Decorre, com ampla divulgação e direito a referência em espaços noticiosos, a Feira de Viagens Abreu. Prometem-se, durante dois dias, descontos até 60%. Um bom português dificilmente resiste a uma campanha que junta duas coisas a que é especialmente sensível: descontos e viagens. E este vosso servidor não é excepção. Se tivermos em conta que as campanhas promocionais de duração limitada activam no nosso cérebro a noção de escassez e o sentimento de perda identificados por Cialdini, compreende-se o estado de predisposição para investir com que uns milhares largos de portugueses se deslocam às agências da Abreu ou entram no seu site. Eu, pecador me confesso, imaginava-nos já aos 4 membros da família, em finais de Agosto, sibaritas debaixo de um coqueiro, com as calosidades dos pés acariciadas por água tépida e azul-turquesa, apenas interrompendo a fruição da pechincha para fazer selfies com que afagaríamos o nosso ego publicando-os no facebook. Sucede que a divulgação dos preços da campanha faz-se, desde logo, sem que se indique nos suportes informativos disponibilizados (prospectos ou site), qual o preço antes da promoção. Da mesma maneira, não existe qualquer indicação nesses suportes, para cada destino e período, de qual a percentagem de desconto aplicada. Acresce que, nas agências, a única forma de obter informação adicional é esperar largos minutos até se ser atendido por um dos técnicos de viagens. Por último, apesar da escassa informação prestada nos suportes promocionais, fico com a ideia de que a generalidade dos descontos são muitíssimo inferiores a 60% e os preços estão em linha com aquilo que se pode obter normalmente noutras agências ou sites. Fiquei assim, embora não tenha toda a informação por ter perdido a vontade de esperar até ser atendido (peço aos leitores que a tenham que contraponham o que for conveniente) de que estamos perante uma campanha a que na melhor das hipóteses falta transparência e que poderá estar muito próxima de constituir publicidade enganosa. Nestas condições, tanto pior para as calosidades, a Abreu jamais levará o meu.