Sete anos de governação socialista mereceram hoje um duro, amargo e justo castigo do eleitorado espanhol. Nem o facto de Rodríguez Zapatero ter dado lugar a Pérez Rubalcaba (na foto) como cabeça de lista travou a queda do Partido Socialista Operário Espanhol, com menos quatro milhões e meio de votos do que os obtidos nas legislativas de 2008. Com apenas 28,6% dos sufrágios, o partido que governou Espanha durante 21 anos (entre 1982 e 1996, e de 2004 até agora) perde 59 lugares na Câmara dos Deputados e quase metade dos assentos no Senado. Pior que isso: perde pela primeira vez em todas as comunidades autónomas, restando-lhe como consolação o triunfo em duas das 52 circunscrições eleitorais -- Barcelona e Sevilha.
O claro vencedor da noite é o Partido Popular, liderado por Mariano Rajoy. Que consegue o mais dilatado e expressivo triunfo da direita espanhola desde que foi restaurada a democracia: com 44,5% dos votos e 186 deputados (mais 32 do que os eleitos em 2004), o PP conquista a maioria necessária para governar sem necessidade de acordos parlamentares -- algo que Zapatero nunca conseguiu e o ex-líder conservador José María Aznar alcançou apenas na legislatura 2000-2004, embora com menos deputados. Os populares são hoje a única força política com grande expressão eleitoral na generalidade do território espanhol, tendo alcançado pela primeira vez a vitória na Andaluzia (comunidade que irá a votos em Março de 2012).
Outras breves notas desta noite eleitoral:
- Na Catalunha, os nacionalistas moderados da CiU obtêm o primeiro triunfo de sempre numas legislativas, ultrapassando largamente um PSOE em queda livre que ali perde 11 deputados.
- Em Madrid, o PP reforça um dos seus bastiões, situando-se 22 pontos percentuais acima dos socialistas.
- Os comunistas e seus compagnons de route, agrupados em torno da sigla Esquerda Unida, recuperam o grupo parlamentar nas Cortes, passando de dois para 11 deputados -- o seu melhor resultado desde 1996.
- A União Progresso e Democracia, força política do centro, também progride eleitoralmente, subindo de um para cinco deputados com mais de um milhão de votos.
- As forças pró-etarras, que se apresentaram nas urnas com a designação Amaiur, venceram no País Basco, conseguindo sete deputados que prometem batalhar pela independência no Parlamento de Madrid.
Rajoy pode agora formar um Governo forte e com um mandato muito claro: tirar Espanha da grave crise económica e social em que o país mergulhou. Como assinala Ignacio Camacho no ABC, "desde o esmagador triunfo gonzalista de 1982 não existe memória de uma convicção tão rotunda de mudança". É disso mesmo que Espanha necessita com urgência: de mudança.
Adenda: Javier Pradera, um dos mais prestigiados jornalistas espanhóis, morreu subitamente, há poucas horas. Vale a pena ler o seu último artigo: Al borde del abismo, publicado na edição de hoje do El País.