Dietrich Bonhoeffer
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Dietrich Bonhoeffer nasceu a 4 de Fevereiro de 1906, em Breslau, a sexta criança de oito irmãos, filho do psiquiatra e neurologista Karl Bonhoeffer e da professora Paula Bonhoeffer. Em 1912, a família mudou-se para Berlim, onde o pai se tornou director da clínica neurológica do complexo hospitalar Charité, assim como Professor na Universidade Friedrich-Wilhelm.
Segundo a sua irmã gémea Sabine, Dietrich Bonhoeffer começou cedo a ocupar-se de temas como a morte e a eternidade, na sequência do falecimento do seu irmão Walter, combatente na 1ª Guerra Mundial, e na dificuldade sentida pela mãe em superar o desgosto. Ainda no liceu, escolheu o hebraico como disciplina opcional e, já estudante de Teologia Evangélica, esteve em Barcelona, junto da comunidade alemã. Passou igualmente um ano no Union Theological Seminary, em Nova Iorque, onde contactou com a comunidade negra do Harlem. Regressado à Alemanha, tornou-se Assistente do Teólogo Wilhelm Lütgert na Universidade de Berlim e foi ordenado Pastor Evangélico Luterano.
Ao contrário do entusiasmo que se fazia notar entre os Protestantes alemães, a sua família viu com muita preocupação a tomada do poder pelo Partido Nazi, a 30 de Janeiro de 1933. Apenas dois dias depois, numa dissertação radiofónica intitulada “Metamorfoses do Conceito de Führer" (Wandlungen des Führerbegriffes), Dietrich Bonhoeffer alertava para os perigos do poder absolutista da chancelaria, alegando que o endeusamento de um líder governamental significava o achincalhamento do nome de Deus. Não pôde, porém, concluir o seu discurso, porque lhe interromperam a transmissão. Além disso, estando o seu cunhado Rüdiger Schleicher convencido da aproximação de uma guerra, Dietrich Bonhoeffer fez-se notar, no meio académico berlinense, por declarar que a guerra tornava os cristãos cegos à mensagem de Deus.
Bonhoeffer com estudantes em 1932
Através do seu amigo Pastor Franz Hildebrandt e de um outro cunhado, Gerhard Leibholz, ambos de origem judaica, acompanhou de perto a perseguição nazi a este grupo étnico-religioso. Viu, no entanto, frustradas as suas tentativas de tornar a defesa dos direitos humanos num dever ecuménico. Protestantes, como Católicos, resistiam a defender os judeus de perseguições.
Depois de uma estadia de ano e meio em Londres, para onde tinham emigrado a sua irmã e o cunhado judeu, e onde Bonhoeffer se ocupou de duas comunidades luteranas de língua alemã, recebeu, de um amigo, um convite para leccionar no Harlem, oferecendo-lhe a oportunidade de se exilar nos Estados Unidos, à semelhança de outros intelectuais alemães que rejeitavam Hitler. Aceitando, num primeiro momento, Bonhoeffer acabou por recusar. Sentia ser necessário exercer oposição no seu próprio país. E, não encontrando apoio no meio clerical, resolveu actuar de própria iniciativa, aliando-se a outras formas de resistência, incluindo a dos meios militares.
Embora não participasse nos planos de altas patentes nazis para assassinar Hitler, sabia desses planos e conhecia as pessoas. Serviu mesmo de intermediário entre elas e apoiantes estrangeiros. Fez viagens à Noruega, Suécia e Suíça. No geral, porém, encontrou pouco interesse, por parte dos Aliados, por essas conspirações. Estes seus movimentos e contactos não podiam deixar de serem notados pela Gestapo e, a 22 de Agosto de 1940, foi proibido de falar em público (o que incluía as suas funções como Pastor Luterano) e, em Março de 1941, foi proibido de escrever e publicar.
Depois de dois atentados falhados a Hitler, a 13 e a 21 de Março de 1943, Dietrich Bonhoeffer e o seu cunhado Hans von Dohnanyi foram presos preventivamente em Berlim, mas funcionários da Justiça, incluindo o juiz Karl Sack, que mais tarde seria preso, conseguiram travar o processo.
Placa de Homenagem na antiga residência da família, em Berlim - Foto de Axel Mauruszat.Tradução do texto: Casa paterna dos irmãos Klaus e Dietrich Bonhoeffer. Com eles, morreram, na resistência ao nacional socialismo, os maridos das suas irmãs Rüdiger Schleicher e Hans von Dohnanyi, em Abril de 1945
Depois do famoso atentado de 20 de Julho de 1944, perpetrado pelo conde de Stauffenberg contra Hitler (filmado com o título Operação Valquíria e tendo Tom Cruise como protagonista), Bonhoeffer foi interrogado pela Gestapo mas não se conseguiu provar o seu envolvimento. No entanto, tanto este, como a sua implicação noutros planos para derrubar Hitler, foram descobertos, no Outono daquele ano. A Gestapo encontrou, por acaso, papéis e documentos, preparados por Hans von Dohnanyi, descrevendo todas essas conspirações, assim como listagens dos crimes nazis. Dohnanyi organizara esses papéis com o intuito de, quando tivesse oportunidade, esclarecer a população alemã e os Aliados.
A 8 de Outubro de 1944, Bonhoeffer foi preso, junto com o cunhado Dohnanyi, os militares envolvidos nas conspirações (entre eles, o Capitão Ludwig Gehre, o Almirante Wilhelm Canaris e o General Hans Oster) e o juiz Karl Sack. Foram metidos nos calabouços da central da Gestapo em Berlim como “prisioneiros pessoais” de Hitler. A 7 de Fevereiro de 1945, foram transferidos para o campo de concentração de Buchenwald e, no início de Abril, para o de Flossenbürg. A 5 de Abril (a guerra estava quase a acabar), Hitler ordenou a execução de todos os conspiradores ainda vivos do atentado de 1944. Através do prisioneiro inglês Payne Best, que conhecera em Buchenwald, Dietrich Bonhoeffer enviou uma mensagem ao bispo de Chichester George Bell, com quem fizera amizade no seu tempo em Inglaterra:
«Tell him (he said) that for me this is the end but also the beginning. With him I believe in the principle of our Universal Christian brotherhood which rises above all national interests, and that our victory is certain – tell him, too, that I have never forgotten his words at our last meeting».
A 8 de Abril de 1945 foram condenados à morte por enforcamento o Pastor Dietrich Bonhoeffer, o Capitão Ludwig Gehre, o Almirante Wilhelm Canaris, o General Hans Oster e o juiz Karl Sack. Não se fez acta dessa sentença. Foi executada no dia seguinte, 9 de Abril. Nas execuções por enforcamento, os condenados eram obrigados a dirigirem-se nus para o cadafalso. Um médico presente encarregava-se de os reavivar, caso desmaiassem durante a estrangulação, a fim de ser aumentado o seu tempo de martírio.
Dietrich Bonhoeffer foi autor de vários livros de Teologia e Filosofia. Depois da sua morte, também se publicaram novos, recorrendo a vários escritos soltos por ele deixados, como correspondência, homilias e dissertações.
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Tradução da frase da imagem: «A nossa existência cristã só se preservará através de duas formas: na oração e no praticar da Justiça entre os humanos».