E eu, seguindo essa lógica, perdi a oportunidade de ir para a cama com a Kate Beckinsale
António Sampaio da Nóvoa em entrevista ao Jornal de Negócios: António Costa perdeu oportunidade de ser o grande estadista do Portugal democrático.
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António Sampaio da Nóvoa em entrevista ao Jornal de Negócios: António Costa perdeu oportunidade de ser o grande estadista do Portugal democrático.
Acordo antes das 3 da manhã. Insone, mas estremunhado. Tanto que não consigo ler - nem o Integral 1 de Gil Jourdan com que me estou a deliciar. Coisas da idade, pois, como todas as manhãs, acordo de olhar embaciado, precisarei de trocar de óculos, está ... visto. E por isso, até porque a noite ainda será longa, trago o computador para a cama, coisa rara. E percorro o FB, passatempo que sonho soporífero. Nisso noto que lá longe, na Pátria Amada, imensa gente comenta o discurso de João Miguel Tavares nas cerimónias do 10 de Junho. Muitos encómios, dextros. E muitos apupos, canhotos. Tantos são estes que procuro o que também diz aquela gente que não está nas minhas ligações, os veros sinistros canhotos - os "conhecidos", administradores não executivos, bloguistas jugulares, deputados filósofos, esse malvado cerne nunca-ex-socratista. Estes pateiam, em uníssono e com vigor, o discurso do colega de Ricardo Araújo Pereira. Como tal vou ouvir o que o homem disse. E reconheço-lhe a argumentação, lembra-me outro discurso de 10 de Junho, um que fez época, e há bem pouco tempo.
Na alvorada blogo sobre o assunto, o postal O Discurso do 10 de Junho. Aludo ao discurso de João Miguel Tavares e ao repúdio socialista que gerou. Um discurso que foi muito lido: o "Observador" anuncia que foi um texto imensamente partilhado (a esta hora que escrevo o sítio desse jornal anuncia 41 mil partilhas do texto). No discurso de Tavares reconheço o que há poucos anos outro convidado disse. Quase sem tirar nem por. E cito-o, deixando ligação para o seu texto, identificado na origem, mas deixando entender que se tratam das palavras de João Miguel Tavares - de facto são ... quase. Trata-se do discurso de 2012, de António Sampaio da Nóvoa. Que então foi apupado pelos apoiantes do governo em exercício - diga-se, com honestidade, que Nóvoa fez uma crítica ao "estado da arte" mas elidiu o processo que conduziu à penosa situação de então, um caso típico do "com a verdade me enganas". E deu-lhe também um tom corporativo, defendo a universidade, coisa legítima mas apoucando a abrangência da análise.
Mas o relevante é que então foi completamente sufragado, aplaudido, pela oposição, pelos socialistas em particular - tanto que o então reitor acabou por ser o efectivo candidato presidencial do Partido Socialista, aquele discurso foi-lhe trampolim para uma (efémera) participação política mais explícita. Repito, hoje de madrugada citei-o sem referir o autor, e deixando entender que eram as palavras de Tavares, mas com ligação para o texto original, que tem no cabeçalho a identificação do autor:
"Portugal conseguiu sair de um longo ciclo de pobreza, marcado pelo atraso e pela sobrevivência. Quando pensávamos que este passado não voltaria mais, eis que a pobreza regressa (...) Começa a haver demasiados “portugais” dentro de Portugal. Começa a haver demasiadas desigualdades. E uma sociedade fragmentada é facilmente vencida pelo medo e pela radicalização. (...) não façamos, uma vez mais, o erro de pensar que a tempestade é passageira e que logo virá a bonança. Não virá. Tudo está a mudar à nossa volta. E nós também.
Afinal, a História ainda não tinha acabado. Precisamos de ideias novas que nos deem um horizonte de futuro. Precisamos de alternativas. Há sempre alternativas. (...) A democracia funda-se em coisas básicas e simples: igualdade de oportunidades; emprego para os que podem trabalhar; segurança para os que dela necessitam; fim dos privilégios para poucos; preservação das liberdades para todos. (...) os sacrifícios têm de basear-se numa forte consciência do social, do interesse coletivo, uma consciência que fomos perdendo na vertigem do económico; pior ainda, que fomos perdendo para interesses e grupos, sem controlo, que concentram a riqueza no mundo e tomam decisões à margem de qualquer princípio ético ou democrático. É uma “realidade inaceitável”. (...)
Estas palavras, a reflexão sobre os problemas estruturais portugueses, são, de outra forma, com outra ênfase porventura, aquilo que agora Tavares anunciou. A parecença é tão grande que durante o dia - tendo eu publicado no meu blog "O Flávio" e no colectivo Delito de Opinião, assim abarcando cerca de 2000 visitas - ninguém apontou ou protestou a disparidade autoral. Mesmo tendo o texto de Tavares sido tão partilhado. Mesmo tendo eu posto adenda ao postal (e também no facebook), apelando a que se lesse o texto original - assim percebendo a diferença autoral. Só agora, já noite longa, um comentador anónimo surge, irónico, num "vai-se ver foi o do outro. Boa partida". Mas não é uma partida ...
Na época, há sete anos, no olho do furacão da crise, o diagnóstico de Sampaio da Nóvoa sobre a situação estrutural portuguesa foi aplaudida pelos socialistas, com enorme empenho. E agora, declarações tão similares, tão confundíveis - prova-o o meu postal -, são vituperadas, pelos videirinhos e seus apoiantes. Isto apenas mostra uma coisa. Há gente, imensa gente, que só está interessada nos seus cromos, na sua colecção. Apoiar o "nosso" Sampaio da Nóvoa, apupar o Tavares "deles" (e também o contrário). O país?, a tal "Pátria Amada"? Que se lixe.
É óbvio que temos que dançar, nus. Para crescermos. Para transitar de etapa. E é ainda mais óbvio: os videirinhos não servem para essa dança.
Ouço e leio que Sampaio da Nóvoa, rejeitado por mais de três quartos dos eleitores, "cumpriu os seus objectivos". O jornal Público, para meu espanto, chegou a incluí-lo entre os vencedores da eleição presidencial. Pensava eu que o maior objectivo do antigo reitor era passar à segunda volta. Afinal estava enganado.
Os adversários abriram a Marcelo Rebelo de Sousa uma auto-estrada rumo ao Palácio de Belém.
Primeiro os adversários internos: mesmo promovidos pela imprensa amiga, durante meses a fio, nenhum deles saiu da sombra.
Depois, os da "verdadeira direita", seja lá o que isso for: ei-los adormecidos à sombra da bananeira enquanto ruminam um ódio antigo ao candidato "bacteriologicamente impuro" em quem fatalmente votarão.
A seguir, o PS: a estratégia suicida dos socialistas foi o condimento que faltava para a vitória anunciada do ex-presidente do PSD nesta eleição presidencial.
E desta vez Marcelo nem precisou de mergulhar no Tejo. Seria mais fácil, aliás, vermos Sampaio da Nóvoa a praticar tal gesto.
Pouco mais lhe resta senão isso.
«Mérito da candidatura de Sampaio da Nóvoa: é a candidatura que mais próxima está da solução governativa actual. E como eu acho que é importante alguma estabilidade dessa solução governativa, é importante que o Presidente possa ser fiável em relação a um apoio a essa solução política.»
Pacheco Pereira, ontem, na SIC Notícias
1
Do debate a nove entre os candidatos presidenciais na RTP, anteontem, saíram uma vencedora clara e uma derrotada óbvia.
A vencedora foi Marisa Matias. Porque teve o mérito de sacudir a modorra discursiva dos seus oponentes considerando "vergonhosa" a decisão do Tribunal Constitucional que manda devolver com retroactivos as subvenções vitalícias a deputados que lhes haviam sido retiradas excepto em situações de comprovadas dificuldades financeiras. O tribunal deu luz verde à reclamação de 30 parlamentares e ex-parlamentares - 21 do PS e nove do PSD - que entendem ter direito àquela subvenção estatal, suprimida em 2005.
Foi preciso Marisa dar um metafórico murro na mesa, naquele debate até aí tão cordato, para assistirmos a um tardio desfile de indignações entre os restantes candidatos: todos a secundaram, com maior ou menor convicção. Nenhum quis ficar mal nesta fotografia.
2
Maria de Belém foi a derrotada. Logo a começar, perdeu por falta de comparência. É certo que alegou estar muito consternada pelo falecimento - ocorrido na noite anterior - de António de Almeida Santos, que a antecedeu na presidência do PS e era um dos seus principais apoiantes nesta campanha. Mas Almeida Santos, que nunca virou costas a um debate, seria certamente o primeiro a incentivá-la a comparecer onde os eleitores dela esperariam a três dias do encerramento da corrida presidencial.
Contra sua vontade, Belém acabou por ser a ausente mais presente. Porque uma fuga de informação cirúrgica, ocorrida escassas horas antes do debate e com amplos ecos nos noticiários dessa tarde, incluía o seu nome entre os 30 peticionários que reclamaram a subvenção ao Tribunal Constitucional e cuja identidade até então se desconhecia.
Foi um golpe dirigido à jugular da candidata que não ocorreu por acaso e parece confirmar o aforismo de Churchill: "Os nossos adversários estão fora do partido enquanto os inimigos estão dentro." Como faria qualquer detective, basta interrogarmo-nos quem mais tem interesse, neste preciso momento, em colocar Maria de Belém fora da corrida.
3
António Sampaio da Nóvoa não foi o principal perdedor. Mas andou lá perto. Desde logo porque lhe competia fazer a diferença, naquele mesmo estúdio, para tentar atenuar a enorme distância que o separa de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas o académico limitou-se a debitar as habituais platitudes, que não demovem nem mobilizam ninguém.
Andou mal ao colar-se à candidata do Bloco de Esquerda em serôdios protestos contra as subvenções.
Andou pior - e habilitou-se a ganhar o campeonato da demagogia - ao pronunciar-se perante os jornalistas, depois de concluído o debate, contra a manutenção da subvenção aos ex-Presidentes da República. Algo que nunca suscitou a menor controvérsia na sociedade portuguesa, por resultar da específica dignidade do cargo de Chefe do Estado reconhecida na Constituição e que abrange apenas quatro cidadãos (António Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva - este só a partir de Março).
Três deles, por sinal, seus apoiantes. Suponho que terão gostado.
4
Rompeu-se um tabu em Portugal: a partir de agora voltou a ser possível criticar os acórdãos do Tribunal Constitucional, considerados sacrossantos ainda há bem pouco por um largo segmento da opinião publicada cá no burgo. Bastou para tanto a "vergonha" que Marisa Matias disse ter sentido.
É difícil não concordar com ela, embora indignação seja a expressão mais correcta para exprimir o que muitos de nós sentimos.
Pela minha parte, fiquei também perplexo. Por verificar que, uma vez mais, os doutos magistrados do Constitucional não resistiram à tentação de entrar em concorrência aberta com os políticos no espaço mediático. Nenhum deles poderia ignorar que a divulgação deste acórdão na recta final da campanha presidencial iria condicionar todos os debates e produzir os efeitos que produziu. Estilhaçando desde logo as já escassas perspectivas eleitorais de Maria de Belém, principal vítima deste envolvimento claro dos juízes na política.
Mais um. Como o tabu foi quebrado, podem enfim ser criticados. Já era tempo.
Foto Mário Cruz/Lusa
Não adianta iludir o iniludível. O PS tem candidato nesta eleição presidencial: chama-se António Sampaio da Nóvoa. A garantia do líder socialista de que sabe "muito bem" em quem votará, expressa no mesmo dia em que o presidente do partido manifestou o apoio público a Nóvoa e em que o candidato teve o frente-a-frente televisivo com Marcelo Rebelo de Sousa, desfez as últimas dúvidas.
Mas não desfez a sensação de que faltou envergadura ao secretário-geral do PS em todo este processo.
A ausência de clareza é um dos pecados maiores da nossa vida política. Julgo que as manobras de dissimulação em que o PS se enredou durante meses a propósito das presidenciais em nada beneficiarão o partido. António Costa andou a milhas do desassombro que se exige dos políticos aspirantes a ser estadistas. Se não fosse assim, teria pronunciado com todas as letras o apoio a Nóvoa.
Tresanda a hipocrisia a tese oficial da "neutralidade" do partido, logo quebrada por Carlos César - figura cimeira na hierarquia oficial do PS - na senda do que já havia feito Ana Catarina Mendes, secretária-geral adjunta, braço direito de Costa. Um partido "neutral" não envolve o aparelho de norte a sul do País numa dispendiosa campanha que jamais poderia ser assumida pelo candidato independente nem manda avançar cinco ministros para os palcos dos comícios num momento em que o Executivo elabora a contra-relógio o próximo Orçamento do Estado, prioridade máxima da governação.
Numa eleição presidencial cujo vencedor se anuncia sem suspense algum, o PS acabará por perder sempre. Porque sai dela mais fragilizado e dividido do que entrou. E mais fragilizado ainda sairia se Maria de Belém tivesse o estofo e o fôlego revelado em 2006 por Manuel Alegre, outro vulto do partido abandonado pela estrutura dirigente numa campanha que começou mal e terminou pior para a máquina socialista.
Na noite de domingo e na manhã de segunda-feira muitos questionarão Costa se mereceu a pena pagar o preço de mais uma derrota eleitoral e de uma nova querela interna que deixará feridas ao envolver a sua nomenklatura no apoio não assumido a um académico sem filiação partidária e sem sombra de carisma que permaneceu seis décadas escondido dos olhares públicos.
Eu antecipo-me, questionando-o desde já. Valeu de quê este flirt com Nóvoa?
«É uma alegria estar aqui a fazer democracia.»
Sampaio da Nóvoa, no debate com oito outros candidatos, ontem na RTP
Hoje no Público Francisco Assis pôs o dedo na ferida. É absolutamente inconcebível que António Costa tenha apoiado um candidato completamente vazio como Sampaio da Nóvoa, e deixado à sua sorte uma candidata que já foi presidente do PS, e tem muito maior currículo político, como Maria de Belém. Porque o que a campanha está a demonstrar é que a máquina do PS está colada em torno de Sampaio da Nóvoa, enquanto que Maria de Belém foi deixada sozinha. A afirmação de que o PS não tem posição na primeira volta parece ser assim claramente desmentida pelos factos: o PS de Costa apoia vigorosamente Sampaio da Nóvoa e tudo está a fazer para que ele fique pelo menos à frente de Maria de Belém.
Isto não vai servir absolutamente para nada, uma vez que estou absolutamente convencido de que Marcelo Rebelo de Sousa vai ganhar as eleições à primeira volta por uma margem esmagadora. E, mesmo que por milagre isso não acontecesse, também ganharia com a maior facilidade uma hipotética segunda volta. É assim evidente, para bem de todos nós, que o ex-reitor irá fazer os seus discursos messiânicos para outra freguesia, que não a de Belém.
O problema, no entanto, reside na forma como o PS vai ficar depois deste seu apoio a Sampaio da Nóvoa. É que, se o PS conseguiu chegar ao governo da forma como chegou, e já arranjou os sarilhos que se conhecem, adivinho como é que ficará depois de uma campanha com o hino que aparece acima. Não é apenas o ridículo da letra e da música, com o teor evangélico que já se conhecia. Chocou-me especialmente o facto de os figurantes colocarem uma caraça com a cara do candidato, assumindo-se assim claramente como seguidores do Messias, com quem se identificam: "Sampaio da Nóvoa somos nós". Tudo o resto é vazio: "palavras necessárias que saltam nas nossas mãos", "palavras solidárias no bater do coração", "palavras de aventura com gosto a sal". Parole parole parole. É isto um discurso político de um candidato presidencial? Basta, por exemplo, olhar para a campanha de Marisa Matias para se ver como se pode fazer uma campanha de esquerda com muito mais credibilidade e consistência.
Esta campanha presidencial está cheia de candidatos folclóricos. Quem faça uma análise serena do discurso político de Sampaio da Nóvoa, chegará à conclusão de que ele é precisamente o mais folclórico de todos. Apesar disso, está ter um apoio de peso do PS que, diga-se de passagem, faria mais sentido que tivesse sido dirigido, por exemplo, a Tino de Rans, cujas ligações ao PS são muito mais antigas. Confesso que há muito tempo que para mim é um mistério o PS ter alinhado neste canto de sereia.
Debate Maria de Belém-Sampaio da Nóvoa
Maria de Belém anunciou a candidatura à Presidência da República cinco meses após Sampaio da Nóvoa. Competia-lhe portanto, neste debate na TVI que encerrou a série de 21 confrontos televisivos a dois entre os candidatos ao Palácio de Belém, estabelecer as diferenças com o seu antagonista. Mas a ex-ministra da Saúde, salvo em dois ou três momentos demasiado fugazes, foi incapaz de apontar esses contrastes. Tal como esteve longe de conseguir replicar aos apoios de peso que Nóvoa tem granjeado sobretudo à esquerda. Ontem mesmo, escassas horas antes do debate, foi a vez de o actual presidente do PS, Carlos César, anunciar que votará no catedrático nascido em Caminha.
Pedindo emprestada a linguagem futebolística à política, dir-se-ia que Nóvoa parecia jogar em casa. Esteve mais seguro, mais desenvolto, mais afirmativo. Foi cordato, aliás como é costume, mas não deixou de lançar as suas estocadas. E a maior de todas foi a acusação que fez a Maria de Belém de ter "faltado à chamada", enquanto deputada socialista, quando foi necessário solicitar ao Tribunal Constitucional a fiscalização sucessiva do Orçamento do Estado para 2012 que cortava pensões e salários da função pública.
"Deixou a outros [deputados] essa responsabilidade", acusou. Acrescentando de imediato: "Eu não quero um Presidente da República que transfira as suas responsabilidades para outros."
Maria de Belém até teve um início enérgico, procurando encostar o adversário a estratégias de um "frentismo de extrema-esquerda". E apontou uma contradição ao candidato, que apesar de fazer constantes proclamações em defesa da "renovação" da política "passa a vida a invocar o apoio de três ex-Presidentes da República, aliás dois deles do PS".
Nóvoa reverteu esta crítica em elogio, reivindicando o "apoio de muitos socialistas do País inteiro". E fez questão de transmitir da sua adversária a imagem de uma pessoa hesitante, especialista em "acertar no totobola à segunda-feira". Dizendo uma vez e outra ser arauto de um "tempo novo". Linguagem "messiânica", como Belém referiu. Sem parecer muito segura de poder estar a criticá-lo ou a fazer-lhe outro elogio implícito ao falar assim.
Vencedor: Sampaio da Nóvoa
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Frases do debate:
Nóvoa - «A minha candidatura tem uma abrangência de muitas pessoas que se situam à esquerda, de muitas pessoas que se situam ao centro, de pessoas que se situam à direita.»
Belém - «Não aceito que o facto de ser independente dê algo de acrescido e de dignificante ao exercício dum cargo desta natureza.»
Nóvoa - «Eu quero ser um Presidente que protege os portugueses.»
Belém - «Eu estive nas causas todas que o PS empreendeu nestes 40 anos. Como militante de base, como dirigente. Nunca vi o candidato Sampaio da Nóvoa nessas causas, nunca o vi lá, nunca o encontrei.»
Nóvoa - «A candidata Maria de Belém mostrou sempre um grande incómodo com este tempo novo que se criou.»
Belém - «O candidato Sampaio da Nóvoa passa a vida a falar num tempo novo. Eu gostava de saber que tempo novo é esse com a Constituição que temos tido.»
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O melhor:
- Maria de Belém abriu as hostilidades empurrando Nóvoa para posições radicais enquanto se assumia como uma candidata moderada, próxima da social-democracia europeia.
- Carlos César, sucessor de Belém na presidência do PS, anunciara hora antes que votará no ex-reitor da Universidade de Lisboa. Um reforço de peso entre os apoiantes de Nóvoa, como o candidato fez questão em destacar.
O pior:
- Sampaio da Nóvoa acusou Marçal Grilo, mandatário nacional de Maria de Belém, de ter rotulado de "enorme desastre" um executivo PS com apoio parlamentar à esquerda. Exactamente a mesma acusação com que Marcelo Rebelo de Sousa procurara embaraçar a candidata no debate da véspera.
- Começar um debate na TVI a mencionar o aniversário da SIC Notícias, como fez Maria de Belém, é algo semelhante a aplaudir o Benfica no estádio de Alvalade. Pior é invocar alguém já falecido, como o ex-ministro Mariano Gago, como "trunfo" eleitoral.
Debate Marcelo Rebelo de Sousa-Sampaio da Nóvoa
Sampaio da Nóvoa não é o maior adversário de Marcelo Rebelo de Sousa nesta campanha eleitoral. O que o ex-director do Expresso tem mais a temer é a abstenção: os portugueses votaram três vezes em menos de dois anos e é notório o desinteresse em torno das presidenciais, que muitos consideram já com desfecho anunciado.
O potencial risco desmobilizador desta convicção que se instalou junto de tanta gente é o maior obstáculo que Marcelo enfrenta. E o tom de bonomia em que têm decorrido os debates, sem crispação nem aquelas "dramatizações" que noutros tempos faziam as delícias do comentador Rebelo de Sousa, só contribui para acentuar o desinteresse.
Faltava portanto "dramatizar". Marcelo precisava de concretizar esse desígnio no frente-a-frente com António Sampaio da Nóvoa em horário nobre da SIC, ontem à noite. Assim fez. Surpreendeu o seu antagonista ao "entrar em campo" como costumam fazer as equipas treinadas por Jorge Jesus no campeonato nacional de futebol: exercendo pressão alta desde os instantes iniciais, confundindo e contundindo o adversário.
Nóvoa demorou a reagir, traindo o embaraço com exclamações como estas: "Muito me surpreende..."; "é a primeira vez que ouço..."; "não estava à espera..." E quando recuperou do embaraço inicial notou-se bem que lhe faltam os dotes histriónicos e a experiência televisiva do colega catedrático que tinha à sua frente.
Foi um debate vivo, à moda antiga - daqueles de que se falarão mais tarde. Um debate em que Nóvoa proclamou: "O Presidente da República tem de se bater por causas. Eu não vim para deixar tudo na mesma." O primeiro debate a sério desta campanha até agora feita de palavras demasiado dóceis. De tal maneira que a moderadora, Clara de Sousa, acabou por ter uma intervenção residual - o que aliás fazia todo o sentido pois tratava-se de um verdadeiro confronto, não apenas de uma troca de amabilidade para cumprir calendário.
Deste debate as frases que os telespectadores mais retiveram foram, em larga medida, proferidas pelo candidato que conta com o apoio do PSD e do CDS: "Os portugueses sabem onde eu estive. O professor apareceu agora, virgem. Onde é que esteve? Onde é que esteve? Onde é que esteve?"
Embalado, Marcelo acusou o antagonista de querer passar "de soldado raso a general" e de possuir muito mais meios do que ele para fazer campanha eleitoral: "Eu não tenho a sua estrutura nem os seus gastos de campanha." Visivelmente incomodado, o ex-reitor de Lisboa advertiu-o: "Não vá por aí, professor, não vá por aí."
Estava o verniz quebrado. Era precisamente o que Marcelo queria.
Vencedor: Marcelo Rebelo de Sousa
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Frases do debate:
Nóvoa - «Sobre cada matéria nós temos 20 citações suas a dizer uma coisa e 20 citações a dizer o contrário.»
Marcelo - «Mas disse! Eu dizia e o senhor não dizia. Eu expunha-me e o senhor não se expunha.»
Nóvoa - «Eu venho da crítica às políticas de austeridade. O professor Marcelo Rebelo de Sousa vem do apelo ao voto em Passos Coelho e Paulo Portas.»
Marcelo - «O senhor tem que trazer na lapela três ex-Presidentes da República. Eu não, eu não preciso.»
Nóvoa - «As suas afirmações sobre gastos excessivos na campanha em período de crise são antidemocráticas. É evidente que a democracia tem custos. A ditadura é muito mais barata, até se faz à borla.»
Marcelo - «Sabe quem é que meteu dinheiro na minha campanha até agora? Fui eu.»
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O melhor:
- Num eficaz golpe de retórica, Sampaio da Nóvoa transformou o comentador Marcelo num adversário do candidato Marcelo: "Eu não me ouço só a mim mesmo. Não gosto de passar o tempo todo a falar sem ouvir ninguém. Essa é uma diferença fundamental que nos separa no exercício do cargo."
- Quando Nóvoa questionou a "forma no mínimo discutível" como o ex-presidente do PSD aproveitou a sua enorme exposição mediática como trampolim para a política, Rebelo de Sousa retorquiu de imediato: "Isso impediria António Costa de ser candidato a primeiro-ministro". Aludindo à participação de Costa, durante anos, no programa de comentário político Quadratura do Círculo.
O pior:
- O ex-reitor da Universidade de Lisboa fala na necessidade de "sangue novo" e "outras pessoas" na política. Mas confessa que só avançou na corrida a Belém após "longuíssimas conversas" com três ex-Chefes do Estado: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.
- Marcelo denunciou o "apoio tóxico" do MRPP à candidatura de Nóvoa, dando relevo a um facto irrelevante.
Há 25 anos Marcelo Rebelo de Sousa envolveu-se de alma e coração numa candidatura à câmara de Lisboa, fazendo tudo para chamar a atenção de um eleitorado que não o conhecia, como conduzir um táxi pelas ruas da capital e mergulhar no Tejo. A sua campanha local apareceu com tanta força que ninguém do PS se dispunha a enfrentar Marcelo nessa corrida. Vítor Constâncio demitiu-se, perante as sucessivas recusas que foi recebendo, e o seu sucessor, Jorge Sampaio, foi obrigado, enquanto líder da oposição, a apresentar uma candidatura pessoal contra Marcelo. Já nessa altura coube a António Costa fazer as pontes para um acordo de esquerda contra Marcelo. Mas mesmo esse acordo não parecia ser suficiente, uma vez que Sampaio suscitava pouco entusiasmo perante a energia e o brilhantismo de Marcelo.
Isto foi assim até que se realizou um debate entre Sampaio e Marcelo. Nesse debate Marcelo decidiu adoptar uma pose mais serena por contraponto ao que até então tinha sido a sua intervenção. Esse erro foi-lhe fatal. Jorge Sampaio, com a experiência de advogado de barra, explorou as fragilidades do discurso de Marcelo e, ao contrário do que se esperava, Marcelo não foi capaz de lhe dar a réplica devida. Marcelo saiu do debate a dizer que se calhar tinha desiludido os seus apoiantes e de facto nesse dia perdeu as eleições.
Nestas eleições, passou-se o contrário. Marcelo optou por uma campanha completamente vazia, o que envolvia sérios riscos como aqui salientei. Mas, ao contrário do que se passou há 25 anos, não descurou o debate com Sampaio da Nóvoa. Pelo contrário, entrou completamente a matar, chamando a atenção para a total falta de currículo político do candidato, a sua ignorância absoluta da função presidencial, e o seu comprometimento ideológico com uma minoria dos eleitores. Nóvoa, perante o massacre que sofreu, só lhe faltou levantar os braços e invocar a convenção de Genebra. Lá foi dando uns apartes sobre o serviço nacional de saúde, que Marcelo facilmente desmontou, e fez referência aos antigos presidentes que o apoiam, o que Marcelo ridicularizou. No fim Marcelo deu-lhe uma estocada final decisiva quando chamou a atenção para a carrinha dos seis assessores que ele tinha trazido, criando no público a sensação de que sem assessores Nóvoa não existe.
Marcelo teve passados 25 anos a sua segunda oportunidade num debate político decisivo. Desta vez não a desperdiçou. No próximo dia 24 será entronizado presidente. E, diga-se de passagem, no actual quadro político é a melhor solução para o país.
Debate Paulo de Morais-Sampaio da Nóvoa
António Sampaio da Nóvoa fez uma boa proposta no frente-a-frente da noite passada na TVI 24. Fê-lo com algum atraso, no quarto debate televisivo a dois em que participou, dando finalmente a ideia de que é capaz de subir ao concreto nesta farpa a Cavaco Silva: "O Presidente da República, infelizmente, não cumpre o código dos contratos públicos e não procede à publicitação on line dos seus contratos. Isto é uma prática que tem que mudar. Aquele que promulga as leis tem de ser o primeiro a dar o exemplo."
Foi o seu melhor momento neste confronto com Paulo de Morais. Mas foi também aquele que permitiu evidenciar mais a destreza verbal do seu antagonista. O ex-braço direito de Rui Rio na câmara do Porto pegou-lhe na palavra e correu com ela pista adiante: "Não chega ao Presidente da República dar o exemplo. O Presidente tem que exigir transparência a toda a classe política." Contestou os apelos de Nóvoa à estabilidade revelando que nessa manhã deixara um cravo vermelho junto à tumba do primeiro Rei de Portugal. "Não foi com estabilidade que D. Afonso Henriques fez o País. Não foi com estabilidade que se fez o 25 de Abril. Tem que haver instabilidade para haver progresso. A estabilidade só é boa quando as coisas estão bem."
No resto, cumpriu-se o guião: Morais conduziu o debate para o campo que lhe garante votos, o do justiceiro contra a corrupção, disparando contra as sociedades de advogados de Lisboa e o Parlamento, que a seu ver "está organizado como uma central de negócios". Nóvoa refugiou-se em fórmulas vagas: "Corrupção? Reconheço que há problemas, que há dificuldades. Muitas denúncias que o doutor Paulo Morais tem feito estão certas."
Era precisamente isto o que o seu opositor pretendia ouvir.
Vencedor: Paulo de Morais
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Frases do debate:
Nóvoa - «É muito estranho que alguns considerem a política como uma espécie de clube privado.»
Morais - «Há sociedades de advogados que são verdadeiras irmandades, para não dizer máfias.»
Nóvoa - «Estabilidade não é estagnação. Estabilidade é um processo de mudança.»
Morais - «A justiça em Portugal tem meios ridículos. O Ministério das Finanças tem verbas disponíveis para tapar buracos superiores ao orçamento da justiça.»
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O melhor:
- Sampaio da Nóvoa deixou claro qual é o eleitorado a que se dirige: "Desde 4 de Outubro abriu-se uma nova cultura de diálogo e de compromisso na sociedade portuguesa."
- O ex-vice-presidente da Câmara do Porto revelou enfim alguma consciência social: "Que dignidade existe numa idosa de 80 anos que vive com 200 euros de reforma? Neste momento há mil cantinas sociais em Portugal que dão de comer às pessoas por esmola."
O pior:
- Os assessores da campanha do antigo reitor da Universidade de Lisboa devem recomendar-lhe que não baixe constantemente os olhos para os papéis enquanto fala. Dá a sensação de que procura a cábula.
- "Parece-me normal que tenha havido acusação no caso Sócrates", disse Morais. O problema é que ainda não houve acusação alguma.
Debate Edgar Silva-Sampaio da Nóvoa
O candidato apoiado pelo PCP transmite uma sensação de desconforto por usar agora fato e gravata. Falta-lhe espontaneidade e alegria. Disso parece ter-se apercebido Sampaio da Nóvoa no debate que travaram ontem à noite na TVI 24: "Eu já dei quatro voltas a Portugal, faço campanha com enorme alegria."
Ficava marcado algum contraste entre dois candidatos que se equivalem no plano da retórica: ambos recorrem a um prolixo vocabulário para exprimir ideias que talvez fossem emitidas com mais eficácia com menos palavras. Deve reconhecer-se que, à partida, a missão de Nóvoa estava facilitada: competia-lhe não beliscar o eleitorado do PCP, que poderá vir a ser-lhe útil - e esse desígnio foi cumprido. Edgar, pelo seu lado, deixou por esclarecer o motivo que o levou a avançar, já após as legislativas, quando o antigo reitor da Universidade de Lisboa se encontrava há meses no terreno.
Incapaz de estabelecer diferenças de conteúdo face a Sampaio da Nóvoa, o ex-sacerdote madeirense procurou vislumbrá-las numa eventual subalternização das questões do emprego nas propostas do seu opositor. Demonstrou assim não ter lido a carta de princípios de Nóvoa, como este facilmente esclareceu. Mas, talvez por esquecimento, o catedrático omitiu o maior trunfo de que dispõe nesta matéria: o apoio à sua candidatura por parte de Carvalho da Silva, que durante um quarto de século liderou a CGTP. Coube a Paulo Magalhães, moderador do debate, assinalar tal facto.
O jornalista perturbou ainda Edgar com uma pergunta que ameaça tornar-se um clássico: "Considera a Coreia do Norte uma democracia?" O membro do Comité Central do PCP, embaraçado, falou muito mas deixou a pergunta sem resposta. Já vimos este filme em algum lado.
Vencedor: Sampaio da Nóvoa
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Frases do debate:
Nóvoa - «Esta candidatura nasce da cidadania, sem ter esperado por partidos.»
Edgar - «O apoio do PCP é um certificado de garantia.»
Nóvoa - «O conhecimento não está só nas universidades: o conhecimento está nas pessoas.»
Edgar - «A reestruturação da dívida permitiria construir cerca de 30 hospitais em Portugal.»
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O melhor:
- Sampaio da Nóvoa promete uma "presidência de proximidade", apelando implicitamente aos portugueses que contribuíram para a eleição de Mário Soares.
- Edgar Silva introduz a poesia na campanha ao invocar a "defesa da nossa casa comum" e sublinhar a necessidade de "ouvir o grito dos pobres e o clamor da terra".
O pior:
- O ex-reitor da Universidade de Lisboa continua a refugiar-se em proclamações genéricas, demonstrando dificuldade em descer ao concreto.
- "Se eu fosse... ou vier a ser Presidente..." Este lapso verbal demonstra que o ex-sacerdote tem pouca fé nas suas possibilidades de vitória.
Debate Henrique Neto-Sampaio da Nóvoa
António Sampaio da Nóvoa foi surpreendido neste seu segundo debate - travado ontem à noite na RTP3 - pela acutilância de Henrique Neto. São ambos independentes, mas têm estilos antagónicos. Nóvoa gaba-se de ter estado "muitos anos no governo de uma grande universidade pública", Neto orgulha-se de ter sido "trabalhador, operário, empresário e dirigente industrial".
O moderador, José Rodrigues dos Santos, começou por questionar a experiência política de ambos. O ex-reitor da Universidade de Lisboa evocou em sua defesa "uma vida dedicada a um combate permanente pelas liberdades". Descendo ao concreto, Neto acusou o jornalista de estar "mal informado", recordando que militou desde os 14 anos em todos os movimentos de combate ao salazarismo, incluindo o MUD Juvenil e a candidatura de Humberto Delgado. E cedo passou da defesa ao ataque: "Nem os candidatos do sistema nem os de fora do sistema têm a minha experiência política, económica e empresarial."
Durante quase todo o frente-a-frente Neto primou pela contundência face ao opositor: "O meu espanto é que, sendo académico, tenha tão pouco sentido crítico em relação àquilo que o rodeia." Nóvoa, desconfortável no terreno do confronto directo, refugiou-se em fórmulas abstractas, como esta: "A experiência política é a história de uma vida."
Às tantas, desabafou: "Eu não estou para ajustar contas com o passado." Como se tivesse a noção de que o debate não lhe estava a correr bem. E assim era, na verdade.
Vencedor: Henrique Neto
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Frases do debate:
Nóvoa - «Precisamos de um país mais preparado e mais capaz.»
Neto - «Os portugueses estão cansados de académicos.»
Nóvoa - «Não ouvi nada do candidato Henrique Neto sobre nenhuma matéria.»
Neto - «O discurso do senhor candidato [Nóvoa] dá para tudo. Faz um conjunto de afirmações que estão fora da realidade das pessoas.»
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O melhor:
- Henrique Neto colocou o opositor em posições defensivas, recorrendo com frequência ao sarcasmo: "O senhor candidato não saiu da universidade."
- Sampaio da Nóvoa ensaiou um discurso unitário de esquerda ao qualificar de desastrosas as políticas de austeridade.
O pior:
- O empresário da Marinha Grande aproveitou o debate para fazer publicidade a dois livros que escreveu.
- O ex-reitor da Universidade de Lisboa foi incapaz de dar réplica eficaz às farpas do seu antagonista, que o fustigou reiteradamente pelo seu alegado "vazio de ideias".
Debate Marisa Matias-Sampaio da Nóvoa
Ambos de esquerda, ambos apostados em contribuir para uma segunda volta. Estas são as semelhanças mais notórias. Mas ontem, no debate de estreia da RTP 3 na campanha presidencial, estiveram mais à vista as diferenças entre Marisa Matias e Sampaio da Nóvoa. Com a candidata bloquista a criticar Ramalho Eanes - destacado apoiante de Nóvoa - lembrando que o ex-Presidente contribuiu para a fundação de um partido político a partir de Belém. E o ex-reitor da Universidade de Lisboa a invocar como pergaminhos o facto de ter avançado para a corrida presidencial muito antes da eurodeputada do BE, acusando-a implicitamente de querer transformar este escrutínio numa "segunda volta" das legislativas.
Mas a maior diferença entre ambos surgiu a propósito da intervenção no Banif - tema suscitado pelo moderador, José Rodrigues dos Santos. Com Nóvoa a sustentar a tese do Governo, que a seu ver foi "a solução menos má", e Marisa a contestá-la: "Não é uma boa solução continuar a ir buscar dinheiro aos contribuintes para alimentar a banca."
A dirigente bloquista foi categórica: deveria ter sido retirada a confiança ao governador do Banco de Portugal. Nóvoa, sem descolar do Executivo, garantiu que teria promulgado o orçamento rectificativo que a esquerda à esquerda do PS em uníssono rejeitou. Outros temas poderão granjear-lhe votos: o Banif, pelo contrário, não lhe terá dado nenhum.
Vencedora: Marisa Matias
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Frases do debate:
Nóvoa - «A pluralidade é sempre positiva em política.»
Marisa - «Eu não serei a candidata do medo.»
Nóvoa - «Comigo haverá sempre uma cultura do diálogo e do compromisso.»
Marisa - «Temos de tirar, de uma vez por todas, a Constituição da gaveta.»
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O melhor:
- Marisa Matias transpareceu convicção e pôs sempre alguma emoção no discurso.
- O ex-reitor da Universidade de Lisboa lançou uma farpa eficaz à oponente lembrando não ter "esperado pelas legislativas" para avançar com a candidatura.
O pior:
- Sampaio da Nóvoa peca por uma retórica que soa a vazio. Ao dizer frases como esta: "No futuro dos jovens está o futuro de todos nós."
- A linguagem gestual de Marisa Matias traiu algum excesso de ansiedade.
Vasco Pulido Valente tinha justamente escrito há uma semana o seguinte sobre a candidatura de Sampaio de Nóvoa: "O dr. Nóvoa apresenta como a sua maior credencial o facto de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio lhe darem a sua bênção e o seu apoio. Mas nenhum dos três se explicou ainda a esse respeito e o país continua sem saber o que eles, com a sua suposta clarividência, viram naquela tristíssima personagem".
Agora o Dr. Jorge Sampaio aceitou o repto e já nos esclareceu as razões desse apoio. Segundo ele, "o esforço que Nóvoa tem desenvolvido mostra abertura de espírito, uma correcta interpretação dos poderes presidenciais e os grandes ideais por que se bate são coisas fundamentais num Presidente da República". Se o critério é este, não entendo o que distingue Nóvoa de 99,99% da população portuguesa em idade de votar, que seguramente também tem "abertura de espírito", entende quais são os poderes presidenciais, e tem ideais. Quem não os tem?
Pareceria assim que Jorge Sampaio entende que apoia Nóvoa como podia apoiar um desconhecido qualquer para presidente. Isso só nos faria concluir pela absoluta irrelevância do cargo que em tempos ocupou. Mas não. Ele acha que "as eleições presidenciais são muito importantes, Abril já foi há muito tempo e as pessoas esquecem-se”. Parece assim que o objectivo da candidatura é permitir aos mais esquecidos que se recordem dos bons velhos tempos de Abril. Tal só demonstra que eu tive razão quando escrevi aqui que a razão destes apoios é o candidato lhes recordar as suas maiores paixões da juventude, a luta intransigente pelos gloriosos amanhãs que cantam, o que o torna irresistível para políticos com mais de 75 anos.
Vítor Bento disse uma vez com razão ser absolutamente intrigante que "uma parte importante da classe política considere, ao fim de 40 anos de regime, que a Presidência da República - que em caso de crise grave é o último fusível do regime - é o local ideal para se perder a virgindade política". Mas Jorge Sampaio explica que "um Presidente da República não é uma folha seca, é alguém que tem de ter princípios e valores que defende a Constituição e está recheado de vivências". Jorge Sampaio explica assim aos portugueses que apoia Nóvoa porque o considera uma folha viçosa. Isto só me faz lembrar quando o Dr. Jorge Sampaio anunciou que havia mais vida para além do orçamento. Se me permitirem o trocadilho, eu diria que nesta candidatura há muito viço e pouco siso.
«Os portugueses escolheram este governo.»
Sampaio da Nóvoa, em entrevista à SIC (9 de Dezembro)