões, impossibilitando a passagem de uma viatura de bombeiros.

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Uma zona da Serra sempre tranquila deu agora lugar ao turismo de massas.

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Carros e mais carros no meio da Serra, porque não há visão para limitar a sua circulação.

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Este cenário de "invasão" automobilística é recente. É consequência da política desastrosa da Câmara de Sintra.

 

Nota: As fotografias foram tiradas no passado sábado, 29 de Fevereiro, de manhã.

Basílio Horta

Sérgio de Almeida Correia, 25.03.19

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(foto de Enrique Vives Rubio, daqui)

Ele não será propriamente um referencial de coerência política. Como todos nós tem as suas virtudes e os seus defeitos, e lá vai tendo os seus altos e baixos.

Agora saltou de novo para as páginas dos jornais por causa da gaiteira da Madonna, cantora e artista, à qual todo o país pacóvio e parolo se rendeu no dia em que a senhora resolveu fixar residência na terra onde o céu é mais azul e a luz mais luminosa.

Querer entrar com um cavalo, mesmo que "somente" durante uma hora ou hora e meia, pelo soalho de um palácio oitocentista que é património de todos, correndo o risco de danificá-lo, não me parece o mais curial. Nem quero imaginar o que seria se o quadrúpede resolvesse largar uns "talentos" à sua passagem, ou enquanto a artista se rebolasse com o dito para gáudio do realizador do filme.

Estiveram, pois, muito bem a autarquia de Sintra e o seu presidente Basílio Horta. As explicações que deram e a paciência que tiveram em relação a este assunto revelam bom senso e sentido do interesse público. Não há nada a apontar à sua actuação.

Pelo meu lado, estou cansado de ver as tristes figuras que alguns governantes provincianos têm feito ao longo de anos, à direita e à esquerda, para agradarem a qualquer labrego milionário, oligarca ou autocrata novo-rico que apareça de bolsos cheios e disposto a largar umas esmolas, seja nalgumas privatizações, seja nas tascas dos pobrezinhos.

E não será pelo facto dos filhos da madama andarem a treinar num clube da minha preferência que alguma coisa se altera. Cada cavalo na sua estrebaria. E olhem que gosto mais de cavalos do que de algumas cavalgaduras falantes.

Uma vergonha na Vila de Sintra

Alexandre Guerra, 17.12.18

Aquilo que estava inicialmente previsto há uns anos ser um projecto relativamente contido de reabilitação da histórica Casa da Gandarinha, bem no coração da Vila de Sintra, transformou-se num atentando ambiental e cultural de proporções criminosas, com a construção de um novo hotel com 100 quartos, 500 metros quadrados de sala de conferências e 137 lugares de estacionamento com três pisos, tudo envolto em betão, numa zona classificada como Património da UNESCO. O projecto, que assistiu a um desenvolvimento substancial nas últimas semanas, com a edificação de novas estruturas a rasgarem a paisagem verdejante da encosta do Castelo dos Mouros na Serra de Sintra, extravasa, em muito, o edifício da antiga Casa da Gandarinha.

 

Esta obra, que resulta de um processo com muitos anos e polémicas, à semelhança de tantos outros projectos desta natureza em Portugal, e que nunca têm finais felizes, está a nascer numa zona que, por si só, está sobrecarregada de tráfego e turismo, com milhares de veículos particulares e autocarros a circularem por ali. Uma área que há muito devia estar interditada ao trânsito e devia ser protegida a todo o custo contra os excessos do betão e do turismo.

 

Infelizmente, continua-se a ver os responsáveis do poder local a cometerem as maiores barbaridades, indo contra aquilo que são as melhores práticas de gestão urbanística e ambiental de áreas particularmente sensíveis em termos de património natural e cultural. Por vezes, falamos de questões de mero bom senso, onde nem sequer são precisos grandes conhecimentos técnicos para se evitarem aberrações. Como compreender que, numa zona em que se impõe afastar o trânsito do centro histórico da Vila (seguindo, aliás, em linha com aquilo que está a ser feito em muitas cidades e vilas portuguesas), seja a própria edilidade a promover empreendimentos que vão em sentido contrário, ao trazerem mais tráfego e turismo massificado para uma área sensível?

 

A resposta não é fácil e pode ser encontrada num leque alargado de razões, que podem ir dos famigerados “interesses” escondidos a uma manifesta impreparação dos dirigentes técnicos e políticos para fazerem face aos desafios das sociedades actuais. Independentemente das razões, uma coisa é certa: muito do nosso poder local continua a maltratar o património ambiental e cultural. 

 

Em Maio último, o jornal Público dava conta, precisamente, das questões relativas ao impacto ambiental da obra da Casa da Gandarinha e das atrocidades que já estavam ali a ser cometidas, com a conivência de técnicos e poderes políticos. O mesmo jornal, em Fevereiro, já tinha recuperado todo o histórico em torno da reabilitação da Casa da Gandarinha e nesse trabalho fica evidente que tudo poderia ter seguido um rumo diferente, caso tivesse havido coragem e visão do poder político à frente do Município sintrense.

 

Do que se lê (e nem seria preciso isso, porque basta ir ao local), constata-se uma manifesta (ir)responsabilidade da Câmara de Sintra que, a determinado momento, exerceu o seu direito de preferência face à empresa Parques de Sintra-Monte da Lua, uma sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos, nomeadamente municipais. “No final de 2013, a Parques de Sintra-Monte da Lua, empresa de capitais públicos da qual a autarquia é accionista e é responsável pela gestão dos parques e monumentos de Sintra, quis comprar, por 600 mil euros, o hotel em ruínas à empresa Tivoli Hotels & Resorts, que o detinha. A ideia era a adaptação do antigo hotel a uma 'residência jovem/hostel, de modo a viabilizar a sua recuperação e vitalizar o centro histórico de Sintra'. No entanto, a autarquia decidiu exercer o direito de preferência, impedindo a aquisição da Parques de Sintra - Monte da Lua […] Na altura, Basílio Horta, dizia à agência Lusa que a aquisição do Hotel Netto revelava que a câmara ia 'assumir as suas responsabilidades na requalificação do centro histórico da vila de Sintra e em todo o concelho'. Porém, a autarquia nunca avançou com as obras e acabou por decidir-se pela venda, perante o elevado custo de manutenção da fachada”, lê-se na notícia do Público de Fevereiro deste ano. A partir daquela altura, o processo descamba até culminar naquilo que hoje já é visível de forma gritante.

 

Mais uma vez, a mentalidade técnico-política desprovida de qualquer noção de sustentabilidade e a falta de visão de quem lidera os desígnios do poder local, confundido “camas” de hotel e auditórios, com progresso saudável das sociedades, reflecte-se de forma muito nefasta no que de mais valioso temos. Neste aspecto em concreto, a Vila de Sintra, e toda a sua envolvente, tem sido um triste exemplo da ausência concreta de verdadeiros paradigmas de gestão sustentável, quando se permite que atentados destes ocorram em nome da tal economia e do “turismo”, quando se permite que tuk tuks terceiro mundistas altamente poluentes circulem em plena mancha verde, que milhares de automóveis e autocarros entupam a única artéria da Serra que vai da Vila ao Castelo dos Mouros e ao Palácio da Pena, ou que hordas de turistas encham jipes para se passearem no meio dos estradões e árvores da Serra. E por aí fora... Uma lamentável e triste história que se repete vezes de mais….

 

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Nas últimas semanas, o betão rasgou de forma gritante a encosta do Castelo dos Mouros/Sintra

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A construção estravasa claramente o edifício original (direita) 

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Zona de construção nova do parque de estacionamento com três pisos e que se prolonga até muito próximo de uma das fontes mais procuradas em Sintra

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A fachada original, actualmente tapada, começa a ficar rodeada de betão.

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O arvoredo ainda tenta esconder o que é uma vergonha inaceitável nos tempos que correm.

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Betão é aquilo que se vê agora quando se inicia um dos caminhos pedestres mais bonitos para o Castelo dos Mouros.

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A zona do novo parque de estacionamento veio ocupar um espaço outrora amplo e livre.

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Uma perspectiva que dá uma ideia da dimensão escandalosa da obra. 

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Muito betão rodeado de casas típicas de Sintra e muito verde.

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Betão e mais betão muito para lá do edifício original.

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Uma fotografia do que restava do edifício na sua dimensão original, sem estruturas à sua direita ou esquerda.

Santuários

Alexandre Guerra, 01.08.18

marcelo-gutierrez-a-curvar.jpg Marcelo Gutierrez, um dos riders de downhill de topo a nivel mundial, veio em 2016 experimentar um dos trilhos na Serra de Sintra com os riders locais/Fotos: Red Bull

 

Um santuário pode ser um local de culto, de oração, mas pode ser também um refúgio, um sítio onde se encontra tranquilidade e distanciamento daquilo que é o tradicional quotidiano, com as suas rotinas e gentes. Cada pessoa terá o seu próprio conceito de santuário, o local que serve de escape àquilo que é a sua vivência diária, um espaço de índole quase sagrado, onde cada um vai explorar outros limites, viver diferentes experiências com outras pessoas, outras "tribos".

 

“Apanhar” uma onda, escalar uma montanha, descer um trilho, mergulhar nas profundezas do mar ou fazer base jumping, são daqueles momentos pelos quais se anseia durante toda a semana e que assumem uma obrigação quase religiosa que, durante algumas horas, se sobrepõem à realidade diária, ao trabalho, à família, ao círculo dos amigos de sempre… É todo um outro mundo. São tempos de "retiro" físico e também espiritual, onde os cânones da normalidade não se aplicam e o que conta é explorar ao máximo os nossos limites. São aqueles momentos de libertação dos constrangimentos diários e das convenções sociais, dos problemas e das pressões, para dar lugar à adrenalina, a um estado de satisfação quase transcendente.

 

Nesses santuários encontramos outras gentes, normalmente ausentes do nosso circuito do dia-a-dia, mas que naquele contexto quase tribal são companheiros de aventura. Provavelmente, a maioria das pessoas não terá essa necessidade ou o ímpeto intrínseco para procurar outras realidades mais “extreme” que, de certa forma, sejam disruptivas mental e fisicamente com o quotidiano. Nunca perceberão a vontade suprema de uma pessoa, sem qualquer ambição de ser pró seja no que for, se “fazer" a uma onda, ou de pegar no seu skate para sacar umas manobras num qualquer cenário urbano e decadente da cidade, ou ainda de se meter em cima da “bike” e fazer umas descidas serra abaixo. 

 

Globe_Portugal_photo14_750px_2x.jpgRyan Dicenzo, um dos skaters profissionais da equipa da Globe que esteve há uns meses em Lisboa, a sacar um ollie abusado sobre dois lanços de escadas algures num bairro nada turístico da cidade de Lisboa/Foto: Thrasher Magazine/Globe.

 

De certa maneira, tal como um crente procura conforto e uma certa paz interior numa missa de Domingo de manhã, junto de pessoas que naquela circunstância e momento partilham uma ideal comum, também um surfista, um skater ou um rider espera encontrar no seu santuário a serenidade necessária para se transcender para um outro estádio físico e mental. Quando encontramos esse tal santuário, normalmente é uma relação para a vida, porque dificilmente abdicaremos daquilo que nos proporciona sensações únicas. Infelizmente, os santuários não são locais herméticos e podem acabar por ser desvirtuados pelas dinâmicas das próprias sociedades, sendo que, muitas vezes, não há sequer essa consciência da parte de quem “invade” massivamente (com todo o direito, note-se) determinados espaços, que foram locais de conforto para tribos antigas.

 

Um dos exemplos desta realidade tem a ver com o recente fenómeno “trendy” dos “trail runners”, cuja massificação se faz sentir de forma particularmente intrusiva naquele que sempre foi o meu santuário na Serra de Sintra, tido há muitos anos como um dos melhores spots em Portugal e na Europa para a prática de BTT nas vertentes Enduro e Downhill. Desde sempre, houve uma relação harmoniosa entre a tribo local e o ambiente, com a aventura a iniciar-se no mesmo ponto de encontro, aos primeiros raios de sol dos sábados e domingos, juntando alguns riders, num clima sereno, mas devoto à aventura. Foi assim durante anos. Custa agora ver ali uma mudança praticamente imparável.

 

download.jpgO brasileiro Gabriel Medina na final do Meo Rip Curl Pro Portugal de 2017, em Peniche 

 

Aquele que foi um ponto de encontro sagrado dos riders nativos, é agora alvo de uma invasão massiva de carros que despejam dezenas de “trail runners”, muitos deles em grandes grupos, por vezes, ruidosos e demonstrando um entusiasmo histriónico na descoberta de um mundo novo, acabando por desrespeitar, de forma inconsciente, é certo, as tribos ali instaladas há muitos anos. É um pouco como no turismo de massas em Lisboa, no qual se reconhece o seu direito e algumas virtudes, mas é impossível negar o custo que isso implica na vivência das comunidades autóctones e na descaracterização dos locais. Os tais santuários que sempre foram local de culto ficam comprometidos.

 

Esta questão, no entanto, merece um olhar mais sociológico. Ao contrário daquilo que são as actividades mais “extreme” de carácter tribal que, por natureza, são disruptivas com o quotidiano e irreverentes com as normas sociais instaladas, o fenómeno do “trail running” resulta precisamente da aceitação das normas, numa lógica urbana e cosmopolita, associada a um estilo de vida regulado e organizado, dotado de um certo “status”. Não é por isso de estranhar que o “trail running” tenha surgido de rompante como uma tendência de massas, como tantas outras que surgem nestes tempos onde impera a ditadura do politicamente correcto e dos hábitos “saudáveis”, ao contrário de modalidades como o surf, o skate ou o BTT, que nos seus primórdios apareceram como elementos de contra-corrente ou contra-cultura.

 

Compreende-se, por isso, que o “trail running” esteja muito instalado em quadros de empresas e organizações, como elemento agregador e modernizador. Também no seio dos amigos e famílias, é uma actividade socializante e potenciadora de práticas “saudáveis”. No fundo, e é aqui que reside a grande diferença com as actividades de matriz “subversiva” ou "irreverente", o “trail running” acaba por ser uma extensão social das vivências diárias, de uma lógica “mainstream”, fruto das novas tendências urbanas e cosmopolitas. Não é que isso tenha algum mal, até porque a prática do desporto é sempre louvável, mas para quem sempre ansiou pelo fim-de-semana, de modo a pegar na bike e ir ao santuário para se reunir com a tribo, é uma desolação espiritual começar a manhã rodeado de carros e pessoas, pondo em causa o equilíbrio de um ambiente que devia ser sagrado e imune à “contaminação” pelos hábitos e comportamentos das vivências diárias da urbe e das cenas “trendy” da sociedade cosmopolita.

Duplo mortal à retaguarda

Sérgio de Almeida Correia, 29.08.16

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Em 2013, num processo que levantou muitas incompreensões entre os seus militantes, Passos Coelho impôs a candidatura de Pedro Pinto à Câmara de Sintra, abrindo caminho à vitória de Basílio Horta.

Na sequência desse processo, em que foi recusado o nome (consensual para as estruturas locais) de Marco Almeida, e apesar deste ter na altura o apoio de oito presidentes de juntas de freguesia do PSD, vários militantes foram expulsos por se terem rebelado contra a decisão da direcção do partido e terem apoiado ou resolvido candidatar-se em listas, e não só em Sintra, contra o seu próprio partido. Outros houve que, entretanto, descontentes com a situação saíram pelo seu próprio pé evitando a expulsão automática prevista nos estatutos.

Volvidos estes anos, que não foram tantos como isso, depois do PSD e Pedro Pinto terem sido cilindrados em Sintra, perdendo Marco Almeida a Câmara para o PS por menos de dois mil votos, eis que surgem notícias dando conta de um mais do que provável apoio desse mesmo PSD, ainda e sempre dirigido por Passos Coelho, a uma recandidatura do referido Marco Almeida nas autárquicas de 2017.

Em 7 de Junho p.p., num texto de Cristina Figueiredo, o Expresso anunciava que o PSD estaria a considerar o "endosso" à candidatura de Marco Almeida (Sintra) e, eventualmente, à de Paulo Vistas, em Oeiras. E citava declarações do coordenador autárquico, Carlos Carreiras, em que este dizia que o partido não iria limitar as suas opções desde que fossem coerentes com "o projecto".

Depois, em Julho, o Público avançava com a notícia do apoio do PSD, do CDS, do MPT e do movimento "Nós Cidadãos em Sintra" à candidatura de Marco Almeida.

Já este mês, no dia 3, o jornal OJE esclarecia que em Sintra, "apesar de nenhuma voz oficial o confirmar, o processo estará também encerrado do lado dos social-democratas", adiantando-se que "várias fontes confirmaram mesmo ao OJE que o acordo entre Marco Almeida e a cúpula do PSD já está fechado, faltando apenas acertar detalhes e nomes integrantes da lista a apresentar."

Na sexta-feira passada (26/08/2016, p. 6) foi a vez do Público informar que Marco Almeida, depois de já se ter reunido com outras forças políticas, entre as quais o PSD, recebeu por unanimidade o apoio da JSD para se candidatar à presidência da Câmara de Sintra.

É, pois, neste momento quase seguro, embora não se saiba muito bem qual "o projecto" autárquico do PSD, que Passos Coelho e a sua direcção se preparam para engolir não um mas várias famílias de sapos, das mais variadas espécies e proveniências, nas autárquicas de 2017, para evitarem uma humilhação política. Humilhação que após a gritaria, aliás inconsequente, para impedir o governo da dita "geringonça" passa agora por fazer um duplo mortal à retaguarda, ainda que para isso seja necessário participar na criação de novas "geringonças" que pragmaticamente garantam o acesso ao poder e o ganha-pão das suas clientelas.

Sabíamos, pelo passado recente, que a coerência não era um forte deste PSD de Passos Coelho. Quanto a esse ponto não há nada de novo. Contudo, seria interessante desde já saber até onde irão o perdão e o acto de contrição e se, por hipótese, Marco Almeida resolver incluir na sua lista alguns dos que foram antes expulsos, convidando de novo, por exemplo, António Capucho, o histórico ex-militante e fundador do PSD, para encabeçar a lista para a Assembleia Municipal de Sintra, se ainda assim o PSD o apoiará. Ou, quem sabe, se o nome desse e de outros ex-militantes, como é agora o de Marco Almeida, que saiu do partido e encabeçou uma lista contra Pedro Pinto, é também negociável em nome do tal "projecto".

Regressos

Ana Vidal, 26.05.16

Há dias em que tudo nos nos puxa inexoravelmente para o passado. Dias que nos obrigam a olhar para trás e a reviver momentos longínquos, antes que a voragem do tempo os leve para sempre da nossa memória. Que nos devolvem imagens de muros caiados, cheiros e sabores há muito perdidos, sons de passos em soalhos encerados ou lajes de pedra, alamedas de cedros e palmeiras onde o sol se entretém a desenhar sombras chinesas, povoando de fantasia os misteriosos caminhos da infância.

Ontem foi um desses dias. Sem saber como nem porquê, no regresso de Lisboa para Sintra fiz um desvio e fui procurar uma velha quinta, vendida há anos, onde passei os mais saudosos Setembros da minha vida. Foi um erro. Para começar, custou-me encontrar o lugar, porque já nada existe que seja reconhecível: os arredores passaram de muros de pedra cheios de musgo e estradas de terra batida a um emaranhado de ruas asfaltadas entre prédios altos, todos iguais; a antiga casa da quinta, desenhada por Raul Lino, foi substituída por inúmeras moradias geminadas pintadas de um amarelo pífio; todas as árvores e plantas morreram ou foram arrancadas; o portão verde de ferro rendilhado deu lugar a uma enorme placa metálica que obedece ao abre-te sésamo de um qualquer comando electrónico; o velho tanque, a que gostávamos de chamar piscina e fazia as nossa delícias, desapareceu sem deixar rasto. Há uma grade alta que rodeia tudo, sem ter sequer uma sebe a suavizar-lhe a rigidez ameaçadora.

É um condomínio de luxo, minha senhora, disse-me uma mulher a quem fiz perguntas cujas respostas não queria ouvir. Luxo? A mim pareceu-me uma triste gaiola partilhada.

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A paixão do jornalismo no News Museum

Alexandre Guerra, 26.04.16

“É a maior experiência de Media e Comunicação da Europa.” É desta forma que o News Museum se apresenta no seu site e posso garantir, porque tive o privilégio de o visitar antes de ser inaugurado na noite de 24 para 25, que não é exagero. Aliás, conta quem sabe, este novo espaço dedicado à história do jornalismo e comunicação é bastante superior àquele que já existe há alguns anos em Washington. Na verdade, da parte dos responsáveis do News Museum, houve um cuidado em inovar e apresentar algo diferenciado ao que já existia. O resultado é simplesmente surpreendente, numa mistura muito bem conseguida entre o conteúdo e a forma.

 

Este projecto teve o contributo de vários profissionais da comunicação, nomeadamente de grandes referências do jornalismo em Portugal, de meios de comunicação social, e envolveu, seguramente, um investimento de muitos milhares de euros e o recurso a “know how” e software desenvolvido de raiz por algumas das empresas do grupo LPM Comunicação.

 

O News Museum representa um marco importante em Portugal a vários níveis. Não apenas pelo projecto em si, que é simplesmente obrigatório para quem gosta de jornalismo e comunicação e para quem cultiva o conhecimento da história e da sociedade contemporâneas, mas também porque materializa a visão daquilo que, como eu falava com alguém durante a visita, é um projecto inédito de gestão de reputação e notoriedade. Algo a que em Portugal não estamos habituados a ver por parte do sector privado, já que, normalmente, tudo o que é criado em termos de oferta do conhecimento à sociedade ou é feito à “sombra” do Estado ou é desenvolvido por empresas que durante décadas foram monopolistas e que hoje se apresentam como “privadas”, e quase que têm uma obrigação moral de servir a comunidade para além dos serviços que “cobram”.

 

O News Museum não surge de qualquer obrigação empresarial, mas sim de uma espécie de filantropia misturada com um legítimo interesse próprio. Embora tenha sido concretizado por uma equipa específica, é a Luís Paixão Martins que se deve a sua criação, o mesmo que há cerca de trinta anos trouxe para Portugal conceitos e metodologias de comunicação insitutucional para o mundo económico, empresarial e, mais tarde, político. A verdade é que houve um antes e um depois do LPM no que à disciplina das “public relations” em Portugal diz respeito. Tornou-se num dos homens mais relevantes da comunicação institucional em Portugal, se não o mais importante, construindo uma reputação sólida e uma empresa de sucesso, e hoje dá corpo àquilo que é, sobretudo, um monumento vivo e interactivo à paixão do jornalismo.

Sortilégios

Ana Vidal, 17.02.14

 

Hoje subi à Pena. A serra está esplendorosamente verde, nebulosa e encharcada como nunca. Tudo cheira a terra e a primórdios. Escorrem mistérios de cada pedra, entre musgos e líquens. Seria capaz de jurar que ouvi, ao longe, uma cavalgada de valquírias ao som de Wagner. Assim que consegui livrar-me do encantamento dos sentidos desci depressa, quase de fugida, antes que me nascessem membranas entre os dedos ou me transformasse em árvore como uma Daphne tardia. Mas vim de lá revigorada, conciliada com o mundo. É bom viver na Atlântida.

Notícias da Terra Média

Ana Vidal, 17.07.13

O estranho Verão deste ano voltou a trazer-me uma Sintra de que ainda me lembro em criança: muita névoa, muita humidade e um friozinho permanente que me transportam de imediato à infância. Por momentos volto a sentir-me num conto de fadas, princesa numa floresta mágica habitada por elfos, duendes e árvores que falam. Um cenário português digno de Tolkien, a que nem falta a voz longínqua do meu avô, apontando a serra coberta de nuvens brancas: "Vês? A serra de Sintra tem neves eternas."

(Nota: as fotografias são da net mas podiam ser minhas, tiradas hoje mesmo)