Sábado
jpt, 24.04.22
Dado ter sido alvo de um gentilíssimo convite, cruzei ontem o Tejo rumo a Sul na senda de um magnífico almoço, um delicioso cozido à portuguesa, confeccionado em bela sede familiar. O lauto repasto foi enquadrado por um rico sortido temático conversacional - mais urgente face a estes tão prejudiciais ensimesmamentos covidocénicos, que ainda vão decorrendo... -, e culminado em molde europeísta, por via de uma deliciosa sobremesa de origens humanistas. E tudo se concluiu em torno da fundacional aguardente vinícola, um arreigado bagaço branco daqueles que "novos mundos ao mundo" mostrou...
Após todas estas ocorrências, e ao fim da tarde soalheira, regressei à capital, trauteando o muito adequado "e navegando, a idade foi chegando, o cabelo branqueando, mas o Tejo é sempre novo...". Aportado às cercanias do Trancão fui ainda a tempo de esplanar com duas formosas amigas, encetando o convívio com uma sempre bem-vinda Água das Pedras, contributo ao remoer em curso, enquanto nos abalançámos sobre usos e costumes relativos ao bacalhau, entre outros assuntos menos prementes.
Enfim, sábado decorrido, recolhi ao reduto próprio e, sendo Dia do Livro, terminei aquele breve que me acompanhara a jornada, um esquecível e desnecessário roteiro de recente viagem ao Japão. Avancei depois, curioso que estava, para o episódio inicial da segunda temporada do folhetim português "3 Mulheres", adequadamente dedicado ao dia 25 de Abril, produto muito bem conseguido. Após o qual me dediquei a um sonolento zapping, escapando-me, por exaustão comensal, à fila de westerns clássicos que gravara durante a semana. Dei de caras com este "Contra Poder", mais um dos programas radiofónicos de comentário político, que nunca vira com este triunvirato. Servi-me do aprazível Queen Margot e assisti, algo curioso sobre os dizeres do comentador Sousa Pinto, esse recente ícone do centro português, desses que vêm neste inventor das "causas fracturantes" o actual totem do "socialismo de rosto humano", perdão, "pensante". Justiça seja feita ao ilustre deputado, tem verve e, melhor qualidade ainda, é cáustico.
E nisso ontem ocasionou um belo momento de radiotelevisão. Pois, estando ele lançado num enfático ditirambo, típico de vero iluminado, investiu contra a colega de painel em registo desabrido. E esta, Maria João Avillez, dedicou-lhe um - até maternalmente carinhoso - "você hoje não está muito bom da cabeça" (aos 45' do filme). Excelente!!! O tipo aguentou-se, que é sabido, mas, de facto, regressou a rapazote naqueles minutos seguintes, de posto no lugar que foi. Eu ri-me, sozinho, belo corolário de belo dia.
Depois peguei num molho de livros (era o Dia deles), empilhei-os na mesa de cabeceira, em requebro intelectual. E dormi a sono solto.