Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Já merece ser socialista honorário

Pedro Correia, 13.07.24

Rio.jfif

Rui Rio nunca desilude. Haveremos de encontrá-lo sempre ao lado dos socialistas. Durante o seu mandato como presidente do PSD, entre Fevereiro de 2018 e Julho de 2022, foi decisivo para várias vitórias eleitorais do PS ao poupar António Costa enquanto apontava baterias a alvos internos, sua obsessão permanente. Nas europeias de Maio de 2019, conduziu a agremiação laranja ao pior resultado de sempre: 21,9% (com os socialistas a recolherem 33,4%). Nas legislativas de Outubro de 2019, apenas conseguiu 27,8% dos votos (o PS com 36,4%). Nas legislativas de Janeiro de 2022, o PSD ficou-se pelos 29% (o partido da rosa triunfou com 41,4%, garantindo maioria absoluta). 

Na mesma linha, Rio não hesita agora em combater com denodo o Ministério Público - que há um ano o investiga por suspeitas da eventual prática dos crimes de peculato e abuso de poder - emparceirando com duas das mais incompetentes ministras do PS, Constança Urbano de Sousa e Maria de Lurdes Rodrigues. Espantosa coincidência: a três meses da nomeação do próximo Procurador-Geral da República - que procuram desde já condicionar, reduzindo a autonomia do Ministério Público - e do início do julgamento do famigerado "caso BES".

Se virmos um dia destes o ex-presidente do PSD de braço dado com o próprio José Sócrates, muitos de nós já nem abriremos a boca de espanto.

Quase merecia um prémio de socialista honorário: espero que não tarde muito. 

Não tem emenda

Legislativas 2024 (8)

Pedro Correia, 16.02.24

RR.jpg

Rui Rio estava sabiamente remetido ao silêncio há largos meses. Lembrou-se agora de falar: não para criticar o PS mas para propor um "pacto" entre o PSD e o PS. Em plena campanha eleitoral para as eleições legislativas de Março, quando o PSD estabeleceu como prioridade total desalojar o PS do poder que ocupa há mais de oito anos. Parece uma rábula do Ricardo Araújo Pereira.

Continua como antes: nada beneficiou com o retiro sabático. Não tem emenda.

Os segredos no telemóvel*

José Meireles Graça, 17.07.23

Quem acompanha, mesmo que distraidamente, a política americana, fica varado com a facilidade com que, por divergências políticas, se recorre aos tribunais, cujos juízes decidem alegremente pendências com base em maravalhas jurídicas, depois objecto, ou não, de recurso. Há muitos juízes que são eleitos, e outros, federais, nomeados pelo Presidente, desde que aprovados pelo Senado, além de vários regimes estaduais diferentes quanto à forma de escolher juízes. No ministério público a baralhada é igual – há eleitos e nomeados.

Isto ajuda a que a sociedade viva obcecada com questões jurídicas, as instituições penais sejam bárbaras, e os procuradores com frequência demagogos. E como a gravidade das penas é muitas vezes negociada entre a acusação e a defesa, ambas baseadas na probabilidade de sucesso das acusações, está composto o quadro da justiça criminal americana.

Os comentadores, se raivosamente alinhados de um lado ou outro da barricada, reclamam com facilidade a prisão de opositores em caso de suspeitas; e vemos, para gáudio de quem o odeia, que até mesmo um ex-presidente já está a sofrer tratos de polé, a ponto de se considerar como grande privilégio o não comparecer algemado em tribunal.

O sistema tem porém coisas boas, mas este artigo não é sobre isso, que de toda a maneira são lá coisas de gringos.

A América é o país líder do mundo livre; já veio duas vezes, no século passado, pôr ordem na Europa; e criou a aliança de defesa inicialmente contra a URSS, que sempre sustentou muito mais do que os restantes aliados. Esta aliança, a existência de um inimigo comum e de bombas atómicas dos dois lados, garantiram a paz aqui neste continente depois da II Guerra Mundial (há a lenda, propagandeada por europeístas frenéticos, de que foi a CEE e a UE – uma crença interesseira). E agora que se anda à batatada no extremo oriental, e se adivinha que a China poderá vir a ser, neste século, o inimigo da maneira ocidental de estar no mundo, é nos EUA que se confia para descalçar essas duas botas.

Por outro lado, algumas instituições americanas, entre as quais a liberdade económica e a de opinião (hoje crescentemente condicionada pelo movimento woke), foram a seu tempo pioneiras e continuam admiráveis; e a diversidade dos Estados, a facilidade com que a opinião pública evolui, a criatividade, o tamanho e o Poder, fazem com que de lá venham as modas – de pensamento e as outras.

É por isso que andamos de jeans e alguns (gente de gostos duvidosos, que abunda) bebem cola, começamos a estar obcecados com assuntos como o racismo e a igualdade de “género”, lhes lemos as publicações e ouvimos (quem ouve) as estrelas rock e tomamos partido entre uma desgraça como Trump e uma nulidade como Biden, para não falar daquelas personalidades apaixonantes que são o iluminado pateta Zuckerberg, o espalha-brasas Musk e cem outras luminárias.

Pois bem: Convinha perceber que importar sementes para as lançar a terra e clima diferentes é operação arriscada. E se uma pessoa na posse das suas faculdades lê esta notícia não pode deixar de achar que esta gente ou é burra ou enlouqueceu. Os juízes são independentes por inerência de função em regimes democráticos, nos quais tem de haver separação dos poderes. E os magistrados do MP são-no também, ainda que quanto a estes a mesma necessidade não exista e o arranjo encontrado, se dá garantias de independência em relação ao Governo do dia, não a dá quanto aos direitos dos cidadãos, e dentro destes os políticos.

Corja de ladrões, dirá destes últimos a opinião pública, essa grande rameira, que todavia não hesita em eleger partidos atolados em casos e casinhos. Sucede porém que, se a lógica não for uma batata, nos magistrados do MP se encontram as mesmas clivagens políticas que no resto da sociedade; e que confiar unicamente na consciência jurídica daqueles magistrados, num contexto em que uma investigação, se pública, queima uma reputação, e onde não há qualquer sanção para acusações que não se deduzem ou, deduzindo-se, não dão origem a condenações por aquelas estarem coxas por insuficiência de prova ou atropelos do Direito, parece, e é, um desequilíbrio sério.

Os juízes têm as decisões de instâncias superiores que lhes podem ridicularizar (na linguagem cifrada da seita) as sentenças, as inspecções, o Conselho Superior da Magistratura, eventualmente a opinião pública e o desprestígio que resulta de disparates, e a certeza de que lá onde não há a independência que os protege também não há, nem pode haver, sociedades democráticas. Os magistrados do M.P. têm o quê, ao certo? Eficiência não deve ser porque há processos que se arrastam anos sem fim, investigações espectaculares que resultam em nada, e uma discrição abusiva que consiste na publicidade a actos lesivos da honra e consideração das pessoas sem que se saiba quem foi ao certo o magistrado responsável pelos abusos e pelas argoladas, nem de que forma a sua carreira foi, se foi, prejudicada pelo asneirol.

É isto que querem os partidos? Que o MP vá meter o nariz na intromissão do Governo na gestão da TAP? Que se pronuncie sobre as insuficiências e enviesamentos do Relatório da Comissão? Que investigue a parte gaga da classificação de documentos como secretos?

De outro modo: Querem que o partido que ganhou as eleições, e a AR, sejam escrutinados por magistrados que não respondem perante ninguém, não se sabe sequer quem são, e não pagam nenhum preço, ao contrário dos políticos, por erros, atropelos e intolerável lentidão?

Esta notícia já seria suficiente para pôr os cabelos em pé de quem tem consciência da essencialidade dos partidos para a democracia, dos perigos da promiscuidade de funções e das paixões que se disfarçam em amor da legalidade.

Sucede que há dias a PJ mobilizou cerca de 100 inspectores e “peritos” (não, não pode ser verdade que sejam necessárias 100 pessoas pagas pelo erário público para realizar o trabalho de 2 ou três) para irem a casa de um ex-dirigente partidário procurar não se sabe bem o quê, ao que parece porque este autorizou uma prática discutível mas vulgar, e que consiste em assistentes dos grupos partidários trabalharem em casa (ou nas sedes partidárias) em vez de no edifício da AR.

Não tenho uma indevida simpatia pelas ideias da personagem, mormente as sobre Justiça, assunto em que, ao contrário de outros dirigentes, não hesita em dizer o que lhe vai na alma. Mas que sem indícios consistentes de apropriação ilícita pessoal de fundos públicos uma pessoa veja o domicílio invadido e tudo espiolhado, incluindo o pormenor grotesco da confiscação do telemóvel, releva pura e simplesmente de abuso de poder.

A populaça gosta, não duvido, a facção inimiga dentro do partido também, e os outros partidos nem se fala.

Triste gente. Que estão abrir uma porta americana que devia estar fechada. A justiça popular tem o defeito de não ser justiça. Já a Justiça, ela, deve ser exercida com imparcialidade em nome do Povo, não em nome da opinião pública, da publicada e das paixões.

*Publicado no Observador

O que se disse e escreveu há dez anos

Pedro Correia, 04.07.23

rui rio.jpg

 

«Há duas pessoas que têm um poder enorme dentro do PSD, assim de um dia para o outro: Rui Rio e Paulo Rangel.»

Ricardo Costa, SIC Notícias, 2 de Julho de 2013

 

«Passos Coelho não tem neste momento mão no PSD. (...) Estão criadas as condições para que a corrente crítica no PSD venha questionar a liderança. O PSD pode ter algum ganho se conseguir alterar a liderança do partido até às eleições. (...) Dentro do PSD há uma larga maioria que não está de acordo com a manutenção deste governo.»

Raquel Abecasis, TVI 24, 2 de Julho de 2013

 

«O Presidente da República deve chamar Rui Rio, que é uma pessoa prestigiada.»

José Gomes Ferreira, SIC, 3 de Julho de 2013

 

«Apostaria no Rui Rio, que tem estado a gerir a Câmara do Porto magistralmente e sai com um prestígio enorme como autarca. É uma hipótese [para primeiro-ministro].»

António Capucho, Rádio Renascença, 3 de Julho de 2013

O homem que perdeu a pressa

Pedro Correia, 30.03.22

rui-rio-diz-que-atitude-do-fc-porto-e-lamentavel-2

 

Rui Rio conduziu o PSD à segunda derrota em eleições legislativas, consumada a 30 de Janeiro. Entra para a história do partido, mas pela negativa. Nunca antes um presidente social-democrata tinha somado dois fracassos consecutivos em escrutínios para a Assembleia da República. António Costa bem pode agradecer-lhe.

Neste século, dois dos maiores desaires do partido em disputas eleitorais têm o nome e o rosto de Rui Rio. Que entre 2019 e 2022 conseguiu fazer recuar ainda mais o grupo parlamentar laranja: eram 79 deputados, passaram a 77, contabilizados enfim os votos dos portugueses inscritos no círculo da emigração na Europa. Outra trapalhada em que o ainda presidente do PSD se envolveu, atrasando quase dois meses a posse do novo governo e a entrada em funcionamento da nova legislatura. Para afinal ver o seu partido derrotado em toda a linha também aí: o PS ganhou um deputado extra neste círculo. Reforçando a maioria absoluta: tem 120 lugares no parlamento.

Mais 43 do que o PSD.

 

Outra trapalhada, sim, mas talvez não a última. Porque Rio resiste a assumir as consequências do imenso fracasso que foi o seu mandato na Rua de São Caetano à Lapa. Dois meses após a derrota, insiste em manter-se entrincheirado na sede em vez de ter saído logo, por iniciativa própria, honrando a ética da responsabilidade.

Pelo contrário, adiou o mais possível o processo de substituição, que será ainda mais demorado do que já foi a contagem dos votos da emigração e a instalação da legislatura em São Bento.

O PSD só irá a votos a 28 de Maio - mais dois meses de espera. Mas todo o processo de sucessão só ficará concluído em Julho, mês de férias. Permanecendo até lá com uma Direcção moribunda: faz que anda mas não anda, encalhada em definitivo. Enquanto o PP espanhol - parceiro do PSD no Partido Popular Europeu - viu o líder, Pablo Casado, demitir-se a 22 de Fevereiro e terá o seu sucessor, Alberto Nuñez Feijóo, eleito já neste fim-de-semana.

Apesar da penosa agonia do seu mandato, sobra ainda a Rio energia suficiente para ir distribuindo a sua gente pelos lugares que restam, transformando o provisório em definitivo. Quando o próximo líder enfim tomar posse, encontrará um presidente do grupo parlamentar escolhido pelo antecessor e representantes no Conselho de Estado designados pela mesma via. Um deles, provavelmente, o próprio Rio. 

 

Este homem que agora parece não ter pressa alguma é o mesmo que em Outubro anunciou a intenção de adiar as directas no partido porque havia que preparar sem demora as legislativas e foi ao Palácio de Belém comunicar ao Presidente que a nova Assembleia da República devia ser eleita logo a 9 de Janeiro. Alegando que os problemas no País eram prementes e exigiam não desperdiçar mais tempo.

Cada dia que passa com ele ainda no posto de comando, é mais um dia de descrédito para o PSD. E um dia adicional de satisfação para Costa, que ontem deve ter voltado a sorrir quando ouviu Rio dizer: «Eleva a própria qualidade da intervenção do parlamento. Prestigia o parlamento, revejo-me praticamente em tudo Referindo-se ao discurso inaugural de Augusto Santos Silva como presidente da Assembleia da República. O mesmo Santos Silva que em Dezembro lhe deu uma ensaboadela pública, recomendando-lhe «sentido de Estado».

A repreensão produziu efeito, como se vê. O respeitinho é muito bonito. 

Acrânio

jpt, 27.02.22

rio.jpg

Há alguns meses, em pleno período intra-pandémico, fui surpreendido ao tomar conhecimento de me ter sido instaurado um processo por difamação. Um antigo governante considerou-se ofendido pelo teor de um texto de blog e pelos epítetos que eu lhe dedicara. Os quais eu julgara não só fundamentados por uma cuidadosa descrição etnográfica da sua acção política como aceitáveis face à moral e jurisprudência correntes - entre tantos outros casos, que nem sequer são juridicamente invocados, recordo que o renomado Miguel Sousa Tavares chamou "palhaço" ao próprio Presidente da República em plena televisão, tendo sido inocentado, sendo que eu dissera algo menos em mero blog sobre alguém sem esse peso simbólico constitucionalmente consignado. Desprovido que estou de recursos financeiros e de arcaboiço moral para suportar uma longa batalha jurídica, e os presumíveis sucessivos recursos até Haia, remeti para as malvas os sacrossantos princípios e preferi aceitar a acusação. Tendo assim sido condenado a uma punção pecuniária, que me é pesada. E ainda a um período probatório que ainda decorre, e durante o qual se me torna particularmente periclitante não só a adjectivação pública como, implicitamente, a abrangência temática das reflexões. Escrevo assim, neste hóbi blogal, não só com os limites da minha ética e aquilo que presumo ser a (fluida) moral pública, mais ou menos balizada pela lei. Pois escrevo também para que não me lixem... 

Este longo preâmbulo, de teor pessoal, prende-se com a relativa homofonia que se me impôs ao ler as declarações de Rui Rio sobre as sanções europeias à Rússia. Este "acrânio" imediato que se me surgiu. Não quero ser processado, não quero ser chamado à liça em período probatório por de novo violentar o "bom nome" de político. Ou seja, não estou a dizer que o dr. Rui Rio nasceu sem crânio. Ou a apoucar a sua família, ascencente e descendente. Sua vizinhança. Seus colegas e correligionários. Ou a insinuar que o cidadão Rui Rio ou os seus próximos têm alguma deficiência, física ou mental. Estou apenas a explicitar - usando uma metáfora, convém sublinhar - que estas declarações são uma total acefalia política. 

Diante desta proclamação de Rio, convocando um extremo cuidado nas sanções europeias à Rússia, posso ainda perguntar - fundamentando a tal atrevida metáfora - o que é que o dr. Rui Rio propôs enquanto presidente do segundo partido português, dotado de forte representação no Parlamento Europeu, para fortalecer a política externa com instrumentos económicos? O que disse, o que induziu, o que promoveu? Que nós saibamos, nada. Limitou-se, decerto que impante, a navegar à vista. E agora, neste momento de enorme crise política, vem com este discurso disfarçado de "bom senso". Perfeitamente absurdo. Minando, e não só simbolicamente, uma desejável concertação interna e internacional face ao Estado e à sociedade russa.

Ao ler esta tropelia, proferida em tom seráfico, perguntei-me também como é possível estar este homem na presidência do PSD. Já nem questiono o ter lá estado, mas a sua continuidade neste presente. Em que estado cataléptico está o segundo partido do país para ter este medíocre presidente - o qual já reconheceu "não estar ali a fazer nada". A democracia multipartidária faz-se de partidos, e torna-se necessário - goste-se ou não de cada um deles - que haja qualidade, intelectual e ética, nos seus dirigentes. E esta visão acrânica sobre a guerra na Ucrânia é uma vergonha para o PSD e uma desgraça para o país. Por menos relevante, em termos mundiais, que seja a opinião do dirigente do segundo partido de Portugal. 

O PSD que se cuide e afaste, quanto antes, este seu presidente. Vácuo, de pomposo auto-convencimento.

(Até porque há mais mundo do que o manjar da regionalização).

Contrastes

Pedro Correia, 14.02.22

Um ano a escrever sobre Rio

Pedro Correia, 03.02.22

42727570_35429217.jpg

 

6 de Janeiro de 2021: «A luta continua. A derrota é certa.»

 

4 de Fevereiro de 2021: «Quanto mais me bates, mais gosto de ti - parece suplicar Rio a Costa. Falando ontem aos jornalistas, nos Passos Perdidos da Assembleia da República, o presidente do PSD voltou a fazer um panegírico do seu suposto adversário: parecia falar mais como assessor do chefe do Governo do que como dirigente da oposição.»

 

11 de Fevereiro de 2021: «Os socialistas têm muitos motivos de preocupação. Mas com Rio ainda à frente do PSD ninguém no partido do punho fechado padece de insónias: este "opositor" é o sonho de qualquer governo.»

 

19 de Fevereiro de 2021: «Nunca me lembro de ver o alegado "líder da oposição" chamar incompetente a algum ministro - muito menos ao primeiro-ministro, a quem faz vénias sucessivas, recebendo só desprezo como troco. Toda a energia anímica do antigo alcaide do Porto concentra-se na guerra aos próprios companheiros de partido.»

 

17 de Março de 2021: «A sessão pública de ontem, em que Rui Rio e Rodrigues dos Santos (outrora conhecido por "Chicão") anunciaram uma plataforma comum para as autárquicas, tinha uma atmosfera menos animadora do que muitos funerais. Com um a falar em alhos e o outro a falar em bugalhos. Sintonia zero. Nem podia ser de outra maneira: é uma soma de derrotados.»

 

26 de Abril de 2021: «Diga o que disser, seja em que data for, não acerta uma.»

 

19 de Julho de 2021: «Esta ausência de alternativa a António Costa já não é só um problema do PSD: é um problema do País.»

 

31 de Julho de 2021: «Temo que ao fim de quase quatro anos de "liderança" no PSD já ninguém desperdice tempo, energia e paciência para lhe ensinar como se faz oposição. Tarefa irremediavelmente condenada ao fracasso.»

 

27 de Outubro de 2021: «Na semana passada, Rui Rio surgiu duas vezes em directo. Com 24 horas de intervalo. Nunca para fazer marcação cerrada ao Governo, mas para visar alvos internos. Nisto, nada de novo: as declarações mais duras do actual presidente laranja foram sempre dirigidas a figuras do próprio partido.»

 

1 de Novembro de 2021: «Em entrevista à SIC, na sexta-feira, Rio insistiu na mesma tecla: legislativas já a 9 de Janeiro. Ou, o mais tardar, no dia 16. Sabe que isso favorece os socialistas, mas só surpreende os incautos: os seus quase quatro anos de desempenho à frente do PSD demonstram que, com ele, Costa pode permanecer descansado.»

 

5 de Novembro de 2021: «Extraordinário: ao longo de mais de meia hora, o presidente do PSD não fez qualquer crítica ao Governo. Nem uma para amostra. Zero total. A maior evidência de que estamos mergulhados num pântano é precisamente esta. Oxalá seja possível encontrar uma saída.»

 

28 de Novembro de 2021: «O homem que em 2008 não se sentiu suficientemente "picado" para concorrer à liderança social-democrata no auge do poder socrático e em 2019 perdeu por larga margem as legislativas contra o PS de Costa vai certamente guardar outra garrafa de champanhe - desta vez para celebrar nas eleições de 30 de Janeiro a nível nacional. Pode ser que vença, mesmo saindo derrotado.»

Quatro vezes derrotado

Pedro Correia, 02.02.22

image.jpg

 

Perdeu as europeias de 26 de Maio de 2019, com a mais baixa percentagem de que há memória para o partido. Perdeu o escrutínio legislativo de 6 de Outubro de 2019, com um dos piores resultados de sempre para o PSD. Perdeu as autárquicas de 26 de Setembro de 2021, com metade das presidências de câmara do PS. Acaba de perder a eleição legislativa de 30 de Janeiro, numa campanha em que se destacou por apresentar aos portugueses o seu gato Zé Albino, como se nada houvesse de relevante a debater no País.

É um coleccionador de derrotas: quatro anos a acumulá-las.

Na noite eleitoral, numa das intervenções mais patéticas de que me recordo, começou a falar alemão para evitar uma pergunta incómoda, congratulou-se por esta desastrada campanha do seu partido não ter gerado prejuízo financeiro e permitiu que os seus acólitos vaiassem os jornalistas ali presentes como adeptos a xingar o árbitro num estádio de futebol.

Talvez tudo isto possa ser resumido numa palavra: deprimente.

Sem programa eleitoral

Pedro Correia, 07.01.22

rr_belem_15out.2021.jpg

 

No processo de consultas efectuado pelo Chefe do Estado após o anúncio da dissolução da Assembleia da República, Rui Rio revelou-se o líder partidário mais cheio de pressa, ultrapassando os restantes.

Foi ao Palácio de Belém reivindicar eleições legislativas para 9 de Janeiro, invocando o interesse nacional. Um cenário que remeteria o início da campanha eleitoral para a semana entre o Natal e o Ano Novo, além de inviabilizar a realização dos debates televisivos agora em curso.

Uma sua vice-presidente no PSD foi ao ponto de insultar Marcelo Rebelo de Sousa argumentando que o Chefe do Estado iria definir o calendário eleitoral para «seguramente favorecer Paulo Rangel». Não fez a coisa por menos. 

Marcelo, sem se deixar pressionar por esta absurda estridência da entourage de Rio, marcou as legislativas para 30 de Janeiro. Ninguém hoje contesta essa data. Ninguém hoje ousa afirmar que é demasiado tardia.

Espantosamente, neste início da manhã de 7 de Janeiro, o PSD ainda nem sequer apresentou o seu programa eleitoral. Tem aparecido nos debates televisivos com este documento escondido numa gaveta qualquer.

É assim que o "principal partido da oposição" se mostra aos portugueses: sem propostas, sem ideias, sem programa, sem o trabalho de casa feito. A 48 horas da data que inicialmente exigia para todos irmos a votos. 

Por mim, fico esclarecido. Sobre a competência, a responsabilidade e a argúcia política de quem dirige este partido. 

Prisão Perpétua?

jpt, 04.01.22

220103_Vemtura-Rio-1600x952.jpg

(Debate entre Rui Rio e André Ventura, Sic, 3.1.2022)

Vai uma grande discussão sobre a prisão perpétua (para pedófilos), como se fosse essa uma questão realmente importante no país ("full house" para Ventura). Costa e o PS surgem hoje (claro) a bater em Rio - no debate com Ventura - por este ter aberto a porta à reintrodução dessa pena. O PSD clama que é uma manipulação e Rio, no seu típico sarcasmo de twitter, diz que o acusarão de defensor da burka.
 
Sem rodeios, o PS não desenvolve o país e é urgente que saia do poder. E a questão da prisão perpétua é patética. Mas isso não conta neste assunto, e para tal basta (re)ver o debate: a partir dos 7'54'' Rio fala da questão. Diz que há 3 modalidades (inexistência, existência absoluta, perpetuidade ponderada a posteriori, "mitigada" como ele chama). A partir dos 8'29'' diz explicitamente: "Se nós estamos a falar da prisão perpétua ponto final parágrafo, vai para a cadeia nunca mais sai de lá até ao fim da vida isso nós somos contra...".
 
Disto retiram-se três conclusões, óbvias para quem não seja estúpido ou aldrabão:
 
1 - Rio diz que "se" for esta opção maximalista ele (e o seu partido) estão contra, o que implica que há uma outra opção de perpetuidade penal (a tal "mitigada") que aceitam - se não fosse isso não teria qualquer sentido a sua construção discursiva;
 
2 - Clara de Sousa demonstra ser manifestamente incompetente como moderadora pois interrompe-o (no meio de uma explanação que irá levantar imensa celeuma, e convocar a desculpabilizadora falácia da "falta de clareza") devido a um mero motivo de "equilibrar os tempos". É um momento abissal na carreira de uma jornalista televisiva, por mais simpática que ela me (nos) possa ser.
 
3 - As proclamações que hoje Rio e o PSD vêm fazer sobre o assunto, negando a aceitação da admissibilidade da prisão perpétua ("mitigada"), são um vil e rasteiro aldrabismo.
 
Em suma, para mudar que seja para melhor. E não será com isto.

Calma e ponderação

Cristina Torrão, 04.01.22

Sei que vou de novo provocar a ira de comentadores habituais do Delito. Mas não me importo. O problema é deles, não é meu. Penso pela minha própria cabeça, tenho os meus princípios e as minhas convicções e não prescindo deles para agradar seja a quem for.

Depois do debate de ontem entre Rui Rio e André Ventura (que não vi, mas baseio-me no artigo aqui linkado), o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, acusou o líder do PSD de ceder ao populismo ao “negociar em direto e ao vivo” com o líder do partido Chega, André Ventura, admitindo até “ceder na proibição da prisão perpétua”.

Ora, lendo o artigo em questão, constatamos que isto é um verdadeiro exagero, roça mesmo a calúnia, já que o presidente do PSD rejeitou hoje qualquer coligação de Governo com o Chega, que considerou “um partido instável”. E, mesmo na questão da prisão perpétua, Rui Rio fez questão de separar os vários regimes de prisão perpétua que existem - citando o exemplo da Alemanha em que este tipo de pena é revisto ao fim de 15 anos sob forma de liberdade condicional - e afastando-se daqueles em que alguém pode ser preso por toda a vida.

Na minha opinião, Rui Rio esteve bem nestas declarações, mas deve ser ainda mais assertivo na sua rejeição a qualquer tipo de acordo com o Chega. Denominá-lo de partido instável é insuficiente! Ele tem de deixar claro que o Chega não é um partido aceitável, na nossa democracia, não dando azo a especulações como as feitas por José Luís Carneiro.

Também deve, por isso, resistir a qualquer tentativa de sedução por parte do líder cheguista, que diz estar disponível para “conversar” para afastar António Costa, embora insistindo numa presença no executivo. “Ninguém vota no Chega para ser muleta do PSD, para nós é preciso conversar para haver um Governo que afaste António Costa, o Chega está disponível para conversar no pós 30 de janeiro”. E não ligar a provocações do tipo: com o líder do Chega a acusar o presidente do PSD de querer ser “o vice-primeiro-ministro de António Costa”.

Demonizar António Costa é uma radicalização bem ao jeito do líder da extrema-direita. Não seria, porém, digno de um candidato a Primeiro-Ministro, seria mesmo um grande erro, que lhe custaria votos essenciais. Afastaria eleitores indecisos, alguns que até já terão votado PS e que pensarão: "Costa até nem foi tão mau quanto isso, o melhor mesmo é deixá-lo continuar, em vez de ir o Ventura para o poder". Mas há outro aspecto que convém não ignorar: demonizar Costa é dar-lhe uma auréola de mártir. E, havendo pessoas que adoram mártires, lá fica o homem apetecível a muitos outros eleitores indecisos.

Esperemos que Rui Rio não ceda aos olhos de carneiro mal morto de Ventura, nem se deixe provocar pelas suas acusações. Desejo-lhe muita calma e ponderação!

 

Adenda: sendo as eleições a 30 de Janeiro, penso que vai sendo altura de nós emigrantes recebermos os boletins para a votação postal. Espero que não se repitam os erros de outros anos, em que os boletins são enviados tarde demais, ou nem chegam a ser enviados. Depois, acusem-nos de não ligarmos às eleições portuguesas!

«Preparadíssimo para ser primeiro-ministro»

Rui Rio

Pedro Correia, 08.12.21

img_440x274$2021_08_05_12_05_33_409812.jpg

 

A História, com agá maiúsculo, escreve-se muitas vezes a partir de minúsculos pormenores. Regressemos por momentos a 2008: José Sócrates, com maioria absoluta, estava no auge do seu consulado. O PSD ficou órfão de líder, como tantas vezes tem acontecido. Todos os olhares se viraram para o Porto: ousaria Rui Rio descer à capital para tomar conta do partido que tanto parecia desejá-lo?

Hesitou, chegou a alimentar expectativas, mas a resposta foi negativa. A pretexto de completar o mandato na Câmara do Porto, onde estava desde 2001, decidiu ficar por lá. Avançou então Manuela Ferreira Leite, como solução de recurso. Sabemos o que sucedeu nas legislativas de 2009: nova maioria do PS, embora sem maioria absoluta.

Sem aquela hesitação, talvez o país tivesse sido poupado a dois anos suplementares de socialismo em versão socrática. Talvez Passos Coelho jamais tivesse ascendido à liderança do PSD. Talvez a geringonça de António Costa continuasse a ser mero exercício especulativo sem aplicação prática.

Mas Rui Fernando da Silva Rio, à época com 51 anos, recusou montar o cavalo do poder. Talvez por não sentir o menor fascínio por Lisboa, onde se manteve como deputado durante a década de 90 e foi efémero secretário-geral do PSD, com Marcelo Rebelo de Sousa na liderança. Desentenderam-se. Há quem jure que as relações entre ambos nunca voltaram a ser as mesmas.

 

Os tempos são outros: com um em Belém, o outro aspira à chefia do Governo e os seus mais próximos garantem que está «preparadíssimo para ser primeiro-ministro». A hesitação anterior forçou-o a aguardar quase cinco anos entre o fim do mandato autárquico e a corrida à sucessão de Passos. Lidera desde Janeiro de 2018 um partido que com ele ao leme mantém o segundo posto em todas as sondagens.

Rio milita desde os 18 anos, conhece as hostes sociais-democratas como poucos e sabe falar para as bases envelhecidas e rarefeitas. Superou três adversários sucessivos – Santana Lopes, Luís Montenegro, agora Paulo Rangel. Na mais recente eleição interna – que venceu por 1746 votos num escrutínio com 36 mil votantes – acenou ao povo laranjinha com aquilo que ele mais queria ouvir: a perspectiva de um regresso rápido do PSD ao poder. Se tiver de ser com o PS, que seja.

Nos quatro anos mais recentes, aliás, já houve sintonia entre os dois partidos em questões tão diversas como o fim dos debates quinzenais no parlamento, a imposição do mandato único à Procuradora-Geral da República, o condicionamento das ordens profissionais, as nomeações políticas para as comissões de coordenação e desenvolvimento regional e a flexibilização das regras da contratação pública, só para citar alguns exemplos.

É mais fácil imaginar Rio como hipotético vencedor das legislativas de 2009 contra um Sócrates já enfraquecido do que a conseguir o triunfo nas urnas a 30 de Janeiro. Mas a política, imitando a vida, é feita de mil surpresas. Para vencer, o primeiro requisito básico é estar no sítio certo à hora que o destino marca e a vontade dos eleitores impõe. O resto são cenários. E dos cenários não reza a História.

 

Texto publicado no semanário Novo

Nada muda para que tudo mude

Pedro Correia, 28.11.21

image.jpg

Foto: José Coelho / Lusa

 

Na noite em que desperdiça a enésima oportunidade de pugnar pela unidade do PSD optando por disparar contra dirigentes distritais e concelhios após novo triunfo tangencial para a presidência do partido em eleições internas que não desejou nem convocou, Rui Rio abriu uma garrafa de champanhe. É caso para isso, na óptica de quem nele apostou. Os laranjinhas estão mais perto de concretizarem o desígnio que o líder vem acalentando há quatro anos: regressar ao poder, agora de braço dado com o PS. António Costa é potencial aliado, não adversário - daí as palavras cautelosas que Rio sempre utiliza quando alude ao primeiro-ministro. O mesmo que durante estes quatro anos o desprezou com desdém olímpico.

O PSD é partido com vocação para o exercício do poder - e este impulso prevalece sobre qualquer outro, como demonstra o escrutínio de ontem, em que participaram 36 mil militantes, com o presidente em funções a vencer por uma diferença de 1700 votos. Teve 52%, contra os 48% de Paulo Rangel. Em Janeiro de 2018 vencera Santana Lopes com 54%. Em Janeiro de 2020 vencera Luís Montenegro com 53%. Agora diminui um pouco mais a margem do triunfo, parecendo satisfeito por liderar meio partido. Quem o conhece bem diz que só assim se sente «picado» - e apenas picado salta com espírito guerreiro para o recinto de luta.

O homem que em 2008 não se sentiu suficientemente «picado» para concorrer à liderança social-democrata no auge do poder socrático e em 2019 perdeu por larga margem as legislativas contra o PS de Costa vai certamente guardar outra garrafa de champanhe - desta vez para celebrar nas eleições de 30 de Janeiro a nível nacional. Pode ser que vença, mesmo saindo derrotado. 

Rangel foi perdendo firmeza e segurança à medida que se escoavam as escassas semanas de campanha contra um adversário que sempre recusou enfrentá-lo cara-a-cara e classificava esta pugna interna de «balbúrdia»«tempo perdido». Tanto quanto me recordo, foi a primeira vez que algo semelhante sucedeu no PSD: um líder rejeitar o debate com um companheiro de partido. Talvez aqui tenha funcionado a lógica adoptada há um ano pelo grupo parlamentar social-democrata quando tomou a iniciativa de propor o fim dos debates quinzenais no parlamento com o primeiro-ministro: havia que «deixá-lo trabalhar».

Não se abre novo ciclo: vai prosseguir o anterior. Nada muda para que tudo mude - era este o lema de Don Fabrizio Corbera, Príncipe de Salina. Um homem que se desligava das paixões terrenas contemplando os astros. Questiono-me em quem votaria se vivesse neste Portugal de 2021.

A chico-espertice como método

João Sousa, 26.11.21

Um apoiante de Rui Rio (ou talvez um funcionário do call-center ao qual Rio delegou a sua campanha?) achou por bem criar um perfil no Facebook, supostamente de Passos Coelho, onde este expressaria o seu apoio em Rui Rio. Passos Coelho já veio a público declarar não ter nada a ver com o assunto. A maior ironia é que Rui Rio foi muito mais esforçado na sua oposição ao governo de Passos Coelho do que alguma vez foi na oposição (qual oposição?) ao governo de Costa.

Rio Strikes Again

jpt, 21.11.21

rrpr.jpg

Ontem almocei uma magnífico cozido à portuguesa, emanado das mãos de mago de um grande amigo. Éramos seis à mesa. Acoplados à prolongada e cuidada mastigação vários assuntos vieram à baila, alguns deles relevantes para todos nós, alguns outros nem tanto. Apesar da máscula companhia não foram abordadas "questões de saias", de negócios ou de futebóis. Mas apesar da vigência desses implícitos critérios  convivenciais aflorou-se um pouco a outra questão sempre aziaga, isso da coisa pública, tendo sido abordada a actual necrose da geringonça e os paliativos que urgem. E nesse âmbito, ainda que à mesa inexistissem militantes ou até meros eleitores do PSD, urdiram-se argumentos sobre a actual contenda social-democrata e proferiram-se preferências sobre os assuntos internos daquela agremiação.

E nisso ouvi algumas vozes, nada esquerdistas, defendendo, ainda que com pouco ênfase, a preferência pela continuidade de Rio. Pois homem sério e decidido, e com o património pessoal de ter presidido à câmara do Porto com sucesso. Sobre a matéria nada ajuizei, não só porque me sinto excêntrico ao debate mas, acima de tudo, devido à já referida excelência do repasto, que muito monopolizava a minha atenção - acompanhado de um adequado tinto "Cara a Cara", robusto o q.b. para este tipo de comezaina e suave o necessário no seu custo.

Hoje à noite, após a derrota do United diante do Ranieri, da grande vitória tangencial, conseguida in extremis, da Inglaterra sobre os Springboks, e enquanto via pela primeira - e decerto que última - vez o pastelão insuportável "Blade Runner 2049", jantei uma feijoada de coelho caseira, daquelas de trás da orelha, coadjuvada por um não muito excitante tinto "Guarda Rios" - o qual, verdade seja dita, se justifica por se apresentar ao consumidor sob um preço que o torna apetecível. Após esta labuta recolhi aos aposentos para o sono do justo, antecedido por uma breve excursão pelos jornais desportivos, em azáfama de fim-de-semana.

E é neste entretanto, na diagonal sobre a imprensa, que reparo ter o presidente do PSD - o qual há dias anunciara não realizar campanha para as eleições internas do seu partido - lançado mais esta farpa ao seu competidor. Ou seja, anunciou ao país que o seu concorrente almeja o poder para distribuir postos estatais pelos amigalhaços e apoiantes. E também, como é óbvio, explicita-nos que o seu partido tem imensas dinâmicas que querem o mesmo, tanto que catapultaram este seu concorrente, prenhe dos tais ímpios desígnios, como hipótese viável para presidente do PSD.

Dou uma gargalhada, adio o leito, sirvo-me de um dedal do "Queen Margot", boto o postal. Apenas para avisar os meus convivas do repasto da véspera. Pode Rio ter as características e o passado que lhe reconhecem. Mas, aqui entre nós, que ninguém nos ouve, vai agora sem qualquer tino. Pois isto não é coisa que um  homem na sua posição possa dizer de um correligionário concorrente. Mesmo que seja verdade...

Esquerda, direita

Pedro Correia, 16.11.21

Um partido espanhol recém-surgido, denominado España Vaciada (EV), já figura nas sondagens. Promete ser o representante dos esquecidos e negligenciados nas províncias mais pobres e despovoadas do país vizinho. Começando a alarmar os estados-maiores das principais forças políticas. Segundo uma recente pesquisa de opinião, poderá roubar seis deputados ao PP e cinco ao PSOE, conseguindo 15 representantes no parlamento.

Isto confirma que a política está em permanente mudança nos dias que vão correndo. Partidos como o EV - prefigurados no Teruel Existe, que já elegeu um deputado nas anteriores legislativas afirmando-se representante da Espanha profunda - não são de esquerda nem de direita. 

Aliás o que significam hoje a esquerda e a direita na política? Onde se situam Rui Rio, hipotético chefe da "direita", que vota a favor da legalização da eutanásia na Assembleia da República, e Jerónimo de Sousa, suposto representante da "esquerda", que vota contra a mesma iniciativa legislativa? Lamento decepcionar os cultores de etiquetas, mas esses conceitos geométricos ficaram lá para trás.