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Delito de Opinião

Pensamento da Semana

jpt, 17.10.21

O léxico é importante. Importantíssimo. Desde que na semana passada foi atribuído o Nobel da Literatura a Abdulrazak Gurnah que vai por aqui e acolá uma acesa discussão. Escritores e proto-escritores, literatos e candidatos a tal estrado, e até jornalistas, botam sobre a "condição" "identitária" do premiado, questão que consideram sumamente importante. Nessa já polémica duas características partilham os opinadores: nada leram do autor; confundem "representante" com "representativo". Insisto, o léxico é importante. Importantíssimo. E mais o deveria ser para estes núcleos de "identidade" laboral.

ADENDA: (meu pensamento do ano) Sobre este assunto a Lusa (agência noticiosa estatal) noticiou que Gurnah é o primeiro escritor africano a receber o Nobel nos últimos 30 anos, saudando que ele "quebrou o "jejum", depois do nigeriano Wole Soyinka ter sido laureado em 1986". O facto de que em 2003 o prémio tenha sido atribuído a Coetzee - um daqueles raros casos em que é curial afirmar ter o Nobel sido galardoado com o Prémio Coetzee - é apagado. Não se trata de um erro, até porque o escritor é muito conhecido e bastante traduzido em português. E porque também apagam os anteriores Mafhouz (1988) e Gordimer (1991). É mesmo uma proclamação, a invectiva ao "branco" - a usual e lamurienta auto-invectiva, neste caso da agência estatal portuguesa. E é essa a sede desta pobre polémica de aparência literária: do que toda esta gente anda a falar é de "raça". Cada um com os seus dislates. A quererem-se assertivos. A assertividade da vacuidade.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO durante toda a semana.

Tavares patinando sobre Bonifácio

Tiago Mota Saraiva, 19.07.19

Além de racista e supremacista, o texto que M. Fátima Bonifácio deu à estampa é fundamentado a partir de premissas pouco cultas, quando não, falsas. Um dos seus efeitos mais perversos não é o da conversão, mas o da replicação do tom e modo por quem anseia escrever para as audiências que Bonifácio teve.
João Miguel Tavares, depois de alinhar no tom crítico ao ensaio de Bonifácio, tem vindo a explorar alguns "mas" com o mesmo grau de rigor usado por Bonifácio. Tavares não se interessa pelo conhecimento que já foi produzido sobre Cultura ou Raça (Claude Lévi-Strauss, por exemplo, terá escrito qualquer coisa relevante sobre o assunto) mas tergiversa sobre culturas superiores e inferiores, tratando o fascismo como uma cultura e não ideologia ou declarando as suas teses como polémicas ou passíveis de despertar acalorada discussão. Mas não. Tal como não se deve aceitar debater que a Terra é plana como se se tratasse de uma polémica científica, não se deve aceitar discutir cultura com quem a reduz a conceitos cientificamente ultrapassados no decorrer do último século.