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Delito de Opinião

Reflexão do dia

Pedro Correia, 19.03.23

«O idadismo é uma doença social que prova uma crescente desumanidade. Num mundo em que o cãozinho ou um gatinho provocam mais comoção do que um velho doente ou um refugiado, esta produção de mensagens que tem como objectivo afastar os mais velhos da vida política parece normal. Mas não é. (...) A transferência do afecto e preocupações, muito visível nos últimos tempos, dos humanos para os animais é um sinal de miséria e decadência.»

Ana Sá Lopes, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 24.02.23

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«É com vergonha que vejo, depois de um ano de guerra, que ainda há muitos europeus que se precipitam para oferecer à Rússia territórios que não são deles. Nem deles, precipitados, nem deles, russos. Porque são territórios ucranianos. 

Estes precipitados falam da paz como o vizinho que quer dormir e não quer saber da violência doméstica no andar de cima. Como não quer barulho, quer é que marido e mulher se entendam, para baixar os decibéis lá do prédio.

(...) À Rússia basta-lhe retroceder e desistir. Mas parece que nem isso sabe fazer. Não descansará enquanto não se invadir e destroçar a si própria.»

Miguel Esteves Cardoso, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 05.01.23

«Habituem-se, disse o patrão Costa. E é mesmo verdade, habituamo-nos. Os talibãs afegãos, por exemplo, depois de correrem as raparigas das escolas, expulsaram agora as mulheres das universidades. Habituados, pouco mais mexemos do que uma preguiçosa pestana. Vagas de clamores nas ruas e praças de Lisboa? Viste-os!

Servindo-se de leitura iníqua da xaria, homens afegãos reduzem as mulheres à sub-humanidade e o mundo cala-se. É assustador - ou revelador? - o silêncio dos activistas.

Fosse um mínimo direito trans e outro galo cantaria. E fosse o culpado o homem ocidental, as ganas com que lhe lançariam as mãos ao pescoço.»

 

Manuel S. Fonseca, no Correio da Manhã

Para lá do Espelho

Maria Dulce Fernandes, 25.10.22

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Para lá do espelho existe a pessoa que aqui escreve, alguém cujo rosto não ilustra a sua fibra. Habita lá um espírito forte mas metódico, modesto até, que anseia pela simplicidade e descomplexidade das coisas da vida.
Para lá do espelho existe a pessoa que aqui escreve, cujo pensamento inquieto, icário e turbulento não tem sossego, porque parar é morrer e morrer não é opção enquanto a imaginação puder correr maratonas, desenfreada e rebelde como sempre a conheci.
Para lá do espelho existe a pessoa que aqui escreve, desiludida com a fraqueza da carne incapaz de nadar oceanos, escalar montanhas, velejar ventanias, cingir-se num par de gentis braços e deslizar como uma pluma ao som duma doce valsa. Habita lá carne que amolece como um par de peúgas velhas cuja elasticidade se esvai, enfraquece, pui, fende, e por cujas fissuras se insidiam as moléstias da podridão dos anos e onde o cansaço é soberano absoluto e recorrente.
Para lá do espelho existe a pessoa que aqui escreve, alguém em cujo ADN um incógnito pai celeste escreveu os códigos de uma imensa força interior, de uma vontade hercúlea, de uma teimosia titânica e de uma consciência têmisica.
Para lá do espelho existe a pessoa que aqui escreve, uma pessoa que eu conheço bem, uma pessoa que eu gostaria de conhecer ainda melhor, uma pessoa que gostava de vos poder apresentar, porque é diferente, porque é jovem e irreverente, expedita e alegre, espirituosa e inteligente. 
Para lá do espelho existe a pessoa que aqui escreve e que infelizmente vive do lado de cá, vive na realidade duma existência de agridoce clausura, mas que em olhando atentamente à sua volta realiza que em substância é feliz e no seu reflexo encontra a sabedoria que lhe traz a  reflexão.
 
(Imagens Google)

Reflexão do dia

Pedro Correia, 20.08.22

«A Rússia de Putin destruiu a configuração mundial existente. O ditador quer substituí-la por outra, na qual a sua Rússia tenha papel determinante. É o que está a fazer, sem escrúpulos e com toda a violência de que é capaz. O que sobrar, depois do que ele fizer, não voltará a ser o que era, nem sabemos o que será. Mas vai demorar anos, muitos, a encontrar um novo equilíbrio mundial de cooperação. Não sabemos, hoje, a que preço e com que custos de vidas humanas, de países, de instituições, de liberdade e de paz. O especial talento de Putin é o que se vê no exercício ou na utilização da mais bárbara violência sem remorsos, nem moderação. E no desrespeito da lei internacional.»

António Barreto, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 09.07.22

«José Eduardo dos Santos é uma figura central na cultura de corrupção em Angola. Foi debaixo do seu nariz que a elite política do país e, consequentemente, da grande família política do MPLA, enriqueceu ilicitamente, deitando por terra uma oportunidade histórica para que o desenvolvimento social e económico viesse por fim corrigir décadas, séculos de opressão e miséria. (...) Hoje, as promessas do pós-independência há muito que caducaram e o projecto de país continua a ser um esboço atrapalhado pela gula e a ambição de uns quantos.»

Aline Frazão, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 28.06.22

«Faz todo o sentido que a NATO e as democracias ocidentais se preparem para o pior. Que agravem as sanções, que reforcem a ajuda à Ucrânia, que tratem de aumentar a sua capacidade de resposta militar rápida para 300 mil homens. O tirano que é capaz de bombardear civis ou que encolhe os ombros perante a ameaça de uma indispensável crise alimentar mundial não pensa nem actua num quadro mental em que entra a razão, a emoção ou a humanidade. 

A Rússia é hoje muito mais do que nos primeiros dias do conflito uma ameaça para a Europa. A firmeza da resposta ocidental surpreendeu e irritou a fera. O Donbass já não basta. Os receios do envio de tropas para Kaliningrado ou para a fronteira entre a Lituânia e a Bielorrússia ganham consistência. Zelensky quer acabar a guerra até ao final do ano, mas nada nos garante que a Rússia, movida pelo superávite do gás e do petróleo, esteja disposta a aceitar uma meia vitória ou uma meia derrota. A megalomania é uma marca dos déspotas.»

Manuel Carvalho, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 12.06.22

«António Costa foi a um encontro de associações juvenis defender "um acordo de médio prazo, no horizonte desta legislatura, sobre a perspectiva da evolução dos rendimentos". Para ele, "temos nos próximos quatro anos de conseguir fazer todos em conjunto - a sociedade, o Estado, as empresas - um esforço para que o peso dos salário dos portugueses no PIB seja pelo menos idêntico ao que existe na média europeia". Isto significaria, até 2026, "um aumento de 20% do salário médio no país".

Para que não haja dúvidas, não estamos a falar de um extraterrestre acabado de aterrar em Portugal. O António Costa que proferiu este discurso é o mesmo António Costa que é primeiro-ministro há sete anos, e também o mesmo António Costa que há oito é líder do PS. Sim, líder do PS, o partido que mandou em Portugal durante dois terços das últimas três décadas, com as notórias retiradas após o "pântano" e a iminência da bancarrota, e em cujos governos esse tal de António Costa se senta desde 1995.»

Francisco Mendes da Silva, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 29.05.22

 

«Qualquer coisa de impensável está a acontecer naquele país [Ucrânia]. Qualquer coisa só comparável aos campos de extermínio nazis.»

 

«Qualquer coisa de monstruoso apareceu, dentro da monstruosidade que é a guerra. Para lá das leis da guerra, agora sistematicamente quebradas pelo Exército russo, que já nem pretende esconder os crimes que comete, a horda de assassinos avança, exibindo aos olhos do mundo a sua brutalidade sem escrúpulos. Não é só a ordem da paz que é perturbada, é a própria guerra que é subvertida e transgredida - não é uma guerra, é um massacre.»

 

«Num gesto livre, a Ucrânia levantou-se para defender a sua vida, em vez de se submeter aos ditames de uma ditadura. Foi isso, e não a defesa da liberdade como valor ideal e abstracto, que levou os ucranianos a lutar tão energicamente. Às forças de destruição e morte trazidas pelo Exército russo eles opuseram a força de vida vinda daquele laço imanente que os une à sua terra e que define, todos os dias, a liberdade que os anima.»

 

José Gil, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 22.05.22

«Só os ucranianos, que estão a defender a sua pátria com a vida e um enorme heroísmo, podem dizer em que condições aceitam a paz. E, no entanto, já começamos a ouvir alguns líderes europeus insistir em que "não se deve humilhar a Rússia" ou, por outras palavras, que se lhe deve dar alguma coisa. Certamente não um pedaço da França ou da Alemanha, mas talvez um pedaço da Ucrânia.»

Teresa de Sousa, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 07.05.22

«Se o PCP estivesse ameaçado de ilegalização por causa do que diz sobre a Ucrânia, eu seria o primeiro a defendê-lo. Mas, sendo Portugal uma democracia liberal, nos antípodas das ideias que o PCP quis impor após o 25 de Abril, também me reservo o direito de o criticar livremente sem levar com a acusação alucinada de que sou fascista.»

Francisco Mendes da Silva, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 22.04.22

«Os cadáveres na Ucrânia ou o desespero dos confinados em Xangai relembram-nos as virtudes da democracia liberal em que vivemos. A admiração pela força de Putin e das autoridades chinesas foi substituída pelo choque em ver como os regimes autocráticos desprezam a liberdade individual e a vida e o bem-estar dos seus cidadãos.»

Ricardo Reis, no Expresso

Reflexão do dia

Pedro Correia, 09.04.22

«Os últimos dias provocaram duas mudanças dramáticas na discussão. Em primeiro lugar, deixou de fazer sentido a ideia de que a Rússia sairá inevitavelmente vencedora da invasão. O falhanço da conquista da capital mostra que, para além da capacidade admirável de resistir ao agressor, a Ucrânia pode mesmo derrotá-lo. Em segundo lugar, os destroços materiais e humanos mostraram o verdadeiro significado de uma ocupação russa, além de que as subsequentes mentiras de Moscovo revelaram o valor real da palavra de Putin. Como é que, perante isto, se negoceia um acordo de paz com cedências territoriais?»

 

Francisco Mendes da Silva, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 03.04.22

«Bastava passar os olhos pelas redes sociais portuguesas para assistir a um mar de gente a defender o "estalo na cara" de Smith pela "ofensa" alegadamente feita à mulher. Algumas dessas pessoas eu conheço - e até ir jurar que são "boas pessoas" - o que torna a coisa ainda mais perturbadora. Portanto, para uma parte do nosso mundo, é aceitável responder com um murro a uma piada. Sinceramente, acho a piada boa e inofensiva, mas se fosse péssima era a mesma coisa. Em que dia é que uma agressão física e uma frase passaram a ser equivalentes? Um destes dias haverá pessoas a fazer um "index" sobre os assuntos de que se pode fazer piadas sem ofender. Conhecemos isso durante 48 anos: chamava-se censura e destinava-se a proteger os valores que a ditadura considerava essenciais.»

 

Ana Sá Lopes, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 30.03.22

«Devia ter ficado claro que uma sociedade decente acha que a reacção a uma piada não pode ser uma agressão. Uma vez que o agressor [Will Smith] continuou na sala [da gala dos Óscares] e menos de uma hora depois estava a ser ovacionado enquanto pedia desculpa a toda a gente menos ao agredido [Chris Rock], e justificava o seu comportamento com o "amor", que "nos faz fazer coisas malucas", e com o nobre propósito de "proteger a família", julgo que não ficou muito claro.»

Ricardo Araújo Pereira, hoje, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 13.03.22

«À medida que a brutalidade avançava e a irrazoabilidade surgia como um muro, e a ideia de um gigantesco campo de concentração de extermínio para a Ucrânia se foi esclarecendo, começou a ficar bem claro que estamos perante alguma coisa de um outro domínio. O domínio perigoso de quando deixa de existir qualquer lei válida e qualquer ideologia, para se lutar corpo a corpo até à morte, como na idade da pedra a luta pela cabeça de um bisonte.»

Lídia Jorge, no Público

Reflexão do dia

Pedro Correia, 03.02.22

«Porque haveria o eleitorado "centrista" e de "direita" de votar nesse PSD-cópia-fiel-do-PS, se podia sufragar o original, ainda por cima já no poder, ou votar numa alternativa radical, configurada no Chega e na IL? Nesse sentido, Rui Rio tem toda a razão ao colocar o acento tónico no facto de "a direita" não ter votado "útil". Mas não tem nenhuma autoridade moral para se queixar do facto.»

Nuno Rogeiro, na revista Sábado