Rasgos (34)
Dedicado ao nosso João Carvalho, que tem um fraquinho confessado por comboios.
Não, eu não disse TGV...
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Dedicado ao nosso João Carvalho, que tem um fraquinho confessado por comboios.
Não, eu não disse TGV...
Resposta a este repto de Mário Cesariny:
Burgueses somos nós todos
ó literatos
burgueses somos nós todos
ratos e gatos
Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo
nuvens! O que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que nós somos todos é sebastianistas.
(Nota: Explicação que acompanhava o convite que recebi para este documentário extraordinário, com a presença e participação do próprio Vik Muniz. Espero que venha para o circuito comercial português, porque vale mesmo a pena vê-lo. )
Enjoy.
John Lennon da Silva: Um nome improvável, um talento único.
Delicie-se com o verdadeiro black swan, para começar bem a semana.
Pssst, chegue aqui e espreite esta maravilha que lhe trago hoje. Passeie-se pelos corredores dos maiores museus do mundo, detenha-se numa peça e analise-a até ao mais ínfimo pormenor. Fique o tempo que quiser, não paga mais por isso. Enfim, viaje pelo mundo encantado da Arte sem sair do seu sofá. Em tempos de crise, não se pode pedir mais, pois não?
Uma preciosa dica que agradeço à Eugénia.
AULA DE DESENHO
Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.
Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me
E constato: na arte ou na vida,
Em carne, osso, lápis ou giz
Onde estou não é sempre
E o que sou é por um triz.
(Maria Esther Maciel)
Imagem: Escher
Limpidez, dicção, beleza, bom gosto: "Sete pedaços de vento" - Cristina Branco.
Verdade ou consequência...
ARTE POÉTICA
Olhar o rio feito de tempo e água
E recordar que o tempo é outro rio,
Saber que nos perdemos como o rio
E que os rostos passam como a água.
Sentir que a vigília é outro sonho
Que sonha não sonhar e que a morte
Que a nossa carne teme é essa morte
De cada noite, que se chama sonho.
Ver em cada dia ou ano um símbolo
Dos dias do homem e dos seus anos,
Converter o ultraje dos anos
Em música, rumor e símbolo.
(...)
Às vezes pela tarde há uma cara
Que nos olha do fundo de um espelho
A arte deve ser como esse espelho
Que nos revela a nossa própria cara.
Contam que Ulisses, farto de prodígios
Chorou de amor ao avistar a sua Ítaca
Verde e humilde. A arte é essa Ítaca
De verde eternidade, não de prodígios.
(...)
Jorge Luís Borges, in Obra Poética
(Nota: tradução minha, com as devidas desculpas ao Mestre pela ousadia e pela liberdade de truncar um poema sublime)
Ainda hesitei entre incluí-lo nesta série ou enviá-lo para a série dos mal-amados do João Carvalho, mas, independentemente da megalomania e do exibicionismo reinantes, é inegável o rasgo arquitectónico de Moshe Safdie, o criador do novíssimo Hotel Marina Bay Sands, em Singapura. A inauguração, inicialmente prevista para 2009, foi adiada até agora por motivos que se prendem com a crise económica que assola até o mundo dos bilionários que frequentarão este hotel ultra-luxuoso de 2.500 quartos, parque de diversões, casino, spa e uma assombrosa piscina com 150 metros de comprimento, por razões óvias a estrela da companhia. Não deixe de visitar o site, se quiser saber mais pormenores. Todos os números são impressionantes. Aqui ficam algumas imagens, bem sugestivas:
"O mágico fez um gesto e desapareceu a fome, fez outro e desapareceu a injustiça, fez um terceiro e desapareceram as guerras.
O político fez um gesto e desapareceu o mágico."
(Woody Allen)
Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus, que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!
(José Carlos Ary dos Santos )
Imagem: A transfiguração de Cristo, de Rafael
Gary Chang
ou
Quando a arquitectura vira magia