25 de Novembro, sempre
Faz hoje 48 anos, uma guerra civil foi evitada in extremis em Portugal. A grave expressão, em jeito de aviso à Europa inteira, foi usada a 22 de Novembro de 1975 pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Ernesto Melo Antunes, em entrevista à revista francesa Le Nouvel Observateur.
Não exagerava: os militares, armados até aos dentes, apontavam os fuzis uns contra os outros.
Na manhã de 25 de Novembro ocorreu a confrontação armada, com três mortos (dois comandos, um polícia militar) na Calçada da Ajuda. Mas poderia ter sido muito pior. Podia ter ocorrido um banho de sangue, culminando oito meses de intenso "processo revolucionário", como se denominava o assalto da esquerda mais radical - incluindo comunistas de obediência soviética e maoístas - a empresas, fábricas, terrenos agrícolas, rádios e jornais. Com petardos no Terreiro do Paço enquanto discursava o primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, um cerco de 36 horas à Assembleia Constituinte por cerca de cem mil manifestantes agitando bandeiras vermelhas, propaganda extremista debitada nas estações de rádio estatizadas e editoriais incendiários em quase toda a imprensa (com destaque para o Diário de Notícias).
Tudo culminou na rebelião de pára-quedistas, que na noite de 24 para 25 de Novembro ocuparam bases aéreas (Monsanto, Tancos, Ota, Monte Real), as principais vias de acesso à capital e os estúdios da RTP no Lumiar. Registando-se o envolvimento de outras unidades, como a Polícia Militar, o Regimento de Artilharia Ligeira de Lisboa e a Escola Prática de Administração Militar.
Se os sublevados não tivessem sido dominados ao fim daquele dia tão intenso que parecia interminável, já com o estado de sítio proclamado na região de Lisboa, a confrontação bélica seria inevitável. Vitimando não apenas militares, mas também civis.
É isso que hoje se assinala, é isso que hoje se comemora. A vitória da democracia, completando o ciclo iniciado a 25 de Abril de 1974, que permitiu devolver a liberdade aos portugueses. As duas datas são inseparáveis: ambas merecem celebração. Até porque muitos dos militares de Novembro foram também militares de Abril - incluindo António Ramalho Eanes e Fernando Salgueiro Maia.
Que o PS, protagonista desses tempos de alto risco em que se lançaram os alicerces do Estado de Direito em Portugal, se demarque hoje do 25 de Novembro em parceria com o PCP, seu principal adversário à época, é uma traição à memória dos seus fundadores, como Mário Soares, Maria Barroso e Francisco Salgado Zenha. E a vários dos seus antigos dirigentes que permanecem entre nós, como Manuel Alegre e Jaime Gama - também corajosos resistentes à insurreição da esquerda militar.
Sinal inequívoco da desorientação estratégica deste Partido Socialista pós-geringonça. Renegando a sua própria história. Será o grande ausente das celebrações de hoje, em Lisboa e no Porto. Organizadas, naturalmente, sem pedir vénia aos herdeiros ideológicos dos derrotados de 1975.
25 de Novembro, sempre!