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Confesso que quando vi este vídeo pensei: é a Samsung a experimentar uma via alternativa de publicidade. Assim como quem diz: isto vai correr pelas redes sociais que nem água a jorrar de uma represa em período de cheia (se assim for, este post, mostra que a estratégia foi bem sucedida). Mas, pensando melhor, pode ser uma jogada muito arriscada. É que poderá haver quem não queira ter um equipamento de uma marca associada a um vídeo deste calibre.
Também pode acontecer tratar-se de uma actriz paga para fazer uma rábula e, nesse caso, há que dar os parabéns porque nos põe realmente bem dispostos.
Mas já me passou pela cabeça, num pensamento que tento afastar a todo o custo, que esta rapariga existe mesmo, que tem "uma voz"; que acabou, com alívio, a sua tese faz agora um ano; que está a trabalhar o que, coitada, lhe rouba algum tempo mas que lhe permite juntar dinheiro para concretizar um dos seus grandes desejos para 2013: "ter uma daquelas malas clássicas que ficam bem com tudo" e que são "uma conquista". Não pensemos, no entanto, que os desejos desta jovem são todos deste grau de importância. Não. Para equilibrar, também estão na lista a felicidade e o amor o que a ajudará a "fazer mais coisas... ter mais experiências".
À medida que escrevo penso: mas afinal, com tantos exemplos de pessoas, naquele grupo de idade, que lutam diariamente para sobreviver no nosso país qual é o problema de existirem jovens, como esta, que irradiam bem estar, sucesso e auto-estima? É verdade que outros há que, com o seu esforço, atingem metas importantes, pessoais ou que se reflectem positivamente na vida de outros. Estarei a ser preconceituosa? Talvez. Mas a verdade é que, neste caso concreto, estou desejosa que me digam que o guião foi escrito por alguém das Produções Fictícias e que a Filipa não existe mesmo. Não existe, pois não?
- Bom dia, é do Wall Street Institute?
- Exactamente. Deseja inscrever-se num dos nossos cursos?
- Sim, sim. Eu frequentei um curso aí há cerca de dois anos, com o professor Littlebed, e gostei muito. Agora queria fazer uma pós-graduação, mas só se for com o mesmo professor. Ele ainda dá aulas?
- Hã... não, nada feito. O professor Littlebed ganhou tanto dinheiro com os cursos de kamasutra, que deixou de trabalhar. Mas ficou muito ligado a nós. Agora, para se entreter, é ele que escreve os nossos anúncios publicitários.
Vamos bien, o que somos é uns excêntricos. Nos transportes, por exemplo, gostamos de ser originais: em terra só modelos vintage, no mar a mesma coisa... nada como a graça de um pneu ou de uma banheira antiga! E por falar em modelos, somos tão originais que temos um modelo de sociedade que já nem aqui funciona. Mas vamos bien, por supuesto. Muy bien.
(Nota: Com um beijo aos delituosos e comentadores habituais. E as minhas desculpas por não ter respondido ainda aos vossos comentários, mas a culpa é de uma net intermitente e pouco dada a modernices. Não, não estou em Cuba. Estou na Galiza e também muy bien, mas já quase de volta.)
- Bom dia. Quero aqueles jeans da Diesel que estão no cartaz. Número 38, faxavor.
- Lamento, da Diesel já só temos do 46 para cima... mas não se preocupe, tenho outros iguaizinhos de outra marca. E por acaso até são de melhor qualidade, fica a ganhar. Vou buscar.
- Não quero. Têm de ser da Diesel. Pode ser o 46, não faz mal.
- Mas... vão-lhe ficar enooooormes! Olhe que não lhe vão ficar bem...
- Não interessa. E pare de criticar, sua... sua... esperta! Você não percebe nada disto. Não vê que quero ter ideias, ser criativa, enfim, ser ESTÚPIDA????
(Nota: Mais brilhantes elogios à estupidez aqui)
Substitui com enormes vantagens todos os outros cremes, tratamentos e cirurgias plásticas, é inócuo, universal e barato. Só tem um pequeno problema: depois de usá-lo, você não poderá nunca mais ser visto(a) no mundo real. Mas... who cares? Há sempre o facebook, os chats, o second life, etc... quem é que quer saber do mundo real, que dá uma trabalheira?
- Ó senhor Eusébio, avie-me aí duas coxinhas de pamela, faxavor. Bem pesadas, que o meu homem gosta muito disso. E pode ser uma maminha também, que é pró churrasco de domingo lá no quintal. Mas tudo bem limpinho, ouviu? Nada de nervos, nem de silicone.
- E um chispezito? Hoje não vai, dona Aurélia?
- Nah... têm cara de ser rijos.
- Nem uma orelhazinha pró cozido?
- Também não. Com aquele pelo todo, dá um trabalhão a chamuscar.
- Booom diiiaaaa!!! És tu, amor? O meu tigre de Bengala, o meu Rei-Leão? Grrrr...
- Hã... bom dia. Como vai, cara colega? Desculpe, será possível falarmos um pouco mais tarde?
- Ohhhh!... snif... porque é que me estás a tratar assim depois da nossa noite selvagem, meu Tarzan? Já não sou a tua Jane???... snif... Ah, prontos, já percebi: deves estar numa daquelas tuas chatéééérrrrimas reuniões de administração e não podes falar. É isso?
- Exactamente. Muito bem, terei muito gosto em ligar-lhe depois para discutirmos o assunto. Até breve.
- Espera, espera! Só uma perguntinha rápida, então: sabes aquelas cuequinhas-fio-dental que tu adoras e eu tinha ontem, sabes?
- Hum, hum...
- Pois é... perdi-as! Acho que as deixei no teu carro, mas não me lembro onde...
- Bom dia, é do Zezé World? Quero inscrever-me naquele curso de 15 dias grátis, de Kamasutra, com o vosso novo professor Zezé Littlebed.
- Não, não, espere aí... está a falar para o Wall Street Institute.
- E não é a mesma coisa?
- Não. Aqui só se ensina inglês.
- Só inglês?? Olhe, fique sabendo que vou queixar-me à DECO, por publicidade enganosa!
Não, "dóna" Fernanda, não quero saber como se hidrata no dia-a-dia.
E muito menos tenciono pagar para isso, como sugere.
Nem quero imaginar onde teria de introduzir o cartão...