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Delito de Opinião

Sintomas duma sociedade doente

Pedro Correia, 01.11.20

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«Crescemos em muitos aspectos, mas somos analfabetos ao acompanharmos, cuidarmos e sustentarmos os mais frágeis e vulneráveis das nossas sociedades desenvolvidas. Habituamo-nos a olhar para o outro lado, passar à margem, ignorar as situações até elas nos caírem em cima.»

 

«Ver alguém que está mal incomoda-nos, perturba-nos, porque não queremos perder tempo por culpa dos problemas alheios. São sintomas duma sociedade doente, que procura construir-se virando as costas ao sofrimento.»

 

«A parábola do Bom Samaritano mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, combatem situações de exclusão e tudo fazem para que o bem se torne comum.»

 

Papa Francisco, na Encíclica Fratelli Tutti

Porque não há-de ser assim?

Helena Sacadura Cabral, 29.08.17

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Às vezes gosto de me expressar através das palavras dos outros. Acontece quando, pela sua simplicidade, vão directas ao meu coração e não à minha razão, embora esta as não descure.
As questões levantadas pelo quadro que reproduzo acima sintetizam tanto e tão bem o que penso sobre aquilo que vivemos que decidi partilhá-las convosco. 
É uma pagela que tenho à minha frente, na mesa onde trabalho. De vez em quando sabe-me bem olhar para ela! 

Condição humana

Helena Sacadura Cabral, 31.10.15

“E quando os homens são de tal condição, que cada um quer tudo para si, com aquilo com que se pudera contentar a quatro, é força que fiquem descontentes três. O mesmo nos sucede. Nunca tantas mercês se fizeram em Portugal, como neste tempo; e são mais os queixosos, que os contentes. Porquê? Porque cada um quer tudo. Nos outros reinos com uma mercê ganha-se um homem; em Portugal com uma mercê, perdem-se muitos.

... Porque como cada um presume que se lhe deve tudo, qualquer cousa que se dá aos outros, cuida que se lhe rouba.”

 

                                                       Padre António Vieira, in 'Sermões' 

Heróis de um mundo que já não há

Pedro Correia, 27.10.13

 

 

Não sei porquê, este diálogo vem-me com frequência à memória. É do filme A Última Fronteira (The Westerner, 1940), de William Wyler, e parece espantosamente simples e destituído de qualquer artificio. Mas tem vários níveis de leitura, além de revelar, só por si, um dos grandes atributos dos heróis do western – indivíduos de carácter, que preferiam ser donos do silêncio em vez de escravos das palavras. É, além disso, uma espécie de homenagem a Gary Cooper, uma das figuras míticas do cinema, que interpreta na perfeição o forasteiro deste filme – homem que alia o amor à terra a um indomável espírito de aventura, alguém de poucas falas e vistas largas, sempre em demanda de novos horizontes. Precisamente ao inverso dos políticos dos nossos dias.

A cena passa-se entre um juiz e Gary Cooper:

Juiz – De onde vens, forasteiro?

Gary Cooper – De nenhum sítio em particular.

Juiz – E para onde vais?

Gary Cooper – A nenhum sítio em particular.

Eram assim os heróis do Oeste. Sem raízes que os prendessem e prontos a lançar raízes em qualquer lugar. Aventureiros, na melhor expressão que podemos dar a esta palavra. Protagonistas de um tempo de pioneiros de que cada vez somos mais nostálgicos por termos a certeza de pertencerem a um mundo que já não há.

Amor próprio

Helena Sacadura Cabral, 06.06.13
"Com o tempo você vai percebendo que, para ser feliz com outras pessoas, tem de começar por não precisar delas.
Aprende então a gostar de si, a cuidar de si e principalmente a gostar de quem gosta de si.
O segredo não é correr atrás das borboletas, mas sim cuidar do jardim para que elas venham ter consigo.
E, ao fim e ao cabo, vai encontrar não quem você estava a procurar mas quem estava a procurá-lo a si".
                                                    Mário Quintana

 

Tenho estado a ler um livro que irei apresentar em breve e que se ocupa do envelhecimento activo, tema para o qual só recentemente se começou a olhar com verdadeiro interesse e atenção.

A dada altura, deparei com a frase que cito acima, a qual constitui, há já alguns anos, um dos meus cavalos de batalha e que é, aliás, objecto deste meu último livro. De facto, nunca é demais sublinhar, que só quem sabe gostar de si próprio é capaz de saber gostar dos outros.

Durante muito tempo na minha vida, nomeadamente depois de passar por um divórcio, tive dificuldade em perceber isto. Na verdade, a fractura duma separação leva-nos, muitas vezes, a duvidarmos de nós próprios e do nosso valor, só porque atribuimos ao outro mais importância do que ele possivelmente merece. Eu recusei-me a aceitar isso, porque me não sentia nem inferior nem pior. E foi assim que percebi a importância de gostar de mim e de encontrar, afinal, não quem eu procurava, mas sim quem estava a procurar-me.

Mario Quintana tem, mesmo, toda a razão!

Não há em mim um pingo de revolucionário, mas...

José Gomes André, 08.09.12

... ultimamente tenho lido com renovado interesse um texto antigo: "A prudência recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objecto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos e instituir novos Guardiães para sua futura segurança." (Thomas Jefferson, Declaração de Independência dos EUA, 1776).

a amizade

Patrícia Reis, 27.02.12

A vencedora dos óscares, Meryl Streep, disse que a amizade é o mais importante.

Eduardo Lourenço, nas correntes d'escrita, disse que a amizade é o mais importante.

Rubem Fonseca, hoje homenageado pela Câmara de Lisboa, disse que o mais importante é a amizade.

Quando era pequena, o meu tio-avô disse-me: se tiveres amigos tens uma casa e, assim, nunca estarás sozinha e desprotegida.

Bom conselho.