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Delito de Opinião

Ler (28)

Nos 70 anos de uma das revistas da minha vida

Pedro Correia, 19.11.23

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Há uma grande revista informativa europeia que acompanho há décadas. Li-a durante a adolescência, nos anos decisivos da minha formação intelectual. Naquele Portugal pós-revolucionário, tinha uma característica ímpar: era de pendor liberal e não se envergonhava de o proclamar: pelo contrário, fazia-o com manifesto desassombro, com vocação para romper tabus. Por penas tão prestigiadas como as de Raymond Aron e Jean-François Revel, pensadores de excelência. Quando a moda eram os socialismos de todos os matizes que prestavam culto a Marx e epígonos menores. 

L' Express surgiu, contra a corrente, num dos países mais jacobinos e centralistas da Europa Ocidental, que então encaravam o liberalismo como vírus maléfico importado do lado de lá do Atlântico, capaz de ferir o majestático Estado gaulês. Quando a França via crescer o Partido Comunista - que chegou a ser o segundo mais poderoso do continente a oeste da Cortina de Ferro - enquanto procurava salvar os últimos redutos do seu império colonial, na Indochina e na Argélia. Tinha os seus pensadores de referência - com destaque para Albert Camus, que também quebrara tabus, naquele início da década de 50, ao lançar O Homem Revoltado com a célebre frase de abertura: «O que é um rebelde? Um homem que diz não.»

Fundada em Maio de 1953, adoptou pouco depois o formato da Time norte-americana, marcando assim também uma diferença face ao clássico padrão da imprensa europeia em matéria de estilo. Assim a conheci naqueles anos ávidos em que se rasgam todas as janelas sobre o mundo, quando em minha casa a recebiamos por assinatura, tal como à Newsweek. Serviu não apenas para consolidar os meus conhecimentos da língua francesa mas também para a minha formação no domínio das ideias. Ler Aron e Revel naqueles anos bastava para alargar horizontes.

 

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1954: Servan-Schreiber e François Giroud com François Mauriac, Nobel da Literatura

 

Quando falo dos meus heróis do jornalismo, jamais esquecerei a dupla que durante cerca de três décadas vertebrou L'Express: Jean Jacques Servan-Schreiber (JJSS) e Françoise Giroud. Criaram uma revista arrojada, moderna, interveniente e livre. Que fazia da reportagem um dos seus pilares e da qualidade de escrita um lema. Que foi pioneira na infografia e cultivava o cartoon político com a mestria do traço de Sempré e Tim. Uma publicação assumidamente europeísta, anticolonialista e antitotalitária onde escreveram várias das penas mais prestigiadas de França e que jamais deixou de questionar o poder - incluindo o poder do general De Gaulle, herói nacional que resgatara a honra manchada do país nos dias de fogo e cinzas da II Guerra Mundial. 

L'Express manteve-se como marco de referência na imprensa europeia. Enfrentou com sucesso todas as crises - políticas, geracionais, económicas, tecnológicas. Sobreviveu a cisões - que deram origem às rivais Le Nouvel Observateur (fractura pela esquerda) e Le Point (fractura pela direita)- e à partida dos fundadores, sabendo renovar-se. Continua a ser um produto de excelência, fiel ao lema de JJSS: «Devemos dizer a verdade tal como a vemos.» Ou na versão mais requintada de Camus: «O gosto pela verdade não impede tomar partido.»

Durante uns tempos, por motivos diversos, distanciei-me dela. Mas reencontro-a agora, como quem recupera um amor antigo, nesta magnífica edição especial destinada a celebrar o 70.º aniversário. Guardo-a desde já como objecto de colecção: serei sempre grato a tudo quanto L' Express me ensinou.

Ler (17)

O prazer da descoberta de revistas antigas

Pedro Correia, 28.01.23

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De novo confesso a minha paixão por frequentar alfarrabistas. Não apenas para adquirir livros antigos (como os três volumes da Guerra e Paz, em estado impecável, na edição portuguesa de 1957 com tradução do filósofo José Marinho), mas também revistas. Volta e meia, num dos meus alfarrabistas preferidos, abasteço-me de exemplares antigos da Paris Match, que ainda se publica. 

Já tinha falado disso aqui, há mais de dois anos, estávamos ainda aprisionados pela pandemia. Regressei lá recentemente, trouxe mais umas quantas. E deixo-me absorver por estes restos de uma colecção particular, agora desfeita certamente por decisão dos herdeiros.

Como se mergulhasse noutros tempos, contemporâneos ou anteriores ao dia em que nasci, e testemunhasse quase em directo acontecimentos entretanto transportados para enciclopédias e manuais de História. 

 

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«Isabel e Filipe reunidos em Lisboa», proclama um dos títulos. É o da edição n.º 412, de 2 de Março de 1957. Sobre a Rainha britânica, há pouco falecida, e o seu marido, o Duque de Edimburgo, que morreu quase centenário em Maio de 2021. Então eram ainda jovens, tinham décadas de vida à sua frente. 

Com três enviados especiais, a Paris Match faz uma cobertura exaustiva em 12 páginas da visita da monarca a Portugal, onde reencontrou o marido, que andara em missão oficial à volta do globo. Após 125 dias de separação, «uma nova lua-de-mel» começou em Lisboa, assinalaram os repórteres. Com excelentes fotografias em destaque, nunca funcionando como tapa-buracos de textos. 

 

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Somos, assim, testemunhas da História.

O primeiro sorriso de Isabel, desembarcada no Tejo, para o marido. Ao lado, o Presidente Craveiro Lopes (Lopez, lia-se na legenda).

O desfile pela capital, no mesmo coche real que transportara o seu bisavô Eduardo VII em 1903, na anterior visita de um monarca britânico.

A passagem pelo Rossio, cheio de mirones «até nas árvores», como assinalava a revista, com um mar de gente a gritar «Isabel!». Num país onde as manifestações populares estavam proibidas.

As imagens do faustoso esplendor na tribuna presidencial do Teatro de São Carlos, com Salazar - rara aparição em eventos públicos - num discreto segundo plano.

Uma extraordinária fotografia do jovem casal numa apoteótica recepção no Porto, cidade que a Rainha quis expressamente conhecer, em visita à margem do protocolo de Estado. 

 

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Portugal surge em foco noutra revista. A n.º 618, de 11 de Fevereiro de 1961. Dedicada em grande parte ao assalto ao Santa Maria, então emblema máximo dos nossos navios dedicados ao turismo de luxo.

Paris Match foi o primeiro grande título da imprensa internacional a embarcar no paquete com centenas de passageiros à mercê de um grupo armado luso-espanhol de opositores de Salazar e Franco. Os repórteres chegaram da forma mais insólita: de pára-quedas. Um deles, falhando o salto devido ao vento, passou longos momentos de angústia no mar, rodeado de tubarões.

Era o fotojornalismo no apogeu, muito antes da tecnologia digital e dos actuais meios de transmissão de imagens e texto.

Mergulho com assombro neste trabalho que valeu à Match reputação mundial. Com fotos exclusivas dos passageiros (incluindo muitas crianças), dos tripulantes portugueses e dos assaltantes, com destaque para o comandante dos "corsários": Henrique Galvão (a quem a revista chama Enrique Galvao), ex-salazarista convicto convertido à causa da democracia e apostado no derrube violento de Salazar.

 

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Tantas outras histórias estas revistas continuam a narrar-nos, várias décadas após terem sido impressas.

A edição n.º 749, de 17 de Agosto de 1963, informava que a vivenda californiana de Marilyn Monroe, ali falecida um ano antes numa noite em que não conseguiu suportar a solidão, acabara de ser vendida. Um letreiro, colocado no exterior do portão, confirmava com linguagem expedita de negociante americano: «Vendida - mas temos outras». Ignorava-se a identidade do novo proprietário, mas a Match desvendava um segredo: Joe di Maggio, o segundo dos três maridos da malograda actriz, mandava depor rosas no seu túmulo três vezes por semana.

Na edição n.º 625, de 1 de Abril de 1961, com a deslumbrante actriz belga Catherine Spaak na capa, deparo com este título: «Gable júnior repõe na viúva um sorriso de mamã.» Nascia o filho póstumo de Clark Gable, quatro meses após o súbito desaparecimento do intérprete de E Tudo o Vento Levou. A vida imitando a ficção, em toada de melodrama: o eterno galã das matinés sempre alimentara o sonho de ser pai. Aconteceu, mas já cá não estava para conhecer o bebé.

 

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Regresso à edição n.º 749: o destaque vai para o Presidente norte-americano. De semblante sombrio, nada sorridente. O casal John e Jacqueline acabava de perder Patrick: o filho recém-nascido sucumbira ao fim de dois dias, naquele funesto Agosto, vítima de graves problemas respiratórios. 

Um instantâneo revelava-nos um Kennedy destroçado, ao fundo de um elevador que o conduzia ao quinto andar do hospital onde iria velar o filho que mal chegara a viver. «Como o Presidente foi apenas um pai dorido», proclama o título. 

A revista desfia pormenores. Jackie transportada de helicóptero para o hospital quando se encontrava na casa de praia e logo submetida a uma cesariana, o marido interrompendo uma audiência na Casa Branca com membros do Comité Contra os Ensaios Nuclares e voando para Boston. Depois, horas de angústia perante a incubadora: o recém-nascido nem tinha força para chorar. Foi o próprio John a dar a desoladora notícia à mulher, ainda a recuperar do parto prematuro.

Tragédia no sonho americano. Como se antecipasse um luto de muito maior impacto, prestes a chegar, três meses depois. Com Kennnedy ceifado por balas traiçoeiras em Dallas que lhe roubaram a vida e abalaram o mundo.

Fragmentos de História. Que nos elucidam, comovem e deslumbram em simultâneo. 

Rushdie

jpt, 13.11.22

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Aqui deixei nota da minha preferência pelas revistas antigas, com os anos passados sobre a sua edição a depositarem uma pátina, um composto químico de carinho e ironia, sobre as grandes proclamações, inevitabilidades, sensações e novidades que nelas se anunciam, algo que me delicia como leitor retardatário. No fundo, é a produção do ambicionado "olhar distanciado", coisa que o decorrer dos tempos ajuda a florir ainda que não seja - nem de perto nem de longe - factor suficiente. Mas nem sempre é esse o fruto desta distância, há casos em que um exemplar antigo nos surpreende, na sua qualidade e pertinência, num espontâneo "caramba, já faziam coisas assim naquele tempo?", óbvia distracção a confundir o pó (e odor) acumulado em meia dúzia de anos com uma evidência de eras bem transactas, qual verdadeira "escavação" na história intelectual...

Tenho a casa atafulhada dessas velhas revistas, grande parte delas legado paterno e algumas até de origem avoenga, e vou folheando-as por desfastio. Para por vezes me encantar, com peças mais excêntricas ou recuadas ou, como agora, com algo bem mais vizinho, um belíssimo produto lisboeta com apenas meia dúzia de anos. Falo do nº 144 (Inverno 2016/2017) da LER, revista com a qual durante tive uma relação de completo evitamento, abominando-lhe paginação, corpo de letra e, acima de tudo, as cores do miolo - uma malvada conspiração gráfica que a fazia verdadeiramente ilegível, e isso numa época em que eu nem sequer usava óculos. Felizmente há já bastante tempo que a  publicação sofreu uma revolução "artística", tornando-a acessível ao "povo óptico", decerto que sob o glosado lema "a revista a quem a leia..."

Pois esta LER 144 é uma preciosidade: pela panóplia das então "novidades" editoriais e os necessários debates / polémicas - e o Nobel acabara de ser atribuído a Dylan, algo que fora um abalo tectónico no "campo literário". E nas rubricas habituais, como a coluna de Eugénio Lisboa, veemente no resmungo com James Joyce (iconoclastia que vem continuando, nas suas magníficas entradas no De Rerum Natura). Ou em peças mais construídas, como um interessante artigo de Vasco Rosa sobre o início da carreira literária de Raul Brandão, enorme escritor que muito mais deveria ser lido, e cujo centenário então se comemorava, ou uma abrangente entrevista de António Araújo sobre o seu livro "Da Direita à Esquerda" (que nunca li mas que aceitarei emprestado). Tudo isto quase culminando em dois preciosos, de fundamentais, artigos: "Liberdade vs Politicamente Correcto", de Camille Paglia, e "O Firme Princípio da Liberdade" de Timothy Garton Ash. Enfim, tudo isto será suficiente para transformar esta "revista velha" em algo de muito apetecível, pelo interesse e pela actualidade. 

Mas de facto tem ainda mais: uma entrevista (de 6 páginas, realizada por Isabel Lucas) de Salman Rushdie, feita aquando da sua visita a um festival literário em Óbidos. A qual tem uma parcela comovente, na qual o escritor - então aproximando-se de septuagenário - alude ao final, em 2000, do longo período em que viveu sob protecção devido à condenação à morte emitida pelo terrorismo estatal iraniano. Dizia ele: "Ter aquele aparato de segurança durante 11 anos e de repente decidiram parar. Para mim, 48 horas depois foi como se nunca tivesse acontecido. (...) É tão maravilhoso. (...) Só penso nisso quando tenho de responder a perguntas de jornalistas. O resto do tempo estou a ter uma vida normal. (...)

Eu não sou uma metáfora. Sou uma pessoa. Não me sinto metafórico, mas muito exa[c]to, concreto. Fiquei muito cansado disso tudo, porque já não vivo mais assim. Houve um tempo em que sim, e agora, e desde há muito tempo, não. Estou muito interessado no que se passa no mundo, mas essa já não é a minha história. É a história de outras pessoas. O meu capítulo particular terminou." (pp. 104-105).

Anos passados, e face aos efeitos devastadores do brutal atentado que Rushdie veio a sofrer já este ano, estas declarações, a crença que nelas vivia, são comoventes. E servem-me também para sublinhar o meu desprezo pelos políticos da "esquerda socialista" que fazem gala em matizar o repúdio face ao terrorismo do fascismo islâmico - algo sobre o qual, metendo o nome aos bois, botei neste postal.

Velhas revistas

jpt, 05.10.22

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Sempre fui fraco leitor de revistas, generalistas, especializadas ou mesmo profissionais - excepto das de banda desenhada, que tanto me moldaram gosto e ser. Razões para tal nem as tenho claras, pois de algumas delas até gosto, será mesmo um qualquer infundamentado desconforto com o molde, uma parva embirração. Mas de uma coisa gosto, isto de folhear as revistas antigas que se amontoaram em casa, as herdadas e as que fui comprando - tantas destas para apenas as entreabrir, até com fastio, apesar do interesse imediato ao vê-las, feito compulsão compradora (quando dessa maleita podia sofrer) -, soslaios que permitem um sorridente aquilatar da realidade das "novidades" ou "dramas" que foram apregoados, com mais ou menos veemência...

Neste Verão já findo recebi os dois últimos caixotes de livros (e revistas) vindos da minha mãe, as partilhas familiares da pequena biblioteca que a acompanhou nos últimos anos na "residência" (o lar de terceira idade). Nesse conjunto vieram mais algumas revistas, das que restaram, "sobreviventes" à habitual partilha deste tipo de leituras. E que me fazem, saudoso, lembrar de quando após um almoço familiar levámos a nossa mãe (e avó) à papelaria vizinha, a qual abastecia diariamente a residência do inevitável duo Correio da Manhã e Público. E do (genuíno) encanto da proprietária diante daquela já nonagenária ainda arguta e, ainda por cima, francófona e anglófona. E logo ali se combinou que providenciasse ela a entrega diária de revistas e jornais que julgasse apropriadas ao gosto e interesses da minha mãe, que a gente pagaria mensalmente... Para alguns meses depois resmungar eu - já então a sopesar os custos do rancho e a racionar o Amber Leaf e o Queen Margot - a "conta calada" daquilo tudo, que do "Paris-Match" e "Hola!" britânica até à "Magazine Littéraire" tudo lhe ia chegando, e do meu murmurado e miserável ataque de sovinice, eu leitor diário do "Record" a criticar "raisparta, a mãe nunca leu estas tralhas ao longo da vida, para quê comprá-las agora?", as revistas "sociais", entenda-se, como se matar o tempo não fosse o fundamental, não seja o fundamental, antes da morte que se nos aproxima...

Enfim, divago, pois o que queria trazer a este postal é esta revista "Estante" que algum de nós lhe levou e que me chegou agora. De 2018, o número 17 desta simpática iniciativa - uma revista literária bem conseguida, no grafismo e no conteúdo, num registo adequadamente "leve" mas não superficial. 10 000 exemplares distribuídos gratuitamente pelos clientes da FNAC - e serve agora para memória (talvez surpreendente para as gerações mais novas) de uma longínqua época em que a cadeia FNAC vendia livros, uma era já finda na história económica.

E o que me apelou a recuperar este exemplar é um dos seus artigos, no qual os jornalistas Carolina Morais e Tiago Matos indagaram a sete escritores e editores "quem merecia o Nobel da Literatura de 2018?", pergunta bem adequada a este tipo de revista, muito mais tendente à divulgação literária do que a  uma reflexão crítica sobre pertinência das premiações e dos seus critérios e, ainda menos, às dinâmicas estruturantes do(s) "campo(s) literário(s)". E ler o resultado dessa demanda promove agora um sorriso, algo entristecido. Pois Ana Teresa Pereira, Carlos Vaz Marques, Francisco Vale, Hélia Correia, Isabel Lucas, Manuel Alberto Valente e Pedro Mexia (o grupo inquirido) deram, obviamente, várias pistas. Mas no final o escritor que sobressaiu como desejável premiado em 2018 foi Javier Marías. Pois, a Academia Sueca atrasou-se, irremediavelmente...

(Nem de propósito, eu a esquiçar este postal e a encontrar o Pedro Correia a inaugurar uma, ambiciosa, série...).

A História por cinco euros

Pedro Correia, 21.09.20

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Frequentar alfarrabistas, como vou fazendo apesar das restrições impostas pelo novo coronavírus, tem as suas compensações. Aconteceu-me recentemente, ao encontrar num desses estabelecimentos muitos exemplares de uma antiga colecção de revistas Paris-Match que tiveram repercussão histórica. Pertenciam a uma senhora que faleceu com 103 anos. Como tantas vezes acontece, os herdeiros desmancharam a casa e desfizeram-se de livros e revistas, que acabam dispersos um pouco por toda a parte.

Cheguei a tempo de adquirir alguns exemplares. Por exemplo, o n.º 758 da Match de 19 de Outubro de 1963, dedicado em grande parte ao falecimento de Edith Piaf e Jean Cocteau, ocorridos no mesmo dia. Ou ao n.º 777,  de 29 de Fevereiro de 1964, reservado em larga medida a pormenores então inéditos do duplo homicídio de Dallas (visando o presidente John Kennedy e o seu suposto assassino, Lee Oswald).  Ou ao n.º 617, de 4 de Fevereiro de 1961, centrado no assalto ao navio de cruzeiros Santa Maria, tomado em alto mar por um grupo de declarados opositores ao salazarismo. 

Na altura a Paris-Match foi a única a entrar a bordo do navio sequestrado, fotografando e relatando o que lá se passava numa edição que teve eco em todos os continentes. «A fantástica aventura de [Henrique] Galvão e dos piratas da revolução», titulava a revista nessa capa - exclusivo mundial do repórter (mais tarde romancista) Dominique Lapierre, hoje com 89 anos, e do fotógrafo (também actor e duplo de cinema) Gil Delamare, que se lançou de pára-quedas sobre o navio. 

Edições que fizeram história. Abandonadas por alguém num alfarrabista. Trouxe-as, a cinco euros por exemplar: agora posso chamar-lhes minhas. Garanto que ficam em boas mãos.

Que parte é esta dos acordos?

Sérgio de Almeida Correia, 03.12.15

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Confesso que por esta não esperava e fico a pensar em que se baseiam os especialistas de comunicação para considerarem que este tipo de reportagens faz parte do cardápio do interesse público. Da coscuvilhice pública não tenho dúvidas, só que depois dos péssimos exemplos de José Sócrates e Passos Coelho pensei que a lição tivesse sido assimilada. Graças a uma nota do Carlos Vaz Marques, verifico agora, penosamente, que não. Ainda bem que onde estou só tenho acesso à capa. É quanto me basta. Porque se este é o modelo, se este é o caminho, se aquilo que é do domínio do privado, devia assim permanecer e ser resguardado, afinal deve ser público, então o melhor mesmo é estar ausente. E de preferência bem longe.

Resistindo ao desejo de gastar seis euros

José António Abreu, 23.10.15

Em pé junto ao expositor da Fnac, leio do princípio ao fim a excelente entrevista de Francisco José Viegas a Pedro Mexia incluída no último número da revista Ler. Noto que a revista traz uma segunda entrevista, ao israelita David Grossman, bem como artigos sobre Camilo Castelo Branco (falecido há 125 anos, merecia muito mais atenção do que aquela que recebe), Susan Sontag (alguém que me irrita e fascina em igual medida) e literatura síria (que desconheço em absoluto). Sinto uma enorme vontade de a comprar. Não o faço. Mas ainda reparo que a tiragem já desceu até aos 7 mil exemplares.

Hoje, na Visão

Patrícia Reis, 20.03.14

DOM JOSÉ POLICARPO

(1936-2014)

O cardeal que não queria ser Papa

 

O patriarca emérito de Lisboa morreu no dia 12, durante uma cirurgia, devido a um aneurisma da aorta. Foi sepultado em São Vicente de Fora, no panteão dos patriarcas

 

 

A minha vocação sacerdotal vem desde miúdo e o modelo era o prior da minha aldeia [Alvorninha, Caldas da Rainha, onde nasceu]. Era um homem que nos marcou a todos. Nunca pensei chegar a cardeal. Preparei-me para ser o melhor possível no que faço, sempre com um sentido de serviço.

 

A memória mais antiga que tenho é a morte da minha avó paterna. Lembro-me da imagem dela na cama onde morreu. Eu tinha três anos. Com a mesma idade, lembro-me do meu pai ter chegado a casa anunciando o início da Segunda Guerra Mundial. Vivemos um século XX carregado de atrocidades, porém com coisas igualmente maravilhosas e apaixonantes. Recordo que vivemos com profundo entusiasmo o Concílio Vaticano II, processos de paz e aproximação de nações, o desenvolvimento da ciência, da medicina, das tecnologias.

 

O mundo é complexo. Eu sou do tempo da segunda guerra, da guerra fria, da bomba atómica... Houve passos importantes, como a autonomia dos povos e o fim do colonialismo. Apesar dos percalços houve períodos de otimismo. Nos últimos anos, o horizonte ficou mais negro. A minha primeira reação é tentar salvar a esperança. A Humanidade tem a possibilidade de vencer, mas também a possibilidade de se autodestruir. A dimensão da esperança é essencial.

 

A Igreja Católica é, no mundo de hoje, o último baluarte na defesa de uma ética e de valores transcendentes. Às vezes fica acantonada, dá ideia de ser retrógrada, mas é, realmente, este baluarte de defesa. Nunca assumi, no meu percurso de Fé e intelectual, um conflito entre a Fé e a Ciência. São dois universos diferenciados que têm de convergir naquilo que é fundamental: o sentido e a verdade do Homem. Não há dúvida que a Ciência é um bem precioso para a Humanidade.

 

No caso da sexualidade, julgo que devemos ensinar duas coisas: que as soluções facilitantes não levam a nada e que é preciso aprender a amar. É importante descobrir a generosidade do amor. Aquilo que se complica na comunicação da doutrina da Igreja é quando surge reduzida à casuística, traduzida em casos. A doutrina é mais ampla. É o desafio da liberdade, do amor e da dignidade do Homem.

 

O pecado supõe uma opção de consciência, quando sabemos que estamos a fazer o pior. Há circunstâncias em que as pessoas fazem o mal sem pecar, porque já não têm a clarividência de consciência, nem a liberdade interior para optar. O pecado, no sentido teológico do termo, é uma opção.

 

Ser católico é muito exigente. Sempre foi e continua a ser. É um caminho de audácia. Digo que é difícil, contudo também afirmo que é um caminho libertador, porque quando o experimentamos e o percorremos traz-nos tanta alegria, abre de tal forma o horizonte e o sentido da vida, que vale a pena.

 

Há muito tempo que espero um movimento dentro da Igreja que há de ajudar a purificar o Conselho Vaticano II. É um movimento inevitável de verdade e visão da Igreja no mundo.

 

Houve um momento em que se especulou sobre a possibilidade de ser escolhido para suceder a João Paulo II. Rezei muito a Nosso Senhor para que me protegesse... Um conclave é um momento único. Foi uma experiência extraordinária. No meu caso concreto, senti muito o efeito da pressão da comunicação social. Foi de tal forma que eu, que por norma resisto bem a este tipo de situações, comecei a ficar nervoso. Depois entrámos em conclave e a coisa pacificou. Não posso contar o que ali se passou... Mas fiquei muito contente por voltar para casa.

 

Penso que valeu a pena seguir o caminho do sacerdócio. Poderia ter sido melhor, mais perfeito na maneira como servi a Deus e aos irmãos, mas julgo que valeu a pena.

 

Quando me perguntam o que vou fazer a seguir, digo sempre: só sei o que não vou fazer. 

 

Acredito em Deus. Acredito que o mundo depende mais de Deus do que dos homens.

 

 

Excertos de uma entrevista de Patrícia Reis, publicada na revista Portefolio, da Fundação Eugénio de Almeida

A GRANTA portuguesa

Helena Sacadura Cabral, 15.06.13
 
 
A Granta, que nasceu na Universidade de Cambridge, em 1889, e já é publicada em dez países, chegou finalmente a Portugal, na última semana de Maio. Só ontem tive oportunidade de a manusear e por isso só agora falo dela. É uma revista livro, que não versa sobre a actualidade, não terá colunistas, nem o formato  habitual das revistas.
Trata-se de uma publicação com duas partes. Numa traz-nos  em português, textos inéditos de autores internacionais e 
na outra encontramos textos, também inéditos, de autores portugueses, alguns premiados, outros ainda meras apostas em jovens da literatura nacional.
A sua direcção está a cargo do jornalista Carlos Vaz Marques, que espera levar os textos dos autores nacionais às restantes publicações e assim a outros mundos.
A Granta será um grande anel de revistas através do qual os nosso autores ganham uma porta de entrada noutros países. 

 A revista que surge em tempos de crise e em contraciclo, se representa um «desafio» e um «perigo», também constitui a possibilidade de dar motivação adicional aos seus autores.

 

Neste primeiro número, a Granta revela cinco sonetos inéditos de Fernando Pessoa, um feito que pode fazer dela uma edição “histórica”. 


A edição portuguesa irá manter a linha da versão original, desde o letering, ao formato, à concepção gráfica. Todavia, não irá ter uma presença online, porque se acredita que ela constitui, desde a imagem ao toque, uma experiência sensorial.


A Granta, é editada semestralmente pela Tinta-da-China e está à venda nas melhores livrarias. E como não é uma «revista como as outras», o preço ronda os 18 euros. Mas quem assinar os primeiros quatro números, recebe de bonus um grátis.

 É, no fundo, o preço de um livro porque, dizem, é de um livro especial que, afinal, se trata.
Para mim, que já fazia partilha da assinatura da Monocle –, ficou-me este laivo intelectual, depois de perder a Wallpaper -, significa ter de arranjar outro sócio e cortar no queijo Brie. Porque, aqui por casa, tentar estar actual, na minha idade, sai caro e implica sacrifícios do que não é essencial…

 

Mais dois prémios e um agradecimento para sempre

Patrícia Reis, 31.05.13

 

Egoísta, a edição número 50, dedicada aos Artistas ganha menção honrosa para design e Grande Prémio Revista na edição dos Prémios Papies referentes a 2012. Foi um privilégio trabalhar nestes 50 números e, mesmo agora, sentir que os prémios recordam o que tentámos fazer. Parabéns a todos os que colaboraram (ao Rodrigo Saias e à Sara Cunha), à Norprint que imprimiu, à Estoril-Sol que apostou na cultura durante tanto tempo e a todos escritores, pintores, ilustradores, fotógrafos, jornalistas, experimentalistas e mais... - todos sem excepção - que fizeram da Egoísta uma casa para mim, uma boa casa. O meu agradecimento nunca será suficiente.

Mais prémios para a Egoísta

Patrícia Reis, 25.05.12

A Egoísta GANHA mais prémios (sim, no plural!). Na 24ª edição dos Papies, a Egoísta levou para casa o Grande Prémio na Categoria de Revistas com a edição Viagem, outra na edição Cartas e ainda menção honrosa com a Egoísta Traço. A Estoril Sol, proprietária da revista, e a equipa da 004, que faz a mesma publicação há quase 12 anos, estão FELIZES.
Os Prémios Papies são promovidos anualmente pela Revista do PAPEL (DP), uma publicação mensal da Pixelpower dedicada à comunicação gráfica.Mais prémios para a Egoísta

Egoísta vencedora

Patrícia Reis, 30.03.12
Egoísta

Tinha uma coisa para dizer e não disse. Não faz mal.

A Egoísta ganhou o prémio Ouro para cratividade e inovação na comunicação em papel com a edição dedicada ao tema Viagem e, para terminar em beleza, ganhou um dos 4 Grandes Prémios da Noite. Foi bonito. Obrigada à Estoril Sol por acreditar há 11 anos numa revista de curtas ficções e portfolios de artistas. Esta foi mais uma edição dos prémios da Meios e Publicidade.

A verdade do rosto

Ana Lima, 09.01.12
O filme vem aí. Mas não é esse o assunto agora. Esta é a capa da última edição da Revista M do jornal francês Le Monde. O fotógrafo é Martin Schoeller, que durante anos foi assistente de Annie Liebovitz.
Clint Eastwood tem 81 anos e não precisa de Photoshop. Não são as suas rugas que nos mostram a sua grande sabedoria. Mas elas aí estão para nos lembrar que já é longa a história de uma vida que nos tem dado tanto. E ninguém discordará que é assim que nós o queremos ver!

A Gingko no Green Festival

Teresa Ribeiro, 27.09.11

 

revista Gingko vai estar no Green Festival com um programa à sua medida, ou seja, perfeito. Sou insuspeita (cof, cof, cof), por isso posso afirmar sem constrangimentos que fazem muito mal se não passarem pelo Estoril para participar numa das actividades da sala Gingko. Espreitem o programa e inscrevam-se num dos workshops aqui  ou através do email: redaccao@revistagingko.com

Grão a grão...

José António Abreu, 05.07.11

No último editorial que escreveu enquanto director da Ler, Francisco José Viegas anuncia para Setembro a implementação do acordo ortográfico na revista. É pena. Mas estamos em crise. E se, por falta de opção, pode vir a existir um momento em que eu comece a comprar livros, jornais e revistas escritos segundo o acordo, esse momento não será em Setembro de 2011. Para mim e por enquanto, a decisão da Ler representa uma poupança de cinco euros por mês.