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Delito de Opinião

A verruga cabeluda no nariz da velha, e o sonso

Paulo Sousa, 31.07.24

O Partido Comunista da Venezuela, não sendo o partido de Chaves nem de Maduro, apoiou durante anos o regime chavista e madurista. Após a fraude eleitoral que decorreu no domingo passado, o PCV já veio a público apelar “às forças genuinamente democráticas, populares e patrióticas a unirem forças para defender a vontade do povo venezuelano que foi expressa neste domingo, 28 de Julho, com um clara intenção de mudança política no país”. A declaração completa pode ser lida aqui.

Em contra-mão com a vontade popular estão os regimes facínoras da Rússia, China, Cuba, Síria, Nicarágua, Irão e Coreia do Norte, que já felicitaram o ditador Maduro pela sua “vitória”. Sobre estes não há novidade nem surpresas. O alinhamento do PCP com ditaduras sanguinárias nunca causou nenhum bruaá, mas não deixa de ser curiosa esta fractura entre dois Partidos Comunistas ortodoxos.

Ou até o PC venezuelano já se vendeu ao imperialismo gringo, que ali pretende levar a cabo um "golpe de estado fascista”, ou o PCP é cada vez mais a verruga cabeluda no nariz da velha.

Por cá, assistimos ao sonso do Rui Tavares a tentar formar uma plataforma alargada de esquerda (onde pretende incluir a verruga cabeluda no nariz da velha) para governar o nosso país.

Poderá Tavares privilegiar as suas origens bloquistas e assim defender-se deste eventual incómodo? É possível, mas vamos então ver as vénias e as companhias europeias da recém-eleita Catarina Martins.

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Perante tudo isto, pelo menos no Twitter, Rui Tavares continua em silêncio.

Livre perde em Portugal mas ganha na Holanda, na Dinamarca e na Polónia

Pedro Correia, 10.06.24

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Rui Tavares nunca faz a coisa por menos: quer ser sempre o primeiro a aparecer. Na televisão.

Eram 20.30 de ontem, a contagem dos votos nem a meio ia, e já ele pontificava nas pantalhas, ladeado pela actual porta-voz do seu partido. Ela com ar eufórico, batendo palmas sabe-se lá a quê.

«Francisco Paupério será o primeiro deputado europeu do Livre. As probabilidades são francamente boas.» Assim falou o mentor do partido, que chegou a ter assento no Parlamento Europeu entre 2009 e 2014, mas eleito pelo Bloco de Esquerda - com o qual não tardou a romper.

 

Entusiasmado com a própria oratória, e para não desperdiçar tempo de antena, lembrou-se de reivindicar como suas as vitórias eleitorais de outros partidos que concorriam noutros países: «Ganhámos esta semana nos Países Baixos, ganhámos na Dinamarca e acabou de sair a notícia de que a coligação cívica integrada pelos verdes polacos ganhou na Polónia.»

Que político europeu não adoraria ter tamanho toque de Midas e tão assombroso dom da ubiquidade?

 

Só um pormenor atrapalhou esta narrativa. Afinal Paupério não emigra para Bruxelas: faltaram-lhe votos para tal. Pode agradecer a Tavares, que passou mais de meia campanha ausente, sem lhe manifestar apoio. Como se aquilo nada fosse com ele.

Primeiro a aparecer nas televisões, último a comparecer na estrada. Camaradagem de baixa intensidade. Francisco Louçã e Joacine Katar Moreira sabem muito bem o que isso é.

Livre, para mudar as regras a meio do jogo

Paulo Sousa, 18.04.24

Rui Tavares, que cada vez mais me parece o maior sonso da política portuguesa, avança aos ombros de gigantes. Seguindo a melhor tradição da esquerda, decidiu recalibrar as regras que definiriam a escolha do seu cabeça de lista para as próximas eleições europeias.

O assunto está bem explicado aqui, mas do que gostei mesmo foi desta foto que roubei no X.

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«Atenta às questões dos trabalhadores»

Legislativas 2024 (12)

Pedro Correia, 28.02.24

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Nada mais conveniente, para os partidos com fraquíssima representação parlamentar, do que integrar manifestações alheias para aparecerem na fotografia, fingindo que os poucos afinal são muitos. Consultar a agenda diária de manifestações e colar-se a elas: eis uma forma fácil e expedita de fazer política.

Nestes dias iniciais de campanha eleitoral das legislativas de 2024 o campeão desta chico-espertice tem sido Rui Tavares. No sábado conseguiu aparecer um par de vezes nos telediários integrando-se em duas concentrações populares em Lisboa: uma no Rossio, de repúdio pelos dois anos de agressão da Rússia à Ucrânia; outra na marcha contra o racismo e a xenofobia, na Alameda D. Afonso Henriques. 

Exibiu-se em qualquer dos eventos, transmitindo assim a mensagem subliminar de que toda aquela gente apoia o Livre. 

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A mesma táctica tem vindo a ser seguida por dois outros partidos muito carentes de votos: o PCP e o Bloco de Esquerda.

Aproveitando um protesto dos trabalhadores da empresa multinacional Teleperfomance, também em Lisboa, Paulo Raimundo e Mariana Mortágua surgiram na primeira fila. Com a certeza de que picariam o ponto nos noticiários da noite.

O secretário-geral do PCP lá se ajeitou com o megafone para debitar banalidades, proclamando-se «solidário» com os trabalhadores. A porta-voz do Bloco nem necessitou de megafone, sem ficar atrás do comunista ali na caça ao voto. 

A diligente repórter da RTP deu uma ajudinha. Dizendo isto: «Porque é ao lado dos trabalhadores que o Bloco quer estar.» Enquanto mostrava a bloquista enxugando uma furtiva lágrima de comoção. E culminou a peça desta forma: «Atenta às questões dos trabalhadores, Mariana Mortágua promete que as condições dignas de trabalho vão estar num entendimento à esquerda pós-eleições.»

Linguagem carregada de tintas épicas: pedia sonorização a condizer. Pena não se terem escutado os acordes d' A Internacional. Até a mim daria vontade de chorar.

Não havia nexexidade!

Paulo Sousa, 16.02.24

Se tivesse de seleccionar alguém para dar corpo ao memorável personagem do Diácono Remédios, eu escolheria o Rui Tavares. No debate com Rui Rocha, dias atrás, há um momento em que ele reage com surpresa e levanta as sobrancelhas de uma forma que imediatamente me fez lembrar esse personagem do Herman José.

A esquerda que o Livre tenta representar esbanja um rigor moral tão sólido que causaria frémitos a qualquer beata. A única flexibilidade que apresenta respeita à possibilidade de se poder coligar com o PS. Em tudo o resto emana um brio de uma luz espessa que, qual candeia a queimar azeite, ilumina o futuro dos urbanitas que aspiram a estar de bem consigo mesmo. O facto de o Livre, tal e qual o Chega, nunca ter ultrapassado a fórmula one man show será apenas infeliz coincidência.

Chegaram-me ao écran algumas fotos do Rui Tavares à porta da escola com um seu descendente (?) ao colo, que julgo ser uma menina. Não estivesse salvaguardada a imagem do rosto da criança e nunca este postal veria a luz do dia. Poderão perguntar se faz sentido tornar pública uma parcela da vida de uma figura pública, e essa é uma questão pertinente. Coloquei-a a mim mesmo antes de publicar estas linhas e concluí que, dado o contexto, faz sentido.

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As fotos vinham acompanhadas do nome da escola, mas antes de as publicar quis certificar-me disso. No site De Zeen dedicado a arquitectura, este edifício mereceu um artigo com diversas fotos de onde é possível confirmar que o local é o mesmo. Nas fotos acima, o Rui Tavares está realmente com uma criança ao colo na Redbridge School, em Campo de Ourique.

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Talvez a criança que tem ao colo seja filha da senhora da limpeza, ele é tão apologista de salários elevados que nunca se sabe. Pode até ser uma incrível coincidência, mas na hipótese de um descendente de Rui Tavares, que enche a boca tão cheia a defender a escola pública, frequentar uma escola internacional privada, confirma o potencial do líder do Livre para ser o escolhido num casting para o Diácono Remédios. Parece que o estou a ver a mostrar um cartão vermelho às escolas com contrato de associação (que estão muitos furos abaixo da Redbridge School) e a dizer: “Não havia nexexidade! Qualquer dia, ezze, ainda põem os filhos na Redbridge School, ezze, ezze.”

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PS: Acho óptimo que ele, e todos os portugueses, possam escolher a escola que os seus filhos frequentam, mas o mais provável é mesmo a criança ser da senhora da limpeza.

Sob o signo do Cupido

Legislativas 2024 (5)

Pedro Correia, 09.02.24

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Mariana Mortágua e Rui Tavares "debateram" ontem na SIC Notícias. Debate é força de expressão: parecia antes um rendez vous, tantas foram as miradas enternecidas que dirigiram um ao outro. E as frases plenas de concórdia, harmonia e fraternidade universal. Nem houve um sussurro crítico ao PS.

«Temos objectivos comuns», sublinhava o porta-voz do Livre. «Temos diagnósticos comuns», afiançava em coro a coordenadora do Bloco de Esquerda. Como se estes dois partidos pudessem fundir-se a qualquer momento.

Esperava-se um frente-a-frente, saiu um tête-à-tête. Sob o signo do Cupido, talvez por estar tão próximo o Dia dos Namorados. Entre Mariana Tavares e Rui Mortágua. Amor é cego e vê, como diz o verso da canção. Coisa mais linda não há.

Cá se fazem, cá se pagam,

jpt, 19.01.22

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será o mandamento do partido LIVRE. Há coisa de um ano ficou célebre um despique acontecido num dos inúmeros painéis de comentário político radiotelevisivo. Nele o socialista Sérgio Sousa Pinto (que quando jovem foi o dr. Frankenstein desta voga das "causas fracturantes") deu uma gigantesca arrochada em Rui Tavares, lembrando-lhe de como este se associara politicamente, em posição subordinada, a um anterior membro da STASI, a nada simpática polícia política da RDA. Tudo teve então mais eco não só pela veemência de Sousa Pinto como, e acima de tudo, pela ar encabulado e até apardalado com que Tavares ficou - o delicioso filme do momento entretanto deixou de estar acessível, privando o povo de repetir as inúmeras gargalhadas então dadas.
 
Hoje Tavares foi entrevistado no programa de Araújo Pereira. À pergunta de "para quê votar no LIVRE?" respondeu que os eleitores lisboetas assim poderão deixar de votar na lista do PS "onde está Sérgio Sousa Pinto" e votar nele próprio.
 
É difícil encontrar por cá maior exemplo de nanismo político...
 
Adenda: um leitor teve a amabilidade de me informar, em comentário, onde ainda se pode encontrar o filme desse debate.

 

(Intervenção de Sérgio Sousa Pinto no "Grande Debate", 17.11.2020, RTP)

A Campanha

José Meireles Graça, 09.01.22

Decorre quase exclusivamente na televisão, e não está mal assim: na rua faz frio, chove, ninguém converte senão convertidos, e os partidos com mais dinheiro brilham enquanto torram recursos com brindes e inutilidades, das quais uma parte vai acrescer ao trabalho dos varredores municipais no dia seguinte ao das arruadas ou comícios. De resto, os candidatos vão para essas horríveis maçadas não para “contactar os eleitores”, segundo a fórmula consagrada, mas para saírem nas notícias; e os jornalistas estão ali a ver se pescam o popular pitoresco, o incidente surpreendente ou desagradável e o deslize do putativo pai da pátria, e mesmo isto só nos casos em que não estão a fazer o frete.

Toda a gente se queixa, porém, dos 25 minutos dos debates na tv, que contrastam com o tempo alocado aos comentadores. Não dá para discutir seriamente coisa alguma e o formato favorece os repentistas, os ditos que ficam, as acusações sem substância, os raciocínios esquemáticos, o lixo argumentativo que se guarda para os últimos minutos, se o sorteio disser que se é o último a falar, o que tudo se espera fique no ouvido do eleitor arredio.

A conclusão das pessoas que se aliviam das suas opiniões publicamente, mormente se detiverem uma magistratura de influência, real ou imaginária, é que faria sentido aumentar ao tempo dos debates, se necessário cortando no paleio dos comentadores, que de todo o modo são uma legião de chatos.

Isto dizem elas. Já eu entendo que aumentando ao tempo dos debates se diminui a quantidade de espectadores porque a discussão racional é menos o que procuram, e mais a luta de galos. Se não fosse assim, aliás, o canal ARTV teria a audiência que nunca teve. Que no meio dessa luta num terreiro rasca passem algumas ideias já não é nada pouco.

Por mim, simpatizo com uns e antipatizo com outros, como toda a gente, mas acho improvável que das próximas eleições saia algo que preste: ou Rio ganha e jamais conseguirá apoio para fazer qualquer reforma válida (admitindo que no seu toutiço determinado morem ideias realmente disruptivas e úteis, do que duvido); ou ganha o PS e, com Costa, continuaremos a costizar, ou, com o famoso Pedro Nuno Santos, aprofundaremos a bloquização do país. A resposta, no futuro próximo, virá mais da evolução dos juros da dívida e das posições da UE, e menos do resultado das eleições. Portugal é hoje menos independente, provavelmente, do que no tempo dos Filipes, e não apenas porque os Orçamentos, antes de aprovados pela AR, precisam do accessit dos burocratas de Bruxelas para garantir as esmolas sem as quais não há investimento, seja ele o elefante branco do dinamismo empresarial do Estado seja o magérrimo privado.

Portanto, foquemo-nos nas pequenas histórias: o comentariado político sofre exactamente dos mesmos enviesamentos que o futebolístico, um grau abaixo porém na sinceridade: o comentador desportivo não se apresenta como politólogo (politotólogo na realidade) isento, e mesmo o espectador desinteressado topa em que clube joga o doutor da bola (que se distingue do básico que bolça uns morra! clubistas por os embrulhar num palavreado hermético). Mas mesmo assim a gente minimamente atenta (que, concedo, não é a maioria) sabe que a comentadora xis é do PS; o y do PSD; o z do Bloco; e o resto parente pobre.

Este tradicional viés de esquerda explica que Ventura perca invariavelmente todos os debates na opinião publicada enquanto quem quer que tenha visto o com Costa sabe, se não for um fanático geringôncico, que este levou uma grande coça.

(E antes que me venham por aí tachar de chegano esclareço que acho Ventura um demagogo – algumas das suas propostas, em particular no domínio penal, representam um retrocesso civilizacional, além de serem antiportuguesas porque a nossa tradição não é de violências americanas. E não me parece que a hierarquia das suas preocupações e bandeiras, casando embora com algumas indignações de gente sumária, tenha potencial para resolver os nossos principais problemas.)

Pois bem: esta desonestidade intelectual (ou talvez sinceridade, o que seria pior) na apreciação do desempenho de André Ventura atingiu o seu paroxismo no debate com Rui Tavares, uma nulidade política que goza dos favores da corte opinativa. Não vou explicar porquê, refugiando-me na economia de argumentos a que recorro quando não estou com excessiva paciência: quem precisar de que isto se lhe explique não está em condições de entender a explicação. Razão pela qual, a seguir ao debate, escrevi no Facebook o seguinte:

Este é genuinamente o meu país, até estou enternecido. Um país de velhos porque os novos emigram sem que nasçam outros; com a maior dívida em tempo de paz da sua história; a deslizar com segurança para os últimos lugares do desenvolvimento, num continente que não cessa de perder importância no mundo; obcecado com os ricos, que praticamente já não há, e insistindo na redistribuição até à venezuelização; com um SNS que toda a gente traz na lapela como um triunfo mas ninguém quer suspeitar que é insustentável; e com uma população feita de reformados, pensionistas e funcionários públicos, todos a caminho da cubanização, mas com frio e eleições democráticas. Este desastre tem um selo, o da esquerda. E Ventura, que defende tolices demagógicas na área social, mas não subscreve disparates na área económica, oferece a esta nuvem a possibilidade de se apresentar como depositária da superioridade que não tem, da lucidez que lhe falta, da responsabilidade que não assume e do cripto-comunismo que lhe vai na alma, mesmo que não o entenda e julgue não defender. Rui é um Polpotezinho das ideias, versão sala dos professores de universidades caducas.

Queda Livre

Pedro Correia, 30.09.21

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Alguns conseguem somar quando se juntam a outras siglas. O Livre confirmou nestas autárquicas que faz ao contrário: subtrai, não adiciona. E quando entra em cena o seu fundador, Rui Tavares, isso ainda se torna mais nítido. Coligado com Fernando Medina em Lisboa, garantindo um lugar na vereação logo à partida, contribuiu de modo inequívoco para a estrondosa queda do PS na capital.

A superioridade moral dos "pós-marxistas"

jpt, 20.11.20

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A monumental cacetada televisiva que Sérgio Sousa Pinto decidiu dar em Rui Tavares, antigo deputado do Bloco de Esquerda e agora líder do "Livre" - aquele partido que o advogado Sá Fernandes, ex-candidato do MDP/CDE, reclamou como o primeiro partido de esquerda que "não vem do marxismo" (qu'isto não há limites ...) - tem dado para rir, em particular pela sonsice patenteada por Tavares (ver o curto filme abaixo). Sobre isso do agora Livre, do BE e do PCP terem sido dirigidos no Parlamento Europeu por um consabido antigo informador da STASI, a temível polícia política da RDA, bem esmiuça Rui Rocha.

 

(Intervenção de Sérgio Sousa Pinto no "Grande Debate", 17.11.2020, RTP)

Mas ainda que a tal sonsice tavaresca tão mostrada possa irritar convém não esquecer uma outra coisa. É que a candidata presidencial Matias também faz parte deste pacote. Pois também ela se perfilou num grupo parlamentar capitaneado por um consabido esbirro. É, decerto, um excelente cartão de visita eleitoral.

Enfim, sobre as sempre reclamadas superioridades morais está tudo dito ...

O Historiador sem Memória

Rui Rocha, 19.11.20

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Lothar Bisky foi um político alemão tendo sido, nomeadamente, co-presidente do Die Linke.

Em 1995, foi revelada a sua atividade como informador da STASI, a polícia política da RDA.

A atividade de informador foi exercida, pelo menos, entre 1966 e 1970, sob o nome de código de Bienert e, após 1987, com o nome de Klaus Heine.

Nos ficheiros da STASI, Bisky foi classificado como “confiável”, o grau mais alto atribuído a um informador.

A ligação à STASI é do domínio público. Os dados que aqui refiro foram retirados diretamente da wikipedia.

E essa ligação foi o motivo pela qual Bisky foi derrotado quatro vezes quando se candidatou à vice-presidência do Bundestag no período entre 2005 e 2009.

Bisky foi deputado no Parlamento Europeu entre 2009 e 2013. Foi presidente do grupo da Esquerda Unitária até 2012.

É o mesmo grupo onde estão inscritos os eurodeputados do Bloco de Esquerda.

Rui Tavares pertenceu também a este grupo, coincidindo temporalmente o seu mandato com a liderança de Bisky.

Isto é, Bisky e Tavares foram colegas. Trabalharam juntos no mesmo grupo. Subscreveram documentos e manifestos. Partilharam reuniões, pausas para café, almoços, serões.

Tavares, como Louçã, Martins, Marisa, ou as Mortágua, conheciam bem Bisky e o seu passado.

Isso não os impediu de o convidarem, por exemplo, para a Convenção do Bloco de 2009, onde Tavares também esteve presente.

É esta a estatura moral e de cidadania desta gente.

Ao resto das característica do grupo, Tavares acrescenta a particularidade de ser sonso, negando conhecer aquilo que todos sabemos.

Será racismo? Será misoginia?

Pedro Correia, 31.01.20

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O Livre, que foi uma das grandes novidades eleitorais a 6 de Outubro de 2019, aliás celebrada com incontáveis expressões de exultação e júbilo, acaba de perder a sua única deputada na Assembleia da República: Joacine Katar Moreira manterá o lugar no hemiciclo, para o qual foi eleita com toda a legitimidade, mas já sem representar o partido.

A decisão foi tomada por 34 dos 41 membros do chamado Grupo de Contacto - o órgão directivo do Livre - e produz, como consequência imediata, o fim da representação parlamentar do partido, que abdica da deputada, eleita por Lisboa. Um sério revés para o primeiro agrupamento político português que adoptara a introdução de «quotas étnico-raciais» em listas eleitorais.

Subsistem legítimas dúvidas sobre a bondade desta decisão, não faltando quem considere que terá sido meticulosamente orquestrada por gente que recebeu mal a inesperada popularidade de uma deputada capaz de «introduzir diversidade» no Parlamento.

Pertencendo a doutora Katar Moreira, enquanto «presidenta», ao núcleo duro do Instituto da Mulher Negra em Portugal, assumida «entidade anti-racista e feminista interseccional» apostada no combate a quem ouse «retirar ao sujeito negro o lugar de multiplicidade», mais se enraíza em muita gente a convicção de que na origem deste expurgo estarão motivações de índole racista e sexista.

Não será indiferente a tais suspeitas o facto de o fundador do Livre ser homem, caucasiano e agora docente em Harvard - selecto viveiro da classe dominante norte-americana, reduto das elites capitalistas. Já dizia o outro: isto anda tudo ligado.

O maior no Portugal do Twitter

Pedro Correia, 10.10.15

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O Livre é um fenómeno. Partido recordista de menções nas redes sociais e nas arengas dos chamados opinion makers lisboetas, conseguiu mobilizar muitas caras conhecidas da pantalha em torno de um "projecto político" que se resumia à seguinte intenção: chegar ao Governo à boleia do PS.

Embalado neste nobre desígnio e na avassaladora onda de apoio que durante a campanha obteve no Twitter e no Facebook, o líder do Livre apressou-se na noite eleitoral a ser o primeiro dirigente a falar em directo ao País, imaginando-se já eleito. "Nós somos a novidade na política portuguesa e a candidatura do Livre/Tempo de Avançar será a novidade na próxima Assembleia da República", proclamou Rui Tavares, visivelmente empolgado com a sua própria oratória. Sempre com um generoso tempo de antena proporcionado pelas mesmíssimas televisões que ignoraram por completo o PAN, único dos pequenos partidos que conseguiu eleger um deputado.

Alguém deveria tê-lo advertido em tempo útil que existe uma regra de elementar prudência nestas ocasiões: os deputados só chegam a São Bento depois de contabilizados os votos.

O Portugal do Twitter nada tem a ver com o Portugal real.

 

Cheguei a pensar que este escrutínio que rendeu ao Livre a magnífica soma de 39 mil votos e uma percentagem de 0,72% a nível nacional funcionasse como um banho de humildade para Rui Tavares, o mais desconhecido dos políticos portugueses fora do eixo Chiado-Príncipe Real.

Mas não. Quatro dias após o escrutínio, ei-lo de novo embalado pelas ondas mediáticas, desta vez em entrevista ao diário i, mostrando não ter recolhido lição alguma daquele duche de água gelada que o levou a ser o quase-deputado de duração mais efémera da história das noites eleitorais portuguesas.

"Fomos vítimas do sucesso das nossas ideias", revelou nesta entrevista o dirigente máximo do minimalista Livre. Uma frase com ressonâncias churchillianas, digna de ombrear com o "sangue, suor e lágrimas".

 

Rendido ao magnetismo desta frase, corri em demanda do programa eleitoral do Livre, esse manancial de ideias que tanto despertam a cobiça alheia.

Fiquei logo a saber que resultou do "trabalho desenvolvido nos últimos seis meses por dez grupos temáticos, com cerca de 500 subscritores e os contributos on-line de muitos outros". Senti-me esmagado.

 

E o que li lá?

Estas originalíssimas dez ideias-chave, que faço questão em partilhar convosco, lamentando apenas fazê-lo num momento tão tardio:

- Devolver a política aos cidadãos, garantir direitos fundamentais [duas ideias numa frase só]

- Libertar o Estado da Captura Privada [mantenho as maiúsculas originais]

- Renegociar a dívida pública para recuperar [falta especificar o quê]

- Resgatar as pessoas e as empresas [falta especificar de quê]

- Acabar com a precariedade, dignificar o trabalho, proteger o emprego, garantir as pensões [quatro ideias numa frase só]

- Cumprir a Constituição no sistema fiscal: "uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza" [falta especificar se o resto da Constituição se cumpre]

- Redistribuir para combater as desigualdades sociais [falta especificar o que se redistribui]

- Melhorar os serviços públicos criando emprego [tudo a funcionar com funcionários]

- Apoiar o investimento e a criação de emprego nas micro, pequenas e médias empresas [discriminando as grandes]

- Apostar nos territórios e na economia local ["apostar nos territórios" será jogo limpo?]

 

Enfim rendido ao poder mobilizador de tão excelso ideário, não pude conter a minha indignação perante a injustiça de quem negou a Rui Tavares o ingresso na sala das sessões plenárias do Palácio de São Bento.

Ingratos eleitores, todos eles.

Incluindo eu.

Atirados borda fora.

Luís Menezes Leitão, 09.10.15

António Costa tinha uma estratégia que sempre achei absolutamente suicidária para o PS, mas que tinha alguma lógica política. A lógica passava pela repetição da velha FRS, uma ideia de Soares de abrir o PS à esquerda como contraponto à AD, sem, no entanto, fazer acordos com o PCP. António Costa imaginou assim fazer o PS apresentar-se a eleições com um discurso mais à esquerda, que seria apoiado por outros partidos de esquerda, mais colaborantes do que o Bloco e o PCP. Essa fórmula visaria dar ao PS uma imagem frentista que permitisse roubar algum voto aos habituais irredutíveis partidos da esquerda parlamentar, tradicionalmente incapazes de qualquer concessão ideológica a troco de lugares de governo.

 

É assim que surge o Livre de Rui Tavares, a partir de uma cisão do Bloco de Esquerda, que propugnava o apoio ao PS. O Livre chegou mesmo a ser convidado para os congressos do PS e, se tivesse eleito deputados, faria um grupo parlamentar totalmente alinhado com o PS, imitando a relação do PEV com o PCP.

 

Ao mesmo tempo, qual cereja em cima do bolo, o PS apoiaria um candidato presidencial que encabeçasse essa nova frente de esquerda. Sampaio da Nóvoa, com o seu discurso gongórico e o seu inexistente passado político, era a pessoa ideal para o efeito, podendo atrair as esquerdas desavindas e tapar o caminho a Marcelo. Foi assim que Sampaio da Nóvoa foi estimulado a avançar por António Costa, com o apoio de três anteriores presidentes da república e era convidado habitual em todas as sessões públicas organizadas pelo PS.

 

Esta estratégia era, no entanto, absolutamente assustadora para o eleitorado do centro, que nesse cenário iria obviamente apoiar a coligação, e nas presidenciais irá todo direitinho para Marcelo. E a verdade é que também foi ferozmente combatida pelos partidos à esquerda do PS. Catarina Martins encarregou-se de reduzir o LIvre a zero, e agora Jerónimo de Sousa, ao mesmo tempo que promete apoio a um governo PS, já apresentou um candidato presidencial próprio "para a primeira volta", o que reduz a nada as hipóteses de Sampaio da Nóvoa ser eleito. E o próprio PS mostrou que não se deixava arrastar desta maneira para o desastre, tendo surgido a candidatura de Maria de Belém, que obviamente tem muito mais hipóteses do que a de Nóvoa.

 

Perante isto António Costa esqueceu-se do apoio que deu ao Livre e a Sampaio da Nóvoa, avisando agora que vai dar liberdade de voto "na primeira volta", ao mesmo tempo que os próprios iniciais apoiantes de Nóvoa lhe dão indicações para desistir. Este, no entanto, parece que ainda não percebeu o que lhe aconteceu e deu ontem uma conferência de imprensa a avisar que não desiste, salientando que as eleições legislativas reforçaram a "urgência da candidatura" e apelando ao "compromisso histórico" com os partidos que ainda não tiveram oportunidade de formar governo, parecendo assim querer liderar uma coligação PS+PCP+BE. Só se estivesse tudo doido no PS é que os seus militantes alinhariam num disparate semelhante.

 

Neste momento António Costa só quer salvar a pele como líder do PS e já atirou pela borda fora Rui Tavares e Sampaio da Nóvoa. O Livre provavelmente irá acabar, estando hoje reduzido a fazer peditórios para pagar as despesas da campanha. Já Sampaio da Nóvoa está muito enganado se julga que vai a algum lado sem o apoio do PS. Alguém que lhe explique como é que vai acabar o filme em que deixou que o colocassem como actor principal. É que a história da sua candidatura arrisca-se a ser a triste demonstração de que a política é um campo minado, e que não vale a pena alguém que nada sabe de desminagem, nem sequer onde as minas estão, entrar nesse terreno. 

Grécia antiga (18)

Pedro Correia, 05.06.15

«Varoufakis é um dos poucos economistas a não encarar esta crise como um mero economista. Onde outros se limitam a proclamar as suas equações e a desconsiderar o resto, Varoufakis entende a necessidade política de procurar soluções que não dependam de fazer de conta que o eleitorado alemão não exista ou que os tratados europeus possam ser ignorados. Coisa rara num economista, não pretende sacrificar os empregos e prejudicar as vidas de milhões de pessoas só para provar que tem razão. (...) Varoufakis está do lado da civilização e, com as suas capacidades de ironia e persuasão, será capaz de convencer uns quantos colegas no Conselho Europeu. Para bem de todos nós esperemos que o consiga.»

Rui Tavares, no Público (28 de Janeiro de 2015)

Grécia antiga (5)

Pedro Correia, 19.05.15

«Os gregos abrem uma porta para a transformação das políticas da União Europeia no que diz respeito à dívida e à sua bravura. Os gregos abrem uma porta para a transformação das políticas da União Europeia no que diz respeito à dívida e à sua reestruturação, ao combate ao desemprego e à reconquista de possibilidades de desenvolvimento para os nossos países. A conferência europeia de credores e devedores que Alexis Tsipras, futuro primeiro-ministro grego, tem preconizado deve ser defendida pelas outras capitais europeias - a começar pelos governos de Portugal e Espanha, que devem também mudar durante este ano.»

Rui Tavares, no Público (26 de Janeiro de 2015)

Algo de novo à esquerda

André Couto, 18.11.13

Há um novo Partido à esquerda, o Livre.

Não sei se o Rui Tavares tem envergadura política para conseguir ocupar o espaço que reclama, um espaço cada vez mais vazio, fruto de um percurso errático do PS e da indisfarçável inconsequência do BE. Sozinho não conseguirá, mas não me surpreenderia que figuras com mais peso se juntassem nesta cruzada, vislumbrando-se, já, José Sá Fernandes e Joana Amaral Dias. Basta ver que a papoila, símbolo do Partido Livre, é o mesmo do Manifesto Para uma Esquerda Livre, onde participaram insuspeitas figuras, como testemunham os registos. Ao tempo, assinei esse Manifesto, por concordar com as suas premissas, mas a criação de um partido não era uma delas.
A verdade é que há espaço para um CDS à esquerda. Um Partido que radicalize o discurso com parcimónia, que proponha alternativas viáveis, que aponte caminhos e, acima de tudo, que não assobie para o lado chegado o tempo de governar. Sim, "governar" não pode assustar a esquerda além PS. Chamar-lhe-ão uma muleta do PS, talvez, mas se for para o pôr em sentido, influenciar positivamente a sua governação e ajudar na viabilização de soluções, a democracia e a governabilidade País sairão a ganhar. É por isso que a resposta a esta pergunta do David Dinis deve ser afirmativa: é um passo atrás, fomentando a divisão, sim, mas para criar possibilidades de união no futuro.