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Delito de Opinião

Viagem ao Egipto (11).

Luís Menezes Leitão, 14.01.17

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Um dos mais belos inícios de um romance em língua portuguesa é o de Luandino Vieira, De Rios Velhos e Guerriheiros: "Conheci rios. Primevos, primitivos rios, entes passados do mundo, lodosas torrentes de desumano sangue nas veias dos homens. Minha alma escorre funda como a água desses rios". Eu também conheci muitos rios, primevos, primitivos, entes passados do mundo, mas nenhum se compara ao Nilo.

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O Nilo não é apenas o maior rio do mundo  em extensão — já em volume de água é ultrapassado pelo Amazonas — como também é um rio absolutamente único, cujas características espantavam os antigos. Em primeiro lugar desce de Sul para Norte. Depois, uma vez juntos o Nilo Branco e o Nilo Azul, já não tem afluentes, dividindo-se num enorme delta antes de chegar à foz. E a sua cheia não coincidia com as cheias dos outros rios que desaguam no Mediterrâneo. Enquanto nestes a cheia é no Inverno, secando o rio no Verão, no Nilo a cheia era em Julho, no pico do Verão, altura em que a água alagava os campos tornando-os férteis sob uma temperatura de mais de 40 graus. A explicação é que era nessa altura que surgiam as grandes chuvas tropicais no centro da África, levando a que o rio enchesse, provocando inundações a milhares de quilómetros de distância.

 

Por isso os egípcios entoavam hinos à cheia do Nilo como nos excertos seguintes:

 

"Salve ó Nilo, que sai da terra e vem vivificar o Egipto

de natureza misteriosa, tenebroso em pleno dia!

A sua saída canta-o,

ele que faz viver todo o gado,

ele que sacia o deserto

quando a água distante aparece (…)".

 

"Ele traz a sua plenitude e nenhum dique se ergue à sua frente.

Ele atingiu as montanhas,

senhor dos peixes, com muitos pássaros

[Ele traz] todos os seus [produtos] úteis.

Ele é alimento e todos os corações estão doces (…)

(recolhidos em Luís Manuel de Araújo, Mitos e Lendas do Antigo Egipto, págs. 103 e 107)

 

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Hoje tudo isto acabou. O Nilo, que nenhum dique impedia, está hoje represado pela grande barragem de Assuão, que criou o Lago Nasser com 550 Km de comprimento e 5250 km2 de área, seguramente o maior lago artificial do mundo. E assim, para além de ter alagado importantíssimos sítios arqueológicos, esta barragem terminou com a cheia do Nilo, que existia desde a antiguidade. Na verdade, o homem tudo faz para vergar a Natureza à sua vontade e nem o maior rio do mundo lhe consegue resistir.

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Por estes rios acima (balanço IV)

Pedro Correia, 21.12.09

   

Rio Erges                      Rio Estorãos              Rio Ferreira                  Rio Fervença

   

Rio Gilão                       Rio Leça                        Rio Neiva                       Rio Ovelha

   

Rio Ponsul                    Rio Rabaçal                Rio Vez                         Rio Vizela 

                                         Rio Xarrama               Rio Xévora

 

Com este painel termina a série sobre os rios de Portugal aqui publicada diariamente desde o dia 1 de Novembro. Muito em breve começará uma outra - logo no primeiro dia do ano.

Por estes rios acima (balanço III)

Pedro Correia, 21.12.09

   

Rio Tâmega                  Rio Tejo                        Rio Tua                         Rio Tuela

   

Rio Vouga                    Rio Zêzere                  Rio Almonda               Rio Alviela

   

Rio Caia                        Rio Caima                      Rio Caldo                     Rio Chança

Por estes rios acima (balanço II)

Pedro Correia, 21.12.09

   

Rio Homem                  Rio Lima                       Rio Lis                          Rio Minho

   

Rio Mira                        Rio Mondego             Rio Nabão                   Rio Paiva

   

Rio Rabagão                Rio Sabor                     Rio Sado                       Rio Sousa

 

Por estes rios acima (balanço I)

Pedro Correia, 21.12.09

   

Rio Águeda                   Rio Alva                       Rio Arade                     Rio Arda   

Rio Ave                         Rio Cávado                   Rio Côa                         Rio Corgo

   

Rio Coura                    Rio Dão                          Rio Douro                     Rio Guadiana

Mais vinte rios de Portugal (20)

Pedro Correia, 20.12.09

 

RIO XÉVORA

 

Nascente: Serra de São Mamede, concelho de Portalegre

Foz: Rio Guadiana, em Badajoz (Espanha)

 

"Ao aproximarmo-nos da que já foi vila sede de concelho [Ouguela], a primeira visão que temos é de uma elevação coroada por muralhas de um castelo medieval. Subindo a encosta, em breve se vêem as casas do arrabalde, organizadas em três ruas íngremes com vista para a planura que se estende no sopé do monte, fruto do trabalho de deposição dos dois cursos de água que aqui confluem: a Ribeira de Abrilongo e o Rio Xévora."

Do blogue Entre Tejo e Odiana

Mais vinte rios de Portugal (19)

Pedro Correia, 19.12.09

 

RIO XARRAMA

 

Nascente: a noroeste de Évora, por confluência de várias linhas de água

Foz: Rio Sado, na freguesia do Torrão, concelho de Alcácer do Sal

Extensão: cerca de 70km

 

"Numas partes, nos vales por onde elas correm, encontram-se campos cultivados de cereais, e com algum arvoredo: é o que sucede em diversos sítios das ribeiras de Odivelas, de Xarrama e de São Cristóvão."

Andrade Corvo

Mais vinte rios de Portugal (17)

Pedro Correia, 17.12.09

  

RIO VEZ

 

Nascente: Parque Nacional da Peneda-Gerês

Foz: Rio Lima, em Milhundos-Souto, concelho de Arcos de Valdevez

Afluente: Rios Azere, Cabreiro

Extensão: cerca de 40km

 

"Este Rio Vez, por alturas do Sistelo, que é onde o viajante o alcança, e depois o Rio Cabreiro, que a ele aflui, são maravilhas verdadeiras que juntam a doçura e a aspereza, a harmonia dos socalcos verdes e o pedregar das águas, sob a fortuna duma luz que começa a baixar e recorta, linha por linha, cor por cor, a mais bela paisagem que cabe nas imaginações. "

José Saramago, Viagem a Portugal

Mais vinte rios de Portugal (12)

Pedro Correia, 12.12.09

 

RIO LEÇA

 

Nascente: Monte Córdova, concelho de Santo Tirso

Foz: Porto de Leixões

Afluente: Rio Almorode

Extensão: cerca de 45km

 

"Não quero chamar-vos a atenção para a celebrada ponte, onde se ajunta um braço de mar, filho das ondas impetuosas, com o manso arroio do Leça, que lhe entra no seio, sereno e límpido como... consentis-me uma metáfora audaciosa?, como o homem de santa vida e coração sem espinhos, no seio tenebroso da sepultura."

Camilo Castelo Branco, Duas Horas de Leitura

Mais vinte rios de Portugal (11)

Pedro Correia, 11.12.09

 

 RIO GILÃO

 

Nascente: Serra do Caldeirão, na confluência das ribeiras de Alportel, Asseca e Zimbral. Toma o nome de Rio Séqua até chegar a Tavira.

Foz: Ria Formosa, no sítio das Quatro Águas

Extensão: cerca de 40km

 

"Cheguei finalmente à vila da minha infância. / Desci do comboio, recordei-me, olhei, vi, comparei. / (Tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado). / Tudo é velho onde fui novo. (...) / Paro diante da paisagem, e o que vejo sou eu."

Álvaro de Campos, Notas sobre Tavira

Mais vinte rios de Portugal (9)

Pedro Correia, 09.12.09

 

RIO FERREIRA

 

Nascente: em Raimonda, no concelho de Paços de Ferreira

Foz: Rio Sousa, na Foz do Sousa, concelho de Gondomar

Afluentes: Ribeiras da Covilhã, Belói, Méguas, Ferreirinha, Trabaços

Extensão: cerca de 40km

 

"Nasce na Serra de Santa Águeda, e tem o princípio com duas fontes, que nascem separadas meio quarto de légua; uma nasce em São Pedro de Raimonda, outra em São João de Codeços, freguesias do Arcebispado de Braga; juntam-se estas fontes ambas por baixo da Ponte de Sobrão na freguesia de Paços de Ferreira, que dista de seus nascimentos uma légua."

Memórias Paroquiais do Rio Ferreira

Mais vinte rios de Portugal (8)

Pedro Correia, 08.12.09

 

RIO ESTORÃOS

 

Nascente: Ponte de Mãos, no concelho de Ponte de Lima

Foz: Rio Lima, a 5km de Ponte de Lima

Extensão: cerca de 15km

 

"São muitas as singularidades de Ponte de Lima. A primeira é que a sede do concelho persiste, orgulhosamente, em ser vila, quando quase todas as nossas outras localidades de dimensão semelhante há muito que quiseram proclamar-se cidades. Por isso é a vila mais antiga de Portugal; uns anos mais e será, simplesmente, 'a' vila de Portugal. A segunda singularidade é o espaço público impecavelmente cuidado, o que inclui, além da limpeza e do bom planeamento, uma arborização abundante (sem vestígios de podas camarárias) e a manutenção escrupulosa dos belos jardins.
A cinco quilómetros da vila, acessível por um caminho pedonal ao longo do rio, há uma reserva natural com cerca de 350 hectares, centrada nas lagoas de Bertiandos e de São Pedro d'Arcos e atravessada pelo rio Estorãos, que ali desagua no Lima. Declarada como zona húmida em 1990, foi inscrita em 1995 no Plano Director Municipal de Ponte de Lima como parte da Reserva Ecológica Nacional. E aqui manifesta-se uma terceira singularidade: em vez de pedir sucessivas desanexações à reserva, como costumam fazer, com a pressurosa colaboração do Governo da República, as autarquias preocupadas com o «desenvolvimento», a Câmara de Ponte de Lima ainda reforçou o seu estatuto de protecção, fazendo-a classificar em 2000 como
área de paisagem protegida de âmbito regional."

Do blogue Dias com Árvores

Mais vinte rios de Portugal (7)

Pedro Correia, 07.12.09

 

RIO ERGES

 

Nascente: Serra da Gata (Extremadura, Espanha)

Foz: Rio Tejo, perto de Alcántara (província de Cáceres, Extremadura)

Extensão: durante cerca de 50km faz fronteira entre Portugal e Espanha, na zonas das Termas de Monfortinho, Salvaterra do Extremo e Segura.

 

"Quando os homens partiram da vila, em grupos separados, disfarçando o seu propósito por atalhos, ainda a noite se escondia na espessura das nuvens. Chegariam, dia claro, perto do Rio Erges e aí deviam aguardar novamente a cumplicidade das trevas."

Fernando Namora, A Noite e a Madrugada

Mais vinte rios de Portugal (6)

Pedro Correia, 06.12.09

 

RIO CHANÇA

 

Nascente: Serra de Aroche (Espanha)

Foz: Rio Guadiana, no Pomarão, aldeia do concelho de Mértola

Extensão: cerca de 100km

 

"O Rio Guadiana é um rio importante porque é um rio de fronteira numa grande extensão do seu curso. (...) Herança também dos autores setecentistas parece ser a preocupação de referenciar os locais onde começa e termina como limite político: entre Monsaraz e Mourão, a confluência do Chança, ou então, pelo contrário, indicam-se os troços internacionais: do Caia a Monsaraz, do Pomarão a Vila Real de Santo António."

João Carlos Garcia