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Delito de Opinião

Rasgos (31)

Ana Vidal, 12.08.11

Natália Correia - "Verdadeira litania para os tempos da revolução"

Resposta a este repto de Mário Cesariny:

 

Burgueses somos nós todos

ó literatos

burgueses somos nós todos

ratos e gatos

 

Mário nós não somos todos burgueses

os gatos e os ratos se quiseres,

os literatos esses são franceses

e todos soletramos malmequeres.

Da vida o verbo intransitivo

não é burguês é ruim;

e eu que nas nuvens vivo

nuvens! O que direi de mim?

Burguês é esse menino extraordinário

que nasce todos os anos em Belém

e a poesia se não diz isto Mário

é burguesa também.

Burguês é o carro funerário.

Os mortos são naturalmente comunistas.

Nós não somos burgueses Mário

o que nós somos todos é sebastianistas.

Rasgos (33)

Ana Vidal, 28.04.11

 

 

WASTE LAND/ LIXO EXTRAORDINÁRIO

O documentário Lixo extraordinário relata a trajetória do lixo dispensado no Jardim
Gramacho, o maior aterro sanitário da América Latina, localizado na periferia de Duque de Caxias (Rio de Janeiro), até ser transformado em arte pelas mãos do artista plástico Vik Muniz e seguir para prestigiadas casas de leilões internacionais. Consagrado pelo público como melhor documentário em festivais como Sundance, Berlim e Paulínia, entre outros, o documentário tem direção conjunta de João Jardim (Janela da Alma e Pro Dia Nascer Feliz), da cineasta Karen Harley e da documentarista inglesa Lucy Walker. Lixo Extraordinário também foi exibido fora de competição no Festival do Rio e na Mostra São Paulo, em 2010.

Segundo o dicionário, “lixo” significa qualquer material considerado inútil, supérfluo, e/ou sem valor, gerado pela atividade humana. Antes de chegar ao Jardim Gramacho, Vik Muniz e os diretores do documentário não esperavam encontrar nada muito diferente disso, mas se surpreenderam ao conhecer pessoas cativantes, cheias de dignidade, como Tião, jovem presidente da ACAMJG (Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim
Gramacho), ou Zumbi, catador.

VIK MUNIZ www.vikmuniz.net

Vik Muniz nasceu em uma família de classe operária em 1961, no estado de São Paulo, Brasil. Quando jovem, foi baleado na perna enquanto tentava separar uma briga e, por isso, recebeu uma indenização por suas lesões. Com o dinheiro, financiou uma viagem a Nova York, onde viveu e trabalhou durante décadas. Vik começou a carreira de artista plástico como escultor, mas, ao se interessar pelas reproduções fotográficas de seu trabalho, acabou voltando sua atenção exclusivamente para fotografia. Ele incorpora uma multiplicidade de materiais improváveis a este processo fotográfico. Frequentemente Vik utiliza diamantes, açúcar, cordas, calda de chocolate e lixo em seus trabalhos, parodiando imagens clássicas do Fotojornalismo e da História da Arte. Sua obra foi recebida com aclamação do público e da crítica e tem sido exibida em todo o mundo. Sua exposição individual no MAM (Museu de Arte Moderna), no Rio de Janeiro, foi a segunda em número de visitantes – ficando atrás somente da exposição de Picasso. Foi no MAM que Vik expôs pela primeira vez a série "Pictures of Garbage” no Brasil.

 

(Nota: Explicação que acompanhava o convite que recebi para este documentário extraordinário, com a presença e participação do próprio Vik Muniz. Espero que venha para o circuito comercial português, porque vale mesmo a pena vê-lo. )

Rasgos (29)

Ana Vidal, 18.02.11

 

Pssst, chegue aqui e espreite esta maravilha que lhe trago hoje. Passeie-se pelos corredores dos maiores museus do mundo, detenha-se numa peça e analise-a até ao mais ínfimo pormenor. Fique o tempo que quiser, não paga mais por isso. Enfim, viaje pelo mundo encantado da Arte sem sair do seu sofá. Em tempos de crise, não se pode pedir mais, pois não?

 

Uma preciosa dica que agradeço à Eugénia.

Rasgos (28)

Ana Vidal, 31.01.11

 

AULA DE DESENHO

 

Estou lá onde me invento e me faço:

De giz é meu traço. De aço, o papel.

Esboço uma face a régua e compasso:

É falsa. Desfaço o que fiz.

Retraço o retrato. Evoco o abstrato

Faço da sombra minha raiz.

Farta de mim, afasto-me

E constato: na arte ou na vida,

Em carne, osso, lápis ou giz

Onde estou não é sempre

E o que sou é por um triz.

 

(Maria Esther Maciel)

Imagem: Escher

Rasgos (22)

Ana Vidal, 07.09.10

ARTE POÉTICA

 

Olhar o rio feito de tempo e água

E recordar que o tempo é outro rio,

Saber que nos perdemos como o rio

E que os rostos passam como a água.

 

Sentir que a vigília é outro sonho

Que sonha não sonhar e que a morte

Que a nossa carne teme é essa morte

De cada noite, que se chama sonho.

 

Ver em cada dia ou ano um símbolo

Dos dias do homem e dos seus anos,

Converter o ultraje dos anos

Em música, rumor e símbolo.

 

(...)

 

Às vezes pela tarde há uma cara

Que nos olha do fundo de um espelho

A arte deve ser como esse espelho

Que nos revela a nossa própria cara.

 

Contam que Ulisses, farto de prodígios

Chorou de amor ao avistar a sua Ítaca

Verde e humilde. A arte é essa Ítaca

De verde eternidade, não de prodígios.

 

(...)

 

Jorge Luís Borges, in Obra Poética

 

(Nota: tradução minha, com as devidas desculpas ao Mestre pela ousadia e pela liberdade de truncar um poema sublime)

Rasgos (20)

Ana Vidal, 28.06.10

Ainda hesitei entre incluí-lo nesta série ou enviá-lo para a série dos mal-amados do João Carvalho, mas, independentemente da megalomania e do exibicionismo reinantes, é inegável o rasgo arquitectónico de Moshe Safdie, o criador do novíssimo  Hotel Marina Bay Sands, em Singapura. A inauguração, inicialmente prevista para 2009, foi adiada até agora por motivos que se prendem com a crise económica que assola até o mundo dos bilionários que frequentarão este hotel ultra-luxuoso de 2.500 quartos, parque de diversões, casino, spa e uma assombrosa piscina com 150 metros de comprimento, por razões óvias a estrela da companhia. Não deixe de visitar o site, se quiser saber mais pormenores. Todos os números são impressionantes. Aqui ficam algumas imagens, bem sugestivas:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Rasgos (15)

Ana Vidal, 03.04.10

Kyrie

 

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus, que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

 

(José Carlos Ary dos Santos )

 

Imagem: A transfiguração de Cristo, de Rafael