Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Lübeck

Cristina Torrão, 27.07.24

Além da Casa Buddenbrook, Lübeck tem outras atracções. E eu não poderia ir a esta cidade sem visitar a Igreja católica do Coração de Jesus, onde se encontra a ala de homenagem aos quatro mártires, dos quais já aqui falei: Hermann Lange, Eduard Müller, Johannes Prassek e Karl-Friedrich Stellbrink - os quatro sacerdotes (três católicos e um luterano) executados pelo regime nazi, a 10 de Novembro de 1943.

2024-07-16 Lübeck 127.JPG

Foto © Horst Neumann

 

Não vimos tanta gente nesta bonita igreja como tínhamos imaginado. E um conhecido nosso, morador em Lübeck (embora não natural de lá) e com quem nos encontrámos, não tinha ainda ouvido falar destes mártires! Por a homenagem se encontrar numa igreja católica?

2024-07-16 Lübeck 094.JPG

Foto © Horst Neumann

 

Na verdade, além de, hoje em dia, muita gente, apesar de ser mais ou menos crente, andar afastada das igrejas, os católicos são uma minoria, no Norte da Alemanha, de esmagadora maioria luterana. Muitas vezes, as comunidades católicas sobrevivem à custa dos imigrantes: muitos polacos, bastantes sul-americanos, alguns portugueses e um ou outro espanhol. De qualquer maneira, a igreja do Coração de Jesus estava em muito bom estado e até fomos presenteados com música, tocada ao vivo, no órgão. A entrada na ala de homenagem é gratuita, mas os visitantes costumam deixar um contributo voluntário nas várias caixas de esmolas.

2024-07-16 Lübeck 121.JPG

Foto © Horst Neumann

 

Ao contrário da igreja católica, a catedral de Lübeck, pertencente à Igreja luterana, tinha muitos visitantes (os católicos do Norte da Alemanha pertencem à arquidiocese de Hamburgo). Enfim, uma catedral é sempre mais imponente, apesar de esta, para a sua categoria, até nem ser muito grande.

2024-07-16 Lübeck 028.JPG

Foto © Horst Neumann

 

Nesta fotografia, estou a filmar antigos túmulos, pertencentes a elementos da nobreza dos séculos XVIII e XIX, que me impressionaram pela sua imponência. E aqui está o resultado das filmagens:

Resistência em alemão (16)

Cristina Torrão, 19.02.24

Irmã Maria Imma Mack

Depois de vários meses sem dar seguimento a esta série, venho hoje quebrar o silêncio, para falar de uma mulher, a segunda, depois de Sophie Scholl. Escrevi sobre vários padres católicos que contestaram o regime nazi, contrariando uma certa passividade na posição oficial da sua Igreja. Mas também mulheres pertencentes a esta instituição colaboraram com os opositores de Hitler. A Irmã Maria Imma Mack foi uma delas.

Maria Imma Mack 03.jpg

Imagem encontrada no site da Ordem a que pertenceu

Nascida a 10 de Fevereiro de 1924, na pequena localidade bávara de Möckenlohe, foi baptizada de Josefa Mack. Em 1942, começou a trabalhar num lar de órfãos, em Freising, pertencente ao mosteiro da Kongregation der Armen Schulschwestern von Unserer Lieben Frau. Já nessa altura, Josefa Mack tencionava ingressar nesta Ordem, fundada na Baviera, em 1833. Não sei se tem equivalente em português (se alguém o souber, pode dar a informação nos comentários). Em latim, intitula-se Congregatio Pauperum Sororum Scholasticarum Dominae Nostrae e, em inglês, School Sisters of Notre Dame.

Freising fica a cerca de 30 Km de Dachau, onde existiu um Campo de Concentração, do qual já falei aqui, a propósito do padre Engelmar Unzeitig, prisioneiro do “Bloco dos Padres” (Pfarrerblock). Por lá passaram 2720 sacerdotes, católicos na sua esmagadora maioria e de diversas nacionalidades, levando inclusive um jornalista francês, Guillaume Zeller, a escrever o livro La Barraque des Pretres. Também há um filme alemão, de Volker Schlöndorff, com o título Der neunte Tag.

Bloco dos Padres Dachau.jpg

Pfarrerblock em Dachau

Em Maio de 1944, Josefa Mack foi, pela primeira vez, incumbida de se deslocar ao horto do Campo de Concentração de Dachau, a fim de comprar flores e plantas. Apercebendo-se das condições miseráveis do campo, convenceu as freiras a pouparem na sua própria alimentação, a fim de ela poder levar comida aos prisioneiros, embora fosse proibido. Assim começou ela a ir lá regularmente, com o pretexto de comprar plantas.

Ferdinand Schönwälder, um padre jovem, trabalhava no posto de venda do horto e, um dia, pediu-lhe que trouxesse também vinho para a eucaristia, hóstias e medicamentos para o tifo. Os padres tinham organizado uma capela e pretendiam celebrar missas clandestinas. Josefa Mack colaborou e, durante cerca de um ano, deslocou-se várias vezes ao Campo de Concentração, fazendo, no Verão, os 30 Km (para cada lado) de bicicleta e, no Inverno, de trenó. As suas missões clandestinas tornaram-se ainda mais perigosas, quando assentiu a mais um pedido de Ferdinand Schönwälder: levar cartas dos prisioneiros para as suas famílias e amigos. Seria o suficiente para condenar Josefa Mack à morte, mas ela chegou a transportar missivas para o o cardinal Michael von Faulhaber, arcebispo de Munique e Freising. E foi ela quem, além das hóstias e do vinho, arranjou velas, santos óleos e paramentos, a fim de que o bispo francês preso em Dachau, Gabriel Piguet, de Clermont-Ferrand, pudesse ordenar padre o diácono Karl Leissner, um outro conhecido opositor do nazismo, beatificado em 1996 por João Paulo II e do qual hei-de igualmente falar aqui. Foi a única ordenação de um padre acontecida num Campo de Concentração nazi.

Depois da guerra, Josefa Mack tornou-se noviça e professou em 1946, adoptando o nome de Maria Imma. Muitos anos mais tarde, em 1989 publicou as suas memórias em livro. O título Warum ich Azaleen liebe (“Porque amo as azáleas”) foi inspirado numas azáleas vermelhas que um prisioneiro de Dachau lhe ofereceu, quando ela lhe prometeu visitar os pais dele. A promessa foi cumprida em Janeiro de 1945.

Warum ich Azaleen liebe.jpg

Editora eos

Encontrei uma tradução em espanhol, à venda em segunda mão na net:

Por que me gustan las azaleas.jpg

A 19 de Dezembro de 2004, a Irmã Imma Mack foi condecorada femme chevalier da Légion d’honneur, por ter auxiliado os padres franceses de Dachau. E, em 2005, o Presidente da República Federal da Alemanha Horst Köhler condecorou-a com a Bundesverdienstkreuz I. Klasse.

Maria Imma Mack 02.jpg

Imagem do site do Liceu, na Baviera, que passou a ostentar o seu nome

A Irmã Imma Mack faleceu a 21 de Junho de 2006. O seu nome foi dado a um liceu do concelho de Freising, assim como a algumas ruas (uma delas em Munique) e a uma praça, em localidades dessa região.

Resistência em alemão (15)

Cristina Torrão, 08.07.23

Max Joseph Metzger

Padre Max Josef Metzger 1.jpg

Imagem daqui

Este padre alemão foi executado pelo regime nazi por ser… pacifista!

Max Josef Metzger nasceu a 3 de Fevereiro de 1887, em Schopfheim, no Sul da Alemanha, filho de um professor de liceu e de uma dona de casa. Foi ordenado padre em 1911 e, nos dois primeiros anos da 1.ª Guerra Mundial, exerceu as funções de capelão militar junto dos soldados alemães, na frente francesa. Esta experiência levou-o a fundar, em 1917, um movimento católico pacifista, sob a égide “da Cruz Branca”.

Seguiram-se várias iniciativas e intervenções, tendo sempre em vista a paz mundial. Em 1918, publicou o manifesto “Paz na Terra” (Frieden auf Erden) e, em 1921, foi o primeiro alemão a discursar no Congresso Internacional da Paz, em Paris. Em 1938, fundou a Irmandade Una Sancta, um movimento ecuménico que pretendia juntar católicos e protestantes. Além disso, era um entusiasta do projecto da língua universal esperanto, no qual trabalhou afincadamente.

Padre Max Josef Metzger Esperanto.jpg

Da página alemã de livros sobre e em esperanto

Em 1932, Max Josef Metzger escreveu ao Papa Pio XI, alertando-o para o novo escalar belicista e pedindo-lhe que interviesse, a fim de ser evitada uma nova guerra mundial. E, em 1933, poucos meses depois da tomada do poder por Hitler, escreveu novo manifesto. Defendia ser o dever da Igreja fazer forte oposição ao regime, mas, não tendo aquela possibilidades de derrubar este, considerava mais vantajoso uma “cooperação construtiva” (konstruktive Zusammenarbeit), facultando à Igreja a oportunidade de se manter a par das medidas nazis, tentando impedir “o pior”. Na sequência deste escrito, Metzger tornou-se alvo da vigilância da Gestapo.

Depois de duas curtas passagens pela prisão (entre 24 e 26 de Janeiro de 1934 e 9 de Novembro e 4 de Dezembro de 1939) foi definitivamente preso a 29 de Junho de 1943, traído por uma funcionária da Gestapo, infiltrada na Irmandade Una Sancta. Dagmar Imgart tinha nacionalidade sueca e era autorizada a deslocar-se àquele país, mesmo durante a guerra, para visitar os seus familiares. A certa altura, Metzger confiou-lhe um memorando, onde propunha estruturas democráticas a aplicar na Alemanha, depois da derrota do nazismo. Dagmar Imgart deveria entregar esse memorando ao arcebispo luterano de Uppsala, Erling Eiden, que mantinha relações com o pastor luterano alemão Dietrich Bonhoeffer (outro membro da resistência ao nazismo, que já surgiu nesta série).

O memorando caiu directamente nas mãos da Gestapo e Metzger foi preso, em Berlim, ficando na cadeia de Plötzensee. A 14 de Outubro de 1943, o temido juiz Roland Freisler (talvez o mais conhecido juiz do regime nazi e já por várias vezes aqui referido) condenou-o à morte, num julgamento que durou pouco mais de uma hora. Nesse dia, Freisler já tinha proferido mais três dessas sentenças. No julgamento, foram citadas várias passagens do manifesto “Paz na Terra” (Frieden auf Erden), de 1918, a fim de se provar a alta traição do réu, assim como a sua preferência pelo inimigo. Freisler recusou-se a ouvir o que ele teria a dizer em sua defesa, alegando ser-lhe insuportável ouvir as “tiradas políticas do Dr. Metzger”. E declarou ser seu dever exterminar tal “úlcera pestilenta” (Pestbeule).

Max Josef Metzger foi transferido para a prisão Brandenburg-Görden e passou a usar algemas durante todo o tempo. Mesmo assim, escreveu muitas cartas, poemas e pensamentos teológicos e compôs algumas canções. Assim passou cerca de seis meses, até ser executado pela guilhotina, a 17 de Abril de 1944. Max Josef Metzger só foi avisado da sua execução duas horas antes e, durante esse tempo, escreveu mais cartas, declarando ser o seu sacrifício “pela paz no mundo e a unidade da Igreja” (für den Frieden der Welt und die Einheit der Kirche).

Metzger foi incluído no Martirológio alemão do século XX e, em 1994, a Praça Courbière, em Berlim, foi rebaptizada Praça Max Josef Metzger. A 8 de Maio de 2006, iniciou-se o seu processo de beatificação, na arquidiocese de Freiburg/Breisgau.

Padre Max Josef Metzger Pedra evocativa.jpg

Esta imagem mostra a pedra evocativa, descerrada por ocasião da mudança de nome da praça berlinense. Do lado esquerdo, lê-se a inscrição: Ich habe Gott mein Leben angeboten für den Frieden der Welt (Ofereci a minha vida a Deus pela Paz no Mundo).

Resistência em alemão (14)

Cristina Torrão, 20.05.23

Joseph Müller

Padre Joseph Müller 1.jpg

Imagem Wikimedia

O padre Joseph Müller nasceu a 19 de Agosto de 1894, em Salmünster, no estado de Hessen. O seu pai era tocador de órgão na igreja, criando nos filhos, desde cedo, uma forte ligação ao Catolicismo. Não só Joseph, mas também dois dos seus seis irmãos se tornaram padres.

Joseph Müller alistou-se voluntariamente na 1.ª Guerra Mundial e foi gravemente ferido, ficando com problemas de saúde durante toda a vida. Formou-se no Seminário de Hildesheim, cidade onde foi ordenado padre a 11 de Março de 1922, juntamente com um dos irmãos. Via com receio o ascender do Nacional-Socialismo (ou Nazismo) e não se coibia de o proferir, tanto nas suas homilias, como em eventos onde discursava.

Esta sua intervenção social e política não abrandou, depois de Hitler tomar o poder. Tentava, sobretudo, impedir os jovens de se deixarem influenciar pelo Führer. Na pequena cidade de Heiningen, onde foi padre, organizou ainda o protesto das famílias contra a decisão dos nazis de fecharem a escola católica.

Em 1943, tornou-se padre numa outra pequena cidade, Groß Düngen, e, apesar de se saber vigiado pela Gestapo, transmitiu ao representante do Partido Nazi dessa comunidade a sua preocupação pelo rumo tomado pela Alemanha. Acabou por ser preso a 6 de Setembro de 1943, a pretexto de uma anedota que terá contado por ocasião de uma visita feita ao pai desse político. Considerou-se ele ter comparado Hitler e Göring aos dois bandidos que foram crucificados junto com Jesus Cristo. A anedota era a seguinte:

Um soldado ferido, no seu leito de morte, perguntou à enfermeira se o Führer não o poderia visitar, já que morria precisamente por ele e pelo povo. A enfermeira respondeu-lhe tal não ser possível, mas trar-lhe-ia uma fotografia dele, se fosse seu desejo. O soldado assentiu e pediu-lhe que colocasse a fotografia do seu lado direito. Como ele pertencia à Luftwaffe (Força Aérea), a enfermeira trouxe-lhe também uma fotografia de Göring e pô-la do seu lado esquerdo. O soldado disse, então: «Agora, morro como Cristo».

Devido à sua saúde precária, porém, Joseph Müller acabou por ser libertado pouco tempo depois. Mas os representantes do Partido Nazi de Groß Düngen apelaram ao Tribunal do Povo de Berlim e o ele foi novamente preso, a 11 de Maio de 1944, sendo transferido para Berlim no dia 15, a fim de ser interrogado. Da prisão, Joseph Müller escreveu ao seu bispo, Joseph Godehard Machens. Destaco estes excertos (tradução minha):

«Percorrerei, junto com Cristo, (…) o caminho do sofrimento e da oração. Seja qual for o trajecto que Deus me reserva, não me queixarei (...) Agora sou eu quem precisa do apoio vindo das Alturas. Sei que não me faltará». Porém, quando o bispo e alguns outros colegas seus o visitaram, duas semanas mais tarde, disseram ter encontrado «um pobre prisioneiro, de roupa remendada e num estado psicológico bastante miserável».

Padre Joseph Müller com Bispo.jpg

Joseph Müller com Bispo de Hildesheim, Joseph Godehard Machens

No julgamento, a 28 de Julho de 1944, o temido juiz nazi Roland Freisler, presidente do Tribunal do Povo de Berlim, recusou ouvir as testemunhas de defesa que se haviam deslocado à capital para o efeito e acusou o “padreco” (Pfaffe, como lhe chamou) de alta traição, sabotagem e negação da autoridade estatal, ao tentar cavar um fosso entre a juventude, da qual era mentor, e o Führer. Condenou-o à morte, pela guilhotina, execução levada a cabo a 11 de Setembro de 1944.

Apesar das palavras dos colegas que o tinham visitado, Joseph Müller pareceu ganhar coragem, à medida que a data da sua execução se aproximava. Nas suas palavras, a sua morte era, naquele momento, mais valiosa para o Reino de Deus do que a sua vida. E, apenas uma hora antes de ser executado, escreveu à sua família, aos amigos e aos fiéis de Groß Düngen: «O meu coração transborda de alegria, pois vou regressar ao Pai. Daqui a uma hora, estarei em casa, deixando-vos nesta vida terrena (…), [mas tal] não nos pode afastar do amor de Cristo».

Em 1999, Joseph Müller foi incluído no Martirológio alemão do século XX.

Padre Joseph Müller Sepultura em Groß Düngen.jp

Sepultura do padre Joseph Müller em Groß Düngen

Resistência em alemão (13)

Cristina Torrão, 22.04.23

Engelmar Unzeitig

Padre Engelmar Unzeitig 2.jpg

Padre Englemar Unzeitig

 

O padre Engelmar Unzeitig (batizado Helmut Unzeitig) nasceu a 1 de Março de 1911, em Hradec nad Svitavou, hoje território da Chéquia. A sua família de lavradores pertencia aos Sudetas (cidadãos falantes da língua alemã).

O seu pai morreu de tifo, prisioneiro dos russos na 1ª Guerra Mundial, deixando a viúva com seis filhos, e Helmut Unzeitig teve de começar a trabalhar cedo na quinta da família. Desejava, porém, tornar-se missionário e, com 17 anos, deslocou-se à Baviera, a fim de ingressar na Ordem Mariannhill (Congregatio Missionarium de Mariannhill), vocacionada para o missionarismo em África. Adoptou o nome de um santo bávaro do século XI (Engelmar), aprendeu línguas estrangeiras e conseguiu concluir o liceu, já com 23 anos.

Depois de estudar Teologia e Filosofia, em Würzburg, foi ordenado padre em 1939, mas o rebentar da guerra impediu-o de ir em missão para o estrangeiro. Esteve numa dependência da Ordem em Riedegg (Áustria), onde deu apoio espiritual a prisioneiros franceses, apesar de ser proibido. Regressou à Boémia em Outubro de 1940, a fim de tomar conta da paróquia de Český Krumlov.

A 21 de Abril de 1941, foi preso pela Gestapo, na sequência de denúncias da Juventude Hitleriana, por “discurso traiçoeiro e defesa dos judeus” nas suas homilias e aulas de religião. Esteve seis semanas detido preventivamente em Linz, sem ser ouvido em Tribunal, sendo, em seguida, enviado para o campo de concentração de Dachau, na Baviera.

Pfarrerblock in Dachau.jpg

"Bloco dos Padres", em Dachau

Por ordens do próprio Heinrich Himmler, chefe da SS, tinha sido organizado, neste campo de concentração, o “bloco dos padres” (Pfarrerblock), por onde passaram 2720 sacerdotes, católicos na sua esmagadora maioria (cerca de 95%). A Gestapo mostrava todo o seu desprezo por eles, chamando-lhes “padrecos porcos” (Saupfaffen) e reservando-lhes torturas e humilhações especiais. Na Sexta-Feira Santa de 1940, por exemplo, resolveu inventar uma "crucificação". Pendurou sessenta sacerdotes em árvores, pelas mãos, depois de lhas terem prendido atrás das costas. Assim ficaram os padres durante uma hora, com os pés a poucos centímetros do chão. Nem todos sobreviveram.

Como já aqui referi, Jean Bernard, um sacerdote luxemburguês, que esteve igualmente preso em Dachau, publicou, em 2004, as suas vivências num livro, a partir do qual Volker Schlöndorff realizou um filme. Também um, ou uma comentadora (não se quis identificar) aqui do Delito me indicou o livro La Baraque des Prêtres, escrito por um jornalista francês sobre o “bloco dos padres” em Dachau.

La Baraque des Prêtres.jpg

Pelo campo de concentração de Dachau passaram mais de 200.000 prisioneiros, de quarenta países. Em Novembro de 1944, rebentou uma epidemia de tifo e Engelmar Unzeitig ofereceu-se voluntariamente para tratar dos doentes.

Nas barracas do tifo, os infectados não dispunham de colchões, nem de roupa de cama. Gritavam de dores, rebolando-se nos próprios excrementos, sobre as tábuas de madeira, num frio gélido. Os trapos que os envolviam estavam cheios de pulgas e piolhos. Segundo o testemunho de um sobrevivente, os tratadores limpavam os catres o melhor que podiam, lavavam os corpos esqueléticos sujos e suados e juntavam os trapos para os queimar. O padre Engelmar Unzeitig tentava ainda dar algum consolo espiritual aos doentes desesperados e conferia a extrema unção aos moribundos. Também impedia outros prisioneiros de morrerem à fome, dando-lhes os alimentos que os familiares lhe enviavam. No meio de toda a miséria, não perdia o ânimo. Na última carta que escreveu à família, reforçou a sua crença na imortalidade do Bem. A sua frase mais conhecida é: «O amor duplica as forças, liberta-nos interiormente e alegra-nos» (Liebe verdoppelt die Kräfte, sie macht innerlich frei und froh).

Não ficou imune à doença. Morreu de tifo (tal como o pai), a 2 de Março de 1945, um dia depois de completar os 34 anos. Os sobreviventes do campo de concentração que o conheceram chamavam-lhe o anjo de Dachau (Engel von Dachau).

Foi beatificado pelo Papa Francisco em 2016.

Igreja Engelmar Unzeitig.jpg

Igreja Engelmar Unzeitig, em Český Krumlov

Resistência em alemão (12)

Cristina Torrão, 01.04.23

Alfred Delp

Alfred Delp 1.jpg

Imagem daqui

Alfred Friedrich Delp nasceu a 15 de Setembro de 1907, em Mannheim. Era o mais velho de seis irmãos, mas, à altura do seu nascimento, os pais não eram casados e Alfred nasceu num lar de grávidas, pertencente à Ordem dos Jesuítas, onde foi igualmente baptizado. A mãe era católica, mas o pai era luterano. Acabaram por casar catolicamente e o pai, Johann Delp, teve de assinar uma declaração, onde se comprometia a deixar baptizar e educar as crianças que adviessem do seu casamento na Igreja Católica.

Esta promessa, porém, não foi cumprida, pois o casal foi viver com os pais protestantes de Johann Delp e a avó, orgulhosa da sua herança luterana, educou os netos na sua religião. Os conflitos na família eram constantes. Alfred chegou a fazer a “confirmação” (comunhão protestante), mas, depois de uma discussão com o pastor luterano, fez a primeira comunhão e recebeu o crisma.

Assim que acabou o liceu, Alfred Delp ingressou na Ordem dos Jesuítas, onde fez a sua formação superior. Foi ordenado padre em 1937 e colocado numa paróquia de Munique. Escrevia para a revista dos Jesuítas alemães, Stimmen der Zeit (Vozes do Tempo) que, desde a sua fundação, em 1865, se ocupava do papel da Igreja Católica na sociedade. Os artigos de Alfred Delp versavam sobre uma sociedade baseada nos princípios cristãos. A revista foi proibida pelos nazis, em Junho de 1941, só tornando a poder ser publicada em Outubro de 1946.

A partir de 1942, Alfred Delp começou a colaborar com o “Círculo de Kreisau” (Kreisauer Kreis), um movimento crítico do regime nazi, dirigido pelo conde von Moltke. O “Círculo de Kreisau” tentava desenvolver um modelo de sociedade depois do colapso do nazismo. Com a sua participação, Alfred Delp pretendia reforçar a orientação cristã na Alemanha a reconstruir.

O “Círculo de Kreisau” tinha contactos com os envolvidos no atentado a Hitler, de 20 de Julho de 1944, e, apesar de não estar envolvido nestes planos, Alfred Delp foi preso, cerca de uma semana mais tarde, ao terminar de rezar a missa matinal, na igreja de São Jorge, em Munique. O Tribunal reconheceu a sua inocência em relação ao atentado, mas a sua participação no “Círculo de Kreisau” e a sua acção social como padre Jesuíta foram suficientes para o condenar à morte por enforcamento. A Gestapo chegou a propor-lhe a libertação em troca do seu abandono da Ordem dos Jesuítas, mas ele recusou.

Alfred Delp 2.jpg

Alfred Delp no julgamento que o condenou à morte

Numa carta escrita na prisão, Alfred Delp dizia:

«Não sei quanto tempo tenho de esperar, nem sequer se serei executado. Daqui ao cadafalso de Plötzensee são apenas dez minutos de carro. Só nos informam pouco antes, só no próprio dia nos dizem: chegou a tua vez (…) Esforçar-me-ei por ser semente fértil, neste chão, para todos vocês, por este país e por este povo, a quem pretendi servir e ajudar» (tradução minha, do alemão).

Alfred Delp foi executado a 2 de Fevereiro de 1945. A caminho do cadafalso, disse ao confessor prisional: «Daqui a momentos, saberei mais do que o senhor».

O seu nome foi dado a inúmeras ruas, escolas, liceus, colégios, lares estudantis, casas paroquiais e centros de convívio juvenis. A conferência episcopal alemã incluiu-o no Martirológio do século XX.

Os pensamentos de Alfred Delp, principalmente, os escritos na prisão, foram reunidos em livros e alguns deles estão traduzidos, pelo menos, em inglês. Escreveu muitos desses papéis algemado, pois, além de ser regularmente torturado, havia alturas, em que, durante semanas, não lhe tiravam as algemas, nem para dormir, assim como não lhe apagavam a luz na sua cela.

Alfred Delp 3.jpg

«Pensámos apenas. Vamos ser executados, porque pensámos juntos. Se isto não é um reconhecimento!»

(Wir haben nur gedacht. Wir werden gehenkt, weil wir zusammen gedacht haben. Wenn das nicht ein Kompliment ist!)

Cristãos, Judeus e Nazismo

Cristina Torrão, 21.03.23

Tive uma surpresa agradável, provocada pela minha série Resistência em alemão, iniciada a 22 de Outubro de 2022. Depois de ter escrito sobre o grupo “Rosa Branca”, passei a exemplos de sacerdotes (católicos e protestantes), que pagaram com a vida a oposição aberta ao regime nazi. Há um par de semanas, fui contactada pelo Professor Mendo Henriques, da Universidade Católica, ele próprio surpreendido pelos exemplos de coragem mostrada pelos padres.

Em colaboração com a Paulinas Editora, o Professor Mendo Henriques e a sua equipa preparam a tradução de um livro do filósofo austríaco Friedrich Heer, intitulado “O Primeiro Amor de Deus” (Gottes erste Liebe), publicado em 1967. Resumindo em poucas palavras, trata-se da falta de uma condenação oficial do nazismo, antes do fim da 2ª Guerra Mundial, por parte da Igreja Católica, nomeadamente em relação ao Holocausto. No seu livro, Friedrich Heer faz a análise do ódio dos cristãos pelos judeus, que, como sabemos, dura já há dois milénios.

O Professor Mendo Henriques tinha conhecimento de alguns exemplos isolados de resistência, como o de Dietrich Bonhoeffer, mas pensava que se resumiam a isso: casos pontuais. Por isso, o impressionaram os relatos sobre os Mártires de Lübeck, aqui descritos. E, através da nossa troca de mensagens, revelei-lhe ter havido um bloco reservado a padres, no Campo de Concentração de Dachau, por onde passaram 2720 sacerdotes, 95% dos quais católicos (Pfarrerblock im Konzentrationslager Dachau, ou, em inglês, Priest Barracks of Dachau Concentration Camp). Este é um tema que estou ainda a pesquisar e do qual falarei na minha série. Entretanto, descobri já ter sido publicado um livro (em alemão) sobre este bloco, em 2004, escrito por um sacerdote luxemburguês que lá esteve preso. Deu inclusive origem a um filme com o título Der neunte Tag.

Pfarrerblock.jpg

O Professor Mendo Henriques tem realizado uma Acção de Formação online sobre a relação problemática entre cristãos e judeus e considera tão importante a revelação destes casos, que teve a amabilidade de me convidar como oradora para a próxima sessão deste curso, na quarta-feira, dia 22 (visualização através de Zoom).

Curso-ACD-22-março(1).png

Aqui fica a informação, para quem estiver interessado. A visualização é livre e qualquer pessoa pode pôr questões em relação às contribuições dos oradores. O link está na imagem, mas torno a pô-lo aqui, para ser mais fácil o acesso:

https://videoconf-colibri.zoom.us/j/82771955229

E, last but not least, agradeço ao Pedro Correia por me ter convidado, já há alguns anos, a escrever num dos mais lidos blogues portugueses.

Resistência em alemão (11)

Cristina Torrão, 18.03.23

Dietrich Bonhoeffer

Dietrich Bonhoeffer 1.jpg

Imagem Daqui

Dietrich Bonhoeffer nasceu a 4 de Fevereiro de 1906, em Breslau, a sexta criança de oito irmãos, filho do psiquiatra e neurologista Karl Bonhoeffer e da professora Paula Bonhoeffer. Em 1912, a família mudou-se para Berlim, onde o pai se tornou director da clínica neurológica do complexo hospitalar Charité, assim como Professor na Universidade Friedrich-Wilhelm.

Segundo a sua irmã gémea Sabine, Dietrich Bonhoeffer começou cedo a ocupar-se de temas como a morte e a eternidade, na sequência do falecimento do seu irmão Walter, combatente na 1ª Guerra Mundial, e na dificuldade sentida pela mãe em superar o desgosto. Ainda no liceu, escolheu o hebraico como disciplina opcional e, já estudante de Teologia Evangélica, esteve em Barcelona, junto da comunidade alemã. Passou igualmente um ano no Union Theological Seminary, em Nova Iorque, onde contactou com a comunidade negra do Harlem. Regressado à Alemanha, tornou-se Assistente do Teólogo Wilhelm Lütgert na Universidade de Berlim e foi ordenado Pastor Evangélico Luterano.

Ao contrário do entusiasmo que se fazia notar entre os Protestantes alemães, a sua família viu com muita preocupação a tomada do poder pelo Partido Nazi, a 30 de Janeiro de 1933. Apenas dois dias depois, numa dissertação radiofónica intitulada “Metamorfoses do Conceito de Führer" (Wandlungen des Führerbegriffes), Dietrich Bonhoeffer alertava para os perigos do poder absolutista da chancelaria, alegando que o endeusamento de um líder governamental significava o achincalhamento do nome de Deus. Não pôde, porém, concluir o seu discurso, porque lhe interromperam a transmissão. Além disso, estando o seu cunhado Rüdiger Schleicher convencido da aproximação de uma guerra, Dietrich Bonhoeffer fez-se notar, no meio académico berlinense, por declarar que a guerra tornava os cristãos cegos à mensagem de Deus.

Bonhoeffer com estudantes 1932.jpg

Bonhoeffer com estudantes em 1932

Através do seu amigo Pastor Franz Hildebrandt e de um outro cunhado, Gerhard Leibholz, ambos de origem judaica, acompanhou de perto a perseguição nazi a este grupo étnico-religioso. Viu, no entanto, frustradas as suas tentativas de tornar a defesa dos direitos humanos num dever ecuménico. Protestantes, como Católicos, resistiam a defender os judeus de perseguições.

Depois de uma estadia de ano e meio em Londres, para onde tinham emigrado a sua irmã e o cunhado judeu, e onde Bonhoeffer se ocupou de duas comunidades luteranas de língua alemã, recebeu, de um amigo, um convite para leccionar no Harlem, oferecendo-lhe a oportunidade de se exilar nos Estados Unidos, à semelhança de outros intelectuais alemães que rejeitavam Hitler. Aceitando, num primeiro momento, Bonhoeffer acabou por recusar. Sentia ser necessário exercer oposição no seu próprio país. E, não encontrando apoio no meio clerical, resolveu actuar de própria iniciativa, aliando-se a outras formas de resistência, incluindo a dos meios militares.

Embora não participasse nos planos de altas patentes nazis para assassinar Hitler, sabia desses planos e conhecia as pessoas. Serviu mesmo de intermediário entre elas e apoiantes estrangeiros. Fez viagens à Noruega, Suécia e Suíça. No geral, porém, encontrou pouco interesse, por parte dos Aliados, por essas conspirações. Estes seus movimentos e contactos não podiam deixar de serem notados pela Gestapo e, a 22 de Agosto de 1940, foi proibido de falar em público (o que incluía as suas funções como Pastor Luterano) e, em Março de 1941, foi proibido de escrever e publicar.

Depois de dois atentados falhados a Hitler, a 13 e a 21 de Março de 1943, Dietrich Bonhoeffer e o seu cunhado Hans von Dohnanyi foram presos preventivamente em Berlim, mas funcionários da Justiça, incluindo o juiz Karl Sack, que mais tarde seria preso, conseguiram travar o processo.

Placa de Homenagem Bonhoeffers Haus.jpg

Placa de Homenagem na antiga residência da família, em Berlim - Foto de Axel Mauruszat.Tradução do texto: Casa paterna dos irmãos Klaus e Dietrich Bonhoeffer. Com eles, morreram, na resistência ao nacional socialismo, os maridos das suas irmãs Rüdiger Schleicher e Hans von Dohnanyi, em Abril de 1945

Depois do famoso atentado de 20 de Julho de 1944, perpetrado pelo conde de Stauffenberg contra Hitler (filmado com o título Operação Valquíria e tendo Tom Cruise como protagonista), Bonhoeffer foi interrogado pela Gestapo mas não se conseguiu provar o seu envolvimento. No entanto, tanto este, como a sua implicação noutros planos para derrubar Hitler, foram descobertos, no Outono daquele ano. A Gestapo encontrou, por acaso, papéis e documentos, preparados por Hans von Dohnanyi, descrevendo todas essas conspirações, assim como listagens dos crimes nazis. Dohnanyi organizara esses papéis com o intuito de, quando tivesse oportunidade, esclarecer a população alemã e os Aliados.

A 8 de Outubro de 1944, Bonhoeffer foi preso, junto com o cunhado Dohnanyi, os militares envolvidos nas conspirações (entre eles, o Capitão Ludwig Gehre, o Almirante Wilhelm Canaris e o General Hans Oster) e o juiz Karl Sack. Foram metidos nos calabouços da central da Gestapo em Berlim como “prisioneiros pessoais” de Hitler. A 7 de Fevereiro de 1945, foram transferidos para o campo de concentração de Buchenwald e, no início de Abril, para o de Flossenbürg. A 5 de Abril (a guerra estava quase a acabar), Hitler ordenou a execução de todos os conspiradores ainda vivos do atentado de 1944. Através do prisioneiro inglês Payne Best, que conhecera em Buchenwald, Dietrich Bonhoeffer enviou uma mensagem ao bispo de Chichester George Bell, com quem fizera amizade no seu tempo em Inglaterra:

«Tell him (he said) that for me this is the end but also the beginning. With him I believe in the principle of our Universal Christian brotherhood which rises above all national interests, and that our victory is certain – tell him, too, that I have never forgotten his words at our last meeting».

A 8 de Abril de 1945 foram condenados à morte por enforcamento o Pastor Dietrich Bonhoeffer, o Capitão Ludwig Gehre, o Almirante Wilhelm Canaris, o General Hans Oster e o juiz Karl Sack. Não se fez acta dessa sentença. Foi executada no dia seguinte, 9 de Abril. Nas execuções por enforcamento, os condenados eram obrigados a dirigirem-se nus para o cadafalso. Um médico presente encarregava-se de os reavivar, caso desmaiassem durante a estrangulação, a fim de ser aumentado o seu tempo de martírio.

Dietrich Bonhoeffer foi autor de vários livros de Teologia e Filosofia. Depois da sua morte, também se publicaram novos, recorrendo a vários escritos soltos por ele deixados, como correspondência, homilias e dissertações.

Dietrich Bonhoeffer com frase 1.jpg

Imagem Daqui

Tradução da frase da imagem: «A nossa existência cristã só se preservará através de duas formas: na oração e no praticar da Justiça entre os humanos».

Resistência em alemão (10)

Cristina Torrão, 04.03.23

OS QUATRO MÁRTIRES DE LÜBECK

4 - Karl-Friedrich Stellbrink

Karl-Friedrich Stellbrink 2.jpg

Imagem daqui

O pastor luterano Karl-Friedrich Stellbrink é o mais polémico dos Mártires de Lübeck, pois começou por apoiar a política de Hitler e filiar-se no NSDAP (Partido Nazi).

Nasceu a 28 de Outubro de 1894 em Münster. Já depois de ter iniciado estudos de Teologia, com formação orientada para missões no estrangeiro, foi alistado, em Fevereiro de 1915, na 1ª Guerra Mundial. Devido a um ferimento grave, cerca de um ano mais tarde, que lhe paralisou a mão esquerda, foi dispensado do serviço militar e colocado em Berlim, a exercer serviço social ligado à Igreja Evangélica Luterana, enquanto concluía os seus estudos.

Casou a 5 de Março de 1921 com a professora Hildegard Dieckmeyer e, mês e meio mais tarde, foi enviado em missão para o Brasil. Exerceu funções pastorais junto das comunidades alemãs, em vários locais do Rio Grande Sul. O casal esteve oito anos no Brasil, país onde nasceram quatro dos seus cinco filhos. Depois de umas férias na Alemanha, no Verão de 1929, Karl-Friedrich Stellbrink resolveu ficar e foi colocado numa pequena comunidade do estado de Thüringen.

Karl-Friedrich Stellbrink Família.jpg

Karl-Friedrich Stellbrink e família

Stellbrink apoiou efusivamente a subida de Hitler ao poder, acreditando numa simbiose vantajosa entre o cristianismo e o nazismo. Para isso, terá contribuído o facto de Hitler, numa primeira fase, sublinhar ser cristão e usar citações bíblicas na sua propaganda. Na Primavera de 1934, Stellbrink mudou-se para Lübeck, onde exerceu as funções de chefe da Igreja Evangélica Luterana daquela cidade. E aqui se deu a reviravolta na sua vida. As razões terão sido de várias ordens, como, por exemplo, as ondas anticlericais que se faziam sentir, tanto a nível do partido, como a nível estatal. Também se geravam conflitos entre a Juventude Evangélica Luterana e a Juventude Hitleriana, à qual os seus filhos pertenciam, mas que acabaram por deixar. E quando, no funeral de uma personalidade nazi de Lübeck, o crucifixo na parede da capela do cemitério foi coberto por uma manta, Stellbrink desligou-se definitivamente do NSDAP. Em 1937, começou a ser vigiado pela Gestapo.

A partir de 1941, tomando conhecimento da eutanásia praticada em relação a cidadãos considerados inúteis, Karl-Friedrich Stellbrink entrou em contacto com o capelão católico Johannes Prassek, envolvendo-se no movimento antinazi da Igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Na noite de 28 para 29 de Março (Domingo de Ramos) de 1942, houve um ataque aéreo dos Aliados à cidade de Lübeck, no qual morreram 320 pessoas, ficando 700 feridas e 16.000 desalojadas. Nesse Domingo de Ramos, na missa da “Confirmação” dos jovens luteranos (o equivalente à segunda comunhão dos católicos), o pastor Stellbrink criticou duramente a política do regime. Segundo um relatório da Gestapo, ele terá considerado serem os ataques dos Aliados o castigo de Deus sobre a política nazi.

Passados dez dias, foi preso pela Gestapo. A sua remuneração foi cortada e a sua família isolada, sem qualquer ajuda da Igreja Evangélica Luterana. Junto com os três sacerdotes católicos da Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Eduard Müller, Johannes Prassek e Hermann Lange), Stellbrink foi condenado à morte, num processo de três dias, presidido pelo Segundo Senado do Tribunal do Povo de Berlim, que se deslocara a Lübeck para o efeito. Os quatro prelados foram então transferidos para a prisão Holstenglacis, em Hamburgo, onde foram executados pela guilhotina, no espaço de três minutos uns dos outros, a 10 de Novembro de 1943. Só depois da guerra, a 18 de Junho de 1945, a Igreja Luterana decidiu conceder uma reforma por viuvez a Hildegard Dieckmeyer.

Mártires de Lübeck.jpg

Placa de homenagem aos quatro mártires de Lübeck, na prisão Holstenglacis de Hamburgo

O destino conjunto dos três prelados católicos e do pastor protestante representa, hoje em dia, um papel importante no ecumenismo alemão. Na cerimónia de beatificação dos padres Eduard Müller, Johannes Prassek e Hermann Lange, em 2011, o pastor Karl-Friedrich Stellbrink foi igualmente dignificado pelo cardeal Walter Kasper, que presidiu ao evento.

Porém, Karl-Friedrich Stellbrink permanece polémico. O historiador Hansjörg Buss reclama uma discussão sobre o seu carácter e o seu verdadeiro significado na História alemã, pois classifica-o de nacionalista exacerbado, racista e opositor da democracia. Estando, porém, fora de dúvida ele ter sido uma vítima do terror nazi, há ruas com o seu nome em Hamburgo, Lübeck e outros locais. Além disso, está incluído na ala de homenagem aos Mártires de Lübeck, anexa à igreja do Sagrado Coração de Jesus.

Ala de homenagem aos Mártires de Lübeck 2.jpg

Ala de homenagem aos Mártires de Lübeck

Resistência em alemão (9)

Cristina Torrão, 18.02.23

OS QUATRO MÁRTIRES DE LÜBECK

3 - Eduard Müller

Eduard Müller 2.jpg

Imagem daqui

Eduard Müller nasceu a 20 de Agosto de 1911, em Neumünster, no Norte da Alemanha, o mais novo de sete irmãos. O pai abandonou a família cedo e raramente enviava dinheiro, a mãe teve de sustentar os filhos praticamente sozinha, executando limpezas e lavando roupa para fora. Eduard tornou-se carpinteiro e o capelão Bernhard Schräder de Neumünster resolveu ajudá-lo a realizar o desejo de se tornar padre, arranjando apoio financeiro, através de donativos.

Eduard Müller terminou a sua formação no Seminário de Münster e foi ordenado padre em 1940. A 27 de Agosto desse ano, foi colocado como adjunto na igreja do Sagrado Coração de Lübeck e incumbido da formação de jovens a partir dos 10 anos. Por sua iniciativa, criou-se um espaço de convívio na cave da igreja e, como era muito acarinhado pelos jovens, a Juventude Hitleriana ofereceu-lhe um lugar na sua organização. Eduard Müller recusou, na sua convicção de que o nazismo era incompatível com o cristianismo.

 

Eduard Müller com grupo de jovens.jpg

Eduard Müller com um grupo de jovens, em Lübeck

Junto com os colegas Johannes Prassek e Hermann Lange, ouvia as transmissões em língua alemã da BBC, proibidas pelo regime desde 1939. Além disso, participava na cópia e distribuição das homilias do bispo de Münster contra a eutanásia de "vidas inúteis" (velhos, doentes incuráveis e/ou psíquicos, etc.) e organizava reuniões na igreja, onde se discutia a inutilidade da guerra.

Eduard Müller foi preso a 22 de Junho de 1942 e condenado à morte, um ano mais tarde, junto com Johannes Prassek, Hermann Lange e o pastor luterano Karl-Friedrich Stellbrink. A sentença foi executada a 10 de Novembro de 1943, na prisão Holstenglacis, de Hamburgo.

Junto com os seus dois colegas de martírio, Eduard Müller foi beatificado em 2011.

Resistência em alemão (8)

Cristina Torrão, 04.02.23

OS QUATRO MÁRTIRES DE LÜBECK

2 - Johannes Prassek

Johannes Prassek 2.JPG

Imagem daqui

Johannes Prassek nasceu a 13 de Agosto de 1911, no seio de uma família humilde, em Hamburgo. Estudou Teologia e Filosofia na Escola Superior dos Jesuítas, em Frankurt am Main, e completou a sua formação no Seminário de Münster. Foi ordenado padre a 13 de Março de 1937, em Osnabrück, e, a partir de Março de 1939, foi colocado como capelão na Igreja do Sagrado Coração de Jesus de Lübeck, onde dava aulas de religião e participava na orientação espiritual dos fiéis.

Johannes Prassek era caracterizado como sendo corajoso, foi inclusive homenageado por ter ajudado na evacuação de um hospital destruído pelos bombardeamentos de Lübeck, a 28 e 29 de Março de 1942.

Não escondia a sua rejeição pelo regime nazi. Expressava-a nas suas homilias e, quando lhe diziam que não criticasse o regime tão abertamente, ele respondia: «Alguém tem de dizer a verdade». Nas suas aulas de religião e em conversas, declarava-se contra os planos estatais de eliminação de doentes físicos e mentais, além de criticar o tratamento desumano da população civil dos territórios conquistados pelos alemães. Por ter aprendido polaco no Seminário, dava clandestinamente apoio espiritual a polacos, forçados a trabalhar na fábrica de munições e armamento de Lübeck. Encorajou inclusive jovens polacos, que se conheceram e apaixonaram na Alemanha, a viverem em comum, mesmo sem casamento, pois ele estava impedido de os casar. Na sequência deste seu comportamento, celebraram-se, depois do fim da guerra, muitos casamentos entre polacos, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Lübeck.

Depois de o seu domicílio ser revistado, a 28 de Maio de 1942, foi detido pela Gestapo, com o fundamento de divulgar as homilias do bispo Clemens August Graf von Galen, assim como ser má influência para soldados. Esteve cerca de ano e meio em prisão preventiva, junto com os padres Eduard Müller e Hermann Lange e o pastor luterano Karl-Friedrich Stellbrink. Depois de um processo dirigido pelo Segundo Senado do Tribunal do Povo de Berlim, deslocado a Lübeck, foi condenado à morte. Um pedido de clemência por parte do seu bispo Hermann Wilhelm Berning (que incluía os outros dois padres católicos), foi recusado.

Johannes Prassek foi executado pela guilhotina, a 10 de Novembro de 1943, na prisão Holstenglacis, em Hamburgo. Junto com os seus dois colegas de martírio, foi beatificado a 25 de Junho de 2011 por Bento XVI.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus Lübeck.jpg

Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Lübeck, Klaus Kegebein - Eigenes Werk, CC BY-SA 4.0

Além de vários centros paroquiais com o seu nome, no Norte da Alemanha, o beato Johannes Prassek é o patrono de uma grande paróquia da arquidiocese de Hamburgo (formada com a junção de cinco antigas paróquias). Também um parque no bairro hamburguês de Barmbek-Süd foi inaugurado, com o seu nome, em 2011.

Resistência em alemão (7)

Cristina Torrão, 21.01.23

OS QUATRO MÁRTIRES DE LÜBECK

Lübeck era uma das mais importantes cidades da Liga Hanseática. Na primeira metade do século XX, tornou a ganhar destaque por ter sido a cidade-natal de Thomas Mann, sendo igualmente lá que o escritor nobelizado situou a família Buddenbrook, protagonista do seu romance mais famoso.

Foi igualmente em Lübeck que três padres católicos e um pastor luterano, opositores do nazismo, exerceram funções. Viriam a ser executados, a 10 de Novembro de 1943, pela guilhotina, em Hamburgo, no espaço de apenas três minutos uns dos outros. Estes e mais exemplos, dos quais falarei nesta série, mostram que, se a Igreja Católica se manteve, oficialmente, distante dos crimes nazis, muitos dos seus membros opuseram-se abertamente, pagando com a própria vida.

1 - Hermann Lange

Hermann Lange 2.JPG

Imagem daqui

Hermann Lange nasceu a 16 de Abril de 1912, em Leer, uma pequena cidade no Norte da Alemanha. Nos tempos de liceu, pertenceu à organização católica Bund Neudeutschland e cedo decidiu tornar-se padre. Estudou no Seminário de Münster e, a 17 de Dezembro de 1938, foi ordenado na Catedral de Osnabrück. Meio ano mais tarde, foi colocado em Lübeck, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, a mais importante da cidade, onde foi nomeado vigário.

Sempre expressou antipatia pelo nazismo denunciando, em encontros clandestinos, os crimes de guerra dos alemães. Distribuía folhetos com textos críticos ao regime, como as homilias do bispo de Münster, Clemens August Graf von Galen. E sabe-se que, junto de jovens soldados, dizia ser a participação na guerra incompatível com a fé cristã.

As suas actividades não ficaram despercebidas. Foi denunciado e a Gestapo revistou a sua casa, sendo preso a 15 de Junho de 1942, assim como mais dois padres católicos pertencentes à mesma igreja (Eduard Müller e Johannes Prassek), o pastor luterano Karl-Friedrich Stellbrink e vários leigos, acusados de colaborarem com eles.

De uma carta sua, escrita na prisão, é conhecido o seguinte extracto:

«Aguardo, com muita calma, os acontecimentos futuros. Quando nos entregamos totalmente à vontade de Deus, gere-se um maravilhoso sossego e a certeza da Sua proteção (…) Somos apenas ferramentas nas mãos de Deus. Se Deus quer a minha morte - que se realize o seu desejo» (tradução minha, do alemão).

Depois de um ano de prisão preventiva, foi decidida a sua execução, num processo de três dias, presidido pelo Segundo Senado do Tribunal do Povo de Berlim, que se deslocara a Lübeck para o efeito. Ele e os outros três prelados foram então transferidos para a prisão Holstenglacis, em Hamburgo, onde foram executados, a 10 de Novembro de 1943. As últimas palavras de Hermann Lange, dirigidas ao confessor prisional, foram: «Até ao feliz reencontro no céu. Transmita as minhas saudações à minha querida gente de Lübeck e aos meus conterrâneos de Leer».

O corpo de Hermann Lange foi cremado e a urna esteve, durante muito tempo, por baixo de uma placa de vidro, no chão da Igreja do Sagrado Coração de Lübeck. Em Outubro de 2013, foi inaugurada uma ala de homenagem aos mártires de Lübeck, anexa à igreja, que esclarece sobre a situação política e eclesiástica da altura, os quatro prelados e os leigos que com eles foram acusados.

Ala de homenagem aos Mártires de Lübeck 1.jpg

Espaço de homenagem aos quatro mártires, anexo à Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lübeck

Hermann Lange e os seus dois colegas foram beatificados por Bento XVI, a 25 de Junho de 2011. Na cerimónia, em Lübeck, foi incluído o pastor protestante Karl-Friedrich Stellbrink, referindo-se ser merecedor de igual veneração, apesar de não poder ser beatificado pela Igreja Católica (está naturalmente incluído no espaço de homenagem).

Também na Igreja de São Miguel, em Leer, cidade-natal de Hermann Lange, foi criado um local de homenagem aos quatro mártires, em 2015. Em Lübeck, Leer, Papenburg e Hamburgo existem ruas com o nome de Hermann Lange. No adro da Igreja de Santo António, em Lohne, onde este padre exerceu funções em 1939, foi erguida uma estátua sua em 2010.

Resistência em alemão (6)

Cristina Torrão, 07.01.23

Kurt Huber

Kurt Huber com Rosa Branca.jpg

Wikimedia

Kurt Ivo Theodor Huber nasceu a 24 de Outubro de 1893 em Chur, na Suíça, mas a sua família emigrou para Estugarda, era ele ainda criança. Depois da morte do pai, na altura em que Kurt acabou o liceu, a mãe foi com os filhos para Munique. Kurt Huber formou-se em Musicologia e Filosofia na Universidade Ludwig-Maximilian, tendo, mais tarde, concluído igualmente o curso de Psicologia.

Em 1926, começou a leccionar Filosofia nessa Universidade, ao mesmo tempo que se dedicava à pesquisa da música folclórica e tradicional alemã, tornando-se especialista neste ramo. Em 1937, passou a ter a seu cargo o departamento de Música Folclórica do Instituto de Musicologia de Berlim. Um ano mais tarde, porém, o regime nazi recusou-lhe um lugar de Professor na Universidade da capital. O pretexto seriam mazelas físicas, nomeadamente, uma paralisia parcial na face, consequência da difteria de que sofrera em criança. Razões políticas estariam, contudo, na origem da recusa, pois havia denúncias a apontá-lo muito ligado ao Catolicismo e com tendência para criticar o Partido Nazi.

Kurt Huber era um nacionalista conservador, mas, ao mesmo tempo, opositor de Hitler, na medida em que rejeitava a guerra e a conquista de território como métodos de elevar a nação alemã. As suas críticas em relação ao Führer tinham já chegado aos ouvidos dos mais altos quadros académicos e o regime mantinha-o debaixo de olho.

Desiludido, Kurt Huber regressou a Munique e retomou as aulas de Filosofia, na Universidade Ludwig-Maximilian. Numa nova avaliação do regime, a 18 de Janeiro de 1940, é considerado “duvidoso”, mas não “caso perdido”. Talvez por isso ele ingresse no Partido Nazi, em Abril desse ano, conseguindo, finalmente, tornar-se Professor Catedrático.

Nas suas aulas, porém, não deixou de lançar, de vez em quando, comentários irónicos ou depreciativos em relação ao regime. Isso mesmo notou Sophie Scholl, que, em 1942, ingressou na Universidade Ludwig-Maximilian, a fim de estudar Filosofia e Biologia. O irmão Hans frequentava o curso de Medicina, assim como Alexander Schmorell, Christoph Probst e Willi Graf, os fundadores do grupo Weiße Rose. Animados por Sophie, assistiram a algumas aulas de Kurt Huber e logo sentiram ele ser “um deles”, como Hans Scholl confidenciou a Inge, a sua irmã mais velha: «Apesar de já começar a ter brancas, ele é um de nós.»

Kurt Huber foi-se envolvendo com o grupo Weiße Rose, apesar de haver hesitado durante bastante tempo. Por um lado, não acreditava que os panfletos tivessem grande efeito na sociedade alemã, sendo, em proporção, o risco elevado demais. Por outro, na sua mente conservadora, não lhe agradava o esquerdismo do grupo, chegou mesmo a apelidá-lo de comunista. No entanto, concordou em fazer a revisão do quinto panfleto, escrito por Hans Scholl e Alexander Schmorell, acrescentando-lhe frases de sua autoria. Participou igualmente na redacção do sexto panfleto, o último que o grupo distribuiu, pois os irmãos Scholl foram descobertos a fazê-lo, a 18 de Fevereiro de 1943. Kurt Huber foi preso a 27 desse mês, já Hans, Sophie e Christoph Probst tinham sido executados. Em sua defesa, perante o tribunal que o condenou à morte, a 19 de Abril de 1943, o Professor disse:

«As minhas acções e intenções serão justificadas no inevitável curso da História; acredito firmemente nisso. Deus permitirá o desabrochar, no meu próprio povo, da força interior que reivindicará os meus feitos. Fiz aquilo que a minha voz interior me ditou» (tradução minha, do inglês).

Kurt Huber foi executado pela guilhotina a 13 de Julho de 1943.

Kurt Huber - placa homenagem LMU.jpg

Pormenor da placa de homenagem a Kurt Huber na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique

Hans Scholl, Sophie Scholl, Alexander Schmorell, Christoph Probst, Willi Graf e o Professor Kurt Huber foram os seis que pagaram com a vida o envolvimento no grupo Rosa Branca. Outros colaboradores e colaboradoras foram condenados a penas de prisão entre um e dez anos.

Weiße Rose.jpg

Homenagem ao grupo Weiße Rose na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique

Haveremos de ser, para sempre, o povo odiado e rejeitado pelo resto do mundo?

(„Sollen wir auf ewig das von aller Welt gehasste und ausgestossene Volk sein?“)

Frase contida no quinto folheto distribuído pelo grupo Weiße Rose.

Resistência em alemão (5)

Cristina Torrão, 17.12.22

Willi Graf

Willi Graf - Placa de homenagem na casa onde nasce

Placa de homenagem a Willi Graf com foto, na casa onde nasceu

Wilhelm „Willi“ Graf nasceu a 2 de Janeiro de 1918 em Euskirchen, mas a família mudou-se para Saarbrücken quatro anos depois, onde o pai Gerhard Graf tomou conta de uma quinta pertencente à paróquia de São João. A família era muito ligada à Igreja, Willi Graf ajudou à missa e pertenceu a uma organização de Juventude Católica chamada Bund Neudeutschland, proibida assim que o Partido Nazi alcançou o poder. Em 1934, Willi Graf ingressou numa outra organização católica, a Grauer Orden, abertamente crítica do regime e também proibida, mas que sobreviveu vários anos na clandestinidade, dividida em pequenas unidades regionais.

Willi Graf recusou ingressar na Juventude Hitleriana, apesar de o terem ameaçado de, nesse caso, não lhe permitirem acabar o liceu. Também não se deixou convencer, quando lhe propuseram que ingressasse apenas para manter as aparências. O jovem manteve-se firme nas suas convicções e conseguiu concluir os estudos liceais, de maneira a poder iniciar o curso de Medicina, em Bona, no Outono de 1937.

Em 1938, foi preso, junto com outros elementos da Grauer Orden. Algumas semanas mais tarde, porém, beneficiou de uma amnistia na sequência da anexação da Áustria. Quando rebentou a guerra, foi alistado. Serviu a Wehrmacht (exército alemão) até 1942 como socorrista e médico auxiliar na Bélgica, França, Jugoslávia e União Soviética, assistindo a muitas atrocidades. Segundo a sua irmã Anneliese, estas experiências despertaram nele a convicção de que teria de agir.

Willi Graf Soldado.JPG

https://www.literaturland-saar.de/themen/willi-graf-briefe-tagebuecher/willi-graf-briefe-und-tagebuecher/

Em Abril de 1942, foi transferido para a Universidade Ludwig-Maximilian, em Munique, onde entrou em contacto com Hans e Sophie Scholl, tornando-se num elemento activo do grupo Weiße Rose. Na primeira metade de Fevereiro de 1943, além da distribuição dos folhetos, Willi Graf, Hans Scholl e Alexander Schmorell pintaram em vários edifícios de Munique palavras de ordem, como “Abaixo Hitler” e “Hitler assassino em massa”.

Quando, a 18 de Fevereiro, os irmãos Scholl foram descobertos a distribuir os folhetos e entregues à Gestapo, Willi Graf e a sua irmã Anneliese foram igualmente presos, passadas poucas horas. Anneliese, porém, nada tinha a ver com o Weiße Rose (nem sequer sabia que o irmão pertencia ao grupo) e foi libertada. Ele foi condenado à morte a 19 de Abril de 1943, mas, ao contrário dos irmãos Scholl e de Christoph Probst, a sentença não foi imediatamente cumprida. Durante seis longos meses, a Gestapo submeteu-o repetidamente a interrogatórios, na esperança de conseguir extorquir-lhe nomes de outros “traidores”. Willi Graf acabou por ser executado pela guilhotina a 12 de Outubro de 1943. Foi sepultado em Munique, mas, a pedido da família, os seus restos mortais foram trasladados para Saarbrücken, onde, a 4 de Novembro de 1946, foram depositados num túmulo de honra, no cemitério de São João.

Em 1999, Willi Graf foi inserido no Martirológio Católico do século XX. A 27 de Dezembro de 2017, a diocese de Munique-Freising anunciou considerar a sua beatificação e a 1 de Novembro de 2018, foi inaugurado o sino Willi Graf na Igreja de Santa Elisabete, em Saarbrücken.

Willi Graf Sino.jpg

https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=74050872

Além de vários liceus e ruas, têm o nome de Willi Graf: um lar de estudantes em Munique, um lar de idosos em Saarbrücken, um centro de formação para famílias em Neuss e um centro de convívio para jovens em Ludwigshafen am Rhein.

Terminada a guerra, a irmã Anneliese Knoop-Graf dedicou-se intensivamente a analisar a vida, o pensamento e a acção de Willi Graf, através dos diários dele, entre outras fontes. O seu trabalho em prol do estudo da resistência alemã ao nazismo valeu-lhe um doutoramento Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Karlsruhe. Anneliese Knoop-Graf também instituiu o Prémio Willi Graf no Liceu Irmãos Scholl de Münster, conferido anualmente a finalistas que se destaquem pelo seu desempenho.

 

Nota: Não publicarei o próximo "postal" desta série a 31 de Dezembro, véspera de Ano Novo. Ela será retomada a 7 de janeiro de 2023.

Resistência em alemão (4)

Cristina Torrão, 03.12.22

Christoph Probst

Sophie Scholl, Hans Scholl, Christoph Probst - Fot

Foto: George (Jürgen) Wittenstein/akg-images

Nesta fotografia, além dos irmãos Hans e Sophie Scholl, encontra-se o seu amigo e companheiro de luta do grupo “Rosa Branca” Christoph Probst (à direita). Esta fotografia acabou por ser premonitória, pois os três foram presos e executados no mesmo dia.

Christoph Hermann Ananda Probst nasceu em Novembro de 1919, filho de Hermann Probst, um engenheiro químico com ligações ao meio artístico, nomeadamente, com artistas proscritos pelo regime nazi. Hermann Probst era igualmente um estudioso do sânscrito e da filosofia indiana. O filho cresceu assim num meio valorizador da liberdade cultural e religiosa.

O destino de Christoph Probst foi particularmente trágico. Estudante de Medicina na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, dava ideias para a criação dos folhetos distribuídos clandestinamente pelo grupo "Rosa Branca". Mantinha-se, porém, afastado de um envolvimento mais comprometedor. Só por ocasião da Batalha de Estalinegrado, se decidiu a escrever ele próprio um texto, que deveria constar do sétimo folheto. Nunca chegaria a ser imprimido. Quando os irmãos Scholl foram descobertos a distribuir o sexto panfleto, Hans tinha no bolso o rascunho de Christoph Probst, contendo, entre outras frases de repúdio pelo nazismo: “Hitler e o seu regime têm de cair para que a Alemanha possa continuar a viver” (Hitler und sein Regime muss fallen, damit Deutschland weiter lebt).

Christoph Probst foi preso de imediato e, apesar de as actas dos interrogatórios provarem que Hans e Sophie tudo fizeram para tentar ilibar o amigo, assumindo a responsabilidade de todas as acções da “Rosa Branca”, ele viria a ser executado, pela guilhotina, apenas quatro dias depois, tal como eles. A tragicidade do seu destino, porém, não se resume a esta série de acasos infelizes. Casara em 1940, com apenas 21 anos, e já era pai, a razão porque se mantivera cauteloso em relação à sua participação na “Rosa Branca”. Quando foi executado, a 22 de Fevereiro de 1943, tinha dois filhos e uma filha, esta com apenas quatro semanas de vida. Herta Dohrn, a sua jovem mulher, encontrava-se ainda no hospital, devido a complicações desse último parto.

Christoph Probst.jpg

Wikipedia

Momentos antes da sua execução, Christoph Probst foi, a seu pedido, baptizado catolicamente e está incluído no Martirológio alemão do século XX, publicação a cargo da Conferência Episcopal deste país. Além disso, consta igualmente da Neue Deutsche Biographie (NDB), uma publicação da Comissão Histórica da Academia Bávara das Ciências (Bayerische Akademie der Wissenschaften), que reúne biografias dignas de nota. As entradas são de autoria diversa; a de Christoph Probst é do seu filho mais velho, Michael Probst, nascido em 1940 (falecido em 2010).

Além de algumas placas de homenagem, em diversos locais (como na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique), Christoph Probst dá o nome a várias ruas e a três liceus (o que, aliás, comparado com os irmãos Scholl - cerca de duzentos liceus - soa a pouco).

Resistência em alemão (3)

Cristina Torrão, 19.11.22

Alexander Schmorell

Alexander Schmorell.jpg

Wikipedia

Alexander Schmorell nasceu em Setembro de 1917 em Orenburg, cidade russa perto da fronteira com o Cazaquistão. Tinha, porém, nacionalidade alemã, pois descendia de uma família da Prússia Oriental (território hoje dividido entre a Rússia e a Polónia). A sua mãe russa era filha de um padre ortodoxo e Alexander foi baptizado na Igreja Ortodoxa. A senhora morreu, porém, quando o filho tinha apenas dois anos e, em 1921, Alexander acabou por ir com o pai médico e a sua segunda mulher para Munique.

Em 1935, conheceu Christoph Probst no liceu, que, tal como ele, haveria de pertencer ao grupo “Rosa Branca”. Em 1937, entrou para o serviço militar e, em 1938, participou na anexação da Áustria e na invasão da Checoslováquia. Já nessa altura terá entrado em conflito com a ideologia nazi.

Cumprido o serviço militar, e apesar de ser mais inclinado para as artes (pintura e escultura), iniciou, por influência do pai, o curso de Medicina em Hamburgo. Nas férias de Verão de 1940, teve de cumprir serviço como socorrista na frente francesa e, regressado à Alemanha, encetou os seus estudos em Munique, na Universidade Ludwig-Maximilian, onde conheceu Hans Scholl.

Tornou-se num dos principais membros do grupo “Rosa Branca”, tendo dividido com Hans Scholl a autoria de quatro folhetos, criados e distribuídos entre Maio e Julho de 1942. Nesta altura, os dois foram novamente mobilizados, desta vez, na frente do Leste, e, depois do seu regresso a Munique, o tom dos seus textos contra o regime nazi endureceram. Além disso, procuraram aumentar o seu raio de acção, também com a ajuda do Professor Kurt Huber, tentando contactos com Berlim. Alexander Schmorell distribuiu panfletos igualmente em várias cidades austríacas e, junto com Hans Scholl, pintou palavras de ordem como “Abaixo Hitler” e “Liberdade” em muros e paredes de Munique.

Alexander Schmorell- placa homenagem LMU.jpg

Placa de homenagem a Alexander Schmorell na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique

Depois da detenção dos irmãos Scholl e de Christoph Probst, Alexander Schmorell tentou, em vão, fugir para a Suíça com um passaporte falso. Nada mais lhe restou do que regressar a Munique, onde havia já um mandado de detenção em seu nome, com uma recompensa de 1000 marcos. A 24 de Fevereiro de 1943, o dia do enterro dos seus amigos executados, foi reconhecido num abrigo de ataque aéreo e detido, após denúncia. Condenado à morte por decapitação a 19 de Abril de 1943, foi executado a 13 de Julho seguinte, com vinte e cinco anos de idade.

Alexander Schmorell foi incluído na lista dos Novos Mártires da Igreja Ortodoxa Russa no estrangeiro, em Novembro de 1981. Em 2007, esta Igreja decidiu canonizá-lo, processo que se concluiu com a respectiva cerimónia, a 4 de Fevereiro de 2012, em Munique. O dia da sua morte, 13 de Julho, é o dia do Santo Alexandre de Munique, nesta liturgia

Alexander Schmorell Santo.jpeg

Orthpedia

Resistência em alemão (2)

Cristina Torrão, 05.11.22

Sophie Scholl

As memórias de Traudl Junge, secretária de Hitler, serviram de base ao filme A Queda (Der Untergang), no qual o falecido Bruno Ganz interpreta o ditador nazi. No início de 1945, Traudl Junge foi uma das colaboradoras do Führer admitida no bunker construído por baixo da chancelaria do III Reich. No filme, ela é interpretada pela actriz Alexandra Maria Lara.

Terminada a guerra, os Aliados ilibaram-na de culpas, muito devido à sua idade. Traudl Junge tinha 22 anos, quando começou a trabalhar para Hitler, e 25, quando a guerra terminou. Pouco antes da sua morte, vi partes de uma entrevista sua, na televisão. Dizia ela que, durante muito tempo, assim acreditara ter sido: Hitler sempre fora simpático com ela, nova demais para tomar verdadeira consciência do carácter e das atrocidades cometidas em nome dele. Um dia, porém, numa placa de homenagem a Sophie Scholl, não conseguiu desviar o olhar da data de nascimento: 9 de Maio de 1921. Traudl Junge, nascida a 16 de Março de 1920, era um ano mais velha. E, pela primeira vez, aceitou aquilo que se esforçava por recalcar: a idade não pode servir de desculpa, ou pretexto, para fechar os olhos.

Sophie Scholl, Hans Scholl, Christoph Probst - Fot

Sophie Scholl com o irmão Hans (à esquerda) e Christoph Probst

Foto: George (Jürgen) Wittenstein/akg-images

À semelhança do seu irmão Hans, dois anos e meio mais velho, Sophia Magdalena „Sophie“ Scholl começou por se agradar do ideal comunitário propagado pelo partido nazi e ingressou, com treze anos, na BDM, uma organização de raparigas equivalente à Juventude Hitleriana. Os pais nunca simpatizaram com o regime de Hitler e não viam com bons olhos estas opções dos filhos. Mas deram-lhes liberdade de escolha. Passados dois anos, depois de terem conhecido as organizações por dentro, tanto o filho, como a filha, lhes viraram as costas.

A leitura das obras de Santo Agostinho de Hipona parece terem sido essenciais para uma nova orientação na vida de Sophie Scholl, em defesa dos valores cristãos. E, em Maio de 1942, ingressou nos cursos de Biologia e Filosofia na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, onde o irmão estudava Medicina. Assim entrou ela em contacto com opositores do nazismo.

Sophie ingressou no grupo “Rosa Branca” (Weiße Rose), participando na criação e distribuição dos folhetos, apesar de o irmão ter tentado afastá-la da oposição activa ao regime. O sucesso do grupo, alargando os seus contactos e fazendo chegar os seus escritos a outras cidades, chamou a atenção da Gestapo. A temida polícia política iniciou uma averiguação quanto à origem dos escritos e, em Fevereiro de 1943, já desconfiava do meio estudantil de Munique.

A 18 desse mês, um funcionário da Universidade Ludwig-Maximilian descobriu os irmãos Scholl a distribuírem os panfletos. Depois de serem interrogados pela reitoria da Universidade, foram entregues à Gestapo. Das actas do interrogatório, consta que Sophie Scholl tudo terá feito para garantir serem ela e o irmão os mais altos responsáveis pelos textos distribuídos, a fim de proteger outros membros do grupo.

Sophie Scholl - Gestapo Foto.jpg

Fotografia da Gestapo de Sophie Scholl, tirada depois da sua captura a 18 de Fevereiro de 1943

Os dois foram condenados à morte apenas quatro dias depois e a sentença, por decapitação (guilhotina), executada nesse mesmo 22 de Fevereiro de 1943. Sophie Scholl não tinha ainda completado os 22 anos.

Os irmãos Scholl, mas principalmente Sophie, já serviram de inspiração a vários filmes, livros, peças de teatro e exposições. Na Alemanha, há inúmeras ruas e praças com o seu nome, assim como quase duzentos liceus.

Resistência em alemão (1)

Cristina Torrão, 22.10.22

Hans Scholl

Hans Scholl 2.jpg

Direitos: C.H. Beck Verlag in "Flamme sein" von Robert Zoske

Em tempos conturbados, muito por causa de uma guerra em solo europeu, começo uma série sobre alemães que se opuseram ao nazismo, pois, embora haja conhecimento de alguns exemplos, penso ser, no geral, algo pouco conhecido fora da Alemanha. E é sempre bom relembrar exemplos de quem reage ao populismo/fascismo, mesmo que, num primeiro momento (em alguns casos) se deixasse ir na onda de quem promete soluções simples para problemas complicados, em nome de uma pretensa salvaguarda de valores.

Ao estudar este assunto, surpreendeu-me que muitos desses resistentes fossem prelados, Católicos e Protestantes, apesar de a Igreja ser acusada (com razão) de ter sido demasiado passiva, durante a 2ª Guerra Mundial. Mas houve, de facto, quem levantasse a voz em nome dos princípios cristãos, também muitos leigos. É o caso de Hans Fritz Scholl.

Os irmãos Scholl (Hans e Sophie) são dos mais conhecidos opositores ao nazismo, principalmente, Sophie Scholl, sobre a qual já se rodaram filmes e escreveram livros. Mas começo pelo irmão, pois ele foi um dos fundadores da “Rosa Branca” (Weiße Rose), um movimento estudantil baseado em princípios cristãos e humanistas, surgido em Junho de 1942, na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique. Passado um ano, estava já aniquilado e os seus principais membros executados pelo regime nazi.

Sophie Scholl, Hans Scholl, Christoph Probst - Fot

Da esquerda para a direita: Hans Scholl, Sophie Scholl, Christoph Probst (os primeiros a serem executados)

Foto: George (Jürgen) Wittenstein/akg-images

O grupo clandestino “Rosa Branca” escrevia, imprimia e distribuía folhetos, nos quais dava conhecimento dos crimes do regime e apelava à oposição. As primeiras distribuições resumiam-se à região de Munique, depois, arranjaram quem o fizesse também noutras cidades. Pouco antes de o grupo ter sido descoberto, andava em contactos com outros grupos oposicionistas, tentando alargar a sua influência até à capital Berlim e a focos de oposição no próprio exército. Ao todo, imprimiram seis folhetos, cuja tiragem foi aumentando, chegando aos 9000 exemplares.

Hans Scholl, nascido em Setembro de 1918, entrou, com doze anos, para um grupo de jovens católicos. Antes de completar os quinze, e contra a vontade do pai, juntou-se à Juventude Hitleriana (a 15 de Abril de 1933). Dois anos mais tarde, porém, sentia-se já incomodado com o radicalismo e o princípio da obediência cega dos membros dessa organização juvenil.

Ao começar a estudar Medicina na Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, em 1939, Hans Scholl entrou em contacto com Professores, Assistentes e estudantes que se regiam por princípios éticos cristãos e criticavam o regime. O ponto de viragem definitivo deu-se quando, nas férias, foi enviado como socorrista para a frente francesa, vivências que lhe consolidaram a forte oposição ao nazismo e à guerra por este iniciada.

Outras influências contribuíram para a sua transformação, como as mensagens do escritor Thomas Mann difundidas pela BBC, ou as pregações do bispo de Münster, Clemens August Graf von Galen, que denunciava a execução de doentes mentais pelo regime e apelava à oposição. Em Fevereiro de 1942, Hans Scholl começou a organizar fóruns de discussão com um pequeno e seleccionado grupo de estudantes.

Já depois de o grupo “Rosa Branca” ter distribuído quatro folhetos, Hans Scholl e Alexander Schmorell (um outro membro) foram enviados como soldados para a frente leste. Nessas quinze semanas, os jovens foram confrontados com vários horrores, incluindo a maneira como os judeus eram tratados no Gueto de Varsóvia. Depois do seu regresso a Munique, em Novembro de 1942, Hans intensificou o tom usado nos folhetos, apelando à luta organizada contra o NSDAP (Partido Nazi), principalmente, depois da Batalha de Estalinegrado.

A 18 de Fevereiro de 1943 Hans e a irmã Sophie foram descobertos a distribuir os folhetos por um funcionário da Universidade que os entregou à Gestapo. Depois de quatro dias de interrogatório, foram condenados à morte por decapitação. A sentença foi executada ainda nesse dia (22 de Fevereiro). Diz-se que as últimas palavras de Hans Scholl foram “viva a liberdade” (Es lebe die Freiheit). Tinha 24 anos.

Hans Scholl Es-lebe-die_freiheit.jpg

Imagem da página do Liceu "Irmãos Scholl", em Waldkirch