Cecília Meireles: «Tenho claustrofobia»
Quem fala assim... (48)
«A preguiça é o pecado capital que pratico com mais frequência»
De resposta na ponta de língua. Assim me lembro de Cecília Meireles, quando a entrevistei ao telefone. Era deputada do CDS (viria a distinguir-se nessa bancada parlamentar ao longo da década seguinte) e integrava a Comissão Política Nacional do partido. Adora a cor azul, detesta a mentira e gostaria de jantar com Natalie Portman. Portista nos dois sentidos (de FC Porto e Paulo Portas). O maior sonho? «Passar um ano a viajar.»
Tem medo de quê?
Não tenho medo de nada. A não ser de ratos, por vezes.
Gostaria de viver num hotel?
Isso não. Detestaria viver num hotel.
Por algum motivo particular?
Acho que um hotel é sempre um espaço muito impessoal. É muito mais prático a pessoa viver na sua própria casa.
A sua bebida preferida?
Vinho do Porto.
Tem alguma pedra no sapato?
Não. Sou uma pessoa sem pedras no sapato.
A propósito: que número calça?
37.
Que livro anda a ler?
Por acaso agora não ando a ler nenhum. Ando numa fase em que só consigo ter tempo para ler relatórios [parlamentares].
Não é por alguma aversão à escrita?
Não, de forma alguma. Ando há já algum tempo para começar a ler Os discursos mais importantes do século XX. Talvez consiga enfim neste fim-de-semana.
Costuma ter muitos livros à cabeceira?
Costumo. Infelizmente acabo por ler muito menos do que gostaria.
A sua personagem de ficção favorita?
O Poirot.
Rir é o melhor remédio?
Acho que sim. Com algum sentido de humor a vida leva-se melhor. Julgo que devemos levar as coisas sempre a sério mas nunca nos devemos levar demasiado a sério.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Não. Não sou uma pessoa de lágrima fácil.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzida?
Gosto mais de conduzir.
É bom transgredir os limites?
Depende dos limites. Tem dias...
Mas em princípio sim ou em princípio não?
Lá está: depende sempre muito dos limites.
O seu prato favorito?
Rojões à moda do Minho.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
A preguiça.
A sua cor preferida?
Azul.
Azul e branco?
Sou portista, mas no caso é só azul.
Costuma cantar no duche?
Não. Canto muito mal. Era capaz de me assustar a mim própria.
Diz-se que canta seus males espanta...
Pois. Mas eu tenho mesmo muito má voz.
E a música da sua vida?
Não tenho. Confesso que não sou grande apreciadora de música.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Não. Nestes casos sou conservadora. O hino tem de ser interpretado dentro de um contexto histórico.
Tal como o preâmbulo da Constituição?
É diferente. O hino tem apenas um valor simbólico, mas o preâmbulo da Constituição vai para além disso.
Parece-lhe bem a actual bandeira nacional?
Volto a dizer que nestas coisas sou conservadora. Entendo que no hino e na bandeira não se deve mexer.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Com a Natalie Portman.
As aparências iludem?
Completamente.
O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?
Um verdadeiro cavalheiro nunca deve passar à frente de uma senhora nas portas.
O que é que uma verdadeira senhora nunca faz?
Mentir.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Sapatos.
Qual é o seu maior sonho?
Passar um ano a viajar.
Com algum destino específico?
Iria a vários destinos. Mas há um onde nunca fui e gostaria muito de conhecer: o Peru.
E o maior pesadelo?
Estar presa num local qualquer. Tenho claustrofobia.
O que a irrita profundamente?
Não sou muito dada a irritações. Mas talvez o excesso de barulho.
Qual a melhor forma de relaxar?
Uma boa lareira.
O que faria se fosse milionária?
Fazia mais ou menos o que faço. Nunca me imaginei milionária nem gosto muito de planos irrealizáveis.
Casamentos gay: de acordo?
Não. Na altura votei contra.
Um homem bonito?
Colin Firth.
Acredita no paraíso?
Prefiro a vida real com os seus pequenos prazeres.
Tem um lema?
Não.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (5 de Fevereiro de 2011)