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Delito de Opinião

Final do Mundial de Rugby

Paulo Sousa, 27.10.23

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Amanhã será disputada a tão esperada final entre a Africa do Sul, campeã em título e a Nova Zelândia, que conquistou os dois títulos mundiais anteriores.

Hoje às 20:00, a Argentina e a Inglaterra, disputarão o 3º e 4º lugar, repetindo um jogo da fase de grupos em que os britânicos venceram por 27-10.

Agora é fácil de dizer que a África do Sul e a Nova Zelândia são de facto as duas melhores equipas que se apresentaram no torneio, mas não podemos esquecer a França, anfitriã e se apresentou com uma das melhores equipas das últimas décadas, nem a Irlanda que desde meados de 2022 ocupava o primeiro lugar do ranking mundial. No caminho até a este primeiro lugar do ranking, a Irlanda conseguiu em 2016, após 29 jogos disputados ao longo de 111 anos, vencer pela primeira vez os All Blacks. Desta vez os irlandeses foram derrotados, e mais uma vez nos quartos de final (já lhe chamam uma maldição), por 24-28 pelos mesmos neo-zelandeses.

Tal como a Irlanda, a França ficou-se pelos quartos de final, após uma derrota pela diferença mínima de 28-29 frente aos Springboks sul-africanos.

No jogo das meias-finais de sábado passado com a África do Sul, a Inglaterra, com o seu jogo extremamente táctico e pouco entusiasmante, conseguiu estar em vantagem todo o jogo, tendo sido derrotada pela margem mínima (15-16) nos últimos instantes do jogo.

Para amanhã é impossível antever o resultado. A Nova Zelândia, já não tem os jogadores que conseguiram estar quase 15 anos ininterruptos em primeiro lugar do ranking e que a todo o momento conseguiam faziam jogadas impossíveis, e que às vezes até parecia que se apagassem as luzes do estádio, eles continuariam a correr à mesma velocidade, sem nunca falharem um passe. Dessa incrível leva de jogadores, o único que resta é o Sam Whitelock que jogará hoje a sua terceira final do campeonato do mundo.

A África do Sul, capitaneada pela primeira vez na sua história por um negro, Siya Kolisi, que pertence ao grupo étnico dos Xhosa, é uma equipa muito sólida, que gosta de contacto e é tacticamente muito evoluída. A final de amanhã será um jogo memorável.

Portugal no Mundial de Rugby

Paulo Sousa, 26.10.23

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Em Novembro do ano passado postei aqui sobre o nosso apuramento para o Mundial de Rugby. No próximo sábado será disputada a tão esperada final entre a Africa do Sul, campeã em título e a Nova Zelândia, que conquistou os dois títulos mundiais anteriores.

Mas antes de escrever sobre o torneio que terminará nesse jogo, importa sublinhar a participação portuguesa neste mundial.

Poderia começar pelos números. Entramos neste torneio em 16º lugar no ranking mundial e chegamos ao seu final em 13º, que é a nossa melhor classificação de sempre. Apesar destes números traduzirem uma excelente participação da equipa dos Lobos, não traduzem o encanto que a equipa portuguesa causou no mundo do rugby. Além do fino recorte técnico da leva de jogadores que o técnico francês, Patrice Lagisquet, conseguiu reunir, o público que acompanhou o mundial, apreciou acima de tudo a atitude da equipa.

No primeiro jogo com o País de Gales, conseguimos um ensaio numa jogada preparada para surpreender, mas acusamos o desequilíbrio de ter de jogar com um jogador a menos e sem ter conseguido tirar partido de quando aconteceu o contrário. O nível competitivo dos galeses, que pertencem à elite do rugby mundial, não permitiu irmos além dos 28-8.

A intenção assumida desde o início da competição de conseguir a primeira vitória de sempre num mundial, parecia ser mais acessível no segundo jogo, com a Geórgia, que é nosso adversário habitual na segunda divisão do Rugby europeu, o Rugby Europe Championship. À excepção dos empates de 2009 e de 2022, todos os outros jogos foram favoráveis aos georgianos, mas mesmo assim a mensagem era clara, aquele jogo era para fazer história.

A vantagem inicial esteve do lado da equipa dos lelos, mas o jogo chegou aos últimos instantes rigorosamente empatado com dois ensaios, uma conversão e uma penalidade para cada equipa. Mesmo ao terminar, aos 81 minutos, Samuel Marques tem a oportunidade de assinar a vitória com um pontapé aos postes. A pressão ficou toda sobre o formação dos Lobos num momento que em tudo fazia lembrar o histórico apuramento para o mundial, já nos descontos no jogo com os EUA. Desta vez a responsabilidade do pontapé ficou a cargo do nosso número 15, Nuno Sousa Guedes, que não foi feliz no remate tendo assim o jogo terminou no único empate do torneio, o que ainda assim permitiu que facturássemos os nossos primeiros dois pontos num mundial de rugby.

O nosso terceiro jogo foi com a Austrália, equipa que já levantou duas vezes a taça Webb Ellis. Quando chegamos a este jogo, os australianos já tinham sido derrotados pelos galeses e pelo fijianos. A equipa green and gold, muito jovem, mostrava pouca confiança e os seus apoiantes estavam poucos confortáveis. Antes do jogo, os lobos, mesmo sabendo da improbabilidade teórica de saírem vitoriosos, não se encolheram, assumiram que queriam surpreender e aos quinze minutos ganhávamos por 7-3 com um ensaio de Pedro Bettencourt. Logo após a glória deste ensaio, o segundo centro da equipa portuguesa viu um cartão amarelo e foi dez minutos para o “banco do pecado”. Neste período de tempo, com um a menos na equipa, os lobos não conseguiram manter a toada com que tinham começado o jogo e sofreram três ensaios. Depois disso, ainda conseguimos mais um ensaio, mas no final do jogo o resultado foi 34-14. Para a história fica também uma formação ordenada, uma mélé, em que os Wallabies foram empurrados sem qualquer consideração pelos nossos avançados quase até ao hemisfério sul. Uma maravilha.

Para o final da nossa participação aguardava-nos o confronto com a equipa das Fiji. A genética dos jogadores do Pacífico sul parece ter sido forjada pelos deuses do rugby. O seu porte e o gosto que têm de ir ao contacto, fazem deles um adversário muito respeitado e até temido. No seu historial tem grandes vitórias, como a que tinham conseguido recentemente com a Austrália, mas também são conhecidos por sofrerem derrotas improváveis, tal como que tinha acontecido no último mundial, frente ao Uruguai. O treinador dos lobos já tinha dito que as Fiji eram capazes do melhor, conseguiram por exemplo a primeira medalha de ouro olímpico em Rugby de Sevens, mas também tinham dias maus. Por não saber com qual destas duas versões iriam jogar, tudo era possível. E este jogo foi realmente a coroa de glória da nossa participação neste mundial.

Ao impacto quase brutal do jogo físico das Fiji, Portugal encaixou os embates e respondeu com a melhor arma que tinha, a magia dos seus três quartos, jogando aberto, com a bola viva, conseguindo assim fazer três ensaios contra dois. A reviravolta no resultado a nosso favor deu-se nos últimos minutos e levou a que, além de histórico, este tenha sido um jogo extremamente emocionante.

Graças a estes resultados falou-se de rugby nos media portugueses. Os Xutos e Pontapés criaram um tema dedicado à selecção e, tal como em 2007, após este mundial é previsível um aumento do número de praticantes.

Para o futuro fica a dúvida se esta participação resultou de uma epifenómeno ligado ao que podemos chamar de uma geração de ouro, que já em 2017 nos sub-20 tinha chegado a uma final do Troféu Mundial, ou se podemos contar com presenças mais regulares no mais elevado palco do Rugby mundial. O futuro do rugby português começou no dia seguinte a este jogo. A bola oval está agora não mão dos clubes e da federação. O que é que deve ser feito para alargar a base da pirâmide de recrutamento? Vai ser possivel reduzir a concertração geográfica das equipas mais competitivas?

Um off-load na Armada

Paulo Sousa, 20.03.23

Para quem está familiarizado com o Rugby (perdoem-me a o uso da palavra no formato original) conhecerá o movimento de passe de bola designado por off-load. Desconheço se existe alguma tentativa de tradução desta expressão, mas, linguística à parte, consiste num passe feito por um jogador que não consegue evitar ser placado e, sacrificando a sua progressão, num esforço derradeiro consegue deixar a bola jogável para um companheiro. Uma imagem vale mais que mil palavras e convido quem desconheça o conceito a ver estes exemplos.

A essência do off-load resume-se ao momento em que o passe é feito. Se for demasiado cedo, o defesa mudará imediatamente o seu enfoque para o jogador que a recebeu. Se for feito no momento certo, o jogador que o faz disponibiliza-se para ser placado deixando assim que a bola continue a circular na posse da sua equipa. Por isso, um off-load bem feito exige generosidade e capacidade de sacrifício pela equipa.

Vem isto ao assunto na sequência do recente caso do NRP Mondego.

Sem acesso a informação para além daquela que me passou pelos écrans, aos poucos apercebi-me que estava a assistir a uma metáfora de um off-load na vida militar.

Melhor do que qualquer civil, os militares, mais ou menos garbosos, conhecem o peso da disciplina que os rege. Por isso é óbvio que os treze marinheiros que decidiram não cumprir as ordens recebidas conheciam as consequências dos seus actos. Sabiam bem que ninguém os iria acudir e que de uns tempos a ver o sol aos quadradinhos não se livram.

Quando o caso se tornou público, as reacções em cadeia foram as expectáveis.

Os portugueses sacudiram a cabeça com o desdém que os falhanços de soberania lhe causam, o CEMA lembrou o que tinha de ser lembrado, os russos livraram-se de prestar assistência em alto-mar, os restantes membros da NATO lembraram-se do caso de Tancos e o PM mandou descativar quase 40 milhões de euros para a manutenção da navios da Armada.

Apesar da referida descativação ter sido publicada em Diário da República um dia depois deste incidente, o nosso habilidoso PM logo mandou dizer que a decisão tinha sido tomada, por mera casualidade, uns dias antes. Palavra dada… etc., ninguém é obrigado a acreditar nele, embora que quem não o aplauda incorra na pena de ser carimbado de fascista.

E nisto regressamos ao off-load. Os treze marinheiros irão dentro, o que até é menos gravoso do que morrer afogado, e com o seu sacrifício contribuíram para a libertação das verbas orçamentadas para a manutenção da frota da Armada.

Estamos no Mundial!

Paulo Sousa, 18.11.22

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Hoje, a Selecção Nacional de Rugby apurou-se para o Campeonato do Mundo, que será disputado no próximo ano em França.

Foi com um empate a 16 pontos com os EUA, num jogo disputado no Dubai, que os Lobos conseguiram assim pela segunda vez na história chegar à maior prova desta modalidade.

Após a memorável participação no ano de 2007, também em França, em que tivemos de enfrentar os All Blacks, e pelas mãos do Rui Cordeiro, conseguimos marcar o mais lendário ensaio da história do Rugby português, a expectativa de poder regressar ao Mundial ia sendo, de 4 em 4 anos, sempre adiada.

O percurso deste apuramento foi atribulado. O acesso aos três jogos de repescagem só foi possível após o afastamento da Espanha, que foi penalizada por ter incluído na sua equipa um jogador não inscrito. Já na repescagem, tudo correu pelo melhor. Após uma vitória por 42-14 contra Hong-Kong e de outra por uns claríssimos 85-0 contra o Quénia, os Eagles americanos eram a última barreira que faltava até ao apuramento.

A penalidade que nos deu os três pontos finais, e que permitiram o empate, foi convertida por Samuel Marques, já depois do relógio marcar os 80 minutos jogo. Foi mesmo no último instante. Uma maravilha.

Depois dos Jogos Olímpicos e do Mundial de Futebol, o Mundial de Rugby é o terceiro evento com maior números de espectadores. E vai ser nesse palco que os nossos Lobos irão mostrar que são uma equipa jovem, talentosa e que tem valor para ali estar, lado a lado com os melhores do mundo.

Juntamente com o País de Gales, Austrália, Fiji e Geórgia, a nossa Pool será a C, e o calendário será o seguinte:

16 de Setembro - País de Gales - Portugal (Nice)

23 de Setembro - Geórgia - Portugal (Toulouse)

1 de Outubro - Austrália - Portugal (Saint-Étienne)

8 de Outubro - Fiji - Portugal (Toulouse)

Marquemos então na agenda.

 

PS: Aportuguesar a palavra “râguebi” é tão razoável como fazê-lo com “Franqueforte” ou “Alencastre”.