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Delito de Opinião

O génio da floresta

Teresa Ribeiro, 06.07.13

 

Quando passam cem anos sobre o ensaio Totem e Tabu, que dá uma contextualização antropológica ao complexo de édipo, umas das mais conhecidas teses da teoria psicanalítica, lembro-me de como os meus filhos contribuíram para a discussão sobre a actualidade do pensamento do Segismundo, hoje tão desprezado.

Aos quatro e cinco anos parecia que tinham lido o mestre de Viena, tão estereotipados eram os seus comportamentos. De todas as cenas edipianas que guardo na memória destaca-se a que foi protagonizada pela minha filha, aos quatro anos, quando já na cama se preparava para o meu beijo de boa-noite. Disse-lhe "boa-noite, princesa". Ela sorriu e respondeu, provocadora: "Eu sou a princesa, o pai é o príncipe e tu... és a bruxa má". Depois desatou a rir, enquanto eu, pasmada e divertida a ameaçava com a minha imaginária varinha de bruxa. 

Como dizia João dos Santos, o pai da psicanálise em Portugal, "Freud é a árvore do topo da qual se pode ver a floresta". Quem se recusa obstinadamente a reconhecer-lhe o génio e de caminho demoniza todos os psis e as diversas abordagens psicoterapêuticas revela no mínimo preconceito, no máximo aversão à ideia de se expor. Nada que não se trate... no divã.