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Delito de Opinião

Cavaco Silva e o segundo resgate.

Luís Menezes Leitão, 06.05.14

 

Se há coisa em que Cavaco Silva não tem mérito absolutamente nenhum é na questão da saída limpa de Portugal do programa de resgate financeiro. Verdade seja dita que o Governo também não tem grande mérito. Com uma taxa de inflação quase a zero, os juros que estamos a pagar no mercado são absolutamente insustentáveis e a almofada financeira que o Governo amealhou nos últimos tempos  — e que nos permite viver um ano sem acesso aos mercados — vai-nos custar muito caro. Por isso, como o próprio Cavaco reconhecia, a solução correcta era o programa cautelar, só tendo sido adoptada a solução da saída limpa porque os nossos queridos parceiros europeus não estão dispostos a nos emprestar mais um cêntimo que seja, e muito menos nas vésperas de eleições europeias, que vão fazer crescer os partidos nacionalistas na Europa. É por isso que, como aqui escrevi, o anúncio do passado domingo foi apenas uma encenação.

 

Precisamente por esse motivo, Cavaco Silva deveria ter algum pudor em aparecer triunfante no Facebook, a verberar "as afirmações perentórias (sic) de agentes políticos, comentadores e analistas, nacionais e estrangeiros ainda há menos de seis meses, de que Portugal não conseguiria evitar um segundo resgate". Estaria, por acaso, a falar de afirmações como esta

Maldita memória.

Luís Menezes Leitão, 09.01.14

 

Hoje Portugal pagou juros de 4,657% por uma emissão a cinco anos. A Ministra das Finanças acha que "a emissão foi muito bem sucedida". Não vejo ninguém a contraditar essa apreciação. O problema é que ainda me lembro de Machete ter dito que Portugal não conseguiria evitar um segundo resgate se os juros não descessem abaixo de 4,5%. Mais ninguém se lembra?

A diplomacia segundo Machete.

Luís Menezes Leitão, 11.11.13

 

Eu sempre achei que Passos Coelho tinha imenso jeito para escolher ministros. Aliás, a escolha da Ministra das Finanças ia conseguindo só por si deitar abaixo o Governo, o que teria sido um alívio. Só é por isso de louvar a escolha de Rui Machete para Ministro dos Negócios Estrangeiros. Com Machete à frente da nossa diplomacia, os Estados Unidos — ou qualquer outro país — não precisam de fazer escutas aos nossos governantes pois o Ministro dos Negócios Estrangeiros se encarrega de dizer publicamente tudo o que se passa. Houve uma investigação do Ministério Público a dirigentes angolanos? O Ministro dos Negócios Estrangeiros esclarece em Angola que vai ser tudo rapidamente arquivado, como se verificou, pedindo antecipadamente desculpas diplomáticas. Portugal está em dúvida quanto a ter um segundo resgate ou um programa cautelar? O Ministro dos Negócios Estrangeiros esclarece na Índia que cairemos inevitavelmente no segundo resgate se os juros não baixarem abaixo dos 4,5%. É claro que os nossos credores já sabem há muito que o segundo resgate e uma reestruturação da dívida são inevitáveis, pelo que fogem da dívida portuguesa como o diabo da cruz. Mas podia dar-se o caso de algum investidor indiano mais distraído acreditar que Portugal afinal ia pagar isto. Machete não quer enganar esses investidores pelo que esclarece logo que olhem para os juros antes de se porem a comprar títulos.

 

Quem pode criticar Machete por dizer a verdade no estrangeiro? Bem podem Henrique Monteiro e José Sócrates andarem a discutir no Expresso a filosofia kantiana sobre a mentira e as suas consequências morais. Machete dá-lhes um exemplo prático do respeito pela verdade. Como dizia o Apóstolo João (João 8:32) "veritas vos liberabit" (a verdade vos libertará). Portugal está salvo.