Em Novembro do ano passado postei aqui sobre o nosso apuramento para o Mundial de Rugby. No próximo sábado será disputada a tão esperada final entre a Africa do Sul, campeã em título e a Nova Zelândia, que conquistou os dois títulos mundiais anteriores.
Mas antes de escrever sobre o torneio que terminará nesse jogo, importa sublinhar a participação portuguesa neste mundial.
Poderia começar pelos números. Entramos neste torneio em 16º lugar no ranking mundial e chegamos ao seu final em 13º, que é a nossa melhor classificação de sempre. Apesar destes números traduzirem uma excelente participação da equipa dos Lobos, não traduzem o encanto que a equipa portuguesa causou no mundo do rugby. Além do fino recorte técnico da leva de jogadores que o técnico francês, Patrice Lagisquet, conseguiu reunir, o público que acompanhou o mundial, apreciou acima de tudo a atitude da equipa.
No primeiro jogo com o País de Gales, conseguimos um ensaio numa jogada preparada para surpreender, mas acusamos o desequilíbrio de ter de jogar com um jogador a menos e sem ter conseguido tirar partido de quando aconteceu o contrário. O nível competitivo dos galeses, que pertencem à elite do rugby mundial, não permitiu irmos além dos 28-8.
A intenção assumida desde o início da competição de conseguir a primeira vitória de sempre num mundial, parecia ser mais acessível no segundo jogo, com a Geórgia, que é nosso adversário habitual na segunda divisão do Rugby europeu, o Rugby Europe Championship. À excepção dos empates de 2009 e de 2022, todos os outros jogos foram favoráveis aos georgianos, mas mesmo assim a mensagem era clara, aquele jogo era para fazer história.
A vantagem inicial esteve do lado da equipa dos lelos, mas o jogo chegou aos últimos instantes rigorosamente empatado com dois ensaios, uma conversão e uma penalidade para cada equipa. Mesmo ao terminar, aos 81 minutos, Samuel Marques tem a oportunidade de assinar a vitória com um pontapé aos postes. A pressão ficou toda sobre o formação dos Lobos num momento que em tudo fazia lembrar o histórico apuramento para o mundial, já nos descontos no jogo com os EUA. Desta vez a responsabilidade do pontapé ficou a cargo do nosso número 15, Nuno Sousa Guedes, que não foi feliz no remate tendo assim o jogo terminou no único empate do torneio, o que ainda assim permitiu que facturássemos os nossos primeiros dois pontos num mundial de rugby.
O nosso terceiro jogo foi com a Austrália, equipa que já levantou duas vezes a taça Webb Ellis. Quando chegamos a este jogo, os australianos já tinham sido derrotados pelos galeses e pelo fijianos. A equipa green and gold, muito jovem, mostrava pouca confiança e os seus apoiantes estavam poucos confortáveis. Antes do jogo, os lobos, mesmo sabendo da improbabilidade teórica de saírem vitoriosos, não se encolheram, assumiram que queriam surpreender e aos quinze minutos ganhávamos por 7-3 com um ensaio de Pedro Bettencourt. Logo após a glória deste ensaio, o segundo centro da equipa portuguesa viu um cartão amarelo e foi dez minutos para o “banco do pecado”. Neste período de tempo, com um a menos na equipa, os lobos não conseguiram manter a toada com que tinham começado o jogo e sofreram três ensaios. Depois disso, ainda conseguimos mais um ensaio, mas no final do jogo o resultado foi 34-14. Para a história fica também uma formação ordenada, uma mélé, em que os Wallabies foram empurrados sem qualquer consideração pelos nossos avançados quase até ao hemisfério sul. Uma maravilha.
Para o final da nossa participação aguardava-nos o confronto com a equipa das Fiji. A genética dos jogadores do Pacífico sul parece ter sido forjada pelos deuses do rugby. O seu porte e o gosto que têm de ir ao contacto, fazem deles um adversário muito respeitado e até temido. No seu historial tem grandes vitórias, como a que tinham conseguido recentemente com a Austrália, mas também são conhecidos por sofrerem derrotas improváveis, tal como que tinha acontecido no último mundial, frente ao Uruguai. O treinador dos lobos já tinha dito que as Fiji eram capazes do melhor, conseguiram por exemplo a primeira medalha de ouro olímpico em Rugby de Sevens, mas também tinham dias maus. Por não saber com qual destas duas versões iriam jogar, tudo era possível. E este jogo foi realmente a coroa de glória da nossa participação neste mundial.
Ao impacto quase brutal do jogo físico das Fiji, Portugal encaixou os embates e respondeu com a melhor arma que tinha, a magia dos seus três quartos, jogando aberto, com a bola viva, conseguindo assim fazer três ensaios contra dois. A reviravolta no resultado a nosso favor deu-se nos últimos minutos e levou a que, além de histórico, este tenha sido um jogo extremamente emocionante.
Graças a estes resultados falou-se de rugby nos media portugueses. Os Xutos e Pontapés criaram um tema dedicado à selecção e, tal como em 2007, após este mundial é previsível um aumento do número de praticantes.
Para o futuro fica a dúvida se esta participação resultou de uma epifenómeno ligado ao que podemos chamar de uma geração de ouro, que já em 2017 nos sub-20 tinha chegado a uma final do Troféu Mundial, ou se podemos contar com presenças mais regulares no mais elevado palco do Rugby mundial. O futuro do rugby português começou no dia seguinte a este jogo. A bola oval está agora não mão dos clubes e da federação. O que é que deve ser feito para alargar a base da pirâmide de recrutamento? Vai ser possivel reduzir a concertração geográfica das equipas mais competitivas?