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Delito de Opinião

"Ai, não percebo nada".

Luís M. Jorge, 14.01.12

É a confissão da semana nos blogs liberais. De um dia para o outro a direita portuguesa encheu-se de cheerleaders loiras e alheadas. Mas não faz mal, meninas, porque a Carla Quevedo explica:

(…) Sobre as nomeações recentes para a EDP, etc., António Lobo Xavier mostrou incómodo com aquilo que disse ser um problema de percepção. Ora, isto subentende que os factos estão bem, obrigada, o que estraga tudo é a altura em que as coisas se fazem. Lobo Xavier é mais inteligente do que isto. O problema real é haver gente a não fazer a mínima intenção de passar pela ‘necessidade de sacrifícios’ que leva a vida a pregar aos outros. Não é um problema de inveja. E a ganância é o menos, francamente. Sempre houve e sempre haverá. Só um louco é que se dedica à tarefa de mudar a natureza humana. O pior é ter de ouvir os pregadores na televisão, ter de lhes aturar o discurso do que os outros devem fazer, como devem viver. É assim que o cidadão mais pacífico dá por si a defender a revolução francesa. Há, contudo, um aspecto positivo nisto tudo. Por estranho que pareça, vejo o momento que estamos a viver como uma oportunidade de o País mudar para melhor. O tempo não está a nosso favor, mas também acontecem coisas boas quando as pessoas se fartam (…).

Haja paciência.

Pedir contas

Laura Ramos, 25.10.11

 

Devemos pedir contas, sim. Se a lei deixou de nos garantir a palavra dada, se os contratos de trabalho contêm cláusulas que de nada servem, se o imperativo nacional nos coloca numa situação de suspensão de direitos de estatuto, então é lícito trepar à nossa árvore podada e olhar a floresta.
Já não gozamos de uma copa frondosa, já não estamos felizes com os nossos frutos e o horizonte está ali, repentinamente muito mais visível.
Identificamos, gritantes, as torres de marfim. E queremos que o Estado, que deixou de ter condições para pagar as suas 'despesas de manutenção', actue com equidade, dividindo proporcionalmente os sacrifícios.

Mas o cimo da árvore é um observatório perigoso, porque também podemos perder a perspectiva. Pedir cabeças a eito não é solução. E entrar numa lógica compulsiva de comparação leva-nos inexoravelmente a querer tratar de igual maneira aquilo que não é igual.
Infelizmente, somos uma sociedade civil imatura e desorganizada, sem hábitos de democracia vigilante, e por isso atiramo-nos agora sem critério a tudo o que mexe, desde que suspeitemos que alguém leva um euro a mais dos bolsos do Estado que somos e que sustentamos.

Pegando num exemplo: - Um representante do povo eleitor que passa a exercer um cargo governamental tem legitimidade para esperar receber um subsídio de alojamento, quando vive a mais de 100 kms da sede do poder? Terá direito a ser ressarcido das despesas efectivas  e imprescindíveis em que incorre por causa desse mandato? Claro que sim. Não se trata de um privilégio, trata-se de uma neutralização de prejuízos. É o preço da representatividade democrática. E ai de nós se  não distingumos estas diferenças, porque amanhã estaremos a exigir a folha de proventos e encargos pessoais do nosso vizinho, exercendo uma espécie de julgamento popular sobre a sua vida financeira. E então, a prazo, morreremos todos com as mesmas armas.

Precisamos de não perder tudo: e para isso, é fundamental manter o distanciamento crítico.


Agora temos na agenda as subvenções vitalícias dos políticos.

- É legítimo exigir a sua revogação? Claro que sim.

- Os constitucionalistas bradam?

Não me lembro de os ouvir rugir quando, inconstitucionalmente, me foi retirado o direito aos subsídios de férias e de Natal, complementos remuneratórios históricos, inalienáveis e impenhoráveis.

 - O que eu espero de Pedro Passos Coelho?

É que veja a floresta. Que a veja acima da sua árvore (o PSD). E, se preciso for, acima da nossa própria árvore de horizonte limitado.

É para isso que ele lá está e foi mandatado.

Além disso, nesta matéria, o primeiro-ministro goza de um atributo que nenhum constitucionalista me pode garantir: a autoridade moral.

A soberana isenção de quem prescindiu, a seu tempo, de uma subvenção do Estado. Quando poucos se importavam com isso e ninguém aplaudia.