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Delito de Opinião

Ouvir e reflectir

Sérgio de Almeida Correia, 03.08.23

Tenho-o criticado algumas vezes, não tanto pelo que diz ou faz em relação à política nacional, mas pelas desgraçadas declarações que proferiu em matéria de direitos humanos, em relação à RPC e a Macau, nomeadamente na(s) comissão(ões) parlamentar(es) a que pertenceu na Assembleia da República, num seminário e numa visita que fez àquele país. Admito que, embora seja pouco crível, que tivesse sido mal aconselhado, que fossem momentos de muita infelicidade, que estivesse rodeado pelas pessoas erradas – o que seguramente aconteceu em Macau com alguns com quem confraternizou –, ou que se tivessem servido dele sem que de tal se apercebesse. 

Mas isso não o impede, nem a qualquer outra pessoa decente e com bom senso, de se aperfeiçoar, de se informar, de melhorar, de afinar a mira e corrigir o tiro. E também não retira mérito a algumas das intervenções que tem feito sobre outras matérias, talvez até menos consensuais na sociedade portuguesa.

A intervenção que Sérgio Sousa Pinto, o deputado socialista, aqui sim com toda a propriedade, fez há dias na Associação Comercial do Porto merece ser ouvida, mesmo por quem em regra possa não concordar com ele, relativamente ao que diz em relação à nossa democracia, à acção do Estado, aos partidos políticos, ao nível do parlamento que integra, ao recrutamento das elites, ao exercício de cargos políticos, enfim, sobre toda uma série de coisas sobre as quais há muito se escreve e todos falam sem que nada de relevante aconteça, sem que seja dado um forte abanão – não me refiro ao que o Presidente Marcelo fez ontem ao Papa Francisco, sem que este lhe fizesse mal algum, no Aeroporto de Figo Maduro – nas estruturas necrosadas do regime democrático.

Não se admirem com a extensão do vídeo. Vale a pena ouvir e reflectir sobre o que ele diz.

«A realidade vence sempre»

Excelente entrevista de Sérgio Sousa Pinto

Pedro Correia, 30.03.21

A entrevista já foi dada à estampa há uns dias, no Público, mas venho muito a tempo de chamar a atenção para ela. Uma longa entrevista a Sérgio Sousa Pinto - deputado, presidente da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, membro da Comissão Nacional do PS e antigo líder da Juventude Socialista - conduzida por Maria João Avillez.

Vale a pena ler com atenção.

 

Destaco três excertos, com a devida vénia:

«Ou mudamos ou acabaremos numa Suécia fiscal implantada numa Albânia económica. A classe média já exporta os filhos licenciados. Um dia esses filhos enviarão remessas para financiar a velhice dos pais. O colapso da classe média significará a inviabilidade do País e do nosso regime democrático. Chega de propaganda, chega de atirar palavras contra a realidade. A realidade vence sempre.»

«Esta subversão das coisas prende-se também com o modo como se geram hoje os partidos. Há uma preferência pela subordinação e há uma cultura intimidatória: tudo pelo chefe, nada contra o chefe. É por isso que vamos aos congressos partidários e aquilo é um enfado insuportável... Como em nome da democracia se inventou a eleição directa dos líderes, o resto dos trabalhos é um cerimonial sem sombra de interesse. Bem sabemos que as mudanças para pior são sempre ditadas pelas melhores razões: mais democracia, mais transparência, mais tudo, enquanto construímos uma gaiola de bondades que vai arruinar o regime.»

«Não é possível funcionar assim: tanto poder ao líder, tanta insignificância aos indivíduos. O PS e o PSD serão em breve incapazes de gerar personalidades, transformados como estão em máquinas trituradoras. Não geram personalidades e a democracia é um regime de personalidades, é um regime de vozes. Hoje só há coros.»