Escrevia aqui a propósito da linguagem simples de Manuela Ferreira Leite -- inquestionavelmente uma das suas virtudes -- quando poucos momentos depois lia as declarações de José Pedro Aguiar Branco sobre a realização de um referendo à regionalização. Voltando ao início, estou de acordo com Filipe Nunes Vicente que Ferreira Leite tem uma linguagem simples, mas discordo da sua bondade relativamente à franqueza.
Manuela Ferreira Leite poderá ter diversas qualidades, mas a franqueza não é seguramente a principal. O caso da regionalização é um bom exemplo. O programa eleitoral do PSD não se compromete com uma data para o referendo sobre a regionalização. Assume o compromisso de o realizar e nada mais. Na linha do programa, Aguiar Branco assume o "compromisso" de realizar o referendo, mas apenas no "momento certo". Em bom rigor, nem se percebe se o compromisso é válido para a próxima legislatura, ou se o "momento certo" poderá ser apenas daqui a quatro anos. Onde está a franqueza?
Mais do que franqueza, aquilo que vejo é ambiguidade, ou mesmo duplicidade.
É claro que nós percebemos, ou julgamos perceber, a razão. O tema não é pacífico no PSD e aquela formulação corresponde a um ponto de equilíbrio entre as diversas sensibilidades. Franqueza implicaria assumir, sem panos quentes, que o tema é controverso e que o compromisso de realizar um referendo sem marcar uma data é o ponto de equilíbrio possível. Isso, sim, seria uma posição franca. As pessoas poderiam discordar, mas perceberiam os motivos.