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Delito de Opinião

Umas notas sobre o Euro de Portugal (pessimista e chato)

João André, 02.07.24

Há uns dias comecei um post com observações sobre este Europeu de futebol mas depois não o acabei. Vai agora para o lixo e deixo apenas umas outras sobre Portugal, que se apurou ontem para os quartos de final da competição.

Pessoalmente não gosto de dizer que "Equipa X é uma das 8 melhores da Europa" com base no apuramento. Primeiro porque se ser uma das melhores depende de penalties, então o critério faz pouco sentido. Segundo porque tal equipa não joga com nenhuma das que foram eliminadas e que, se tivessem defrontado outro adversário, talvez estivessem nos últimos 8. Digamos antes: Portugal está nos últimos 8. Penso que basta.

Seja como for, Portugal é em teoria uma das melhores 8 deste campeonato, até uma das melhores 5 (a par de França, Alemanha, Espanha, Inglaterra),. O chato é que é preciso mostrar isso em campo (coisa com que a França e a Inglaterra também têm tido dificuldade). O que torna Portugal uma equipa tão boa? Uma enorme quantidade de jogadores de altíssimo nível e em múltiplas posições. A única coisa que Portugal nãotem neste momento é - tem termos de qualidade futebolística actual - uma superestrela.

E é aqui que a discussão obviamente resvala para Cristiano Ronaldo. Quem me tenha lido no passado sabe que eu não gosto muito dele. Não gosto dos ares, da atitude de superestrela, da obsessão com recordes e individualismo. Não há no entanto que negar certas coisas: é de longe o melhor jogador português de todos os tempos, é um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos, talvez o melhor goleador puro de sempre, adora jogar pela selecção e é provavelmente o melhor jogador internacional de sempre, tem uma atitude profissional impecável que o mantém numa forma física incrível mesmo à beira dos 40 anos. Há no entanto mais 3 coisas que são para mim claras: 1) não é nem nunca foi um bom líder (exemplo sim, líder não); 2) já não tem nada que se pareça com a velocidade de ponta, aceleração e velocidade de execução do passado, e mesmo o salto só sai às vezes; 3) não tem a acuidade de antes de ter ido para a Arábia Saudita.

Tudo isto tem sido visível no Euro, onde os colegas de equipa o têm servido múltiplas vezes com excelentes bolas mas ele tem desperdiçado as oportunidades de forma que seriam vistas com incredulidade há apenas 3-5 anos. Para ser claro: não falo do penalty falhado. O penalty não foi mal marcado, foi ao canto e com força e só não foi alto. Só que Oblak adivinhou o lado, lançou-se bem e colocou bem os braços. Mérito de Oblak, difícil ver o demérito de Ronaldo. No entanto as suas declarações no final do jogo demonstram o problema: «Durante um ano não falhei um penálti». A maior parte deles terão sido na Arábia Saudita, um campeonato de terceira linha (para ser simpático) onde as estrelas (a maior parte delas em fim de carreira) estão para receber salários milionários enquanto fazem jogging e os restantes jogadores são ou estrangeiros medianos ou locais de nível habitualmente muito baixo. Isto ajuda a manter uma boa condição física (e é por isso que Ronaldo ou Kanté estão na sua melhor forma física desde há muito) mas não para manter os níveis de competição necessários. E isto vê-se vezes sem conta em Ronaldo, nos tempos de salto, na dificuldade de gerir a robustez dos defesas adversários, na incompreensão de não receber decisões em seu favor, etc.

Isto não é culpa de Ronaldo. Ele esforça-se sempre ao máximo e isso fica claro em cada jogo. Mas o facto de tudo isto resultar em Portugal estar muit abaixo das suas possibilidades é culpa de Martinez, o seleccionador. E sim, Portugal está a ter um Euro fraco. A República Checa foi vencida nos descontos e com alguma sorte. Os turcos venceram-se a si mesmos e Portugal perdeu com uma Geórgia que foi das minhas selecções preferidas mas tem um nível muito limitado (e não foram só os erros de António Silva, o qual até poderia já meter-se num avião e ir de férias porque não vai jogar mais). E nos oitavos uma Eslovénia bem organizada mas que deveria ter sido vencida confortavelmente.

Martinez infelizmente desenhou uma estratégia que começa em Ronaldo, passa por Ronaldo e acaba em Ronaldo. Quando a bola entra a área, há normalmente dois jogadores para a receber: Ronaldo e mais alguém. Não há um esforço para sobrecarregar os defesas na área com jogadores vindos de trás. Passa tudo por não confundir as coisas e meter a bola para Ronaldo. Também se vê que Martinez não só desenha a estratégia para Ronaldo como depois tem uma hierarquia definida, com Bruno Fernandes e Bernardo Silva logo a seguir. Ontem nunca na vida deveria ter tirado Vitinha, que era o motor do meio campo e mantinha a bola a mexer e conseguia sempre fazer passes a penetrar as linhas defensivas. Ou, se estivesse cansado, que metesse João Neves ou Matheus Nunes, jogadores semelhantes. Fazer recuar Bruno Fernandes para longe da área é um disparate. Se quisesse fazer aquela troca, a melhor opção teria sido meter Bernardo Silva no meio campo (faz a posição com frequência no Manchester City), manter B. Fernandes onde estava, enviar Jota (ou Ronaldo) mais para a esquerda e Leão para a direita. No entanto até deveria ter feito sair Fernandes ou Silva, que estavam em rendimento mais baixo nesse momento.

Outras coisas que não se entendem: Pedro Neto a lateral/médio/ala esquerdo, coisa que provavelmente nunca fez; Nélson Semedo a entrar e operar numa espécie de posição de avançado interior direito (!), Cancelo com liberdade para ser médio (tudo bem) sem jogador para compensar as suas subidas (Palhinha é excelente no centro, não é tanto jogador para dobras nas laterais).

E sempre, mas sempre, não permitir que Ronaldo, B. Fernandes e B. Silva sejam substituídos.

Para o jogo com a França, Mbappé provavelmente vai pensar que se encontra na A7 (autoestrada que vai de Hamburgo - lugar do jogo dos quartos - para o sul da Alemanha e seria provavelmente usada para quem se dirige para Munique - lugar do jogo seguinte das meias). Cancelo a subir, pouca compensação de outros e Portugal a tentar ter posse de bola. Penso que Mbappé estará a aquecer os motores. A única coisa que poderá estar a favor de Portugal é que a França também não marca: 3 golos, 2 foram autogolos e 1 foi um penalty muito jeitosinho. A ver vamos na sexta feira.

Os meus destaques para já: Diogo Costa (depois de ontem ele até tem direito a um frango), Pepe (a fífia de ontem veio quando estava exausto), Ruben Dias, Nuno Mendes, Palhinha, Vitinha. Os outros? Nem por isso.

(Após) Portugal-Turquia

jpt, 23.06.24

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Repito a ligação para esta minha historieta, com mais de uma década (gosto tanto dela que a agreguei ao meu "Torna-Viagem", o livrinho que impingi aos amigos e conhecidos), uma conversa com uma polícia de trânsito sul-africano sobre Cristiano Ronaldo.
 
Passou a tal década (ou mais). Cristiano Ronaldo é o maior atleta da história portuguesa. Um símbolo, admirado por muitos de nós. E também mundo afora, polícias do Mpumalanga e outros - como a menina que ontem se perfilava diante dele durante os hinos, com as mãos na cara tamanha a emoção espantada, tocando-lhe para ver se ele era real, ou o petiz (malandrete), que aos 10 anos se escapou campo adentro para tirar uma fotografia com ele.
 
Mas CR7 é também um barómetro, mede o cretinismo nacional. Pois desde há décadas que é perene a raiva contra ele, as críticas constantes, a vir ao de cima a maldita inveja lusa contra o sucesso (se obtido "lá fora" então é pior). O que vem muito do mais rasteiro do clubismo, alguns, apesar de tudo, ainda o apupam pelas origens sportinguistas - e outros, ainda mais abjectos, pelas origens humildes. (E não esqueço o povo de Guimarães, num particular de 2013, a gritar vivas a Messi apenas para o macerar, a mostrar como é escumalha o "berço da Nação").
 
É já um veterano - a sua idade acerca-se da que tinha Lopes quando foi campeão olímpico, Livramento campeão europeu de clubes, Agostinho no cume do Alpe d'Huez, Pepe na sua lenda de central insigne. É um veterano goleador... Os cretinos, que são minoria mas vasta, continuam a bolçar que "está velho", que "joga à mama", que "é egoísta", que "não joga nada".
 
Ontem, por parvas razões, vi parte do jogo da selecção num café lisboeta. A clientela, uma mole sorvedora de caracóis, passou a tarde clamando esses impropérios, enquanto perdigotava a repugnante molhanga. Retirei-me para casa, vi um John Ford que nunca vira ("Os Cavaleiros", com o Duke e o grande William Holden). Depois passei pelo FB, onde - apesar do "banho turco" - ainda havia básicos a repetirem impropérios contra o CR7.
 
Deitei-me, a ler o Dalton Trevisan que trouxera da Feira do Livro. Não haja dúvida, aquela desgraçada Curitiba de Trevisan é aqui mesmo.

(N)o estrangeiro é que é bom

jpt, 01.09.23

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Nestas ambivalências correntes uma das mais estuporadas é mesmo a confluência entre a resmunguice xenófoba (avessa a "estes gajos" que cá chegam) e a desvairada autocrítica ("isto lá fora nunca acontece"). E nisso vai vingando a pateta ideia de que "no estrangeiro é que é bom", outros comportamentos, outras éticas, outra racionalidade. Vem-me isto a propósito da convocatária para os jogos da selecção nacional de futebol, inseridos no apuramento para a fase final do Campeonato Europeu. Não serão jogos particularmente difíceis (sim, eu sei, há décadas que os comentadores dizem, como se fosse novidade, "já não há jogos fáceis"), diante da Eslováquia e do Luxemburgo. Mas é a selecção nacional, a trabalhar para se apurar e (sempre) a preparar-se para o futuro. E para o presente.

Acontece que o novo seleccionador nacional - o espanhol Martinez, solução até excêntrica numa era em que os treinadores portugueses são um "must" mundo afora (veja-se o Brasil, a milionária Arábia Saudita, a própria Inglaterra, para além de tantos outros compeonatos), uma "escola" privilegiada mas preterida pela tão abonada Federação Portuguesa de Futebol - acaba de anunciar os seleccionados para os dois embates. E se seria normal que colhesse o apreço ou a desconfiança oriunda do "no estrangeiro isto não acontece", o que se vê é que Martinez é o perfeito avatar do conservadorismo mesclado de servilismo clubístico do anterior seleccionador Santos. Pois para dois jogos relativamente fáceis - e com o apuramento muito bem encaminhado - Martinez não abre o jogo, não avança com jovens ou com consagrados de segunda linha. Chama, como Santos sempre fez, os oriundos do Benfica, independentemente do estado deles. Cancelo é um excepcional lateral. João Félix é um belíssimo jogador - é o João Vieira Pinto desta geração, insuficiente para um "grande" europeu mas precioso para o futebol português. Mas neste momento estão no limbo de não terem clube, decerto que treinando menos e nunca jogando. São assim chamados por "estatuto" e não por mérito actual. Martinez, o estrangeiro cooptado, mostra-se assim um homem do Antigo Regime, um homem da sociedade das ordens... Os "nobres" tem lugar cativo (porventura até "direito de pernada"). Os outros que se aguentem. Alternativas? Não é comigo, não sou profissional da poda. E não estou aqui a "puxar a brasa à minha sardinha" sportinguista. Apenas noto uma coisa: ao chamar gente que não está a jogar (que nem sequer tem clube) Martinez mostra que é um erro "de casting", como se diz. Infelizmente, só no final do mais do que provável medíocre futuro campeonato isso será institucionalmente reconhecido. É apenas mais uma etapa de uma velha história, no futebol e não só. Isto do clientelismo, amiguismo, "clubismo" neste caso. Ou mesmo "agentismo". 

Enfim, ganhar-se-ão, por mais ou menos, estes jogos fáceis. Pois há muitos bons jogadores em Portugal. Só falta mesmo... bom seleccionador. 

Viva Figo! (18 anos depois)

jpt, 12.12.22

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Eu blogo há 19 anos (já nem mania é, será mesmo defeito). Em 2004 deixei este postal "Viva Figo" a propósito da campanha contra os "velhos e acabados" jogadores da selecção durante o Europeu feito em Portugal. Será excêntrico partilhar no FB um texto tão antigo mas a semelhança com o que se passou agora é patente - na altura era Figo o grande alvo (ainda veio a fazer o extraordinário mundial de 2006). Também ele era acusado de ser "rico" e "mercenário" ("pesetero"), "imoral" (infiel aos clubes), auto-centrado... e velho.
 
Tal como agora os impropérios vinham das catacumbas digitais onde vegetam os opinadores anónimos, de clubismo ferino e vida desesperada. E também, mas com argumentos mais palavrosos, dos praticantes do sociologês moralistóide - no fundo apenas uma deriva do esquerdalhismo blasé, tão típico da pequena "lisboa".
 
 

 

Cristiano Ronaldo

jpt, 19.11.22

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(Aqui torno a colocar uma história, acontecida em 2013 ou 2014, no Mpumalanga. Já a publicara aqui. Mas vem-me a propósito, quando ouço tantos a criticarem-no...)

À saída de Nelspruit não paro nos semáforos desligados, que quando assim funcionam como sinal de "stop", pois nenhum carro se avistava no cruzamento. E logo dois policias saltam à estrada, mandando-me parar. "Estou tramado!", resmungo, antevendo os rands da multa e o atraso na viagem. Desculpo-me, explico-me, eles impávidos. Claro que viram a matrícula moçambicana, e tão habituados estão ao tráfego inter-fronteira, mas perguntam-me para onde vamos ("Maputo", respondo), de onde somos ("portugueses", digo-lhes), se viemos às compras. Que não, esmiúço, em busca de hipotética solidariedade, que ali vim para trazer a miúda ao (orto)dentista, a Carolina a comprová-lo no banco traseiro, com o aparelho dentário tão brilhante, acabado de calibrar na visita mensal. Um deles (suazi? tsonga? sotho?, não lhes consigo destrinçar a origem), inclina-se sobre a minha janela, quase enfiando a cabeça no carro e pergunta "how are you, sissi (maninha)?" e assim percebo que não pagarei multa. Depois diz-me "se você é português vou-lhe fazer uma pergunta" e eu logo que sim, dando-lhe um sorriso prestável, antevendo uma qualquer dúvida sobre ares ou gentes de Moçambique. Mas afinal "Qual é o melhor, Ronaldo ou Messi?". Eu rio-me, num "Ah, meu amigo, são ambos excepcionais, diferentes mas excepcionais", enfatizo, mas ele insiste, "mas qual é o melhor?". "Ok", e enceno-me, olhando à volta, "só vocês é que me ouvem, assim posso falar, sou português mas o maior é Messi", e estou a idolatrar o jongleur, o driblador dono da bola, alegria do povo, nós-todos miúdos de rua. "Não, você está errado" riposta ele (ndebele? zulu? khosa?, não lhe consigo destrinçar a origem), "Ronaldo é o melhor. Messi nasceu assim, Ronaldo é trabalho, muito trabalho!". Ri-se, riem-se, rimo-nos, e conclui num "podem ir". Avanço pela N4 e sorrio a este afinal meu espelho, apatetado europeu (armado em) intelectual com prosápias desenvolvimentistas, a levar uma lição de ética de trabalho de uma pequena autoridade (formal) africana. 

Chéquia - Portugal (0-4): o futebol não é para mulheres

jpt, 26.09.22

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Anteontem assisti ao Chéquia-Portugal, jogo não só importante para a qualificação à fase final da secundária Liga das Nações mas também muito relevante para se aquilatar das capacidades da "equipa de todos nós", quando se apresta a cumprir o Mundial, ao qual já há meses o seleccionador Fernando Santos se apresentou como candidato à vitória.

Fiquei verdadeiramente surpreendido. Pois, ao invés do que se tornara hábito, antes do apito inicial os jogadores não se ajoelharam em gesto solidário. Como não o tinham feito durante a execução do hino nacional ou mesmo na realização do fotografia protocolar. Nenhuma atitude simbólica.

Ora há dias a iraniana Mahsa Amini foi assassinada pela polícia iraniana, devido a ter sido considerado incorrecta a forma como expôs os cabelos. Tal atitude das autoridades estatais provocou manifestações de repúdio naquele país, e até ao dia deste nosso jogo de futebol já haviam sido mortos pelo menos 36 pessoas pela polícia iraniana. E os nossos jogadores, que se vinham habituando a usar os jogos da selecção para saudavelmente exprimirem opiniões políticas de solidariedade internacional, deixaram-se mudos e quedos. Não há qualquer dúvida do sentido daquilo que os nossos campeões quiseram significar: "o futebol não é para mulheres!".

De qualquer forma, logo nesse início do jogo, fiquei mais capaz de compreender outras posições semelhantes. Pois ficara surprendido com a ausência de manifestações solidárias com Mahsa Amini, sua família e sua "comunidade", convocadas por instituições mais tendentes a estas causas solidárias, como os partidos LIVRE e BE. Tal como, talvez distraído e nisso relapso no folhear, notara a inexistência de textos veementes, e apelando à mobilização geral para esta "causa", publicados no jornal do grupo SONAE, este muito vinculado ao sempre solidário Bloco de Esquerda. E ainda me surpreendera por não ter visto ecos nas redes sociais - às quais ando um pouco alheado, dado um incómodo ciático que me acometeu e que tanto me impacienta - das habituais geniquentas feministas, da abissal Coimbra e não só, sempre lestas a contestar o heteropatriarcado normativo do explorador capitalismo ocidental. Enfim, de tudo isto retiro a confirmação da tal velha máxima: "o futebol não é para mulheres!".

Enfim, após aquela reflexão sobre questões de "género", lá vi os seguintes 89 minutos (+ tempo de compensação) do jogo da selecção. Esta está bem e recomenda-se. Espero que assim se mantenha, feita de homens talentosos, de barba rija e de máscula organização.

O futebol de Trichet e Da Vinci

João André, 14.07.16

O Pedro Correia escreveu dois posts sobre o europeu e Portugal e zurziu nas carpideiras portuguesas que se queixaram da qualidade ou beleza do jogo da selecção nacional. Como eu pertenço a este grupo, gostaria de deixar umas linhas sobre o assunto.

 

 

Os meus posts de análise ao jogo da final, ao europeu de Portugal e ao torneio em si.

Comentários a quente: Portugal - França

João André, 10.07.16

8' - Porrada no Ronaldo. Era falta clara, mas enfim.

10' - Alguém precisa de mudar a roupa interior do Pepe.

14' - Portugal quer embalar mas parece adormecido. Os franceses estão a jogar a outra velocidade.

16' - Acabou o europeu do Ronaldo. Lá se fez o jeito aos franceses.

21' - Ainda está em campo. Se aguentar até ao intervalo talvez venha a agulha. E os primeiros 3 meses da próxima época vão ao lixo. Se se aguentar e contribuir, creio que o Ronaldo se esteja marimbando.

23' - Não aguentou. Há Schadenfreude por esse mundo fora.

28' - Quaresma na teoria faz sentido. Mas para quem vai ele cruzar? Para o João Mário?

33' - O nosso Ronaldo para o resto do jogo terá de ser o Rui Patrício.

34' - Era de facto amarelo para o Cédric. Mas onde está o do Payet?

36' - José Fonte é o nosso Iniesta. Numa frase explicado Portugal neste Europeu.

41' - Tacticamente a equipa está mais equilibrada. Quaresma e Nani estão a esticar a defesa francesa no contra-ataque. O reverso da medalha é que os franceses estão menos cautelosos.

45' - Cabeçada mútua entre Evra e Quaresma. Já vi piadas étnicas começadas por menos.

 

Intervalo: tempo para comer qualquer coisa.

 

51' - Nani: «Toma! Também me pisaram a mim!»

53' - Está na hora da táctica 3x2. Dois jogadores lesionam adversários em sucessão. Primeira falta: deixa passar. Segunda: amarelo. Terceira: vermelho. Isto duas vezes e o jogo passa a ser jogado 9 contra 8. No secundário funcionava.

55' - Umtiti cortou com o nariz... Hmm, isto soa ao início de um livro infantil.

57' - William Carvalho queria ser polícia sinaleiro quando era pequenino.

58' - Só não consigo imaginar William Carvalho em pequeno. O Robin Hood tinha um problema semelhante.

60' - Kingsley Coman entrou. É bom jogador. E tem nome de realizador porno. Esperemos que não nos f...

65 - Quase realizou um. Faltou Viagra ao Griezmann. Felizmente.

68' - Alguém diga ao Quaresma para olhar antes de centrar.

70' - Confesso que tenho já uma entrada pré-escrita com vários palavrões. Deixo que adivinhem que tipo de entrada.

74' - Este Portugal sem Ronaldo é um tigre velho. Grande, ainda bonito, às vezes com mau feitio e capaz de se defender, mas essencialmente sem dentes ou garras...

77' - Há duas versões de Giroud. O Giroud bom e o Giroud mau (isto ainda dá telenovela). Hoje tivemos o Giroud mau. O Deschamps, infelizmente, percebeu isso.

78' - Éder?????? Nãããããããããããããõoooooooooo!!!!!!!!!!

78,5' - Estamos sem ataque que se veja... Porque raio manda o Fernando Santos mais um central francês para o jogo?

80' - Lado bom da lesão do Ronaldo: o João Mário finalmente pode ser visto.

82' - Tacticamente a decisão percebe-se: mandou o Nani para a ala para apoiar o Cédric contra Coman, que Quaresma não andava a ajudar muito. Mas Éder? A senhora da lavandaria aleijou-se?

84' - Bruno Carvalho está a ver este jogo ao som de "Money" dos Pink Floyd.

87' - Éder anda a atrapalhar os franceses. Com a transferência para o Lille, o Fernando Santos deve tê-lo convencido que se naturalizou.

89' - Quaresma demonstra o poder de futebol de rua: estrangula Koscielny e esfrega-lhe a cabeça: «Está tudo bem miúdo, está tudo bem... Mas não digas à tua mãe senão conversamos no fim das aulas.»

91' - Que santo português é São Denis?

93' - Fim do tempo regulamentar. Não sei como, mas os franceses ainda não ganharam.

 

Re-intervalo: E vamos a prolongamento. Porque dois jogos seguidos só com 90 minutos não tem piada.

Para quem tenha curiosidade porque razão me dou ao trabalho (sim, vocês três aí atrás!), isto é porque estou a ver o jogo sozinho. Sem companhia para os comentários da praxe, sofrem os leitores.

 

91' - Eu devia era ir-me deitar. Como se conseguisse adormecer.

93' - Fernando Santos é homem de Fé. Num estádio com nome de santo está a fiar-se nele e nos seus apelidos e em que Éder tenha uma veia de Charisteas.

96' - Estou a ficar tão esgotado como os jogadores. Os comentários tornar-se-ão mais esporádicos. Penso.

104' - O Éder quase marcava. Estou a delirar por causa da ansiedade, só pode ser.

 

Intervalo do prolongamento: É difícil perceber este jogo. A França deveria estar a vencer por uns 4 ou 5 mas Portugal ainda se está a aguentar. Ou os deuses estão connosco ou estão numa de ser mesmo cruéis. Eu inclino-me para o último, depois da lesão do Ronaldo.

Nota extra: depois de revisto, retiro parte do comentário do minuto 8. Não foi realmente falta, penso. Ou poderia ser, mas soft. O que houve, e muito, foi azar.

 

109' - O ÉDER?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?

 

110' - A sério. O Éder? Vou telefonar ao médico que estou mal. Muito mas mesmo muito mal. Mas só depois do fim da alucinação.

112' - Esqueci-me de comentar: o Raphäel Guerreiro demonstrou porque razão era parvoíce ter o Ronaldo a marcar livres.

114' - O William Carvalho fez um pacto com o diabo. É impossível que tanto centro lhe vá parar direitinho.

116' - O Raphäel Guerreiro não tem autorização para estar lesionado. Que vá para ponta-quieta, mas tem de ficar em campo.

119' - Dói-me.

 

122' - EU NÃO ACREDITO!!!!!

 

Fim do jogo. Morri. Até amanhã quando acordar no hospital e me disserem que imaginei.

O mundo às avessas

João André, 07.07.16

Não houve empate? Como? Como é possível? Vão lá colocar o microfone outra vez no lago, isso deu galo. Onde á que já se viu, ganhar um jogo (um jogo ganho no prolongamento conta como empate, não me lixem, eu marco isto à totobola) neste torneio. Marcar golos e não os sofrer? Não sofrer sequer nos minutos finais no caso de uma vitória? O habitual seria sofrer o 2-1 aos 85 minutos e depois rezar aos santinhos todos para nos aguentarmos. Não dá, este coração não aguenta esta falta de sofrimento. Mais um pouco e deixamos de tocar fado e tornamo-nos todos baptistas, não querem lá ver? Da forma como isto vai ainda ganhamos no domingo, com 3-0 sem espinhas, o défice estrutural desaparece, Sousa Tavares, Rita Ferro ou Rodrigues dos Santos ganha o Nobel da Literatura, Durão Barroso é escolhido para secretário geral da ONU e José Sócrates é canonizado pelo Patriarca de Lisboa que passa a ser o novo Papa sem ter de se tornar o bispo de Roma.

 

Ou então perdemos e fica tudo na mesma.

 

Análise mais a sério aqui.

Análise: Portugal - Croácia

João André, 27.06.16

Antes de mais: esta é uma semi-análise dado que não consegui ver a primeira parte. Da mesma forma não fiz qualquer análise do Portugal - Hungria onde só vi os últimos minutos.

 

Quero começar com uma confissão: quando a Croácia beneficiou de um pontapé de canto perto do fim dos 90 minutos, dei por mima  pensar: «marquem pel'amor de tudo o que vos é sagrado». E não era necessariamente um pensamento dirigido a um eventual contra-ataque português.

 

O jogo será definitivamente arquivado com a etiqueta "jogo muito táctico" mas deveria levar coma bolinha vermelha de "aconselhável apenas a pessoas com insónias". Analisar a táctica é simples e complicado. Simples porque pouco houve a analisar. Complicado porque é difícil explicar táctica quando as duas equipas se anularam.

  

 

 

 

Também aqui.

Leitura complementar: um problema chamado Ronaldo.

Verde-água

Sérgio de Almeida Correia, 23.06.16

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(Max Rossi/Reuters)

E lá passámos aos oitavos de final do Euro 2016. Depois de tantos apertos, durante mais três dias, vai ser possível recuperar energias, secar os microfones que foram ao charco e dar algum trabalho aos barbeiros. Após o jogo de ontem com a Hungria, é caso para dizer que o melhor do jogo, tirando aqueles três golos que a Selecção Nacional alcançou em momentos de inspiração de Nani e Ronaldo, foi o apito final do árbitro.

É certo que se tratou de uma qualificação sofrível, alguns dirão "merdosa", tal a forma como foi conseguida por uma selecção que reclama ser uma das melhores do mundo e arredores e ainda surge como a sexta classificada, salvo erro, no ranking da FIFA. De parecido com a forma como esta qualificação foi obtida só estou a ver a vitória da Porsche nas 24 Horas de Le Mans do passado fim-de-semana. Isto é, ao cair do pano, a minutos do fim e na sequência dos percalços dos adversários.

Para quem depois do primeiro jogo, com a habitual cagança, dizia que a Islândia não tinha futebol para estar em França e ia ser corrida na fase de grupos, só apetece dizer que nós nem à Áustria conseguimos ganhar. Convenhamos que com o grupo que nos calhou em sorte, com tantas estrelas no plantel, o senhor engenheiro devia ter feito muito melhor.

O seleccionador nacional e os jogadores terão no próximo sábado, frente à Croácia, uma oportunidade para se redimirem do que fizeram na frase de grupos. A Croácia é uma selecção que joga um belíssimo futebol - a Espanha que o diga -, tem jogadores de uma excelente craveira técnica e tanto é capaz de jogar aberto e com velocidade como esperar por uma jogada de contra-ataque para arrumar com o jogo. Portugal tem atributos que não nos deixam atrás. Daí que seja tentado a dizer que o que irá fazer a diferença no próximo jogo, mais do que a sorte, será a inteligência, o acerto no passe e nas marcações e a confiança na hora do remate.

Penso que Fernando Santos já terá feito todas as experiências necessárias, assim o espero, e neste momento a constituição da equipa não deverá oferecer dúvidas. Rui Patrício, apesar das suas habituais limitações, tem estado bem e não foi ele quem comprometeu, apesar de no jogo com a Hungria me ter parecido que por duas vezes se fez demasiado tarde à bola. Ou não viu a bola partir ou está a precisar de mudar as lentes. De qualquer modo é para continuar. E a defesa que ontem jogou no essencial deverá manter-se. No essencial porque se Eliseu voltar ao banco ninguém se espantará. Ontem, por duas ou três vezes lançou-se no ataque desguarnecendo o seu sector. Quando isso aconteceu procurou recuperar, mas valeu que foi sempre convenientemente dobrado. Eliseu é um poço de força, mas esta não é a maior amiga do talento e da classe. Vieirinha pode fazer muito mais e melhor. Os centrais estiveram num nível superior ao dos jogos anteriores, não obstante as dificuldades que Ricardo Carvalho tem em disfarçar os anos que leva em cada perna.

A exibição de ontem voltou a mostrar as insuficiências da equipa e a falta de inteligência e eficácia no miolo. William Carvalho continua a ser um jogador desengonçado, que tem dificuldade em fazer passes à flor da relva, levantando muitas vezes a bola sem qualquer sentido, no que está bem acompanhado por Pepe. Ambos falham passes e  comprometem sem jogadas sem necessidade e apenas porque não pensam. Carvalho defende melhor do que ataca, o que pode ser um problema quando se precisam de golos como de pão para a boca. André Gomes é um jogador de muita classe, só que também ainda não conseguiu encontrar o equilíbrio. Frente à Hungria voltou a falhar passes mas ficou com o mérito de ter sido o primeiro a fazer um remate digno desse nome à baliza adversária. Pode fazer muito mais e seria bom que o fizesse rapidamente. Moutinho entrou claramente em fase descendente e é hoje a sombra do excelente jogador que foi. Falha passes como se fosse um William Carvalho, falta-lhe pulmão, está lento, sem ritmo. Deve ficar no banco. Renato Sanches já devia ter merecido mais minutos nos jogos anteriores. Perdeu uma bola junto à linha lateral que não podia ter perdido, mas bolas como a que perdeu também já as vimos Ronaldo, Nani, João Mário e Quaresma perderem, não tendo estes sido alvo da chacota que aquele mereceu nas redes sociais. Ontem pediu muitas vezes a bola sem que esta lhe fosse passada, já que João Mário e William Carvalho preferiam jogar entre si e ignorar o companheiro que pedia a bola. Quando pôde, Renato Sanches mostrou que fazia a diferença, quer a atacar quer a defender. Os aplausos de Ronaldo às suas aberturas não levantam dúvidas sobre o seu valor, já que os fora-de-jogo não são da sua responsabilidade. João Mário esteve francamente melhor do que nos jogos anteriores, embora não tenha mostrado ainda ser o jogador que o seu clube apregoa. Danilo foi apenas mais um, enquanto lá na frente Nani, Ronaldo e Quaresma estiveram bem. Ronaldo não jogou pior nem melhor, simplesmente não teve o azar dos jogos anteriores. Concretizou, cumpriu marcou dois golos, não se lhe pode pedir mais. Pareceu estar mais concentrado e isso é bom. Nani dá a ideia de se cansar depressa, havendo momentos em que desaparece do jogo. Quaresma merece a oportunidade de ser titular contra a Croácia paras se ver se rende mais quando os outros também estão frescos. Tanto ele como Renato Sanches criam muitos problemas aos adversários e é um desperdício deixá-los no banco durante a primeira parte dos jogos.

Um ponto que Fernando Santos deverá rever é a marcação de livres. Como há dias era sublinhado numa estatística, Ronaldo não consegue marcar um golo de livre. Ultimamente são mais as vezes que lhe saem mal do que aquelas em que a bola vai à baliza com perigo. Talvez não fosse mau de vez em quando dar oportunidade a outros para marcarem os livres. Podia ser que se perdessem menos bolas para as bancadas.

Vamos, pois, aguardar, fazendo votos de que a exibição verde-água de ontem possa dar lugar a um jogo exuberante, com raça e inteligência. Um jogo vermelho-vivo, cor de fogo, que nos catapulte para os quartos de final. Como se exige e se espera de uma grande equipa que prometeu mundos e fundos aos seus adeptos. 

Análise: Portugal - Áustria

João André, 20.06.16

Também aqui.

 

Mais um jogo, mais uma oportunidade perdida de vencer. Portugal jogou melhor que contra a Islândia (parcialmente porque os austríacos jogaram mais abertos) e criou suficientes oportunidades, mas continuou a não conseguir concretizar. Cristiano Ronaldo perdeu diversas oportunidades mas, mais que aquelas que falhou, notou-se que não está ao seu melhor do ponto de vista físico. As mudanças de jogadores tiveram alguns pontos positivos mas talvez pudessem ter sido outras. Portugal acaba por ficar quase obrigado a vencer contra a Hungria (líder do grupo) para poder garantir o apuramento.

 

 

 

Análise: Portugal - Islândia

João André, 15.06.16

Mais comentários ao Europeu aqui.

 

O jogo de ontem fez-me lembrar frequentemente o único outro que vi até agora de princípio ao fim: o Bélgica-Itália.

 

Uma selecção apresentou-se como equipa, com o seu melhor jogador a não ser mais que uma peça extra e apenas mais um homem no sistema. A outra apresentou-se como uma colecção de indivíduos em que um deles é visto como superior aos outros. A diferença em relação ao outro jogo é que as peças individuais do onze que se apresentou como equipa não têm a mesma qualidade. Por isso o jogo terminou com um empate em vez de uma vitória da equipa em vez da colecção de indivíduos.

 

Prato requentado

Sérgio de Almeida Correia, 15.06.16

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"Não fizemos um jogo brilhante mas sim um jogo médio-baixo. Faltou-nos uma melhor decisão no terço final, nos cruzamentos e nas acelerações do jogo. Tínhamos obrigação de fazer mais porque tínhamos de desestabilizar a Islândia jogando [nas] entrelinhas e com acelerações de jogo" - Fernando Santos 

 

O Pedro Correia já aqui referiu a apatia manifestada em Saint-Étienne pelos portugueses que ali se deslocaram para apoiarem a equipa das quinas. Eu acredito que se não tivéssemos a comunicação social que temos, que delira antes dos jogos de cada vez que um técnico ou jogador estrangeiro diz que Portugal é uma equipa muito forte e que os seus jogadores são os melhores do mundo, e que se não se vivesse tanto o jogo virtual, como se fosse o real, fazendo do futebol a panaceia de todas as nossas desgraças, talvez fosse mais fácil ter outra atitude em campo e se tornasse desnecessário o seleccionador nacional vir dizer o óbvio.

Quem em casa já tinha visto correr irlandeses, polacos, galeses, belgas, suíços ou húngaros, só para dar alguns exemplos, estaria seguramente à espera que a Selecção Nacional tivesse entrado no jogo com a Islândia com outra garra, com outra precisão no passe, outro fulgor no remate, não perdendo infantilmente bolas pela linha lateral, não atirando bolas de qualquer maneira para as bancadas, demorando menos tempo a armar o remate na hora da verdade, adornando menos os lances junto à área adversária, jogando mais pela relva e menos pelo ar, discutindo menos as decisões dos árbitros, enfim, não se deixando cair ao mais leve toque e, em especial, não se mostrando fiteiros e afastando-se da imagem de que estão sempre à espera do apito do árbitro para assinalar uma falta muitas vezes inexistente.

Fernando Santos tem a noção dos problemas e das dificuldades, mas parece que não conseguiu transmitir isso aos seus (nossos) jogadores. Em todo o caso, será bom dizê-lo, a equipa é a de todos nós. As escolhas é que são as dele e, pelo que se viu, as de ontem não terão sido todas as mais acertadas. Todos têm momentos menos felizes e esperamos que o de Fernando Santos se tenha esgotado já. Muitos jogadores estiveram abaixo daquilo que é normal, mas de outros todos temos a noção de que não é expectável que possam vir a render mais, seja pela falta de jeito ou pela má época que fizeram, compreendendo-se mal como puderam ter sido primeiras escolhas.

De qualquer modo, nada está perdido. Não se faça do resultado de ontem um drama, já que esta também não é a primeira vez que as coisas não começam tão bem como o desejado. E espera-se que já no próximo sábado se endireitem, que não falte uma voz forte nas bancadas e que o treinador e os jogadores sejam capazes de rectificar o que de mal fizeram no jogo com a Islândia, deixando uma melhor imagem e assumindo um estatuto mais adequado aos seus pergaminhos, às promessas que nos foram feitas e às expectativas que legitimamente todos temos. Quanto mais não seja pelo tempo de antena e espaço nos jornais que lhes tem sido dado. E, por favor, não queiram fazer de Ronaldo o patinho feio. Uma equipa faz-se de onze jogadores e os que começaram o jogo no banco também contam, ainda que as suas tatuagens, os seus tiques ou os penteados que exibem não sejam os mais populares.

Fartinho, fartinho

João Campos, 14.06.16

À hora a que escrevo estamos a pouco mais de cinco horas do jogo de Portugal contra a Islândia no Euro 2016, e eu já estou fartinho, fartinho de ouvir falar na selecção.

Pergunto-me se nos outros países (na Islândia, por exemplo) também é assim: o patriotismo alarve, tão ruidoso como inconsequente; os directos televisivos inanes, mal preparados (há pouco, enquanto almoçava, ouvi uma jornalista dizer que a selecção islandesa "estreava-se pela primeira vez num Europeu"), a entrar em restaurantes e talhos e salões de cabeleireiras para mostrar coisa nenhuma, a "entrevistar" quem nada tem para dizer (porque não há nada para dizer!), a ocupar tempo de antena com barulho que disfarça o vazio absoluto. A comunicação social a embandeirar em arco quem, afinal, nunca ganhou coisa alguma. Que comece rápido, e que acabe depressa. 

Pré-Visões do Euro 2016 - Portugal (2)

João André, 08.01.16

Fazer previsões sobre o desempenho específico de Portugal é naturalmente difícil a pouco menos de 6 meses de distância. As considerações que fiz sobre as outras equipas dirigiram-se a ideias gerais, sem especificar que jogadores serão chamados, quem estará em forma ou lesionado ou se haverá ainda outras circunstâncias que condicionem uma participação. Isto é tão óbvio que não deverá suscitar contestação. Ainda assim tentarei deixar algumas ideias gerais.

Pré-Visões do Euro 2016 - Portugal (1)

João André, 06.01.16

Quando a qualificação começou, o onze inicial de Portugal poderia ser adivinhado pela maioria. Era um onze experiente mas pouco rodado. Paulo Bento é uma criatura de hábitos e gosta de utilizar os jogadores que lhe deram garantias no passado. Como se viu no início, isso não chegou. Uma derrota em casa com a Albânia fez saltar Paulo Bento e chegar Fernando Santos. Na altura (como o indiquei aqui no blogue), achei que era uma má escolha. Não tanto pelas qualidades técnicas mas essencialmente pelo castigo de 8 jogos que pairava sobre Santos. Dei a minha opinião - que reitero agora - que um seleccionador não pode estar fora do banco por demasiado tempo, dado que o seu trabalho enquanto treinador é limitado. Felizmente o castigo foi reduzido para dois jogos e os estragos foram assim mais limitados.

Pré-Visões do Euro 2016 - Evolução de Portugal

João André, 05.01.16

Por motivos pessoais não me foi possível ir escrevendo a parte relativa a Portugal até agora. Retomo as minhas reflexões com o texto abaixo. Devido à sua extensão será necessário clicar em "Ler mais" para o resto.

 

Portugal chega a este Europeu em condições diferentes das de anos passados. A "geração de ouro" está completamente reformada e apenas um sucedâneo da mesma sobrevive em Ricardo Carvalho. Esta equipa verá Cristiano Ronaldo chegar ao Europeu já com 31 anos, longe dos 19 aquando do seu primeiro, em solo português em 2004. Foi também nesse ano que Portugal chegou mais longe em competições internacionais, com o segundo lugar, marcando o ponto máximo em termos de classificações da selecção portuguesa. Do meu ponto de vista não foi, no entanto, a melhor prestação. Abaixo analiso os últimos 20 anos de Europeus.