Ouvir e reflectir
Tenho-o criticado algumas vezes, não tanto pelo que diz ou faz em relação à política nacional, mas pelas desgraçadas declarações que proferiu em matéria de direitos humanos, em relação à RPC e a Macau, nomeadamente na(s) comissão(ões) parlamentar(es) a que pertenceu na Assembleia da República, num seminário e numa visita que fez àquele país. Admito que, embora seja pouco crível, que tivesse sido mal aconselhado, que fossem momentos de muita infelicidade, que estivesse rodeado pelas pessoas erradas – o que seguramente aconteceu em Macau com alguns com quem confraternizou –, ou que se tivessem servido dele sem que de tal se apercebesse.
Mas isso não o impede, nem a qualquer outra pessoa decente e com bom senso, de se aperfeiçoar, de se informar, de melhorar, de afinar a mira e corrigir o tiro. E também não retira mérito a algumas das intervenções que tem feito sobre outras matérias, talvez até menos consensuais na sociedade portuguesa.
A intervenção que Sérgio Sousa Pinto, o deputado socialista, aqui sim com toda a propriedade, fez há dias na Associação Comercial do Porto merece ser ouvida, mesmo por quem em regra possa não concordar com ele, relativamente ao que diz em relação à nossa democracia, à acção do Estado, aos partidos políticos, ao nível do parlamento que integra, ao recrutamento das elites, ao exercício de cargos políticos, enfim, sobre toda uma série de coisas sobre as quais há muito se escreve e todos falam sem que nada de relevante aconteça, sem que seja dado um forte abanão – não me refiro ao que o Presidente Marcelo fez ontem ao Papa Francisco, sem que este lhe fizesse mal algum, no Aeroporto de Figo Maduro – nas estruturas necrosadas do regime democrático.
Não se admirem com a extensão do vídeo. Vale a pena ouvir e reflectir sobre o que ele diz.