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Delito de Opinião

O vírus putinesco

Pedro Correia, 22.03.23

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Imagem extraordinária, colhida ontem em Moscovo. A «confiança» dos chineses em relação à Rússia é tão inequívoca que toda a delegação de Pequim se mostrou de máscara anti-covid sempre posta enquanto Vladimir Putin e Xi Jinping palravam num sumptuoso salão do Kremlin. 

Podem falar vezes sem conta em «aliança»: as imagens desmentem tais palavras sem margem para dúvidas. O vírus putinesco tem a má fama de ser letal. Toda a precaução contra tal moléstia é altamente recomendável.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 24.02.23

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«É com vergonha que vejo, depois de um ano de guerra, que ainda há muitos europeus que se precipitam para oferecer à Rússia territórios que não são deles. Nem deles, precipitados, nem deles, russos. Porque são territórios ucranianos. 

Estes precipitados falam da paz como o vizinho que quer dormir e não quer saber da violência doméstica no andar de cima. Como não quer barulho, quer é que marido e mulher se entendam, para baixar os decibéis lá do prédio.

(...) À Rússia basta-lhe retroceder e desistir. Mas parece que nem isso sabe fazer. Não descansará enquanto não se invadir e destroçar a si própria.»

Miguel Esteves Cardoso, no Público

Constituições do mundo (7)

Rússia: Constituição de 1993

Pedro Correia, 14.02.23

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«1. A Federação Russa - Rússia é um Estado de Direito federal com um sistema de governo republicano.

2. Os nomes Federação Russa e Rússia são equivalentes.»

 

«O homem, com os seus direitos e liberdades, é o valor supremo. O reconhecimento, o respeito e a protecção dos direitos e das liberdades do homem e do cidadão é um dever do Estado.»

 

Artigos 1.º e 2.º da Constituição da Federação Russa

Em memória atrasada de Mikhail Gorbachov

João Pedro Pimenta, 30.01.23

O mês de Janeiro de 2023 já vai a caminho do fim, em que parece que andei nos momentos e regiões certas atrás das intempéries, como a de Ano Novo no Alto Minhoa do segundo fim de semana no Porto e a da terceira semana nas terras altas transmontanas. E apesar disso, ainda fiquei com assuntos pendentes de 2022.

Uma das coisas que se menciona sempre no ano que acaba é o da necrologia. E esta esteve em destaque em 2022. A quantidade de personalidades de relevo internacional que nos deixaram é enorme. Talvez a que mais sensação tenha causado tenha sido Isabel II, que parecia eterna, e já mesmo no caír do ano deixaram-nos Pélé, provavelmente a maior lenda do futebol de sempre, e o Papa Bento XVI, cujo estado de saúde já declinava há bastante tempo. Uma rainha, um rei e um Papa, portanto.

Há muitos anos, na década de noventa, o Expresso lançou um destacável com mil figuras de relevo do século XX para celebrar a sua milésima edição. O primeiro capítulo tinha cinquenta personagens consideradas as mais relevantes do século. Duas delas morreram em 2022. Pélé era uma delas. A outra era Mikhail Gorbachov.

Gorbachov deixou-nos nos últimos dias de Agosto, enaltecido pelas democracias liberais e ignorado ou desdenhado pela sua Rússia. Putin deixou umas palavras de circunstância, apenas porque tinha de ser. O homem que tentou dar um rosto humano à URSS (literalmente, bastava olhar para ele e comparar com as faces patibulares ou caninas dos outros apparatchiks) e um rumo àquele sistema bloqueado e sem saída acabou por derrubar o regime e a próprio União Soviética. Pelo meio, assinou com os EUA o tratado de não proliferação de armas nucleares, o que causou o degelo nas relações entre blocos, aliviando o "equilíbrio pelo terror" e acabando efectivamente com a Guerra Fria. Rasgou a "Doutrina Brejnev", substituindo-a pela "Doutrina Sinatra", escusando-se a intervir nos países do Pacto de Varsóvia, cujos povos aproveitaram a oportunidade para derrubar os muros e respectivos regimes, já sem a ameaça de intervenção soviética. E internamente, também os integrantes da URSS começaram a questionar-se e a declarar a autonomia, começando pelo Báltico. O fim da Guerra Fria permitiu igualmente que do outro lado os EUA deixassem de apoiar certos cães de fila, o que originou, entre outras coisas, o fim da regime do Apartheid na África do Sul e a libertação de Nelson Mandela, a saída de Pinochet dos comandos do Chile e o fim da guerra civil em Angola (por pouco tempo) e Moçambique.

 

 

Poucos homens estiveram na origem de mudanças tão drásticas e radicais, mesmo que a intenção inicial não fosse essa. O problema é que internamente elas resultaram na implosão de um sistema que era totalitário, desumano e falhado, mas que deu lugar a anarquia, pobreza e violência extremas. Não era isto que realmente Gorbachov e os russos desejariam, mas acabou por ser o resultado, de tal forma que no fim da década de noventa colocaram um tal Vladimir Putin à frente dos destinos do país.

A morte de um ser desta dimensão nunca é positiva, mas o desaparecimento de Gorbachov ocorreu na pior altura possível, precisamente quando o regime vigente na Rússia está mais tirânico do que nunca desde Tchernenko - ou seja. a URSS pré-Gorby - e representa exactamente o contrário do que o último líder soviético representava: autoritarismo, corrupção, opacidade, militarismo e ultranacionalismo. E a tentativa de reversão das independências obtidas à época, com a brutal invasão à Ucrânia, depois de se ter mutilado a Geórgia e a própria Ucrânia.

Porque a morte de Gorbachov em Agosto levou-me a outro Agosto, o de 1991, em que fora vítima de um golpe de estado dos últimos defensores do regime soviético puro e duro. Recordei-me das imagens dos russos manifestando-se em Moscovo, de Ieltsin em cima de um tanque, com a Duma (a mesma que ele mandaria atacar dois anos depois) em fundo, a conferência de imprensa da junta golpista num anfiteatro de dimensão estalinista (diz-nos José Milhazes, então presente, que o primeiro-ministro Valentin Pavlov estava ausente porque não tinha recuperado de uma bebedeira na véspera), e a cara de fuinha do auto-proclamado presidente, Yanayev, e depois o falhanço do golpe e o regresso de um Gorbachov pálido mas aliviado. Vi tudo isso num mês em que não podia fazer muito mais porque decidi partir uma perna logo no último dia de Julho, o que constituiu um rude golpe nesse meu começo de adolescência.

 

 

E também nesse Agosto, aproveitando o fiasco do golpe, o que restava de facto da URRS ruiu. Lembro-me das imagens do anúncio do fim do regime comunista e em simultâneo da restauração da bandeira russa. Pensei até há pouco tempo que tivesse ocorrido no dia dos meus anos, mas afinal é de dois dias antes, 22 de Agosto. Em contrapartida, fiquei a saber há pouco tempo, por causa da guerra em curso, que a Ucrânia tinha como dia da independência precisamente o 24 de Agosto (de 1991). Assim, eu e a Ucrânia fazemos anos no mesmo dia. Como não poderia apoiar a causa da sua independência?

Gorbachov deixou-nos no mesmo mês - mas em ano diferente - em que as suas reformas e a reação às mesmas precipitaram tudo aquilo que era impossível manter. Que a sua memória seja no futuro tão favorável como a dos povos que graças a ele ganharam a sua liberdade.

Não passaram, não passarão

Criminosa invasão da Ucrânia começou há nove meses

Pedro Correia, 24.11.22

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Faz hoje nove meses. O ditador moscovita, Vladimir Putin, ordenou a brutal invasão da Ucrânia - reeditando a pior política de canhoneira imperial que caracterizou grande parte do século XIX e culminou na I Guerra Mundial.

Centenas de milhares de soldados russos foram mobilizados em 24 de Fevereiro de 2022 pela maior potência nuclear do globo contra o Estado vizinho, num ataque desproporcionado, não provocado e sem declaração de guerra. Objectivo: ocupar Kiev, desarmar o exército ucraniano, depor as instituições democráticas do país e deter ou assassinar Volodimir Zelenski.

Todos estes objectivos foram fracassados, tal como a ocupação de outras grandes cidades, como Carcóvia e Odessa. Putin falhou também na previsão de que a aliança euro-atlântica se fragmentaria. Pelo contrário: tornou-se ainda mais coesa, a NATO robusteceu-se com a admissão de dois novos Estados membros (Finlândia e Suécia) e Moscovo perdeu sucessivas votações na ONU, tanto no Conselho de Segurança (onde dispõe de direito de veto) como na Assembleia Geral.

Já em desespero, forçado a recuar perante a contra-ofensiva de Kiev iniciada a 29 de Agosto e que já levou à recuperação de mais de metade do território perdido nas primeiras semanas da invasão, o tirano do Kremlin organizou pseudo-plebiscitos para anexar quatro províncias ucranianas - uma vez mais, em grosseira violação de todas as normas do direito internacional, como a Carta das Nações Unidas e a Acta Final da Conferência de Helsínquia.

 

Confrontada com um poder bélico muito superior, que desalojou mais de 13 milhões de pessoas (quase um terço da população do país) e destruiu cerca de metade da sua rede de abastecimento energético e alimentar, a Ucrânia resiste. Unida em torno do seu líder, que recusou fugir da capital, recusando a oferta de refúgio que o Presidente norte-americano lhe propôs no final de Fevereiro.

Resiste com heróica tenacidade. Mesmo com o sacrifício de 50 mil vidas humanas, grande parte das suas infra-estruturas arrasadas e prejuízos económicos, sociais e ambientais incalculáveis

A resistência está a ser bem-sucedida. O invasor vem recuando há dois meses, falhadas todas as tentativas de ocupação das principais cidades, fracassada a intenção de liquidar Kelenski e tomar de assalto as instituições políticas do país.

 

Onde os russos chegam, impera a tristeza, a desolação e o silêncio das ruínas. Quando os russos são expulsos, irrompe o júbilo e renasce a esperança.

Muitos de nós, nesta parcela do mundo livre, estamos solidários com a martirizada nação ucraniana. Conscientes, no entanto, de que o Dia D ainda vem longe: há que prosseguir a resistência ao invasor, que soltou ali três dos quatro cavalos do Apocalipse e até já ameaçou com um quarto - para arrasar em definitivo com a Ucrânia.

 

Putin e os seus lacaios - incluindo alguns portugueses, civis e militares - enganaram-se redondamente Mais depressa a demencial clique do Kremlin desaparecerá do que a Ucrânia será riscada do mapa.

O país de Zelenski vai emergir mais forte que nunca deste filme de terror iniciado há nove meses, quando as botas russas violentaram solo ucraniano com a intenção de tomar Kiev pela força em poucos dias.

Não passaram.

Não passarão.

A semana "horribilis" de Vladimir Putin

Pedro Correia, 17.11.22

Um crime após outro crime

Pedro Correia, 26.10.22

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Um dos maiores crimes de guerra que Putin e os seus generais (alguns já mortos, outros demitidos por motivos de "saúde") têm cometido há oito meses na Ucrânia é este: condenam milhões de pessoas à fome. Gente do continente africano e do Médio Oriente. A Ucrânia e a Rússia, juntas, produziam até Fevereiro cerca de 30% do trigo à escala global. Quem diz trigo, diz pão. Era à Ucrânia que grande parte dos países pobres ia buscar o cereal para ter pão.

Reina a instabilidade generalizada pelo fim do acesso ao trigo ucraniano. Não me refiro apenas à instabilidade dos preços, problema que também nós enfrentamos neste cantinho. Refiro-me a outra, muito mais grave, e que vai seguir-se: a instabilidade provocada pela fome.

A mais terrível, a mais temível.

O sombrio futuro da Rússia derrotada

Pedro Correia, 19.10.22

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Putin está a perder a guerra que desencadeou a 24 de Fevereiro, quando ordenou às suas forças armadas que ocupassem Kiev e depusessem Zelenski sem demora. Nenhum destes objectivos foi atingido, ao contrário do que logo garantiram alguns majores-generais portugueses fiéis a Moscovo. Hoje começou a evacuar Quérson, um dos seus maiores "troféus de caça" nestes oito meses de agressão ao país vizinho.

É verdade que nos últimos dias têm sido lançados, de território russo, novos mísseis sobre Kiev, vitimando dezenas de civis, e drones com origem no Irão vão danificando infra-estruturas ucranianas. Mas isso só reforça esta evidência: a táctica do terror é própria dos derrotados no plano militar.

A partir de agora a maior incógnita começa a ser sobre o futuro da Rússia, não sobre o futuro da Ucrânia.

 

ADENDA:

Prémio Sakharov 2022, do Parlamento Europeu, distingue o povo ucraniano. Não podia ser mais apropriado.

Porque é livre como o vento

Pedro Correia, 10.10.22

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Raras vezes o Nobel da Paz foi tão bem atribuído como este ano, marcado pelas atrocidades da Rússia de Putin na Ucrânia, com a cumplicidade do ditador bielorrusso Lukachenko, vassalo do Kremlin.

Um prémio tripartido.

Que distingue um dos mais célebres presos políticos da Bielorrússia, o activista Ales Biliatski, fundador do Centro de Direitos Humanos Viasna, ilegalizado pelo grotesto tirano de Minsk. Detido por defender a instauração da democracia no seu país, Biliatski é um corajoso combatente pela liberdade.

Distingue também o Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia, influente no movimento popular que derrubou o corrupto regime pró-russo do ex-presidente Viktor Ianukovitch e mantendo-se na defesa dos direitos humanos no país.

Distingue ainda a prestigiada associação Memorial, fundada em 1989 por Andrei Sakharov (ele próprio galardoado com o Nobel, em 1975) para investigar e tornar públicos os crimes do estalinismo. Perseguida e silenciada pela ditadura de Putin faz agora um ano, comprovando que o actual senhor do Kremlin - antigo oficial do KGB - se comporta como os bolorentos déspotas soviéticos.

Nobel tripartido contra os senhores da guerra, que odeiam arautos da paz, imaginando que podem interditar o pensamento. Mas não podem. Porque é livre como o vento. 

Dia Internacional da Guerra

Pedro Correia, 22.09.22

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Assinalando a seu modo o Dia Internacional da Paz, Vladimir Putin apareceu ontem na televisão russa (em intervenção gravada na véspera) com o ar marcial de sempre. Falando no bunker do Kremlin, a milhares de quilómetros da frente de guerra terrorista que desencadeou. Assim é fácil ser "herói".

Encurralado, anunciou a mobilização imediata de 300 mil reservistas prontos a arremeter contra a nação vizinha como carne para canhão.

Imitando Hitler, convocou plebiscitos com desfecho pré-anunciado em quatro regiões ucranianas numa tentativa desesperada de absorvê-las em poucos dias à margem do direito internacional.

Agindo como se a Rússia não fosse um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, declara-se até disposto a iniciar uma guerra nuclear - em chocante violação da Carta das Nações Unidas - com a obsessão de eliminar a Ucrânia como Estado soberano. 

Asfixiados pela ditadura, os russos votam com os pés - fugindo em número cada vez maior para a Finlândia: ao fim da tarde de ontem já havia filas com mais de 35 quilómetros de carros rumo às fronteiras do país vizinho. Outros esgotaram os voos da Air Serbia com bilhete só de ida para Belgrado, escapando à mobilização. Enquanto as manifestações de rua contra a guerra estão a ser duramente reprimidas pela polícia de choque, registando-se largas centenas de detenções.

Com Putin, todos os dias do calendário são Dias Internacionais da Guerra.

 

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As quatro regiões da Ucrânia onde Putin quer organizar plebiscitos ilegais

Desputinizar a Rússia

Pedro Correia, 14.09.22

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Há que desputinizar a Rússia.

E desputizinar os putinescos sovietófilos que lhe lambem as botas em Portugal.

Devem ter línguas enormes, para conseguirem esticá-las daqui até Moscovo.

Até por isso, saúdo o regresso do José Milhazes aos telediários da SIC. Desde o início da agressão russa à Ucrânia, acertou mais nas previsões feitas do que o triste trio de majores-generais que ontem mencionei aqui.

A reconquista

Pedro Correia, 13.09.22

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Nas últimas 72 horas, a Ucrânia tem reconquistado largas parcelas de território, sobretudo na região de Carcóvia, segunda maior cidade do país, beneficiando da humilhante debandada dos soldados russos, que fogem a toda a pressa, deixando para trás centenas de veículos militares e carros de combate, abandonados ou destruídos. Recuperou mais de três mil quilómetros quadrados quando se assinalam 200 dias da agressão russa. Desmentindo em toda a linha o alegado «poderio» do aparato bélico de Moscovo, que - prova-se agora - não passava de um tigre de papel. 

Esta reconquista, que repõe forças ucranianas no domínio de cidades como Izium e Kupiansk, cobre de ridículo aqueles patéticos majores-generais que no início da traiçoeira ofensiva do Kremlin em território ucraniano, quando Putin imaginou deter direito de pernada sobre o país vizinho, entoaram hossanas ao ditador russo nas pantalhas portuguesas.

Refiro-me ao senhor Agostinho Costa, que a 28 de Fevereiro declarava, com um brilhozinho nos olhos: «Putin vai conseguir.»

E ao senhor Carlos Branco, que a 3 de Abril balbuciava, com um ligeiro tremor na voz: «Eu não tenho elementos suficientes para corroborar [as acusações de crimes de guerra praticados por militares russos contra civis ucranianos].»

E ao senhor Raul Cunha, que a 30 de Abril enaltecia a «libertação de Mariúpol», cidade arrasada pelas ogivas russas.

Derrotados, também eles, nesta intrépida contra-ofensiva da nação ucraniana face ao invasor neonazi.

Slava Ukraini!

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Soldados ucranianos exibem bandeira do seu país em Kupiansk (10 de Setembro)

São Petersburgo e Moscovo, metades diferentes da mesma laranja

Ana CB, 30.08.22

 

Foi apenas há três anos que estive de férias na Rússia, mas parece que foi há muito mais – sucedeu tanta coisa entretanto que ao invés de encolher, como é costume, o tempo esticou para o dobro. Não houve nenhum apocalipse, mas dou por mim com a sensação de viver num (mau) filme de ficção científica, entre avanços tecnológicos brutais e alterações climáticas com consequências impiedosas, entre regressões sociais e agressões políticas, e com a sensação cada vez maior de que em vez de evoluir, o ser humano está em franco retrocesso.

 

São Petersburgo era um daqueles destinos que estava há muito tempo na minha lista de desejos, e quando uma amiga me desafiou a ir com ela numa viagem de uma semana às duas maiores cidades russas, nem hesitei. Não sou grande adepta de viagens organizadas por agência (esta era), sobretudo porque o habitual é cingirem-se a levar-nos aos sítios aonde toda a gente vai e ocuparem-nos os dias inteiros com visitas pré-programadas. Mas neste caso o roteiro até nos deixava alguns períodos livres e o programa era interessante q.b.

São Petersburgo - Catedral de Nossa Senhora de Cazã.jpegCatedral de Nossa Senhora de Cazã, São Petersburgo

 

A ordem da visita às cidades era à nossa escolha, por isso optámos por começar por São Petersburgo. A desvantagem foi termos de fazer escala em Moscovo antes de seguirmos para a cidade imperial, por azar em dia de greve do pessoal de handling do aeroporto de Sheremetievo. Como consequência, as nossas malas não foram despachadas no voo para São Petersburgo em que seguimos, e depois demorámos mais de duas horas no aeroporto de Pulkovo para fazermos a reclamação – porque havia umas boas dezenas de pessoas com o mesmo problema que nós. Com tanta demora, o senhor do transfer para o hotel praticamente deitava fumo pelas orelhas quando finalmente saímos ao seu encontro; mas o ambiente no carro desanuviou quando, logo após deixarmos as imediações do aeroporto, teve de parar para deixar passar… uma pata que atravessava, em passada decidida e seguida pelos seus vários filhotes em obediente fila indiana, a estrada tipo via rápida que percorríamos. Depois de doze horas de viagem e da preocupação com as malas, esta visão tão inesperada quanto incomum e ternurenta foi um anticlímax bem vindo. Viajar são surpresas atrás de surpresas.

 

Três ou quatro dias em metrópoles tão grandes e cheias de história como São Petersburgo e Moscovo são claramente insuficientes, mas ainda assim serviram para que eu aprendesse mais alguma coisa sobre a Rússia, e principalmente que há grandes, enormes diferenças entre as duas maiores cidades do país. E que, por extrapolação, grandes diferenças existirão também em relação a outras cidades e regiões. Para mim, tentar entender a complexidade de um país tão vasto e variado (onde coabitam perto 200 grupos étnicos diferentes) é tarefa inglória e destinada ao fracasso, e não é por aqui que quero ir. Sou uma mera observadora.

 

A arquitectura destas cidades é o primeiro e mais visível indício da dicotomia que as marca. São Petersburgo é imperial, Moscovo é soviética. Onde São Petersburgo é água, Moscovo é betão (o rio é um mero acessório sem importância). São Petersburgo espraia-se ao longo dos recortes do rio Neva e do golfo da Finlândia, com edifícios de poucos pisos e recorte clássico, ou mais altos e simples nos bairros periféricos recentes; Moscovo é um círculo que mimetiza o sol, com o Kremlin como núcleo e as vias principais os seus raios, propagando-se em todas as direcções (a comparação com um polvo e os seus tentáculos também me parece adequada), e com edifícios que se projectam em altura, ambicionando conquistar os céus.

São Petersburgo - Neva.jpegO Rio Neva em São Petersburgo

Moscovo vista da Colina dos Pardais.jpegMoscovo vista da Colina dos Pardais

 

São Petersburgo nasceu no século XVIII da vontade de Pedro I, o Grande, primeiro imperador da Rússia. Conquistado em 1703 o forte sueco de Nyenskans, nas margens do Neva, durante a Guerra do Norte, decidiu ali fundar uma grande cidade, que servisse sobretudo de porto marítimo utilizável durante todo o ano. Construída sobre terrenos pantanosos à custa da vida de camponeses arrebanhados de toda a Rússia e de prisioneiros de guerra, Pedro projectou São Petersburgo à imagem das grandes capitais europeias da época, e essa é uma das razões pelas quais a arquitectura da cidade é tão homogénea.

São Petersburgo - Praça do Palácio.jpegPraça do Palácio, São Petersburgo

 

Esta aproximação à imagem da Europa faz parte da dualidade histórica constante da Rússia, que pisca um olho ao ocidente e outro à Ásia, enquanto baralha e dá as cartas ao seu jeito. Não admira por isso que Putin tenha invocado este imperador para justificar a invasão da Ucrânia, argumentando que Pedro I entrou em guerra com a Suécia não para conquistar, mas sim para recuperar território que pertencia à Rússia por direito – e que a guerra na Ucrânia tem os mesmos fins.

 

Em 1712, Pedro I elevou São Petersburgo a capital do império, estatuto que manteve até 1918 (com apenas dois breves intervalos, em que o posto foi ocupado por Moscovo). Duzentos anos de protagonismo enriqueceram a cidade, e esta riqueza ostentada – e ainda presente depois de tantos anos de modelo soviético – foi um dos aspectos que mais me surpreendeu durante toda a minha visita. Para onde quer que me virasse, via cúpulas e torres douradas. O Hermitage, de que só vi uma parte e em passo meio corrido, é um deslumbramento, tanto na decoração das suas salas como no valor das obras de arte que exibe. A fantástica agulha da torre sineira da Catedral de Pedro e Paulo, que faz dela o segundo edifício mais alto da cidade, brilha como um farol, sob o sol de Verão. No interior, onde estão expostos os túmulos de quase todos os governantes da casa Romanov, o ouro é tanto que ofusca. E a iconóstase desta catedral é deslumbrante: em vez de uma parede plana com ícones e pinturas, como é habitual na maioria das igrejas ortodoxas, aqui ela eleva-se ao centro para formar uma torre, estando primorosamente trabalhada e completamente recoberta a ouro.

Catedral de Santo Isaac, São Petersburgo.jpegCatedral de Santo Isaac, São Petersburgo

Loggias de Raffaello, Hermitage, São Petersburgo.JPGLoggias de Raffaello, Hermitage, São Petersburgo

Hall do Pavilhão do Pequeno Hermitage, São Petersburgo.JPGHall do Pavilhão do Pequeno Hermitage, São Petersburgo

Torre da Catedral de Pedro e Paulo, São Petersburgo.JPGTorre da Catedral de Pedro e Paulo, São Petersburgo

Iconóstase da Catedral de Pedro e Paulo, São Petersburgo.JPGIconóstase da Catedral de Pedro e Paulo, São Petersburgo

 

O romantismo melancólico da cidade é sublinhado pela água: do Neva, tão largo que parece mais mar do que rio, e dos seus vários canais e tributários, que totalizam 300 km de vias fluviais. Onde há rios há pontes, e são mais de 300, todas diferentes. Em São Petersburgo nunca estamos muito tempo longe da água, o que dá à cidade um ambiente leve e arejado.

Ponte Bank, São Petersburgo.jpegPonte Bank, São Petersburgo

Castelo Mikhailovsky, São Petersburgo.jpegCastelo Mikhailovsky, São Petersburgo

 

A viagem para Moscovo foi em comboio nocturno. No nosso compartimento ia também um casal espanhol, mas a hora avançada da partida, quando já estávamos todos cheios de sono, não nos deu vontade de grandes conversas. Apesar de algum conforto (até tivemos direito a chinelos e artigos de higiene), a falta de escuridão total, o ressonar do nosso companheiro valenciano e uma azia provocada pela digestão difícil de um jantar tardio fizeram com que eu não conseguisse dormir bem. O Verão é o período das noites brancas, com apenas duas ou três horas de escuridão. A má disposição empurrou-me para o corredor, onde fui brindada por uma paisagem quase contínua de floresta e pelo nascer-do-sol mais fascinante a que já assisti, com uma cortina de névoa a desprender-se do solo, pairando entre as árvores que passavam em corrida desenfreada do outro lado da janela. Foi um dos episódios mais marcantes de toda a viagem, pelo deslumbramento que senti. Estive mais de uma hora naquele corredor e só voltei ao compartimento, com alguma relutância, porque outros viajantes começavam a despertar e a movimentar-se pelo comboio, quebrando a minha paz.

 

Ao contrário de São Petersburgo, Moscovo tem uma história bem mais antiga, documentada desde o século XII, crescendo progressivamente em torno do seu Kremlin a partir do século XIV. Talvez porque o grande incêndio de 1812 – que se suspeita ter sido ateado pelos próprios russos, depois de terem evacuado a cidade na altura da invasão pelas tropas de Bonaparte – destruiu três quartos dos seus edifícios, ou talvez porque foi escolhida para capital da União Soviética logo após a revolução bolchevique, Moscovo não mostra nada que a ligue ao seu passado remoto. É prática, pragmática e megalómana a todos os níveis, cheia de monumentos e empreendimentos gigantescos (ao bom estilo soviético), e os edifícios só não parecem tão grandes porque geralmente estão separados uns dos outros por avenidas larguíssimas, ou porque dentro do nosso ângulo de visão há sempre outros ainda maiores.

Moscovo - Praça Vermelha no séc. XVIII.jpegA Praça Vermelha de Moscovo no séc. XVIII

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São Petersburgo foi concebida para mostrar a grandeza de Pedro I e, mais tarde, de Catarina II. Moscovo foi recriada para ostentar a grandeza do poder soviético e, agora, de Putin. Estaline mandou construir os altíssimos edifícios conhecidos como as Sete Irmãs (ou também, mais popularmente, como “os caprichos de Estaline”), os mais emblemáticos e fotografados arranha-céus da cidade. Vistos de longe – e conseguem ser avistados de bem longe… – parecem todos iguais, mas na realidade existem diferenças entre eles tanto em altura como na própria configuração. Embora nitidamente inspirados nos arranha-céus norte-americanos, são eles os melhores exemplares do estilo a que se convencionou chamar classicismo soviético ou monumental.

Edifício Kotelnicheskaya, Moscovo.jpegEdifício Kotelnicheskaya, Moscovo

Universidade Estatal de Moscovo.jpegUniversidade Estatal de Moscovo

 

Estaline teve os seus caprichos, mas Putin não parece querer ficar atrás. Na linha do horizonte de Moscovo destaca-se hoje nitidamente o bairro que tem o nome oficial de Centro Internacional de Negócios de Moscovo ou, na sua forma mais curta, a City de Moscovo. Para este projecto, que começou a ser concebido nos anos 90, foi destinada a área de uma antiga pedreira junto a uma das curvas do rio Moscovo. É aqui que se encontram actualmente alguns dos maiores arranha-céus da Rússia, todos de cariz futurista e onde se incluem, com alturas superiores a 300 metros, sete dos dez maiores da Europa – isto por enquanto, uma vez que as possibilidades de construção futura ainda não estão esgotadas.

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City de Moscovo (1).JPGA City de Moscovo vista do Parque Pobedy

 

Outro edifício moscovita que ilustra a tendência da Rússia actual (e a volubilidade da sua História) é a Catedral de Cristo Salvador. É tecnicamente a catedral mais importante de Moscovo, e também um exemplo de fénix renascida das cinzas. Mandada erguer por Alexandre I depois da retirada das tropas napoleónicas, foi igualmente uma obra megalómana (103 metros de altura e capacidade para 10 mil pessoas) e só ficou concluída em 1883. Associada ao czarismo e em consonância com o desprezo pela religião advogado pelo regime soviético, foi destruída em 1931 para dar lugar a um futuro palácio monumental, que nunca chegou a ser construído, por falta de fundos. O espaço acabou por ser ocupado por uma piscina pública. Depois da desagregação da União Soviética, o governo autorizou o Patriarcado de Moscovo a reconstruir a catedral, que foi reinaugurada no ano 2000 e é praticamente igual à primeira. Com a liberdade religiosa decretada entretanto, a percentagem da população que se assume como cristã ortodoxa subiu de 31% para 72%, e a propagandeada (aparente) convergência de ideias político-espirituais entre o Patriarca Kirill e Vladimir Putin não parece ser mera coincidência.

Catedral de Cristo Salvador, Moscovo.jpegCatedral de Cristo Salvador, Moscovo

 

Viagem organizada por agência significa guias, e guias significam, além de muita informação sobre os locais que visitamos e (com um bocadinho de sorte e diplomacia) alguma informação também sobre outros assuntos mais sensíveis – sendo que, num país como a Rússia, sensível é tudo o que disser respeito à política e à sociedade. E até neste aspecto notei a diferença entre as duas cidades. A guia de São Petersburgo falou-nos de artes e letras, de História e arquitectura, de questões sociais. Mostrou-nos a figurinha do cão parecido com Putin que está numa vitrina do Hermitage, explicou que a maior parte das pessoas (mesmo os jovens) não têm grande interesse em falar outra língua que não o russo, e revelou que na generalidade os papéis sociais dos homens e mulheres ainda são vistos de forma tradicionalista, as mulheres sendo consideradas como responsáveis pelo bem-estar da família e pelo trabalho doméstico – apesar de quase todas terem os seus empregos. Quanto às guias de Moscovo, realçaram a importância da cidade, a resistência e bravura dos seus residentes, a magnificência do metropolitano ou a monumentalidade dos edifícios, e o facto de grande parte das mulheres russas admirarem Putin por este ter implementado medidas que apoiam a natalidade e – supostamente – o género feminino.

 

Correndo o risco de ser simplista neste paralelismo, São Petersburgo e Moscovo parecem-me simbolizar duas das correntes de pensamento político que grassam actualmente na Rússia: uma de aproximação aos valores europeus, pelos quais são definidas as regras de harmonização social e actuação política; outra de que a Rússia é superior na sua essência, e portanto tem o direito de ser ela a ditar as regras pelas quais a Europa deveria reger-se. A rejeição europeia é, em termos práticos, a adoptada pela actual linha política russa, e não parece provável que Putin se desvie dela enquanto continuar no poder. No entanto, com a capacidade de torcer a verdade que tem mostrado, quem sabe se um dia…? Num país de tantos contrastes, tudo é possível.

Seis meses depois

Ucranianos resistem - por eles e por nós

Pedro Correia, 24.08.22

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Mariúpol, Abril de 2022

 

Faz hoje seis meses. Largas dezenas de milhares de soldados russos, apoiados na força aérea e divisões blindadas, invadiram território da Ucrânia - Estado independente e soberano, assim reconhecido pela comunidade internacional.

A mando de um tirano que decidiu trazer para o século XXI a política de canhoneira do século XIX, restaurando a lei do mais forte - a do que saca mais rápido do coldre, à traição, como fez com a Ucrânia nesta invasão não provocada, consumada no escuro de uma madrugada gélida. Sem pré-aviso, sem declaração de guerra.

Seguindo um guião inspirado no de Hitler na sua concepção de "espaço vital". Não a pretexto de reunir os povos germanófonos, mas russófonos. Não já de uma raça suprema, mas de um povo iluminado pela luz divina. Daí a Constituição em vigor na Rússia entoar hossanas à pátria «unida por uma história de mil anos, preservando a memória dos antepassados que [lhes] transmitiram os ideais e a fé em Deus». Hiper-nacionalismo de cariz imperial.

Dizia essa besta traiçoeira, escassos dias antes, que a tropa de Moscovo se limitava a «fazer exercícios militares puramente defensivos» no seu lado da fronteira.

 

Balanço destes seis meses trágicos que levaram a guerra ao coração da Europa?

Dezenas de milhares de mortos - não apenas ucranianos, mas também soldados invasores, quase todos oriundos das regiões mais remotas e pobres da Federação Russa. Mal organizados, mal equipados, mal alimentados. Comportando-se como abutres em rapina na terra conquistada - pilhando e violando tudo quanto viam pela frente, fazendo tábua rasa das convenções de Genebra e das próprias leis da guerra. Visando inúmeros alvos civis. Escolas, infantários, creches, hospitais, enfermarias, maternidades, igrejas, conventos, teatros, museus, salas de concerto, oficinas, lojas, habitações - tudo lhes serviu de pasto para as bombas homicidas. 

Pelo menos dez milhões de desalojados.

Muitos no próprio território ucraniano, fugindo das ogivas criminosas, abençoadas pelo patriarca russo, um canalha de barbas brancas chamado Cirilo, perante quem o déspota do Kremlin ajoelha em devoção beata. «Matarás», incentiva esse clérigo, em inversão total do Sexto Mandamento.

Muitos mais no estrangeiro, onde têm conseguido refúgio nas nações vizinhas. Enquanto tantos outros, sobretudo no Donbass, são deportados à força pelos esbirros de Moscovo, que os conduzem aos confins da Sibéria, recriando os anos de chumbo do czarismo e do estalinismo. 

Neste quadro, o tirano não hesita em colocar todo o continente à beira dum desastre nuclear, utilizando a central de Zaporíjia, em território ucraniano, como palco de guerra.

 

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Putin abençoado pela hierarquia ortodoxa: aliança entre o estado e a igreja

 

Seis meses depois, a Ucrânia resiste.

No meio das atrocidades, continua de ânimo inquebrantável. Entre ruínas provocadas pela maior potência atómica do planeta, faz frente ao inimigo. Confirmando uma das mais poderosas leis da História: só é derrotado quem desiste de lutar.

E eles não desistem. Por eles e por nós.

Sabendo que mais vale morrer de pé do que viver de joelhos. 

Putin não passará. Hoje isto é ainda mais certo do que em 24 de Fevereiro de 2022, esse dia da infâmia que manchará para sempre o povo russo. Como aconteceu a 23 de Agosto de 1939, data em que Estaline e Hitler selaram o pacto que apunhalou a Polónia, a Finlândia e os Estados bálticos - acto de vergonhosa traição que jamais se apagará.

 

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Estaline com Ribbentrop, o chefe da diplomacia nazi (23 de Agosto de 1939)

Reflexão do dia

Pedro Correia, 20.08.22

«A Rússia de Putin destruiu a configuração mundial existente. O ditador quer substituí-la por outra, na qual a sua Rússia tenha papel determinante. É o que está a fazer, sem escrúpulos e com toda a violência de que é capaz. O que sobrar, depois do que ele fizer, não voltará a ser o que era, nem sabemos o que será. Mas vai demorar anos, muitos, a encontrar um novo equilíbrio mundial de cooperação. Não sabemos, hoje, a que preço e com que custos de vidas humanas, de países, de instituições, de liberdade e de paz. O especial talento de Putin é o que se vê no exercício ou na utilização da mais bárbara violência sem remorsos, nem moderação. E no desrespeito da lei internacional.»

António Barreto, no Público